setembro 03, 2013

É ela menina que vem e que passa


A questão do piropo, vista à primeira e da forma como tem sido tratada na blogosfera, soa, obviamente, como uma tontice. Afinal, passar perto de obras é ainda e sempre um grande teste à nossa boa forma. Há piropos que até nos elevam a autoestima e são bem vindos. Eles acontecem um pouco por todo o mundo, eu cá aprecio especialmente o italiano bella, portanto, uma vez que a ideia é para aplicar, seria, cá no burgo, sinto-me feliz porque poderei continuar a ouvir estas musicais palavras sempre que for a terras italianas. Ou o gata brasileiro, pois é igualmente bom de ouvir. Claro que são palavras que enchem o ego a todas porque a todas ou quase são dirigidas mas não faz mal. Um pouco de ilusão nunca fez mal a ninguém. Uma tontice, a sê-lo, que já me fez rir e que é, naturalmente, passível de um chorrilho de críticas logo de imediato. 
Por outro lado, e porque não consigo, muitas vezes, deixar de ver a coisa pelos dois lados, é bem verdade que há piropos, ou melhor, ordinarices que são ditas e que incomodam seriamente quem as ouve. Já todas as teremos ouvido e aquilo que nos incomoda não pode ser aceite de ânimo tão leve. Uma senhora ignora, dir-se-á, e é o que fazemos, na maior parte das vezes, mas um bom par de estalos não seria uma má ideia, pois há, porque conheço, quem o tenha feito! Aquilo que nos incomoda e fere a nossa dignidade individual, noção que pode diferir de pessoa para pessoa, de mulher para mulher, deveria tão somente não tomar lugar. Provavelmente, o que as bloquistas pareceram propor, ao que percebi de relance, uma espécie de criminalização à maneira, não será a solução. Qual é a solução, então? Bom, se for persistente e se tornar assédio sério, a coisa já se torna também mais séria, e há o direito de apresentar queixa. A não ser, esperar que as mentalidades evoluam.
Na verdade, parece - e digo apenas parece porque não tenho grandes termos de comparação - que o piropo, sobretudo o mais atrevido, e até o assédio parecem ocorrer com maior frequência nas sociedades mais machistas tradicionalmente. Os países mediterrânicos, latinos e árabes, a latinidade, novamente, da América do Sul parecem, repito, levar a dianteira nesta questão da abordagem verbal às meninas que passam. Somos culturalmente mais machistas, é verdade, mas também há outros aspetos das nossas sociedades, numas mais do que outras, em que o machismo é visível e bem mais grave. No fundo é um colorido pitoresco - para quem aprecia o género - muito próprio de povos ainda muito passionais, respondendo a questões climáticas ou não só. 
Pessoalmente, não suporto a vulgaridade. Condeno-a e não é bem vinda. Se me incomodar até um ponto intolerável tenho o direito de exigir algum tipo de punição ou, no mínimo, apenas de mudança de comportamento. A não ter a coragem de espetar uma galheta. A graça, o humor e os piropos mais saudáveis - pelo menos na minha cabeça - já são perfeitamente aceitáveis. Como em tudo ou quase, há o bom senso. Desejável que os que os atiram o tenham e quem os recebe também. Sejam homens ou mulheres a atirar (que as haverá e porque não havia de haver) ou a receber.

8 comentários:

  1. Se entendermos um piropo na perspectiva da "Cartilha do Marialva" acho simplesmente abominável.
    A estratégia da sedução jamais deve passar por aí.
    :)

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    1. Sedução é outra coisa completamente diferente, jrd. :) Completamente.

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  2. "Pessoalmente, não suporto a vulgaridade. Condeno-a e não é bem vinda". Não poderia concordar mais e sim também falei deste assunto, não tão bem quanto a Fátima, mas à minha maneira. Acontece que o piropo tem que ser sempre, e na minha opinião, algo agradável e não algo que nos enoja. Peço desculpa pela palavra.

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    1. Vou lá espreitar assim que possa, maria, estive ausente. Eu não falei bem, foi também à minha maneira. :) Beijinho

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  3. Teresa Estevessetembro 10, 2013

    Gosto do artigo, Faty, e considero a tão falada criminailização do piropo uma verdadeira falta de bom senso. Isto quando o piropo é apenas aquilo que é: um piropo!

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    1. Não vi a intervenção das bloquistas, Teresa, mas depois de ter lido muita coisa na blogosfera, parece que não se falou em criminalização. Mas mantenho o que disse. E ainda hei de ver o que realmente disseram/propuseram.

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