maio 29, 2014

Na coffee shop

"Amsterdam"

Hoje, num café, dois miúdos de 20 anos, coisa menos coisa, puseram um bom bocado de ´ganza´ em cima de uma chicha (ou narguila, como também é conhecida) e espantaram-se quando o dono, estupefacto e furioso, claro, lhes disse que não o podiam ter feito e os convidou, em estilo eufemismo, a sair. Desculpe, não sabíamos, disseram, ele e ela. Isto depois de terem fumado um bocadito, antes de serem detetados pelo cheiro. Não sabia, agora é a minha vez, que isto era a Holanda. E logo hoje que, algures, tinha visto e passado os olhos sobre as 7 razões pelas quais se devia visitar os Países Baixos o quanto antes. Deve ter sido isso que aconteceu com esta rapaziada. Devem ter lido o mesmo e trataram logo de embarcar.

Louvores


Acho, achei e acharei sempre muita graça às pessoas que louvam o surgimento de mais grelhas para preencher. Respiram, aliviadas, e exultam até, porque alguém se lembrou e se deu ao trabalho de as fazer por elas. Cá eu já é mais o contrário, amaldiçoo cada vez mais os papéis que me põem à frente, sejam físicos ou virtuais. Decididamente, é carga a mais para alguém prático e decidido como eu, para o bem ou para o mal, admito. E com interesses fora do local de trabalho, já agora. Não serve este post, pois, para a papelada louvar.

Uncomfortable


Hello? 
Is there anything in there? 
Just touch my hand if you can hear me. 
Is there anything in your heart? 
Come on, now, 
I know you're feeling disappointed. 
I can ease your pain
Get you on your trail of hope again.
Breath. 
I'll need some information first. 
Just the basic facts. 
Can you tell me why it hurts? 

There is no pain you are receding 
A distant tree on the horizon. 
You are only coming through in shades. 
Your hands touch mine but I can't feel anything. 
When I was a child I had a fever 
My hands felt just like two balloons. 
Now I've got that feeling once again 
I can't explain you would not understand 
This is not how I was or am. 
I have become uncomfortably numb. 

maio 26, 2014

As eleições vistas por quem pouco sabe mas vai opinando


Vencedora absoluta : abstenção. É um direito, claro, mas depois não se queixem. Já estou quase como o Miguel Sousa Tavares dizia hoje, ao comentar a mesma: quem não vota porque não quer, porque não acredita no sistema e na democracia, talvez devesse não beneficiar em nada dela... O que se pretende, afinal? É certo que o desencanto é muito, tal facto é por demais compreensível, mas a solução não (me) parece ser por aí.
Perdedor maior: Aliança de Portugal. Um valente cartão vermelho a quem nos governa, sem mais nem menos. Pudera, com o desânimo e revolta que por aí vemos e sentimos, e que nós próprios sentimos, seria de espantar que acontecesse o contrário. Haja coerência.
Vencedor maior: CDU. Pode beneficiar da abstenção, porque os seus militantes não falham, é verdade, mas não deixa de ser um reforço, que significa, certamente, alguma coisa. Ou muita.
Ganhador mas não para ser governo: Partido Socialista. Vitória em números mas ao mesmo tempo derrota em números, porque derrota na intenção de que nos governem. Está clara, assim parece, a falta de alternativa viável para as próximas legislativas.
Perdedor médio: Bloco de Esquerda. Médio a fugir para o grande. Este resultado já vem na sequência dos anteriores, e que foi agravado, a meu ver, como simples cidadã, com a liderança repartida que Francisco Louçã defendeu na saída. Volto a dizer aqui que ver a Catarina Martins a liderar é para mim uma aflição, não tendo perfil absolutamente nenhum para ocupar tal lugar. Ela e João Semedo serão com certeza pessoas de boas intenções mas não chega, claramente. (Com todo o respeito que o seu pai também me merece, trabalhei com ele na José Estêvão há uns bons anos, quando ele era presidente do conselho executivo na altura.) 
Vencedor assim assim e a quem não reconheço muito mais do que um discurso fácil ainda que corajoso: Marinho Pinto, ao serviço de qual partido mesmo? Não me identifico com o estilo, mas ainda assim acho uma certa graça ir para Bruxelas e ser politicamente incorreto, a ver vamos no que a irreverência dará.
Para concluir, destaco dois aspetos que liguei entre si. As más lideranças podem ser feitas feitas de más intenções mas também de boas, é um facto. Ou seja, não são suficientes as pessoas boas, é preciso ser-se competente. E isto serve para a política e para tudo. Muitas vezes temos pessoas muito queridas e apreciadas pela sua bondade mas falta-lhes profissionalismo, visão e inspiração. Ora isto, a ausência de inspiração nas figuras políticas, leva-nos ao descrédito cada vez maior em relação à classe, agravada depois pelas más práticas, corrupção e mais do mesmo ou parecido. Desta forma, sem figuras que nos inspirem e nos levem a acreditar que é possível, aliando humanismo e pragmatismo, honestidade e competência, haverá menos e menos gente com vontade de se deslocar às urnas. E volta-se ao princípio e não saímos daqui. A coisa, resumindo, está feia.


maio 23, 2014

O descanso e a guerreira


Sou intrinsecamente live and let live. Mas este apreciado e cultivado sossego bate em retirada quando alguém que é o oposto lá me vem seriamente incomodar. Então, vou buscar defesas combativas não sei onde, mas vou. O que é uma tremenda maçada porque eu gostava mesmo era de estar sossegada, sob um tranquilo ´living and letting live´. Mas, lá está, eu não quero nem procuro mas o combate surge, obrigatoriamente. Não dá para fugir, se o ataque é muito denunciado. Pode ser evitado, muitas vezes, a experiência vai-nos dando engenho e arte também nestas coisas, e quando o é, permanece o sossego.  Mas declarado, não dá. E é assim que vamos. Ou vou, neste caso. A desejar sempre estar no meu canto mas a não fugir de uma frente de batalha se sou obrigada a combater.

maio 22, 2014

Mais uma vergonha


Que é como quem diz, mais um muro. Desconhecia que tinha sido ou tem vindo a ser construído um muro em Mellila, como forma de evitar a imigração clandestina vinda das áfricas onde, curiosamente ou não, este enclave se encontra. Se por um lado percebo que o fluxo de imigração possa ser em larga escala e ilegal, a ponto de criar problemas dentro deste território, por outro, e é este que prevalece em mim, não suporto muros deste tipo, e sou absolutamente contra a ideia de que há, ou houve, muros maus e muros bons. A desgraça de quem tenta saltar este, à semelhança de outros, a desgraça, dizia, é tanta que apenas pode instalar-se em nós uma profunda compaixão e solidariedade. Impossível sentir de outra forma se nos pusermos na pele de quem às vezes espera anos no deserto para saltar o muro. Basta imaginarmos que a nossa pobreza relativa (que ainda não é absoluta, como nestes países subsarianos) que nos leva hoje a atravessar a fronteira esbarra com um muro assim, que nos obrigue a ficar num lugar onde já não conseguimos sobreviver condignamente. É só tentar perceber isto que a vergonha salta cá para dentro num instantinho. Vergonha e injustiça, misturadas com comiseração e até dor . Nunca são bem vindos os muros da miséria e do sofrimento.

Normalmente




Muitas vezes, ou até normalmente, considera-se anormal o que devia ser encarado com a maior normalidade - e naturalidade - possível. Desta forma, existiriam menos preconceitos, menos críticas, menos problemas. Por outro lado, aceita-se como normal um rol de anormalidades que são uma autêntica chaga. Estas, sim, deviam fazer com que as pessoas fossem mais exigentes, consigo mesmas e com os outros. Podia dar exemplos, para o dito acima e o dito aqui mais abaixo, sobretudo porque o conceito de normalidade também pode variar, é certo. Mas uma coisa é também certa: há normalidades absolutamente naturais e essenciais e assim devem ser vistas e sentidas e há depois o incrivelmente anormal que só perturba e destrói. A proposta é sermos menos tolerantes com este último.

maio 19, 2014

Um "We ourselves" ou dois


É assim - pouco ou nada percebo do assunto até porque me afasto das notícias por diversas razões. Mas comecei a pensar nisto. A comunidade internacional - vulgo ocidente? - não concorda com a "desvinculação" da Crimeia da Ucrânia e posterior união com a Rússia. Isto com a maioria da população naquele território ucraniano a ser russa, revelando então óbvias preferências pela pátria de origem. Segundo e seguindo esta ordem de pensamentos, uma coisa deveria ser-lhe semelhante, digo eu assim de longe. Trata-se da "desvinculação" da Irlanda do Norte do Reino Unido, que assim se tem mantido, ao que se me tem parecido, pelo facto da maioria da população ser de origem britânica, ainda que num território, obviamente, irlandês. Ora se isto não são dois pesos e duas medidas, não sei não. Talvez não saiba, mesmo. Alguém, por favor, me explique...

maio 18, 2014

Preparar o verão?


Adoro o verão, sofro no inverno, estou feliz com estes dias de maio quentes e longos, até as manhãs me parecem apetecíveis, ontem vi-me, inclusivamente, a estender roupa às 8,30 da manhã no pátio com um q.b. contentamento. Claro que me levantei com um propósito específico, o de ir a um determinado local, mas eu e o estendal, juntos, é coisa impensável a esta hora senão sob estas soalheiras temperaturas. Posto isto, renovo-me no verão mesmo quando o ainda não é no calendário mas quase. Ainda assim, não sei o que é preparar o verão. E isto veio-me à ideia porque vi uma foto online em que duas amigas, no verão do ano passado, se diziam a preparar este verão, o de 2014. Eu estou mortinha que ele chegue, o do calendário, que é para eu, final e merecidamente, desligar do trabalho e poder explorar, a minha grande paixão de sempre, o que quer que me apeteça ou possa. Agora, insisto, desconheço o que é preparar o verão. Será ir ao ginásio? Será comprar bikinis novos? Será ir tostando ao sol aos bocadinhos para exibir um bronzeado no pico do verão e das multidões? Será abandonar algum ritual de inverno? Será apenas mudar de roupa e de calçado? Será cortar os cabelos para se ficar mais fresca/o? Será pôr a espreguiçadeira no terraço ou no pátio? O que quer que signifique preparar o verão, eu devo passar-lhe ao lado. Vou fazendo as coisas à medida que surgem  - está muito calor, dou um saltinho à praia, por exemplo - e à medida de que delas tenho necessidade, de tal forma que já comprei ou quis comprar roupa de verão, bikinis incluídos, em agosto, uma grande dificuldade, é certo, porque as pessoas que devem preparar o verão já levaram tudo antes, mais espertas e mais aflitas do que eu. Eu gosto de viver as coisas como elas surgem, sem as antecipar, fugindo completamente ao normal dos dias que correm, em que tudo é feito ansiosamente, antes do tempo, e de acordo com os calendários coletivos e comerciais. Não sei o que é preparar o verão, não quero preparar o verão. Quero que ele venha, simplesmente, dia a dia, um dia de cada vez, que se demore, até, e muito, e como o adoro e preciso dele. Quanto ao resto, não me falem em preparativos. Isso soa-me a trabalheira e a catálogo e o verão, o meu verão, não pode ser feito para me cansar. Às vezes lá calha, também é verdade, mas nessas alturas dou por mim a ansiar pela calmaria do outono...

maio 16, 2014

Uma coletiva emoção



Independentemente de se ser do Porto, Benfica ou Sevilha (desde sempre ou momentaneamente) há sempre qualquer coisa de estranhamente tocante nas lágrimas coletivas. O mesmo serve para as alegrias. Por vezes, a emoção coletiva eleva-nos de uma forma singular, quer seja pelo contentamento, quer seja pela tristeza. Mesmo se a tristeza ou o contentamento tiverem origem em coisa pequena ou não essencial. Os sorrisos e risos e lágrimas de muitos podem contagiar-nos. Não é mau perceber que se pertence a um todo numa circunstância em particular. Não é mau partilhar emoções. É bom sentir em conjunto.

maio 15, 2014

De profundis país lento


Tenho, este ano, no âmbito da minha atividade profissional, vivido experiências brutalmente enriquecedoras apesar de brutalmente desgastantes. Muitos são os pensamentos que delas surgem, impossíveis de registar, atempadamente e por escrito, aqui ou em qualquer outro lugar. Mas uma conclusão pode ser aqui assinalada: a de que tenho mantido, ao longo deste ano, um intrigante e desolador contacto com o Portugal profundo. A modernidade existe, sim, comparada com tempos idos, mas é minoritária e citadina, intelectual e, por contraste, consumista. O resto, tudo o resto aponta para um país ainda muito atrasado, com baixos níveis de conhecimento, de cidadania, de esclarecimento e de pensamento.
Qual o impacto disto tudo na escola? Bom, uma taxa de abandono considerável, ainda, uma falta de ambição cultural e pessoal assustadora, posturas inaceitáveis que as famílias, pouco esclarecidas e, por vezes, mesmo sem maneiras, não conseguem controlar, um desinteresse chocante pelo conhecimento, alheamento do mundo para lá das novas tecnologias e das experiências típicas da adolescência, ignorância natural e cultivada que roça a boçalidade, desrespeito por todo e qualquer tipo de regras e de autoridade, taxas de sucesso baixíssimas e, para as aumentar, fabricadas, enfim, um país atrasado, deprimente, ignorante, com a mania que é rico e que é injustamente desprezado, apostado em ter, ter cada vez mais, e esquecendo completamente o ser.
Também é verdade que este ter o é cada vez menos. As dificuldades económicas só agravam este desalento social, estas psicoses várias que assolam as famílias, as pessoas, a parentalidade, e como consequência, os filhos e os filhos na escola. 50 anos de reclusão obrigatória fizeram-nos muito mal. Persistem dificuldades dessa altura, na cabeça e, como consequência, nos atos. Mas este descalabro financeiro atual tem, certamente, um efeito altamente negativo na melhoria das condições de vida, desnorteando ainda mais aquilo que não estava ainda solidificado.
Hoje coloquei um post no meu FB profissional para que os alunos lessem. Como gostaria que o lessem e interiorizassem. Só assim poderiam e poderão sair destas profundezas em que ainda nos encontramos, assim que saímos da cidade, do teatro ou do centro comercial. A nossa marcha está a ser muito lenta, é possível que estejamos até a andar para trás. Cruzem os braços, cruzem. Fiquem à espera de milagres. Assim não se vai lá.

maio 07, 2014

O afeto comanda a vida

Este post foi escrito para o AE por Mafalda Branco, que tive o prazer de conhecer no início deste ano letivo, autora do blogue Do outro lado do espelho.


Não podia estar em melhor companhia para escrever sobre o que dá sentido aos meus dias e ao que faço profissionalmente. Sempre fui uma pessoa de afetos, desde que me lembro de ser gente. As minhas primeiras memórias são do colo da minha bisavó e da minha educadora de infância, que sempre me amaram e protegeram. Da última continuo ainda hoje amiga e os afetos acompanham a nossa relação. Quando nos encontramos, conta-me sempre as mesmas histórias e é curioso como também ela tem na memória a minha bisavó e o que ela, já na altura velhinha, fazia por mim. Fala-me do lençol castanho e do cestinho cor-de-rosa que eu levava todos os dias para a escolinha. Lembra-se como se fosse hoje. Também eu. Sorrimos, abraçamo-nos, reforçamos laços e eu a certeza que a importância da escola é imensa na nossa vida e na formação da nossa personalidade. A minha bisavó já faleceu há muitos anos, mas dela guardo esse amor tão bonito por mim e tudo o que fazia para que eu estivesse bem e feliz.

Depois fui crescendo. A minha adaptação à escola não foi fácil, disso também me lembro. E aqui, mais uma vez, as minhas professoras da escola primária marcaram a minha vida, com a sua ternura e o seu cuidado. A professora Zulmira e a professora Elisa, para além do tanto que me ensinaram, deram-me também elas colo e estavam sempre à minha espera com um sorriso. Podia continuar a enumerar todas as pessoas que passaram pela minha vida e que me ensinaram que o mais importante são os afetos, os laços que criamos e que nos permitem crescer e desenvolvermo-nos. E tenho a felicidade de serem tantas! Dessas pessoas fazem parte muitos professores, para além dos que aqui já referi. Talvez tenha sido por isso que hoje trabalho em educação e… com professores… De facto, é um privilégio poder trabalhar em educação, por muitas adversidades que tenhamos que enfrentar. E a base do meu trabalho está… nos afetos, precisamente! Dedico-me a sensibilizar e a inspirar as pessoas, neste caso os professores, para a importância de trabalhar a relação. E escrever hoje estas palavras fez-me pensar em como tudo se encaixa na nossa vida, desde que estejamos atentos e sigamos o nosso coração. Em pequenina o meu sonho era ser professora, depois passou para ser psicóloga e hoje sou psicóloga e trabalho com professores! Nada acontece por acaso e os afetos ajudam a construir o caminho. Neste mundo louco em que vivemos, este é talvez o maior desafio: centrarmos a nossa vida nas relações e dedicarmos-lhes todo o afeto que elas merecem e de que precisam para ser mais plenas. Acredito que o caminho para sermos mais felizes e vivermos em maior equilíbrio é este e é o que procuro transmitir em tudo o que faço. Como dizia Novalis, “tudo é semente”. Para além de semear, resta-nos acreditar e manter a esperança que essa semente dará fruto um dia…

maio 05, 2014

Tiro e queda

A exigência é inimiga da popularidade. Nas chefias, no cumprimento do dever, na educação, nas relações sociais e mesmo afetivas. Ser exigente é não ser popular. Quem quer ser popular, amado ou, na realidade muitas vezes apenas bajulado, deve cultivar a facilidade, o deixa andar, o porreirismo. É garantido.

maio 03, 2014

Conhecer é poder ou querer poder

               
  
Afazeres profissionais intensos e consequente cansaço têm-me afastado da blogosfera. E conseguiram uma proeza no dia do trabalhador: pôr-me a preguiçar, a ver televisão no sofá, como já não fazia há muito. De uma assentada, vejo dois filmes, apesar de não os apanhar totalmente desde o início. Duas biografias, diferentes, mas que no fim lá liguei através de frases emblemáticas ou filosofias de vida que me chamaram à atenção.
1 - a primeira, mítica e de culto para alguns, nada intelectual e desinteressante para outros - a vida de Bruce Lee. Nada de profunda erudição e ainda assim reveladora de uma força de alma incomum, de um percurso, infelizmente breve, a desbravar fronteiras culturais, físicas e psicológicas. O trazer a beleza da cultura chinesa para a cultura americana de origem anglo-saxónica, neste caso, como forma de fazer frente ao desconhecimento, e, desta forma, ao medo, ao preconceito e às barreiras instaladas. Conhecer é assim aproximar, contribuir para a harmonia, ser feliz. 
2- a segunda, mítica e de culto para tantos, provavelmente insuportável para outros - a vida de Che Guevara. Ou melhor, parte dela. O filme a que assisti é a segunda parte da fita dirigida por Steven Sodebergh, e é centrada na guerrilha na Bolívia, onde, de resto, haveria de sucumbir. Um filme belíssimo, falado em espanhol, que nos deixa espreitar uma visão de sociedade perfeita, idílica, é possível, com erros pelo caminho, mas profundamente justa. A viagem pelo continente sul-americano que fez enquanto jovem marcaram a sua posição política, social e até filosófica. Como conhecer o que pôde conhecer, vendo e sentindo, e não querer alterá-lo? Da mesma forma, esta Bolívia de contrastes chocantes e indignos, com níveis de pobreza campesina atrozes, não era justa em 1967 e não sei se o será hoje - duvido. Aqui o conhecimento não traz propriamente felicidade. Conhecer, aqui e assim, é querer agir, é não conseguir sossegar, é ter de intervir, ainda que pagando um preço altíssimo. 
Os dois filmes ligaram-se nisso mesmo - na forma como o conhecimento nos pode apaziguar e tranquilizar e na outra forma, naquela em que o conhecimento nos pode inquietar, perturbar. Assim, desconhecer é sinónimo de temer, de hostilizar e ao mesmo tempo conhecer pode ser e é sinónimo de participar, de atuar. O conhecimento pode trazer alegria e harmonia e pode trazer sofrimento, consciência. Trata-se, pois, e unindo as biografias e os pensamentos que me assolaram, de uma poderosa arma contra a intolerância e a injustiça que pode alterar uma vida, almejando-se alterar muitas.