setembro 20, 2013

O partido não é devido


Às vezes, muitas vezes, apetecia-me um mundo sem partidos. Que sentido faz nós gostarmos das ideias de alguém, muito frequentemente até, e depois não nos revermos, dizer que não nos revemos, na sua área política? Afinal, o que é uma área política? Não seria melhor identificarmo-nos com projetos ou não? E dessa forma não estarmos subjugados por nenhuma área em particular nem nenhuma bandeira? Explicando. Podíamos, devíamos, trabalhar em prol de um bem comum e neste sentido, mantendo a individualidade, optar por compactuar e colaborar naquilo que achamos que é o bem e recusarmos aquilo que consideramos mal. Ou seja, agora podíamos estar a trabalhar com uma pessoa, num projeto, porque nos identificávamos com ele, e depois com outra, noutro, pela mesmíssima razão. No fundo, como acontece com o trabalho diário, quando temos opção, ou mesmo quando não a temos, quando temos de trabalhar com quem nos identificamos ou não a favor de uma causa comum e maior. Que sentido faz catalogarmos as pessoas por áreas políticas se isso nos faz desvalorizá-las? Tem uma ideia boa mas não a apoiamos nem queremos na nossa equipa porque veste uma camisola diferente. Por outro lado, tem uma ideia péssima, ou várias, e continuamos ao seu lado apenas porque devemos, porque é da nossa cor, porque queremos manter os privilégios. 
Ainda há pouco vi nas notícias algo que vai um bocadinho ao encontro disto, a ambição pessoal levada a um certo extremo em detrimento do bem de todos. Há autarcas que estão impossibilitados de se candidatarem novamente ao lugar que detinham. Então, ao que me pareceu, estão em nr 2 nas listas que é para depois o nr 1 renunciar e assim eles manterem o cargo. Corrijam-me se me enganei, isto de estar a ver, quer dizer, ouvir notícias na cozinha não é muito fiável no que diz respeito à minha pessoa. A ser verdade, então o nr 2 não pode estar em nr 2 e trabalhar para o projeto comum? Não terá (n)a mesma importância o seu empenho e dedicação? Partindo do princípio que quer fazer o bem, pois. Ou confirma-se que é o umbigo que interessa, os interesses pessoais, a imagem e o resto que acompanha o topo da pirâmide? Se se acredita numa ideia, num projeto, não se pode ter uma participação menos vista ou mediatizada mas igualmente válida e necessária? Até mesmo no mesmo partido tem de haver egos que se sobrepõem ao ideário? 
Não sei se uma coisa pode ser ligada à outra,  mas eu liguei-as na minha cabeça. Pessoalmente, adorava que não houvesse partidos, que houvesse apenas ideias, boas, e competência. Que melhor seria o mundo sem partidos. O que parte divide, desune, e destrói. Continuaria a haver posturas intoleráveis a nossos olhos, continuaria a haver pensamento oposto ao nosso, mas não sempre e de forma continuada. O mundo teria mais nuances, menos jogos e mais cooperação. Haveria, digo eu e não há provas em contrário, mais construção. 

10 comentários:

  1. O seu texto é pertinente e levanta questões interessantes. 

    Sócrates da antiguidade clássica grega defendia a seguinte posição sobre a política: Não existiam melhores governantes que os filósofos porque eles detinham um conhecimento profundo. 

    Pergunto, será que eram mesmo? Não será que os actuais políticos e toda a política que se pratica é filosófica?

    Bom fim-de-semana!


    p.s vou adicionar este blogue à minha lista para poder voltar com maior tranquilidade!

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  2. Olá, Alexandra, bem vinda e obrigada. :) Não sei se a política é filosófica, uma vez que é pouco prática... Mas não revela conhecimento, de longe, nem reflexão, nem profundidade. A politiquice atual, a dos partidos, a que vamos tendo. Aquela de que me farto. Já houve, e nomeadamente a nível internacional, grandes políticos que revelaram sabedoria, honestidade e humanismo.

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    1. Penso que a política em si deveria ser uma arte ao serviço dos povos, mas não, é uma arte de colocar dinheiro nos bolsos como se não houvesse amanhã. Os comícios são uma autentica lavagem cerebral com palavras repetitivas e cansativas. Comunicar com as massas levando a que elas pensem sobre o errado fazendo-o passar por certo, correcto.

      Que fazer, que dizer? Enquanto continuarmos como meros espectadores de sofá nada mudará!

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  3. Fátima, não sei. Em qualquer área da sociedade existem ideias. Em termos políticos, também. O bem comum deveria ser o móbil, mas mesmo assim, ainda que fosse, e partindo do pressuposto que todos concordaríamos, o caminho a seguir para lá chegar, pode ser distinto. Faço um paralelo com as correntes da psicologia :) O objectivo é o mesmo, mas jamais trabalharemos todos da mesma forma...

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    1. Sou muito independente e não gosto de espartilhos, neste caso, políticos relativos a facções partidárias. Porque afastam as pessoas. * Não são as ideias que estão em causa (as boas, diga-se) mas as divisões entre nós/eles, os bons e os maus, enfim, tudo a preto e branco. Não nego que gosto de cor... não no sentido político. :) Mas voto sempre, ou... tenho votado.

      * Nos blogues, vê-se isso. As pessoas tendem a ser seguidoras de quem é direita quando também o são e de quem é de esquerda quando o são. A não ser que o discurso bloguista seja não ético, intolerável e indigno, não vejo o porquê desses alinhamentos... embora com exceções. Tanto gosto de ler o Pedro Correia como o Daniel Oliveira, o Pedro Rolo Duarte como a Helena Ferro de Gouveia, a Helena Sacadura Cabral como o Sérgio Lavos. São todos excelentes. E outros. E estes nomes podiam estar por outra ordem, não estou a confrontá-los. :)

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    2. Oh, a minha flexibilidade levou-me a escrever facções, quando já ando nas fações :):)

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  4. Tomar partido não significa ter partido, porque o que é necessário é ser-se " inteiro"

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  5. A propos, acabei de ler este artigo. Apesar de exaustivo, tem alguns pontos interessantes no final.
    http://expresso.sapo.pt/antes-pelo-contrario=s25282
    Marla

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