agosto 30, 2013

Silly ma non troppo


Passaram-me completamente ao lado, ou seja, sei que aconteceram mas não vi nem me interessam particularmente ou até nem me interessam de todo:

- o Pontal e a rentrée da política portuguesa
- a entrevista da Judite de Sousa ao miúdo
- o início da temporada do futebol luso
- a morte de António Borges


Não me passaram ao lado, infelizmente:

- os fogos e a tragédias dos bombeiros
- o Egito, a Síria e outra tragédia, atual e provavelmente futura
- o concurso de docentes - mobilidade interna


De qualquer forma, o descanso e o verão conjuntamente podem ser letárgicos a tal ponto que nos fogem as ideias, a inspiração, a perspicácia, o engenho. A haver isto tudo, claro. Torna-se difícil escrever, por exemplo, à medida que os dias se tornam melhores, mais aliviados, mais exteriores. Manter um blogue na travessia que é o verão que adoro é coisa árdua.

agosto 28, 2013

Satisfaction


De vez em quando aparecem nas revistas e nas redes sociais umas listas do género 10 passos para a felicidade e coisas parecidas. No outro dia apareceu uma que tinha para aí umas 23 coisas. Como não fazia muitas delas concluí que estava muito longe da felicidade. Mas, agora mais a sério, no meio de tanta coisa, há sempre um denominador comum - o parar de nos compararmos com os outros. Na verdade, este é um grande passo para a infelicidade, ou para um grau de insatisfação que pode raiar o doentio, no seu extremo, logicamente. Querendo ou não, de forma automática ou voluntária, acabamos sempre por espreitar para o lado para ver como pairam as coisas. E se as coisas correm bem, também queremos o mesmo para nós. Nada de mal, se de um ponto de vista da estimulação que é necessária à condução da nossa vida. Os outros fazem-nos andar, positivamente, inspiram-nos, exigem-nos. E nós respondemos e alcançamos muito ao mesmo tempo que nos valorizamos e seguimos adiante. Contudo, se olharmos para o lado sob o ângulo do despique (que existe, entre vizinhos, entre familiares, entre colegas) o resultado será o de um desgaste desnecessário e tolo. Porque inclusivamente o que vemos ao lado pode ser enganador. Se olharmos bem, atentamente, há sempre alguma coisa que falta. Que nós temos, ainda por cima. Obviamente que há quem pareça tudo ter, e até pode ter, momentaneamente, no seu tempo. Nós temos o nosso tempo e os outros o deles. É difícil, na sociedade da imagem em que vivemos, em que cada vez mais somos voyeurs uns dos outros, não desejarmos o mesmo bem estar, a mesma felicidade, a que se projeta, na realidade. É tarefa árdua resistir ao sucesso dos outros sem a comparação. Começamos a ver isso bem cedo, nas crianças (eu tenho e tu não tens, eu faço e tu não fazes, constante nos parques infantis) e os pais adotam os mesmos comportamentos. Ou ao contrário, muito provavelmente.  Compararmo-nos aos outros, amiúde, dá cabo de nós. O que importará será desejar e alcançar o que quer que seja por nós mesmos, porque nos faz bem e porque nos é essencial, não porque vimos ou alguém nos faz crer que é o melhor. E não desesperarmos se as coisas tardam, comparativamente, lá está. Convém educarmo-nos para isto, convém-nos, convinha. Tudo seria mais simples. O sonho não deixa de comandar a vida mas é o nosso, não o de alguém que não nós. E logo se verá. Mas certamente que nos deixa um bocadinho mais próximos da satisfação e do contentamento com o que temos ou vamos tendo.  

agosto 27, 2013

O cerco

                 

Outra palavra que já anda a fazer-me espécie é mobilidade. Ontem, no metro para o Chiado, olhei para um poster e vi-a, ia-me dando uma coisa. Já não pode uma pessoa estar longe das coisas de sempre que logo volta o fantasma da desgraça docente. Indecente, como sabemos. Para quem possa não perceber de imediato. Está-se descansadinho em casa, princípio de agosto, merecidas férias, e uma sms chega e avisa-nos que temos de concorrer porque não há turmas para nós. Efetivos, damos aulas há anos e anos e lá vem a mobilidade especial. Isto significa que está a apertar-se o cerco. E entre este e o aperto do metro, venha deus que nós seguramente escolhemos. 

Encantos de Lisboa e não só


Ontem em Lisboa veio à minha baila a questão de sempre: cultura, cosmopolitismo, diversão, modernidade versus o que tenho por aqui onde moro: calmaria, qualidade de vida a vários níveis e marasmo, ou seja, dias mais desinteressantes mas mais relaxantes. Podia era estar mais perto da estimulante capital e manter o que há tranquilamente à minha volta. Podia, digo eu, mas não estou. 

agosto 25, 2013

As horas


Deparei-me com uma frase da estilista Fátima Lopes em que afirma sentir-se chocada com a resistência às 40 horas semanais e acrescentando que ela própria nunca trabalhou menos de 40 horas por semana. Três coisas: primeira - é verdade que não se vai lá sem trabalho e sem esforço; segunda - a estilista trabalha por conta própria, para ela, e sabemos que as pessoas que o fazem são naturalmente mais esforçadas, nomeadamente em termos de horário, por razões mais do que óbvias; terceira - a opção da estilista não é seguramente a de muitos, ou seja, (diz que) não quis ter filhos, está no seu direito, claro, e, neste momento, é, ou parece ser, uma mulher livre, com as implicações que isso significa, mais tempo e maior disponibilidade para se dedicar àquilo que gosta e que a faz ganhar e muito. Por outro lado, não nutro simpatia por workaholics que apregoam o trabalho como opção primeira de vida e que apenas se parecem projetar através dele. Mais uma vez, estão no seu direito, mas também estou no meu ao discordar de uma éxistence privada de ócio e vida familiar. Posso trabalhar até à exaustão, por profissionalismo ou brio, ou respeito e gratidão, mas não porque o procure necessariamente. Na verdade, trabalho porque preciso, e portanto não sou uma viciada, de longe. Por dádiva, fazia mapas astrais e outras coisas que dessem apenas prazer, a mim e aos outros. Eu, nestas matérias, não sou nada feminista - acho que nós mulheres, mães pelo menos, devíamos ter horários completamente adequados à educação e acompanhamento dos filhos, como se vê, penso, em certos países do norte da Europa. Não estejamos com histórias: na senda da igualdade quem perde somos nós. Não basta o full time, como ainda damos o litro com as tarefas domésticas e a supervisão da escola, da saúde, da roupa, da alimentação dos filhos. A maior parte das encarregadas de educação são mães, isso diz tudo. Eu cá voto não pelas 40 - um retrocesso - mas pelas 20. Sou diferente por ser mulher? Sou e não me importo nada de o ser. Quem me dera mais tempo para maior qualidade de vida, para mim e para os meus. Ou é bom as crianças passarem o dia todo na escola e no ATL, com as consequências várias que daí decorrem, nomeadamente a falta de concentração e um grande desacompanhamento que às vezes induz a certos comportamentos? Mas isto vinha a propósito da Fátima. O sucesso advém da dedicação e da entrega, mas cada um trilha o seu caminho. A opção dela não é a minha nem será a de muita gente (mais horas quando ainda por cima dizem que há funcionários a mais?). Gosto de equilíbrio e desiquilibro-me se não o tenho. Trabalho e conhaque, entenda-se. Tem de haver horas para os dois...

agosto 24, 2013

Abnegação


Todos nós conhecemos juras de amor eterno, ou até mais imediato, quer porque as dissemos ou ouvimos quer porque as vimos no cinema. No écrã, suspiramos, geralmente, com as nossas histórias românticas favoritas e na vida real vamos suspirando, mais ou menos, consoante o estado de paixão ou a intensidade dos amores que vamos vivendo. Há frases que ficam realmente muito bem no cinema. Ou na literatura, dá no mesmo. São muito bonitas, absolutas, fazem-nos querer eternizá-las e quiçá experimentá-las, já que muitas vezes a vida imita - e quer imitar - a ficção. No entanto, por vezes é muito difícil reproduzi-las na realidade, sobretudo aquelas em que há um desvelo total pelo outro, revelando um amor tão forte em que um se propõe a fazer tudo pelo outro (ou ambos). Chamar-se-á a isto abnegação. E aqui é que as coisas se complicam. À exceção do amor pelos filhos, nenhum amor físico, erótico, me parece merecer o abandono da vida e dignidade próprias, se a isso tiver de levar essa tal renúncia a nós mesmos. Essa frase de ser capaz de fazer tudo pelo outro é talvez entendível no estado de paixão inicial mas já não o será a nível do amor mais maturado e até mais quotidiano. Na verdade, é estranho esse abandono de nós mesmos se levado a um alto ponto, se levado ao extremo. Aqui há uns anos vi Ondas de Paixão, um filme inquietante, que me perturbou imenso. Se bem me lembro era uma história em que o amor tocava esse extremo, ou melhor, em que o amor pelo outro era tal que se abandonava a dignidade própria e se fazia tudo, literalmente, ou quase, pelo outro. Acredito que haja almas muito apaixonadas e muito emocionais que se deixem levar pelas ondas de uma avassaladora paixão. Mas acredito que há outras que, mesmo apaixonadas, conservam sempre um pingo de racionalidade e de amor próprio. Desvelo total pelo outro versus ego, também é possível. E também entendível, já agora. Os excessos são perigosos, para além disso. Um certo distanciamento é natural, mesmo quando a flor da paixão brota e cresce intensa e rapidamente. O único grande amor que não conhece qualquer espécie de ressalva nem de salvaguarda pessoal é o amor por um filho. O resto é mesmo substituível, sempre. Sabemos que sim. Isso não quer dizer que não amemos e façamos até uma jurita de vez em quando - há quem o faça amiúde, e não quer dizer que dure igualmente. Interessa é estarmos bem no amor, de forma verdadeira, com ou sem palavras bonitas e absolutas. Nós e o outro. 

agosto 23, 2013

Esquerda e direita e aquilo que não é e deveria ser


Há coisas que me irritam na esquerda. O discurso cassete, a eterna crítica, um certo elitismo intelectualóide e cultural, o não saber relaxar, o pensar que todos os desfavorecidos são naturalmente bons e merecedores, a dualidade em relação a ditaduras, a ausência de autocrítica, uma certa divinização do trabalho. Permanentemente em guerra, uma canseira que é incomportável, para mim, a tempo inteiro. 

Há coisas que igualmente me irritam - e detesto - na direita. O snobismo, a indiferença social, os tiques de quem sempre tudo teve, a frieza superior e sobranceira, o preconceito étnico e religioso, o liberalismo económico levado ao extremo, a dualidade em relação a ditaduras, uma insensibilidade que brota de uma existência ao abrigo de dificuldades. Permanentemente sob privilégios e uma certa rigidez face à necessidade de melhorar e mudar o que é preciso.

O que resta então? O centro? Não me parece, a ver pelas jogadas de poder e os interesses que não são nacionais que o centrão tem sempre demonstrado neste nosso país. O que me resta, então? Apesar de nunca ter votado à direita, e não me pareça que o vá fazer algum dia, a verdade é que estou a ficar cada vez mais apartidária. Penso que nunca seria, de resto, capaz de pertencer e militar num partido, sou demasiado independente para isso. Tolher as minhas opiniões e posturas por causa de decisões conjuntas em nome de uma pretensa ideologia não faz o meu género. A ideologia é uma dimensão interessante mas está minada por questões que a defraudam constantemente. E não concebo ideologia sem humanismo, sem alma e sem prazer. 

Também considero que há pessoas de real valor em todos os quadrantes. E que as temos de valorizar, independentemente do  lado em que estão. Se forem humanistas, construtivas,  anti-preconceito, dignas, competentes e positivas, pouco importa em quem votam. Há valores que são, ou dizem ser, tradicionalmente de esquerda e que são essenciais. E outros, que dizem estar historicamente ligados à direita, que também o são. Daí que o que importa é construir e seguir, respeitando o outro, a diferença e sendo sensível às dificuldades, evitando-as ou lutando contra elas.

Os líderes, da esquerda e da direita, também desempenham um papel importante. Há quem nos inspire e há quem nos desiluda e defraude. Há personagens inenarráveis, tanto à esquerda como à direita, tanto nacional como internacionalmente. Há inclusivamente indivíduos que usam a política e o poder que detêm para escoar as suas paranóias pessoais e os seus traumas interiores. Há mentira, há abuso, há exploração, há demência.  Há perigo, portanto.

À esquerda ou à direita, as coisas que me irritam não deviam ser ou estar. Elas afastam-me, sobretudo na área onde me tenho movimentado desde que voto e mesmo desde que desenvolvi a minha perceção do mundo e da política como meio de o (poder) transformar. Será provavelmente isto fruto da sociedade atual onde vivemos, onde os valores e consciência parecem desvanecer-se, onde a vaidade, os egos e o embuste se pavoneiam, onde a vidinha de cada um se sobrepõe a tudo, onde, no fundo, a mediocridade impera. 

Vou continuar a votar. À espera de um milagre qualquer, ainda e sempre. Há surpresas, apesar de tudo, no meio das desilusões. Lutando quando se quer, como se sabe e pode, e relaxando quando se quer, como se sabe e pode. Importa é que os dias possam ser melhores, tanto quanto os outros nos deixem e tanto quanto nós próprios os possamos tornar.

agosto 22, 2013

Conhecedores

Podemos ter opinião - temos direito a ela - mas se não experimentámos ou vivemos certas situações a nossa opinião não é tão sábia como quem as experimentou ou viveu. Estar dentro ou fora faz, quase sempre, toda a diferença. Quer neguemos isso quer não. 

agosto 21, 2013

Livros caros e caros livros


Este ano estreio-me na compra dos livros escolares com o pequeno. Como ainda se trata de um nível elementar - iniciante, na verdade - são apenas 3 os manuais a adquirir. Estão encomendados e vai ser uma alegria quando chegarem. Porque era sempre uma alegria para mim a chegada dos manuais escolares, tanto que os guardo praticamente todos, sobretudo os da escola primária. E pretendo transmitir essa alegria quando o pequeno os vir e folhear. Vem isto a propósito da aquisição dos manuais escolares no início de cada ano letivo. Entre eles e outro material necessário, as somas costumam ser um forte encargo para as famílias, sobretudo para quem tem mais de um filho. O negócio das editoras é uma realidade, são muitos os manuais que são caros, sobretudo nos anos em que são precisos vários, e a crise que afeta o seio de muitas famílias vem complicar a aquisição dos mesmos. Há neste momento escolas que recorrem ao sistema de empréstimo e sempre se podem emprestar/passar entre familiares e amigos. Contudo, há duas questões que me parecem pertinentes de abordar.  A primeira é a de que a crise não pode justificar todo o desinvestimento que se faz em relação à escola e à aprendizagem. Ou seja, não me convencem os argumentos de que os livros são caros e portanto não se compram, quando em casa ou na família existem vários televisores, computadores, telemóveis topo de gama, playstations e os outros gadgets todos de última geração. E tantas outras coisas a que os miúdos têm acesso e que são supérfluas. Continuo a insistir na questão das prioridades. Não me esqueço de um aluno, por exemplo, que não tinha manual mas que apareceu com um tablet na aula - coisa que não possuo nem sinto falta. Ou de outros, maiores de idade, que não tinham nem têm manual mas vinham e vêm de carro próprio para a escola. Muitas vezes usa-se a crise para descartar as responsabilidades escolares e com isso não posso compactuar. Por outro lado, havendo dificuldades ou não, não se deve passar aos miúdos um certo  desagrado com a compra dos manuais, como se de um fardo se tratasse, retirando o prazer que deve constituir a chegada ou compra dos livros escolares. Deve-se incutir o gosto pelos manuais - e pela escola - desde cedo, pelos livros, pela aprendizagem e descoberta que podem representar e representam. Desconheço se os meus pais tiveram dificuldades para me comprar os manuais, não me lembro, mas imagino que sim. Nunca senti isso, porém, o que fez com que apreciasse sobremaneira e guardasse na memória o início do ano letivo, o folhear dos mesmos, o antecipar das matérias, até o encapar, antigamente muito comum. Está a chegar-se a um ponto em que se desprezam os livros, em que se dá valor e adquire-se um rol de coisas não essenciais em detrimento do saber que eles nos proporcionam, que é sempre, sempre mais perene do que aquilo que se apreende online. Se há dinheiro, e falo dos filhos, para férias no estrangeiro, concertos, roupa de marca, novas tecnologias, tardadas no café, e tantas coisas mais, tem de haver dinheiro para os livros escolares. Uma vez que não são grátis e não invalidando que sejam caros e que custe a muitos (não falo aqui das famílias realmente necessitadas). Há que estabelecer prioridades. E há que fomentar o gosto de ir para a escola. Os livros são caros mas têm de nos ser caros, da outra forma. Compreende-se, claro, o resto mas o prazer tem de passar para os miúdos. Pois se de pequenino se torce o pepino...

agosto 19, 2013

Quo vadis?


Não tenho acompanhado de forma elucidativa e completa os acontecimentos no Egito. Já aqui registei que uma democracia não se esgota em eleições. Mas também não sou a favor de golpes militares, sobretudo se instalam regimes em que se resolve tudo à lei da bala. E pensar que uma civilização que já foi tão grandiosa, apesar dos pesares, mergulhou, mais uma vez, numa convulsão que afasta ainda mais a melhoria de condições de vida para uma grande parte - para a grande parte - da população. Quando era novita, fascinava-me o país das Pirâmides e do Nilo. Hoje esse encantamento desvaneceu-se, por várias razões, embora acredite que as suas estâncias balneares sejam boas e que a experiência de visitar o país seja um enriquecimento a vários níveis. Mas agora não. Agora está longe de uma segurança que é essencial, quer para visitantes, quer para residentes. Conheço um engenheiro egípcio, também com nacionalidade canadiana, que está na Universidade de Aveiro e que foi agora passar quinze dias ao Cairo, para ver a família. Não saiu de casa, ao que se me constou. Em tempo de férias, o Egito não deixa espaço para a tontice de verão. Bom seria que deixasse, bom sinal seria. E não tanto por causa de quem o visita mas essencialmente de quem lá vive. E que não tem nada a ver nem com desejos de medievalismo religioso nem com a tirania das armas. 

agosto 15, 2013

Histórias no feminino que fizeram história



Ando a ler - ou reler, a completar a leitura iniciada anteriormente - o livro Mulheres que amaram demais, de/a Helena Sacadura Cabral. Tenho apreciado bastante as histórias de vida no feminino, à semelhança do que já tinha acontecido com Histórias de Mulheres, de Rosa Montero. Trata-se de mulheres que fizeram história, em diversos campos da sociedade ou das artes, reclamando para si os louros da sua audácia e inspirando quem as conheceu na altura e quem hoje em dia as vai (re)conhecendo de outra forma. 
Uma coisa é certa, e saída destas leituras - parece-me que dantes era um tempo mais ousado e que hoje somos mais conservadores, malgrado os anos 60 e 70, a geração dos movimentos de libertação e (liberização) sexual e o afastamento de códigos mais rígidos de conduta pessoal. Qual a razão desta conclusão? Bem, ao ler estas histórias femininas, constata-se que havia muito adultério, muita bissexualidade (e homo) e muito mas muito "mènage à trois". E coleções de amantes consideráveis, claro. Todas estas mulheres estiveram muito à frente do tempo nestes parâmetros de existência afetiva, marital ou familiar. Todas desafiaram convenções da época - e que não estão assim tão diluídas como isso atualmente - e viveram sob padrões não isentos de escândalos que, no entanto, não deixaram de as fazer prosseguir, viver livremente e, depois, eternizar-se. 
Se pensar nas famosas de hoje em dia, a quantidade maior residirá na cultura pop e também no cinema, assim à primeira abordagem. E, curiosamente, apesar de serem mundos de desafio ao normal quotidiano, parece-me que se pautam por um maior conservadorismo a nível das relações amorosas e da estrutura familiar, tendo em conta a projeção que se faz das suas histórias. Ou estamos todos mais familiarizados com o atrevimento e com escândalos de vária ordem ou o feminismo, e as suas conquistas em várias frentes, é responsável por uma maior exigência no que diz respeito ao modo como nós, mulheres, queremos viver. Teremos mais liberdade de escolha, independência financeira, e isso já faz bastante (ou toda a) diferença.
Também é possível que a incrível ousadia destas mulheres residisse no facto de, em tempos diferentes, terem atravessado dificuldades várias até ao triunfo, ou à fama. A necessidade é, de facto, mãe de muitas coisas e estas mulheres enfrentaram obstáculos variados que as fizeram querer alcançar sempre mais, por uma questão de orgulho, muitas delas, brio pessoal, vontade de vencer e sair de um destino que não lhes fora favorável no início. Demonstraram, desta forma, um espírito incrível, de sobrevivência, força e astúcia, frequentemente também. Não são heroínas boazinhas que estão em casa de forma passiva, são sobreviventes e exploradoras do seu caminho, inteligentes e ambiciosas. Muitas vezes, triunfam mesmo sobre as suas origens.
A audácia foi muita e o seu legado, diferente mas igualmente perpetuado no tempo, aí está. Amaram demais - homens, projetos e, atrevo-me a dizer, também, elas próprias porque a sua vontade foi sempre maior do que o resto. Quando chegar ao fim do livro provavelmente direi mais umas coisas. Para já, estou a amar demais ler sobre elas.

agosto 14, 2013

Atentados sem valor



atentados, ofensas, afrontas, dá no mesmo.

primeiro atentado - chamar Mandela ao cão que desfez a cabeça da bebé, ainda que as circunstâncias, ao que parece, não estejam completamente clarificadas, é de uma idiotice sem fim. equiparar o seu percurso ao do símbolo da liberdade sul-africano é um atentado. à dor da família que perdeu a criança e à prioridade da defesa da vida humana. as crianças, então, estão primeiro. como pode alguém esquecer-se disso? só falta agora nomearem o animal para o nobel da paz. assim vamos, com preocupações deste tipo, passando-se ao lado do que é essencial. sim, porque aqui o resto é acessório e uma mediatização que nem sequer interessa. a inversão de valores que vamos assistindo atualmente é algo que me custa a perceber.

segundo atentado - o PM ter dito, já algum tempo mas estava agendado e aqui vem,  que "a crise tem sido mais forte porque as pessoas gastaram menos do que previmos" é uma observação, numa palavra, idiota. ou parva, se preferirem. não votei em quem nos governa mas tenho sido paciente em muitos domínios, não me ofendi com o piegas nem com outras coisas mais, embora esteja tudo a chegar a um ponto que não pensei ser possível. esta tirada é um atentado à dignidade. de quem trabalha e de quem perdeu o emprego, de quem viu a sua vida andar para trás, e mesmo da maioria de nós. ó caro PM, dê-me o(s) meu(s) subsídio(s) de férias, reponha os valores dos cortes a que me tem sujeitado sistematicamente, descongele-me que já gelo desde 2004, e aposto que não estaria em casa a escrever estas linhas nesta altura. outros valores cantariam, já que estes - e de vária ordem - vão de mal a pior.

agosto 13, 2013

Exotismo é beleza

              

Não me espanta que o ator Marlon Brando tenha sido sempre chegado a mulheres exóticas. Namoriscou e casou com algumas, estas últimas foram três, ao que me lembro. Ou que tivesse, mais tarde, comprado uma ilha no Pacífico para fugir à civilização ocidental. Afinal, protagonizou alguns filmes em que o fator exotismo ou etnicidade estavam bem patentes: Revolta na Bounty, Cinco anos depois, Viva Zapata, Sayonara, Casa de chá do luar de agosto, A condessa de Hong-Kong (vi todos). Até mesmo Apocalypse Now, se esticarmos a guerra do Vietname a um certo gosto pelo desafio oriental.  Sobretudo a oriente ou a sul do equador, o exotismo e a diferença de tantas etnias, nacionalidades e origens é sinónimo de fascínio para muitos. E de beleza. Ou, provavelmente melhor, a beleza reside precisamente no exotismo e na diferença desses traços e caraterísticas. Não me espantam os casamentos multiculturais, muito pelo contrário, os romances vividos na geografia das cores, os amores que resultam de uma atração pela galeria do exotismo que povoa este nosso mundo. Vejo beleza a oriente, eu também, desde sempre. Feminina e masculina (é reconhecida a beleza das mulheres tailandesas, por exemplo, e outras, mas já não é tão comum o reconhecimento de beleza oriental também no masculino). E a sul do equador, a oeste, nos pontos cardeais todos. Encantam-me-me as incursões por esses mundos de contraste e da mesma forma atraem-me esses rostos. Os rostos exóticos podem ser extremamente belos. Tantos rostos exóticos que são belos, diferentes, invulgares. Mulheres e homens. Traços de outras linhagens, contornos de outras histórias, olhares de outros cantos. Por isso me fascinam as viagens e o cinema que mos fazem entrever. E, físicas ou ficcionais, as histórias de amor que cruzam os oceanos e os mares mais a sul. 

agosto 11, 2013

O passado é um país diferente

E fazem as coisas de modo diferente lá. 
   O genérico, no início, demora mais ou menos 1 minuto e 20 segundos 
(coisa impensável hoje em dia, onde até se omite no princípio, algo que me deixa desagradada e me faz ficar a ver o nome dos atores e pouco mais no fim, já que todos se levantam no cinema e já não consigo ver nem saber mais nada)
    As pessoas - e os amantes - escreviam cartas
(coisa impensável hoje em dia, se formos para a abordagem amorosa escrita, podemos arrancar umas sms, até mesmo para nos descartarmos de um relacionamento)
    A diferença de classes era notória
(coisa mais subtil hoje em dia, não vivemos em castas, é um facto, não há uma etiqueta a dizer povo, nobreza, clero. mas ainda assim rico atrai rico e pobre atrai pobre, ou canudo atrai canudo, o nome atrai nome e por aí fora)
    Os filmes eram rústicos e românticos
(hoje são maioritariamente urbanos e violentos, thrillers, suspense, investigação criminal e forense, muito adn)
    Não havia trailers, de todo ou como há hoje
(os atuais são muito vertiginosos, embora dependendo do tipo de filme, é certo. no fundo, não são os trailers que são maus, tecnicamente são bons, são os filmes que não são melhores)



Não é segredo para quem me conhece a este nível - e são poucos - que sou fã do cinema britânico, dos atores, realizadores, e da literatura britânica. Já o disse aqui, no meu seminário, último ano na universidade, o tema era esse - a adaptação de obras literárias ao cinema. Também sou fã de um certo classicismo, pois sou. E este título, O mensageiro, romance e filme, reúne um pouco isso tudo. Trata-se da história de um rapazinho que é feito mensageiro entre dois amantes, na tela Alan Bates e Julie Christie, de forma involuntária, e que, porque ele próprio se apaixona pela protagonista, sofre com o teor das cartas que vai clandestinamente lendo. Toda a intriga é marcada por aspetos de diferença social, o que acaba por levar à tragédia. O rapaz é inocente e, de certa forma, a época também. Ou pretendia-se manter falsamente essa inocência. No original, chama-se The Go-Between. Vale a pena e de que maneira revisitar algum passado, através das páginas de um romance ou no écrã. É um país diferente, realmente. É ir lá e ver.


(romance de L.P.Hartley, de cariz autobiográfico e lido há muitos anos, argumento do filme de Harold Pinter, dramaturgo, realizador, ator, música de Michel Legrand, realização de Joseph Losey)

agosto 10, 2013

Os bichos


Aqui em casa voltou-se à bicharada. Está de férias, sozinho, sem a influência dos outros, e desta forma ficaram para segundo plano os beyblades, os skylanders, e todos os outros nomes parecidos, com funções parecidas e despesas parecidas. Voltaram as enciclopédias, o nat geo wild, os dinossauros, as espécies, os felinos e a savana toda. Voltou a si mesmo, desde que era bem pequenino. Bicharada, vida animal, biologia, ciência, um possível caminho. Voltou ao que ele é. E não consigo deixar de projetar esta ideia um pouco mais. Tal como as crianças, também nós mudamos, pelo menos aparentemente, com os outros e por causa dos outros. Ou seja, deixamo-nos influenciar. Ainda que digamos que não, a verdade é que por vezes nos desviamos do nosso caminho por causa dos outros. Melhor ou pior, nem sequer é essa a questão. Mas desviamo-nos, encetamos outras possibilidades, exploramos. Não que haja mal nisso, a serem os caminhos alheios melhores que os inicialmente traçados por nós. A permitirem aprendizagens que nos enriqueçam. Mas isto, observado num pequeno comportamento de uma criança, tem muito que se lhe diga. Significa que se foge muitas vezes à nossa própria verdade. Que se parece, também, o que não se é. O ser e o parecer coabitam em nós, até se podem contradizer. Ou complementar-se. Mas, dizia, significa uma fuga de alguma espécie. Um salto em frente... ou não, possivelmente. Em suma - nós somos quando estamos sozinhos. O resto é reação, imitação, reflexo, resposta. Resta saber se o que somos chega para as encomendas. Ou se precisamos de parecer para seguir. É bem possível.