setembro 30, 2014

Bela muito adormecida


Já é muito tarde para um café mas um clássico é sempre um clássico. Ou então, de outra maneira. Um clássico é sempre um clássico embora a esta hora prescinda do café.

setembro 29, 2014

Sem forças nem vontades

 
 
Durante o ano letivo transato, no decorrer da minha atividade profissional, desenvolvi um tipo de trabalho, pela força das circunstâncias, que não tivera a oportunidade de conhecer de perto antes. Falo de uma frente que se cruzou no meu caminho como Diretora de Turma, de forma avassaladora, exaustiva, enriquecedora e que continuará este ano, se bem que com mais apoio de outras instâncias escolares que estiveram, também por motivos de força maior, ausentes no ano passado.
Esta ação consistiu num trabalho de articulação constante com as CPCJS - Comissão de Proteção de Crianças e Jovens - de várias localidades, com os Tribunais de Menores de diversas áreas e ainda com médicos pedopsiquiatras de hospitais da região. É verdade, foi árduo e contínuo, exigiu força, física e mental, quer a nível de reuniões, de telefonemas, de troca de e-mails, de relatórios. Como disse, foi também uma nova experiência que me abriu horizontes, mesmo com pouca luz ao fundo do túnel, em alguns casos, e que me despertou para fortes problemáticas sociais e escolares vistas de uma perspetiva quer mais dramática quer mais interventiva. Isto indica o tipo de alunos que tive e tenho a meu cargo e implica muitas horas de trabalho para além daquelas mais normais que assentam na lecionação de aulas, nas reuniões interpares, nas burocracias incontáveis e no tratamento de problemas como indisciplina, insucesso e outros.
Não foi um bom ano, porque muito difícil, mas também estou mais conhecedora e mais capaz em determinadas áreas cujos meandros desconhecia. Quero acreditar, pelo menos. Acreditar deve dar algum tipo de resistência, forçosamente. E por isto, por tudo o que ano que findou e o ano que começou agora significam, tenho um fortíssimo ataque de nervos  cada vez que olho para a minha atual folha de vencimento. Em circunstâncias normais, em países normais, com economias fortalecidas e justas, penso que trabalho a mais e feito da forma mais honesta e eficaz que se sabe mereceria um aumento ou uma pequena promoção, algum tipo de estímulo, como forma de compensar o desgaste e o sacrifício familiar por arrasto. Mas não, aqui o salário diminuiu fortemente, do género como se eu tivesse menos 10 anos de carreira. Ou 15, até. Por um lado, poderia ficar contente por pensarem que pareço ter menos 10 anos, caramba, afinal estou cada vez mais nova. Mas por outro, e este é o que deriva da triste verdade, os 10 coincidem com o gelo que vou sentindo nos ossos e na alma: é que estou congelada desde 2004 e nem um pequeníssimo vislumbre na progressão na carreira, apesar da avaliação para promoção do mérito, aquela mentira que inventaram para fortalecer o ensino. Resumindo, tudo conspira para nos tirar a força.

setembro 28, 2014

Atrás de um grande homem


   
 
                   
Ontem ao rever uma boa parte do filme Troia, houve um frase que me ficou na memória, que não fixara da primeira vez que vira o filme, no cinema e já há alguns bons anos. Uma das protagonistas diz ao seu amado: "Não quero um heroi, quero um homem com quem possa envelhecer". Engraçado como Helena de Troia resume o pensamento feminino, acredito que em larga escala e através dos tempos, no que diz respeito ao amor e de certa forma ao casamento ou a algo que se assemelhe.

Na verdade, penso que é preciso muita coragem ou uma consciência social, política ou humanitária muito forte, por parte das mulheres, para aguentarem a ausência dos companheiros por longos períodos de tempo e em que o risco máximo esteja presente. O risco de eles perderem inclusivamente a vida e assim perder-se o amor. E não posso deixar de pensar também como é diferente o mundano chamamento dos homens em relação ao universo dos desejos mais profundos e intrínsecos das mulheres.

Nunca deixei de pensar nisto ao ver biografias sobre homens que ficaram na história e que se tornaram herois para gerações presentes e futuras. Um desses exemplos foi a vida de Che Guevara, um mito à escala mundial, que se perpetua na memória coletiva pelos seus ideais de revolução e liberdade. Mas, sobretudo enquanto via o filme de Steven Sodebergh, não deixava de interrogar-me: o que faz um homem com família, mulher e filhos, quando estava já instalado em Cuba, largar tudo e ir combater como guerrilheiro para a Bolívia, onde aliás perdeu a vida? A nível de abnegação por uma causa é notável, o sacrifício pessoal em prol de um projeto social, de um ideal de justiça. A nível familiar pensei na esposa que deixou para trás, como os homens deixam sempre as mulheres, fortes decerto mas decerto sofrendo, como as deixam na retaguarda, ao sabor de dias receosos, expetantes, sob o signo da ausência.

Da mesma forma, e não querendo de forma alguma estabelecer nenhum paralelo que não seja este, o das mulheres de armas que não pegam em armas, os guerrilheiros medievais do EI fazem exatamente a mesma coisa. Interrogados pela "Vice News", um dizia que tinha deixado a mulher os filhos e que estava ali por uma causa maior, que a causa era maior do que o resto. Não deixa de ser arrepiante, quando sabemos que a causa significa o terror e o anacronismo, mas o enfoque nesta questão serve o mesmo propósito deste post. E continua a ser algo que causa arrepios, se fundamentalmente do ponto de vista romântico e amoroso.

A coragem em os deixar partir é muita. Ou provavelmente nem se trata disso, são opções do mundo masculino que se regem frequentemente por motivações muito diferentes das do feminino. Eles querem partir, devem partir, o mundo chama-os, o ideal, certo ou errado, nem isso importa aqui, vão-se às as armas e à luta,  alguns voltam, outros não. De qualquer das formas trata-se de uma grande e decerto dolorosa prova para a mulher. Sobretudo se quis um companheiro para dividir as cores dos dias, se o seu coração é mais poderoso do que a cabeça, se não compreende os desígnios do destino e dos homens quando comparados com a alquimia do amor.

Atrevo-me a dizer que a grande maioria de nós, mulheres, não quer herois, à semelhança de Helena de Troia, mas apenas afeto e companhia, isto se falarmos numa base quotidiana e sem sonhar com grandes filmes. Se há delas que estoicamente resistem à saudade e à ausência e conseguem esperar, pelo regresso ou pela criação de uma lenda, outras há que sustentam o histórico longe da vista longe do coração. Admiro as primeiras mas não condeno as segundas. Poucas relações, creio, resistem eternamente às causas, ao apelo do mundo, ao sacrifício em nome do coletivo e em detrimento do estritamente pessoal.
 
O amor é pessoal, pessoalíssimo, e a construção de uma família também. Por muito que admiremos os herois do passado e do presente, não percamos a noção das suas bravas - infelizes? - mulheres na retaguarda. Honremos as que resistem e compreendamos as que sucumbem e anseiam por mais paixão a alimentar-lhes as horas. A esposa de Heitor, viúva, ganhou o estatuto de heroina mas, no filme, é Helena que envelhecerá como e com quem quer.

setembro 23, 2014

Nº 4

Era chata, chata, mesmo chata. Chegava a ser chatíssima. Chateava e achava que não, mesmo quando chegava até ao massacre. Não sabia que chateava, essa é que é essa. E isso era, provavelmente, a maior chatice.

setembro 22, 2014

Domestiquices


Uma conhecida cara da nossa praça disse que consegue manter o seu acelerado nível de trabalho porque, e cito, "não faço rigorosamente nada em casa", acrescentando que tem obviamente quem faça as tarefas por ela. Não, não vou criticar esta confissão, de todo. Na verdade não consegui evitar uma colossal inveja deste estilo de vida. Tirando qualquer espécie de doença ou impedimento trágico, este é o modus vivendi a que eu almejo desde sempre. Nós, as mulheres que têm uma profissão, que também têm filhos, sobretudo pequenos, e que realizam as inúmeras tarefas domésticas, não conseguimos competir, frequentemente, com as que só têm de preocupar-se e ocupar-se com a profissão, ou então que nem sequer uma profissão têm, e isto em termos de frescura, boa disposição, aspeto, disponibilidade de vários tipos e demais apetrechos que nos fazem inclusivamente até perder maridos e companheiros que, coitados, não resistem às curvas da vivacidade e do prazer, quer dizer, lazer. Assim, de caras, é uma realidade. Ainda que haja as super mulheres que tudo parecem ou dizem fazer, muitas vezes as marcas desse esforço, abnegação ou escravidão estão no rosto, no corpo ou manifestam-se de uma forma qualquer. Pessoalmente, quem me dera, estando saudável, não ter de fazer rigorosamente nada em casa. Não, nada, nem cozinha, nem roupa, nem aspirador, nem mangueira, nem camas, nem esfregona. Sobretudo nada que me roubasse tempo, energia e paciência ao tentar, que remédio, fazer quase tudo. E beleza, então não. Tenho dito, de forma totalmente honesta e desassombrada.

Logo no dia a seguir dou de caras com a frase de outro nosso conhecido a nível nacional. Dizia ele, citando novamente, "em casa ela é que faz tudo", referindo-se à sua super companheira e decerto embevecido com estes super poderes que o safam a ele de colaborar (já nem me atrevo a dizer dividir...) nas tarefas quotidianas do lar. Resta saber se "ela" está mesmo satisfeita no seu papel de super fada doméstica que poupa e decerto mima o seu macho e se alimenta isso mesmo ou se, à falta de cooperação, por defeito de fabrico ou ausência, nada mais lhe vale do que a sua incrível energia e juventude. Claro que, neste caso, os filhos ainda não vieram e não sei se a mesma eficiência aguentará o que acompanha a maternidade. Ah, claro, sempre pode arranjar alguém que faça depois rigorosamente tudo. O que é o ideal, pelo menos para mim. Seria, como já deixei claro acima. Mas, de uma maneira ou de outra, com filhos e cadilhos ou não, como me chateia esta coisa da mulher (ter de) ser sempre a eterna gata borralheira (e preferencialmente terna ao mesmo tempo, por razões evidentes). A história é sempre a mesma, muda o tempo e não muda a vontade. E aqui a culpa é todinha do machismo. Ou deles ou delas, que o fazem subsistir. 

setembro 21, 2014

Crítica da religião pura

 
Encontrei estas fotos num excelente artigo que retratava mulheres de coragem ao longo do século XX. Ambas se referem a mulheres afegãs nas décadas de 60 e 70, se a memória não me falha muito, as primeiras a estudarem medicina e as segundas numa biblioteca. Trouxe estas fotos até aqui porque servem o propósito deste post de maneira inequívoca.
Ainda ontem lia na blogosfera que há um núcleo radical no Islão, em claro contraste com o resto das religiões, ocidentais e orientais. De facto, ainda que estas já tenham tido os seus momentos mais bárbaros, sobretudo as cristãs, tal situação já consta dos compêndios de história, uma prova que já se apagou num tempo que já foi. Ao invés, não podemos negar, há neste momento uma forte radicalização de alguns setores do Islão, que têm culminado em organizações terroristas que tentam ou incitar ao ódio contra quem não segue os seus preceitos ou mesmo perseguir e aniquilar quem não confessa a mesma fé. O regresso a tempos medievais e até bárbaros tem sido testemunhado através do estilo de vida de alguns países e agora, de forma que nos surge chocante, através da autoproclamação do mortífero e anacrónico Estado Islâmico. Mas a minha opinião mantém-se: o islão não é incompatível com a modernidade, também como já provaram os estilos de vida de alguns países e as medidas corajosas de alguns dos seus líderes seculares. As fotos que posto aqui são disso um exemplo. Haverá alguma dúvida de que estas mulheres vivessem num país de maioria muçulmana? Não poderiam elas também ser crentes do Islão? E de que forma isso abalou ou impediu que tivessem direitos que atualmente não têm?
Contudo, não podemos ignorar esta crescente onda de fundamentalismo islâmico. Mas, pessoalmente e tendo em conta aquilo que vou vendo, observando e absorvendo, continuo a pensar que este radicalismo perigoso tem uma forte componente política. Fortíssima. E que a maior parte destes movimentos se desenvolveu nos últimos quarenta anos do século anterior e que tal facto está diretamente relacionado com a questão palestiniana. Até porque este conflito teve momentos de máxima tensão por esta altura: A Guerra dos Seis Dias, a do Yom Kippur... Convenhamos. Qual a razão deste grande ódio aos EUA a não ser o facto de serem os grandes aliados do estado de Israel? Isto é constantemente apregoado nos discursos contra a América e contra os seus aliados ocidentais. É recordado nestas ignóbeis execuções do EI e, mesmo que a sociedade capitalista e consumista possa não agradar a estas organizações de terror e guerrilheiros medievais, a questão mantém-se: o antagonismo face ao ocidente tem tudo a ver com a questão da Palestina, primeiro, e depois com os sucessivos erros da administração americana na região do Médio Oriente. Há, também certamente, por parte destes radicais, um sentimento de grande frustração. A corrupção dos seus governantes, a pobreza, a opressão, as condições de vida que em nada ajudam ao esclarecimento, a necessidade, muitas vezes, de e/imigrarem, o racismo, a xenofobia, tudo isto conspira para fazer nascer o ódio. E este só pode conduzir à violência. De maneira que estamos perante um tempo de terrível perigo. Esta radicalização islâmica é castradora, cruel e letal. Por outro lado, a islamofobia que vai crescendo, precisamente pelo medo que o fundamentalismo necessariamente vai criando, também causará danos neste diálogo que parece ser cada vez  mais difícil.
Concluindo, não consigo separar a política desta jihad supostamente em nome de Deus. Até as reportagens da Vice News que vi me mostraram isso: no EI há uma abordagem totalitária - comunista ou fascista, não soube destrinçar - que vai muito para além do credo religioso.  E, voltando às fotografias, pode ser-se crente e isso não constituir problema nenhum. O problema reside quando alguém toma o poder e instaura, pela força e pelo medo, um estilo de vida que toma como o certo. Se usar o nome de Deus para a barbárie ou para o retrocesso será porventura tudo bem mas fácil.  

setembro 19, 2014

Como não lembrar William Wallace?



Há mais de dez anos, passei duas inesquecíveis semanas na Escócia numa formação para professores portugueses que lecionam inglês, através da APPI. O local que nos acolheu foi a Universidade de Stirling. Desde essa altura que desenvolvi um grande apreço e até carinho pelo país das Terras Altas, tantas foram as boas experiências e os conhecimentos que tal estada me proporcionou. A ponte de Stirling lá estava, a ´nova´, e o monumento a William Wallace também, lá no alto. Um dos pubs chamava-se "Rob Roy" e por ali respirava-se cultura e história de mãos dadas com a modernidade.   
Os escoceses claramente diziam não gostar dos ingleses, faziam, de resto, muitas piadas com este legendário antagonismo. A pontualidade era praticamente um culto. As ghost stories alimentavam o turismo e o gosto popular. As lojas fechavam cedo, muito cedo, para os nossos exagerados padrões lusos. Os espetáculos à noite eram obrigatórios, muitos e esgotados. Os locais que visitei permanecem, pois, na minha memória de afetos e a capital, Edimburgo, sob chuva forte demais para agosto e cheia de referências literárias, elevou-se ao topo das minhas preferências. 
Assim sendo, eu seria uma votante do sim. E entristece-me ver que se gorou uma oportunidade histórica única. Uma oportunidade que não existiu antes desta forma, e que foi e tem sido tão desejada por tantos através dos tempos. Tiro o chapéu à democracia britânica, com sede em Londres, uma das mais justas e tolerantes, quer pelos exemplos de multiculturalismo - que parece chegar até a aspetos exagerados - quer pela abertura política demonstrada através deste referendo. Não são muitos os estados a fazê-lo, poucos ou quase nenhuns, na verdade, e tudo feito de forma pacífica, dialogada e com total civismo.
O não venceu, vejo e escuto, e na minha opinião o medo venceu. Não sou especialista em economia e alta finança nem nada que se pareça mas penso que terá sido a pressão da questão económica que terá ditado a escolha pela não independência. E entristece-me ver que a Europa dos mercados e dos gabinetes, a "respirar de alívio", tenha mais importância do que a alma escocesa. Mas isto sou eu, que por vezes sou dada a motivações poéticas. O RU continua firme, a NATO também deve estar aliviada, e lá se foi o sonho de Wallace. Nem só de memória e de quimeras se alimentam os dias, é um facto, mas lá está, havia e há quem não tenha medo do sim. Hecatombe ou triunfo, só a audácia e o futuro o poderiam dizer.

setembro 17, 2014

Coisas sem relação absolutamente nenhuma



1. Toda a gente tem direito a mudar de opinião, creio, e não sou contra as dissidências, são decisões pessoais que podem ter justificação plausível ... ou não. Mas a saída de Marinho Pinto de um partido que pouco tempo antes o levou até ao centro político europeu parece-me francamente desonesta. O dizer que é tempo de seguir o seu próprio caminho ainda corrobora mais esta abordagem que diria interesseira. Mas na verdade não me surpreende. Trata-se de uma figura que nunca me inspirou confiança, talvez porque não aprecio quem habitualmente fala em tom exaltado e quase aos gritos. 

2. Este ano a relva cá de casa mantém-se viçosa como uma verdadeira alface. Assim que me lembre, foi a primeira vez em que não se andou desesperadamente a regar pela noitinha para tentar salvá-la de uma morte certa. Eu que nem sou fã de chuva consigo ver o seu lado positivo quando automaticamente penso na relva da frente e do pátio. Mas nem só de relva verdejante vive o meu apreço pela chuva nestes dias. O calor tem-me sufocado e a coisa melhora com a água caidinha do céu. Por outro lado, poucos sons sabem tão bem como o de ouvir uma grande chuvada quando se chega a casa. 

3. Faltam tantos professores ainda nas escolas e os alunos lá vagueiam, horas a fio, sem aulas. Quando é que a obsessão pelos cortes e a sua prática indiscriminada na função pública deixará de ser uma realidade que tanto afeta a vida escolar também dos alunos? Nos cursos profissionais acresce o problema de ter de se repor as aulas, uma vez que é obrigatório o volume de formação na totalidade, e bem, a bem dos alunos. Mas também não será uma injustiça os alunos vaguearem agora, contrariados, em tempo certo de aulas, e depois terem de levar com horas a mais numa já de si pesada carga horária, para compensar?

4. De férias a sul, comprovei novamente que os portugueses estão cada vez mais fechados. Têm muitas dificuldades - ou pruridos - em falar para desconhecidos. Para se lhes arrancar um bom dia ou boa tarde num espaço que se partilha é obra. Eu, que sou daquelas que, por exemplo, falo alegremente numa caixa de supermercado se houver alguém que sorria e faça o mesmo, estranho estas coisas. Então quando os nossos filhos brincam em conjunto e tento conversar um pouco e vejo caras fechadas - snobs? - fico mesmo desapontada com a raça humana. Há gente para quem deve ser difícil sorrir e dizer umas palavrinhas, nem que seja sobre o tempo. Timidez ou mania e falta de boas maneiras? 

setembro 13, 2014

No oeste


Não sei se tenho apreciado as recentes intervenções de Obama perante os microfones, sobretudo pelo tom que encerram. Bem sei que não se pode mostrar qualquer tipo de fraqueza ou vacilação em relação aos adversários terroristas, nomeadamente, mas tem-me parecido que o tom tem-se pautado por uma maior agressividade nacionalista, ou talvez um pouco mais do que seria de esperar de uma nação democrática e líder em vários domínios. É verdade que uma nação como os EUA tudo faz para resgatar ou salvar um seu cidadão, ao contrário de tantos outros estados que não parecem valorizar desta forma a vida dos seus conterrâneos. Assim sendo é legítima a vontade de ripostar e mesmo aniquilar quem, de forma criminosa e bárbara, atenta contra pessoas inocentes que caem nas malhas da sua mortífera loucura. Mas o discurso de um estadista - a sê-lo - tem de ter uma toada diferente da do inimigo, ou seja, não deverá incitar ao ódio e aos princípios mais primários. O discurso de um chefe de estado deve, inteligentemente, mostrar firmeza mas não nacionalismo exacerbado, superioridade cultural ou outra e ainda muito menos qualquer tipo de entusiasmo belicista. Lidar com extremismos de vistas curtas é muito difícil mas uma coisa será precisa para erradicar esses fundamentalismos - é a educação para a tolerância e para a pacificação. Isto tem de ter ecos também - ou sobretudo - em quem lidera, e de ambos os lados da barricada. Nesse aspeto, parece-me que Bill Clinton conseguia um discurso mais diplomata, mais subtil e mais apaziguador. Mas isto pode ser apenas uma impressão de quem tem visto as coisas de relance. Não retiro razão a Obama, de todo, como poderia neste caso, mas preferia, ainda assim, que o tom, repito, fosse menos pistoleiro. 

setembro 12, 2014

Esperança e dúvida


Hoje vi e ouvi ideias novas, vontades e entusiasmos de quem ainda tem (algumas) expetativas que as coisas melhorem - porque podem melhorar precisamente por causa dessas iniciativas, claramente expressas. Vi pessoas um pouco ou bastante cansadas já no início, vi outras bem dispostas porque as férias ainda estavam mais frescas, vi e ouvi propostas interessantes, válidas, inteligentes e que terão tudo para resultar, para eles e por eles. Não têm sido maus estes primeiros dias, por causa disso mesmo. Podiam ser sempre assim, os dias, dialogantes, construtivos, esperançosos. Mas ainda a dúvida me assalta. Na esperança, porque agora ela existe, a dúvida subsiste. Pois resta saber se na próxima semana e nas restantes não seremos completamente esmagados pela realidade que há de vir. 

setembro 10, 2014

Por entre a vista



1. Admiro a coragem da jornalista Judite de Sousa. Nota-se que ainda não está bem, os trejeitos da boca, nervosos, e a voz trémula indicam ainda grande sofrimento e transtorno psíquico, fruto natural da pior das tragédias. Por isso é admirável a forma como se expõe, como aparece em entrevistas ao mais alto nível, como se atira para a frente, de forma pública, numa notória forma de sobrevivência. Tiro-lhe o chapéu, decididamente. Sempre apreciei a sua sensibilidade e de certa maneira admiro-a hoje muito mais. A forma como, curiosamente sempre de preto, está a fazer o luto é de louvar, pois inimaginável será a tormenta que tem atravessado. 

2. O meu pai ontem disse que António José Seguro tinha ganho o debate, logo que terminou. Independentemente disso ser verdade ou não, eu cá não compreendo muito bem a razão pela qual Seguro está tão ofendido com António Costa e não se cansa de bradar isso mesmo aos quatro ventos. Chega a parecer um menino de coro, sentido com coisas que francamente já devia contar num mundo como é o da política. Estratégia e interesses vários podem colidir com amizades e com ditas lealdades, não nos espantemos. Demasiados melindres pessoais não têm justificação se o interesse do país, a sê-lo,  for prioritário. E aqui parece-me ser o caso, o dever ir-se por um outro caminho.  

setembro 09, 2014

Cautelas


Já aqui o disse ou deixei transparecer: as ascensões profissionais rápidas causam-me alguma confusão. E as relações de amizade súbitas igual. Ou ainda mais, é possível. Concluo, assim, que tenho sido e sou cautelosa, sobretudo nas últimas.
Demoro tempo para estabelecer relações verdadeiramente sólidas, embora faça conhecimentos com muita facilidade e adore falar com desconhecidos. Mas da simpatia e conversa de ocasião ou parecido à amizade propriamente dita, que envolva um conhecimento mais profundo e uma partilha maior, vai um enorme passo. E compasso, de espera. Rápidas paixões amistosas têm dado em grande desastres pouco tempo depois, tenho-o observado amiúde. A construção mais lenta, pelo contrário, parece-me dar mais frutos. Uma vez aceite, uma amizade sem deslumbramentos nem defeitos escondidos, será, no meu caso, sempre revestida de lealdade. E se não vivida em presença física pelo menos cá dentro, de alguma maneira. Os amigos podem ser menos desta forma, é um facto, mas serão mais verdadeiros.
Quanto ao veni vidi vici profissional, é possível que resulte, se as pessoas forem verdadeiramente competentes e honestas intelectual e moralmente. Há ascensões meteóricas absolutamente justas, merecidas e baseadas no real valor. Se não, as quedas podem ser surpreendentes. Eu sou daquelas que acredita que a promoção do demérito acaba por cair por terra, mais tarde ou mais cedo. Mas talvez esta conversa não tenha muito interesse para quem gosta e sabe viver sempre no impulso e no calor do momento. E que está certo, de resto. Na verdade, não sei se a cautela é melhor, de todo. Apenas digo que há quem funcione de um modo e quem funcione de um outro. Com o passar dos anos, apercebo-me que me tornei cautelosa. Diga-se que para o bem ou para o mal.