junho 29, 2013

Mulheres apaixonadas

                       

A música, como forma artística e de expressão livre, sempre abordou temas controversos ou menos consensuais, desafiadores ou interventivos. É assim que tem sido, é e será. Mais ou menos censurados mundo fora, há temas que significaram uma revolução, nos costumes, na política, na ordem social, e no resto que vai fazendo os dias de todos. É salutar que assim seja, que traduza o livre pensamento, que anuncie uma nova ordem, que traga ousadias que urgem para quebrar barreiras, que crie hinos anti-preconceito.
Contudo, a música pode também ter um lado perverso, influenciando negativamente os seus fãs, incutindo atitudes que podiam ser mais sadias, levando a exageros comportamentais que carecem de filtro, de ajuste, de reflexão, sobretudo nos jovens, faixa privilegiada para as idolatrias e imitações, que podem ir de algo inocente e inofensivo até algo perfeitamente doentio ou até anti-natural. Isto vem a propósito, hoje, da música "I Kissed a girl", Kate Perry, que não faço ideia se é recente ou não. 
Liguei o VH1, coisa rara, a seguir ao almoço, na cozinha. Apanhei uma rubrica chamada Hairbrush Hits, música por mulheres, pois, canções boas, por sinal, basicamente na área do pop. Até a Tina Turner apareceu, com um sucesso já ido mas que é sempre bom ouvir. Fixei, coisa rara 2, a letra da Kate Perry. I kissed a girl and I liked it, Hope my boyfriend don´t mind it, It felt so wrong, It felt so right. Simples de entender, fica no ouvido, melodia com ritmo, boa voz, tudo para ser um sucesso. E a letra? Já lá vamos.
Aqui há tempos, na minha dentista, que é das poucas mulheres admiráveis que conheço ao vivo, no meu conceito bastante exigente de admirável, leia-se, falámos da homossexualidade das adolescentes. Dizia ela, no centro da cidade, que tem visto este tipo de comportamento crescer, a olhos vistos, porque as  demonstrações físicas são muitas e já sem qualquer tipo de inibição. Sabe também que muitas miúdas sem namorado e com baixa autoestima são aliciadas pelas mais velhas e que, carentes como se encontram psicologicamente, acabam por ir na onda.
Pessoalmente, nem eu nem a minha dentista - aposto - temos nada contra as opções sexuais de cada um. Desde que elas correspondam a uma orientação interior, a um tumulto que frequentemente acompanha essas diferenças antes do assumir, a uma escolha adulta e madura. Desde que elas não sejam fruto de uma moda. Não é por não ser de modas, pois sabe-se que não sou, mas não creio que algo sério deste tipo possa viver-se de forma equilibrada se assim for. Muito menos em idades tenras. E está claramente na moda, até pelo exibir nos cafés, bares e na rua desta (ousada) forma de estar, conforme relatos de quem assiste.
Onde entra a letra da Kate Perry aqui? Em muita coisa. As estrelas da música lançam modas, são modelos de comportamento, infelizmente em tantos casos, e as mensagens que passam influenciam e de que maneira as cabecinhas dos mais novos. Não conheço o que está por trás da canção, mas parece apontar para uma certa naturalidade face a este tipo de atitudes, encarando-a com leveza e parecendo ser engraçada, atrevida, uma boa experiência e que não porá o namoro, que afinal existe com o namorado,  em risco.
Nada contra a bissexualidade, também e já agora, desde que fundada nas razões que apontei. Opções conscientes, interiorizadas, adultas. A maturidade que falta aos ouvintes e fãs das Kates deste mundo e que, assim, só estão convidados a mergulhar em confusão. Até pode ser tudo muito inocente ao princípio e não ser assim lá mais para a frente. Um pouco como as drogas, é possível. Por isso, muito cuidado a ler o que está numa canção. Porque pode ser apenas um desafio, uma imagem para vender. Uma moda, pois, e a vida não pode ser feita delas. Quando é, é mau sinal.

junho 28, 2013

Faísca




Não admira que o apelido seja McQueen. O carro de que os miúdos gostam. Uma pessoa vê ou viu "Bullit" e "As 24 horas de Le Mans" e está  - estaria - tudo explicado.
Steve McQueen é dos atores que mais admiro, admirei, e não há filme seu que tenha visto e que não lhe dedique quase sempre igual culto. Foram muitos e de variados géneros. Mas em todos o herói algo solitário, independente, rebelde e até cínico, porque desencantado, mas cheio de coração, a transbordar de afetividade. Que belos filmes eram, que inesquecíveis são.
Os de que me lembro: 

Bullit
As 24 horas de Le Mans
O aventureiro de Cincinatti
A grande evasão
Papillon
Amar um desconhecido
A torre do inferno
Yang Tsé em chamas
Os sete magníficos
Quando explodem as paixões
O grande mestre do crime
Os ratoneiros
Marcado pelo ódio

Gostei muito quando os vi, alguns repeti, e é isso, adorava-o. Acho que ele também lançava faíscas em cada interpretação. Que o diga a Ali McGraw. Não era só a velocidade, a dos automóveis e a das paixões, eram também as emoções que, de alguma forma, perpassava, ainda que nunca puxando ao sentimentalismo fácil ou ao lamechas. E uma fotogenia daquelas. Ah, os atores dos anos 50, 60 e 70 adentro. Incendiaram muitos écrãs, sem ser preciso muito. Era um estilo, um tempo, e era uma alma. E, no caso dele, uma vida adversa em miúdo que não o impediu de vencer. 

junho 27, 2013

Made in Taiwan


Muitas vezes dizemos que se fossem as mulheres a mandar no mundo as coisas seriam e estariam diferentes. Haveria menos guerra, menos ódio, menos luta pelo poder, menos perseguição do dinheiro. Tendo a concordar, se partirmos do princípio que pode haver uma sensibilidade maior, um grau emocional mais empático, uma visão menos agressiva, uma menor resistência ao perdão. É possível. Mas sendo possível não quer dizer que seja o que se passa efetivamente já que me parece haver delas bem complicadas, resumindo num adjetivo certas caraterísticas pouco abonatórias que também fazem parte deste universo no feminino. Há pessoas bastante cruéis e cruas, e, voilá la verité, também são mulheres. Podia por-me aqui a dar exemplos, afinal todos conhecemos no presente ou já conhecemos no passado figuras de saltos e batom que não primam nem primavam pela bondade ou nobreza. Donde me veio esta ideia para o post? Foi ver elementos do feminino sexo no parlamento de Taiwan a esgarçarem a roupa e a arrancarem o cabelo umas às outras. Se elas chegam ao governo, não sei não. Portugal está longe, é o que vale. E cá também há quem nos vá escalpando a partir do poder, mulher ou homem. Temos um problema. Se tanto homens e mulheres podem mesmo dar cabo de tudo - e, pior, de nós - o que nos resta? Será que uma terceira via será a solução para o mundo ser mais justo e melhor? Eu bem que achei um piadão à notícia de um certo candidato a Sintra que não cai nem para um lado nem outro. Ou então, sempre podemos esperar que sejam anjos, que não têm sexo, que nos venham livrar disto tudo. Anjos, bem que precisamos. É que da forma como o mundo está, só mesmo na área do metafísico e do espiritual. Na verdade, só mesmo um milagre. 

Fios


O fio de esperança que foi anos a fio está, ao que consta, por um fio. Um dos maiores representantes mundiais da resistência e, mais surpreendentemente ainda, da bondade. Não li nenhuma biografia nem vi nenhum filme, a havê-lo, sobre a sua vida. Não vi o "Cry Freedom, tenho o "Invictus" em casa para ver, há tempos, mas desconheço se é sobre ele verdadeiramente. Mas não esqueci mais a lição magnânima com que fundou a nova era da sociedade sul-africana. Num excelente documentário que vi há tempos num canal qualquer, falava-se da sua libertação e da sua nova posição na política. Confrontado com a pergunta, pelos próprios companheiros de luta anti-apartheid, de como era possível incluir na governação e gestão do país gente do regime anterior, que os havia oprimido pela abominável segregação, a resposta surgiu, lesta e nobre. Não é possível construir uma sociedade fundada no bem se não houver perdão. Ou uma sociedade que se quer justa e generosa não pode estar assente no ódio. Que dizer? Não é para todos, não é de todos. A inspiração e a benevolência têm nome africano: Madiba. 


Esta música é daquelas que ouço vezes sem conta. Inspiradora, tocante, faz-nos acreditar. Que, no meio do mal, há coisas e figuras extraordinárias. Que podem ser políticos, também, de exceção, que ficam na história porque fizeram história. Escuto-a muitas vezes à noite, já com os auscultadores. É das mais belas que se fizeram até hoje, porque combina uma melodia sem par com uma espantosa história de vida, e oferece-nos um mundo melhor por causa de uma alma maior. Mandela está no fio da navalha, aos 95 anos. Ele que foi o fio condutor da nova realidade sul-africana. E que nos relembra que é preciso resistir e conservar um fiozinho de esperança que nos projete para outra dimensão. Esta música eleva-me. Porque é sobre um homem que sempre esteve muito mais alto.

junho 25, 2013

A greve e o groove




Porque hoje até houve melhores notícias. Porque, confirma-se, a união faz mesmo a força. E porque vou transformar aquilo de que fui acusada, pela net fora uns dias antes, em música. E música é ritmo e experiência das boas. 


Professor, malandro, vai trabalhar
Terrorista, sempre a boicotar
Nem por ti próprio sabes pensar
O sindicato é que te obriga a parar
O dos bigodes é de arrepiar
E, com medo, os exames não foste vigiar
O PCP está tudo a manipular
E tu sempre vantagens a quereres tirar
O trabalho real não é o teu laborar
E não tens vocação para ensinar
Chulo, se não a roubar o estado a esfolar
Irresponsável, não sabes educar
Em cada 3 há 2 que não deviam lecionar
Estão na sala e não deviam estar
Aos alunos, crias danos sem par
Improdutivo, o fisco queres enganar
Incompetente, o emprego para a vida queres conservar
De mim não colhes simpatias 
E estás a ter o que já merecias.

Yo.
Yo. Yo.

Pronto. Isto foi o que li nas caixas de comentários que encontrei por aí. Na altura fiquei magoada, mas agora até que é divertido. É o groove, queridos leitores. Pós-greve e pré-explicação possível acerca de quem são e do que move os autores destes versos. Não são meus, não,  malgré toute ma creativité. 

Outra coisa, para depois sair do tema. O rap pode não ter qualidade suficiente. Não tem a métrica certa, aposto. Não sei nada de música. Não faz mal. Quem arrasou de forma indecente os docentes também nada sabe do que é o seu trabalho diário e constante - e real. É a visão parcial. Yo. Quer dizer, yeah.

junho 24, 2013

Rolling

Deparei-me com uma revista de jornal, não sei qual era, nem vi, num dia destes, e que alguém deixou esquecida numa sala pequena em que alguns de nós trabalham nas criativas e aliciantes tarefas administrativas da direção de turma. Porque esperava para ser recebida numa outra sala com assuntos urgentes e não podia dar ainda por terminado o dia na escola, peguei-lhe, e lá passei os olhos por umas coisitas. Entraram umas colegas igualmente bem dispostas que me perguntaram se eu também lia disso para descontrair e sim, disse, lia, e leio, quando as há por perto e me apetece, posso ou quero. Umas disseram que todos leem mas dizem que não, alguns, porque não é fino nem cultivado admiti-lo. Adiante, não me lembro de mais nada que tenha visto é certo, por isso deduzo que não seria deveras enriquecedor, até porque não falava das minhas estrelas de eleição, do cinema, 99%. A bem dizer, quando andei na universidade também me acontecia o mesmo. Lia muita coisa que depois esquecia imediatamente depois do teste. Não era verdadeiramente enriquecedor, lá está. E o mesmo me acontece em várias ações de formação que vou fazendo, leio e a maior parte daquela informação toda vai-se passado uns dias. E podia ir por aí fora, mas não. Voltemos ao início, esta volta não é enriquecedora e sei que nos vamos esquecer dela daqui a um bocado. Vamos ao que li e me faz escrever este post.



Parece, então, que a cantora Adele (que maravilhosa voz, até o pequeno pede para ouvir, vezes sem conta, as canções dela no pc) foi novamente criticada pelas suas formas. Isto vinha logo na capa e dei uma espreitadela. E criticada novamente por um outro famoso. Um tipo que espanta o calor e algo mais, quiçá, com o leque, que trabalha para a Chanel, sim, o Lagerfeld. Podia ser outro qualquer, da moda, porque gente como a Adele não faz parte do catálogo dos gostos obcecados com o ideal de beleza que os media propagam, a magreza, se bem que no caso de muitas modelos já seja mais o escanzelado e até o andrógino. Nada contra, mas também nada contra quem tem formas arredondadas, parece ser este o termo utilizado em relação à cantora, de resto, a ser verdade o que li e tendo em conta que ele próprio foi criticado por insistir nas críticas que faz ao corpo da deep voz. Pessoalmente não vejo onde esteja o problema de se ser arredondado e, ainda por cima, lindo. Porque a Adele é linda, faz lembrar inclusivamente muitas estrelas dos anos 50 e 60, mais cheinhas e maravilhosas, com um glamour que muitas magras não têm e um rosto espantoso, luminoso, de bem com a vida, pleno. A moda é uma ditadura. Impõe modelos de beleza duvidosos, gera uma indústria uniforme e sem contemplações para o desvio à norma, para quando grandes marcas fabricarem roupa em larga escala, que cheguem ao pronto a vestir, para medidas grandes? E isto engloba as roliças, as altas, as de ombros largos, as que têm peito, as que são largas de costas, seja lá o que for que as faz sair dos espartilhos  reduzidos ao estilo mignon, esbelto, perfeito, e etc e tal. No outro dia andei a ver vestidos na internet, e deparei-me com a secção com um L e alguns Xs. Espreitámos as "modelos" e eram esplêndidas,  nada urban chic nem existential chic, ao invés, exibiam longos cabelos e belos sorrisos, e estavam maravilhosas em roupas que, por uma vez, tiveram em conta as suas generosas medidas. Porque alguém terá pensado que elas existem e que também têm direito à vida, ou seja, direito à sua forma de beleza e a realçá-la com vestuário à altura. Ou largura, dá no mesmo. É por isso que detesto passereles e desfiles, é tudo igual, o formato não dá margem para a diferença. Ou, melhor, nem sequer deveria ser vista como diferença. Num tempo que (re)clama para si o respeito e a mesma forma de tratamento, na prática e na sociedade, para tudo e todos, é notória a discriminação que existe em relação a quem não se estafa no ginásio para ser perfeita. Não falem em compras online, em lojas ou marcas que têm lá um cantinho (e porque raio hão de ter ou estar num cantinho?) com o número maior assinalado, nem em lojinhas esquecidas numa esquina da cidade. E não basta não terem facilidade em encontrar roupa para si, igualmente sexy ou moderna, ainda levam com os piropos na imprensa internacional vindos de um dos patrões da moda ditatorial. O Lagerfeld não gosta da Adele, ou das suas formas. Eu não gosto do Lagerfeld, da forma e do conteúdo. E depois? Nada, tudo a rolar. A indústria dos trapos continua, igual a si mesma, infelizmente, trituradora de padrões de moda e beleza que muitos vão ajudando a degustar, com consequências psicodigestivas mais nefastas do que se possa pensar. Tudo pela beleza, nada contra a beleza, digo também. Mas de todas as formas, sobretudo as que são naturais. Let it roll, Karl.  Quanta superficialidade, quando, aqui, há mesmo que ir mais (pro)fundo.

junho 22, 2013

Borda fora

A quem interessar, e podemos ser todos nós. Já aqui falei sobre a exclusão de que podemos ser vítimas, não sendo até, ou que podemos também fazer. Repito. Temos de nos libertar de quem nos faz sentir mal. Pode doer, a nós e ao outro, a rutura assim o implicará, mas também doloroso é não estarmos bem por causa de quem se diz nosso cúmplice na vida, seja de que forma for. 

junho 20, 2013

Ria




Para aliviar: RIA no CAFÉ, RIA com o CAFÉ, em frente à Ria, é verdade. Em Aveiro, este é o meu café. Ou seRIA mais, se tempo mais houvesse e outros tempos fossem. Café-bar, melting pot da cidade pelo cruzar constante das idades, ocupações, nacionalidades e mais. Pessoal à altura do lado de dentro para o pessoal de fora que se senta, dentro ou fora, a ouvir música ou a contemplar a Ria e a city life do coração da cidade. RIA. Bem que é preciso.

junho 19, 2013

A greve e o grave

Bom, estive uma semana praticamente enclausurada com uma grande tarefa escolar, inédita e que me fez hibernar o corpo e até a mente. Bem, não totalmente a mente, porque não passei ao lado da greve. Da tal, da de segunda, e das 970976345120979 opiniões que fui lendo, ouvindo ou vendo na TV à hora de jantar.
Começo aqui uma série de posts que podem ser mais fraturantes, dividindo opiniões - há várias questões assim, a política, a religião, o futebol, o aborto, a regionalização, o casamento gay e a coadoção, a privatização da RTP, o José Castelo Branco, entre outras.
Não vou nem quero politizar este blogue e ajo e falo sempre com a minha consciência, umas vezes bem, outras pode ser que nem por isso, essencialmente na perspetiva dos outros, como é natural. Não é segredo que sou professora, tanto posso relatar factos ou impressões que não abonam a favor do ensino ou que o dignificam completamente. E assim os alunos, e o resto. Estou por dentro, de todas as formas. Não quero fugir ao tema da greve porque me diz então diretamente respeito e não me apetece fugir. Quer dizer, até me apetece, para longe de muita coisa que vem ao de cima, com a tristeza que sinto ao ver tanta gente a opinar, a condenar uma profissão e por parte de quem pouco ou nada sabe da realidade toda. Toda.
Mas este é o primeiro da série e portanto comece-se. Vou, porque estou mesmo cansada após a tal tarefa quase em non-stop de uma semana, com algumas escapadelas net fora para me ir atualizando, solidariazando e desiludindo, vou, dizia, repescar um comentário feito no blogue da Isabel, já agora desculpe o uso da sua caixa de comentários, mas afinal fui eu que disse, e queria repeti-lo aqui, com algumas alterações, obviamente, para resumir a minha posição, uma das, relativamente a isto tudo.
E pronto, round 1.

                              


Concordo que o uso de linguagem imprópria é negativo, eu própria já falei disso no AE (a linguagem dos colegas no FB, inclusive com alunos, com quem mantêm demasiada familiaridade), concordo que assim se põem a jeito a críticas, obviamente, concordo que fazer greve ou não é um direito, eu fiz muitas vezes e uma ou outra não (porque num dia "normal" não vejo grande "vantagem" e fui egoísta porque na altura pensei no dinheiro, mas não me senti especialmente feliz com esse direito, já agora), concordo que se luta por melhores condições de trabalho - eu não sou missionária, nunca o quis ser, tenho um emprego, com responsabilidades sociais e educacionais, e dou o litro, temos direito a lutar por isso senão ainda estaríamos como há séculos, concordo que o discurso do sindicalismo pode não ser sempre o ideal mas não podemos esquecer as suas conquistas aos longos dos tempos para nós todos, mesmo com falhas no tom ou até por meios violentos.

Não concordo com, por exemplo, se lamentar um dia de nervos comparado com uma vida de nervos, não concordo com o facto de se falar da angústia dos alunos de não saberem quando terão exame quando colegas (ou eu, um dia) não sabem se terão emprego no final de agosto, ou até depois, não concordo com o dramatismo e a vitimização dos estudantes e filhos (eu também sou mãe) quando há traumas enormes e muitas vezes causados, espante-se, por esses mesmos pais preocupados. Respeitemos as opiniões diferentes, sim. Estas ainda refletem muitas vezes  uma posição política, lá terá de ser, mas não necessariamente. Sabem? Estou farta, farta disto, farta de tanto "achismo" por parte de quem nada sabe. Às vezes apetece sair. Com nada que nos ampare, com ninguém a entender. E é pena que os bons, porque sou boa, nem tenho traumas nem me flagelo, queiram sair. Pena para os alunos que ainda merecem, não os outros, os que também nos maltratam. Que até podem estar entre os que fazem exame, ou estaremos a demonizar os professoress neste dia e a divinizar os alunos que se propõem a exame? É possível, lamentavelmente. E acredito que também percebam isto, alguns, até muitos, não acredito que não percebam. Quanto ao futuro dos jovens em exame, nada lhes acontecerá a não ser fazerem o exame noutro dia (mesmo estragando as férias marcadas, como também ouvi). O futuro de muitos colegas e mesmo o nosso, esse é bem mais incerto e mais injusto, e não passa pelo bilhete de avião.


Trabalho que me farto e tenho todos os direitos de e para reivindicar. Não sou missionária, sou fria e racional nestas matérias e, no entanto, uma "excellent teacher". Assim, de caras, não é modesto, sei. Não perfeita, quem o será, mas lá está, não tenho inseguranças nesta matéria.

                                               
                                    

Quanto ao resto, porque ainda não se esgotou, virá. Só termino, para já, com a frase do JCM, "os fortes não fazem greve, os fortes não gritam nas ruas." Porque li muita coisa boa, bem escrita e sábia  por aí.

junho 18, 2013

Serenidade versus sofrimento


É um facto que a serenidade, natural ou cultivada, foge quando se mergulha na realidade mais indesejável ou mesmo cruel. Saber significa sofrer, já sabíamos e confirmamos, infelizmente, saber o que é ou o que vai ou o que não sabíamos significa sofrer. Vai-se a serenidade, até porque não podemos, não conseguimos, manter a indiferença. Saber significa atuar, até querer mudar o mundo. E isso não é fácil, ou pior, nem será possível, sempre, ou quando e como queremos. Daí que não me surpreenda as pessoas construírem para si mundos onde não sofram, como fuga ao real que as faz ou possa fazer sofrer. Saber e atuar, porque há que atuar, sofrer. Ou não saber e não atuar, não sofrer. A primeira escolha é legítima, do ponto de vista da justiça e da verdade, a segunda não o será menos do ponto de vista da saúde emocional, até da sobrevivência. Atuar significa, ou pode significar, a sobrevivência de muitos, não atuar significa, pode significar, a nossa própria. Saber chuta a serenidade. Resta saber se queremos assim estar sempre, serenos e não atuantes, porque desconhecedores, ou perturbados e atuantes, porque sabemos. E resta o meio termo, que assegurará meia serenidade e meio sofrimento. E sobrevivências q.b. para estarmos e irmos indo.


junho 17, 2013

Do perigo

                       

Há discursos perigosos, há mentes perigosas, há perigos que saem das palavras, que saem da cabeça, que desvirtuam a dignidade, que deturpam a verdade. Há discursos e mentes que perturbam a ordem, que instalam o caos, que se alimentam perigosamente da hipocrisia, da inverdade, do cinismo.
Acabei de ver várias notícias no telejornal e é cá e é um pouco por todo o mundo. E enquanto existirem estes discursos e estas mentes perigosas, não pode haver paz. Nos seus significados todos, nas suas formas todas. E não é só no telejornal, pode ser perto de nós, ou longe. Há perigos que são mesmo perigosos. E começam na mente e nas nas palavras. E acabam na desordem, interior e exterior. No medo. Tempos perigosos. Gente perigosa. E consequentemente, e pior, vidas em perigo.

junho 12, 2013

Simplicidade

A averiguar pela quantidade de pessoas verdadeiramente simples que vemos por aí, que é pouca, infelizmente muito pouca, deduzo que o difícil, o difícil mesmo é ser simples.

junho 11, 2013

Quem tem medo do medo?

                       

Confirmei hoje e mais uma vez a ideia de como é péssimo quando os outros nos assustam. Ou como nós, estando descontraídos com uma tarefa em mãos, podemos ficar momentaneamente assustados por causa do medo dos outros e que nos tentam passar, ainda que inconscientemente, acerca dessa tarefa. Tenho para mim que tudo se resolve, tirando, infelizmente, a inevitabilidade da morte, da doença, da tragédia, de tudo o que é maior e superior à nossa vontade ou empenho. Por isso, o resto, faz-se, com menos ou mais dificuldade, dependendo daquilo que nos causa mais ansiedade ou mais respeito. No caso em questão, estava perfeitamente descansada porque quem me incumbiu de uma empreitada em particular também o estava. Vai daí que, erro meu, ao falar de tal missão com outras pessoas, um certo mal estar vi tomar conta de mim por instantes devido às dificuldades maiores que logo colocaram, nos termos em que (as) colocaram e passando uma insegurança que não sentira até aí, ou, provavelmente melhor, um stress de última hora que não era necessário e que não era meu. Porque se fosse insegurança ainda a sentiria até agora e a verdade é que desapareceu logo assim que vim embora. Lição a tirar: calar, como faço tantas vezes, guardar para mim, não dar azo a palpites, a leituras impregnadas de aflição, a preciosismos que não possuo, até porque não me afligiu nada a incumbência, talvez apenas o timing, atarefada que ainda estou com papelada e avaliações. 
Não costumo escrever muito na primeira pessoa, tento mais teorizar, assim como evito falar de situações várias que sejam mais pessoais, por mim e pelos outros envolvidos, tornando-as sobretudo momentos reflexivos, muitas vezes. Mas hoje fujo um bocadinho a essa prática, consciente, porque podem não ser propriamente o inferno mas que os outros complicam o que dentro de nós não está nem é complicado, ai isso sim, complicam. Ou, para ser coerente, que os outros complicam o que dentro de mim nem está nem é complicado, ai sim, complicam. Que leveza longe deles, longe desses. A empreitada continua, serei responsável e, no entanto, estou tranquila como estava no início. Como é preciso, por causa destas interferências negativas, encetar tanta coisa a sós. E até saudável e imperioso. Ou não terão vocês, leitores, nunca sentido o mesmo? Sorte, amigos, se não. Significa que têm escapado a muita apoquentação sem razão que não é vossa, mas doutros que, escusadamente, assustam quando não há que ter, sejamos razoáveis, nenhum medo. 

junho 10, 2013

Quem espera


Esperar é difícil, e de que maneira, especialmente para os impacientes. Em qualquer percurso, esperar é um teste à paciência, à perseverança, à resistência. Esperar desespera e, no entanto, esperar significa também alcançar. Lembrássemo-nos mais vezes disto e as coisas poderiam ser, ou ter sido, diferentes. O que se faz, enquanto se espera? Bem, tem-se vontade de desistir, acabar com tudo, tomar outro rumo, parar, voltar para trás, ceder, não continuar. Instala-se o desânimo, a dúvida, desacredita-se, e desacredita-se naquilo que somos, inclusivamente, desespera-se, repita-se. E há quem o faça, provavelmente, ou fazemo-lo algumas vezes, deixamos de acreditar que é possível, tornamo-lo mais impossível, pelo menos na nossa cabeça. E de uma certa ansiedade dolorosa vem então o fim do sonho, do que imaginámos como nosso e que reservámos para nós. Nestas alturas a espera chegou ao fim, pensamos. Nada mais virá, não vale mais a pena. Porém, subitamente, vem a surpresa. Pode vir, e virá, na hora certa. Quando já tínhamos abandonado o nosso objetivo, quando já nos tínhamos preparado para perder a aposta em nós. A espera foi compensada, a espera compensa, frequentemente. É uma intrincada jornada mas vale a pena esperar pelas coisas boas. Ou, de outra forma, as coisas boas, verdadeiramente boas, só vêm com a espera. Por isso, importa continuar. No desespero, muitas vezes, mas continue-se. No fim da espera, há qualquer coisa. Boa, verdadeiramente boa. E isso não é uma coisa qualquer. 

junho 08, 2013

Rir e chorar

                    

Tenho assim mais ou menos esta visão da vida: a indiferença, o umbigo, a vidinha, a futilidade, os prazeres são incomportáveis a tempo inteiro. Significam que as pessoas nunca se comprometem, nunca são solidárias e nunca se preocupam com as questões sociais e humanas. Mas o pensamento e ação sempre focados na crítica, na crise, na luta, no coletivo, no trabalho, e outros aspetos sociais ou políticos significam que as pessoas nunca relaxam, nunca aliviam, nunca brincam e, já agora, nunca aquecem. No meio, e rendo-me ao ditado, é que estará a virtude. Ou seja, é para mim essencial que uma pessoa seja consciente, com capacidade de intervenção, com preocupações pelo mundo em redor e tenha um espírito engagé mas que a isso junte também a capacidade de rir, de descontrair, de ver o que há de bom à volta, de se deslumbrar até, de gostar. Tristes devem ser aqueles que nunca o fazem, embalados pela crítica constante, ou pelo contínuo pessimismo descrente, ou pelas incessantes preocupações com as causas, ainda que estas façam todo o sentido. E tristes, porque vazios, aqueles que não se envolvem, que não tomam parte, que calam, que dissimulam. É preciso o envolvimento, é preciso estar com os outros. É preciso sofrer, até, e chorar. E da mesma forma é necessário o prazer, é necessário sermos felizes connosco. É necessário viver, muito, e rir.

junho 06, 2013

Impérios de aparência


1. Já foram certamente registadas muitas impressões acerca do empreendedor miúdo que apareceu no Prós e Contras recentemente, sobretudo por causa da intervenção da historiadora presente no programa e do pequeno diálogo que ambos mantiveram. A única coisa que me irritou, no pouco que vi, e já à posteriori, foi o discurso vazio das miúdas giras para quem a roupa seria, ao princípio, porque depois era "preciso chegar às outras pessoas". Quais outras pessoas? As feias? Bem, adiante, é um miúdo e gosta de miúdas giras, está certo, é natural. O que não é tão natural é que se condene o trabalho infantil (e bem) mas já não se considere como tal qualquer ligação de não graúdos à moda. Ou seja, não é desejável que trabalhem em mais nenhuma área, mas no mundo da moda tudo é aceitável, até elogiado e promovido. Estranho, porque, a meu ver, este não é de todo um universo que considere especialmente saudável, por razões que agora não vou explanar. Muitas vezes são os próprios pais que empurram os miúdos para os desfiles e fotografia, esperando com isso alcançar alguma fama e muitos mais euros. Sei que há que publicitar a moda infantil ou juvenil, mas não é de todo positivo, para mim, que o façam de forma regular que soe a emprego. 
O miúdo é jovem e foi-lhe elogiado o empreendedorismo. Resta saber se o mesmo aconteceria se ele estivesse a mover-se, da mesma forma, numa área totalmente diferente.

2. Visitei a Turquia há mais de dez anos. Tenho, desde então, um especial apreço por este belíssimo país, rico em diversidade paisagística, histórica, cultural. As notícias que vejo ou leio entristecem-me, mas, ao mesmo tempo, reforçam a minha admiração pelos turcos - ou grande parte deles. Porque recusar o retrocesso social e cultural do seu estado é um sinal de que há um caminho de modernidade e laicidade que não pode ser aniquilado. Ataturk foi um visionário, e um corajoso. Confesso que sou uma espécie de fã, naquilo que significa admirar alguém que ousa romper com regras há muito estabelecidas e até obsoletas. Pelo contrário, Erdogan foi uma desilusão. Bem apessoado, de porte elegante, num tom sereno e ponderado, ainda mais com o rótulo de moderado, fez-me parecer que seria um grande líder, longe dos discursos inflamados de outros políticos mundiais, à esquerda ou direita, muçulmanos ou de qualquer outra confissão religiosa. Mas as notícias vinham, através de amigos ou via alguns media. Estava a dar-se curso a uma islamização do país, nos costumes, na vida social e afetando a organização familiar, os direitos da mulher e outros. Externamente aliado dos "bons", do ocidente, internamente a fazer dar passos para trás. De modo que a resistência vista agora tem toda a lógica e compreensão. E mais, a laicidade (que não põe em causa a fé de cada um) tem o meu apoio. E esperança. Que possa visitar a Turquia outra vez e possa vir novamente encantada. E não só com a geografia.

junho 05, 2013

Peço desculpa pela insistência

Urge uma decisão: ou os alunos ficam traumatizados com os exames ou ficam traumatizados sem eles. Entre os do 4º ano e os que a greve afetará venha a família e escolha.

                   

Brincadeirinha(s)



"“Este tipo de atitude é tomar como refém os nossos alunos. É algo com que não se deve brincar”. (Nuno Crato)

Este argumento não tem pés nem cabeça. Este argumento, dito por quem quer que seja, é uma falácia. Este argumento é para quem pretende somente desvirtuar os direitos de quem pode e deve reivindicar. A greve é para fazer mossa, quanto mais doer, melhor. Já sabemos que em qualquer ação deste tipo há pessoas sem culpas que levam por tabela. Doentes (e aqui é onde me custa mais, confesso), utentes de vários tipos, cidadãos, idosos, alunos. Danos colaterais, é um facto. E, no entanto, uma greve não atinge nenhum objetivo se não os houver. Ela serve para mostrar que certos (todos?) profissionais são indispensáveis em certas (todas?) áreas e que, portanto, são essenciais para o bom funcionamento disto tudo que nos envolve. É ótimo que se sinta a ausência desses profissionais, é ótimo que as coisas parem. O que se pretende? Que se faça greve ao domingo, para não prejudicar ninguém e não provocar transtorno algum? Ou durante a noite, já que a maioria estaria a dormir? Por muito que nos custe a todos nós sermos vítimas passageiras de uma greve em determinado setor, a verdade é que sem causar contrariedades não se vai lá.
Fiz várias vezes greve e outras não, por razões diferentes e minhas, mas nunca sou contra. Trata-se de um direito e, compreendendo que vai contra os direitos de outros num determinado dia, não há outra forma igualmente forte de se fazer sentir a revolta ou urgência relativamente a medidas que também vão contra certos direitos. E sempre repudiei as reportagens feitas nos dias de greve que vão exatamente buscar a perspetiva dos lesados, esquecendo o enfoque nos que estão a fazer greve e nas suas causas. Reféns podemos ser todos nós, já agora, e não apenas num só dia. E vontade de brincar é aquilo que menos temos atualmente. Que argumento. Argumento para ficar bem junto dos modernos papás e dos seus modernos direitos de se meterem no ensino por tudo e por nada. Também sou moderna e mamã e se houver greve a um exame do meu rebento pois que haja. Entenderei. Pois o que não entendo é esta tentativa de demonizar quem à greve direito tem. E no dia que estorve e contrarie mais, pois só assim poderão conseguir alguma vantagem. Ou estar-se-á a confundir a greve com algum tipo de ação benemérita? Só podem estar a brincar.


junho 04, 2013

As linhas de combate


A crise tem contornos perigosos e, por vezes, pouco notados. Neste momento, considera-se feliz quem tem trabalho. Por razões óbvias. Mas isso também não significa que tudo vá bem no reino do emprego. Pode continuar a haver situações de grande injustiça salarial, de más condições físicas de trabalho, de prepotência empregadora, de pouca ou nenhuma dignidade, até de escravatura laboral. Daí que não é por se ter trabalho nesta altura que se podem fechar na gaveta reivindicações justas, lutas por melhores condições a vários níveis e recusa e até revolta relativamente a medidas que afetem os trabalhadores, de vária ordem umas e outros. Por se ter emprego, que é obviamente fundamental para a sobrevivência, subsistência e vida individual, familiar e coletiva, não se pode aceitar tudo o que é feito e que signifique retrocesso nos direitos, abuso de poder ou outros aspetos que vão de encontro à justiça, à legalidade, à qualidade e também ao respeito por quem trabalha.
Amiúde se ouve "ao menos tens trabalho, não te queixes que ainda há pior, então e os que perderam o emprego". Certo, certíssimo, não estamos em situação comparável, não podemos naturalmente queixarmo-nos de barriga cheia, muito menos sermos insensíveis para com situações que já roçam o desespero. Mas que tal facto, dramático, não seja impeditivo, por um outro lado, de continuarmos a almejar melhorias nos nossos empregos ou profissões se as condições são duras e indignas, se se deterioraram ou teimam em estagnar. O sacríficio é necessário e louvável, em muitas e determinadas circunstâncias, já o conformismo é inimigo do avanço. E também não é nivelando por baixo, em nenhuma área da sociedade, que se conquistam progressos em várias vertentes. Olhar para quem está pior pode tornar-nos menos ambiciosos e mais humanos mas que não nos torne também menos reivindicativos e mais passivos.
O desemprego é uma brutal e dolorosa realidade mas, por esse mundo fora, acredito que muitos trabalhos também. Não se pode baixar os braços na luta contra um e contra os outros. Era menos mau que o problema fosse apenas um, mas não. São dois, muitas vezes. E nós temos que estar em ambas as linhas de combate.

junho 03, 2013

Gira ao sol


Porque há gente genial que se inspira nos artistas geniais, porque ousadias inesperadas não são nada comuns e porque oferecer flores traz, ainda e sempre, o desejado, ainda que imprevisto, perfume do amor.

junho 02, 2013

Branco português católico


Falássemos nós inglês e não fôssemos nós de maioria católica que a nossa televisão pareceria inspirada ao melhor estilo WASP. A pública e também a privada, não vejo diferenças, mais uma vez infelizmente. A nossa sociedade é maioritariamente homogénea, de facto, a nível linguístico, religioso e cultural. Mas continua a fazer-me mossa cá dentro a constatação de que não há gente de cor ou etnia diferentes nos diferentes canais portugueses. Há uns anos ainda se viu um jornalista negro a apresentar as notícias na TVI, acho. E penso que também há ou houve uma jovem atriz de origem chinesa na série juvenil mais conhecida desta estação, da qual nunca vi um episódio inteiro, é verdade, detesto, outra verdade. Penso também ter aparecido uma personagem ucraniana numa telenovela qualquer mas não sei se a atriz era portuguesa ou desse país de leste. Mas contam-se, assim, pelos dedos os representantes de outras nacionalidades ou origens na televisão (e nos outros media, já agora) e tal facto é para mim negativo, por duas razões. A primeira porque não espelha a sociedade mais multi-cultural que temos e vamos tendo, sobretudo nas duas maiores cidades do país. E a segunda porque pode ser reflexo das dificuldades de inserção que essas minorias vão tendo a um nível mais profundo. Dizer que somos hospitaleiros não chega. Somos, e os turistas disso dão conta facilmente, mas se considerarmos a vida dos estrangeiros que cá residem poderá não ser assim tão linear e simpático. Também por duas razões. Ou porque essas pessoas não têm tido garra ou oportunidade de saírem da existência dura que muitas vezes carateriza o fenómeno da imigração ou porque nós lhes temos vedado a ousadia e o sonho. Ou a mistura das duas, é possível. Ainda assim custa-me a crer que nos castings para a ficção ou dentro de outras áreas mais sérias, como as da informação, não apareçam rostos que não sejam brancos, ou católicos, ou outra coisa qualquer que não seja de Portugal e ainda assim lhe pertence. Irrita-me que a noção de globalização e modernidade seja apenas associada às tecnologias, à comunicação na internet e às viagens de férias para longe. Podemos e devemos ter uma perspetiva global cá dentro. A começar por dar destaque ao tecido multi-cultural que é uma realidade de muito do resto da Europa e que vai sendo também por aqui. Ou estas camadas da sociedade só vêm à baila nos media quando fazem algo de errado? Pena não as vermos quando também fazem certo. Ou quando o poderiam fazer, caso as deixassem. A diferença que isso faria para atenuar a diferença. 

junho 01, 2013

Dancing in the dark


Never thought I could dance
But you can
They always told me I couldn´t
You shouldn´t have believed them
How couldn´t I? I believed it too
You did?
That´s a fact
That´s bad
I wanted to change my clothes, my hair, my face
What for?
Thought I was not right
But you surely were
I am now because of you
Because of you, you mean
You can´t start a fire without a spark, you know
No, I don´t know
You should know then
No, you should know
What?
That the spark is within you