setembro 27, 2013

Filhos de uma família menor

       

Hoje aconteceu estar a falar com uma colega nova na escola e ir-se até ao tema dos filhos únicos. O que eu lhe disse, face à preocupação dela a este propósito, foi o seguinte: ninguém pode afirmar com certeza absoluta, ou com certeza não absoluta, que alguém com irmãos será forçosamente mais feliz do que alguém que não os tenha. Pois disse.
Para lá da partilha, das gargalhadas, da cumplicidade, de todas as alegrias que os irmãos, de facto, trazem, há uma noção de felicidade pessoal e de percurso individual que vai para além das fronteiras familiares deste tipo. Sobretudo quando se cresce. Nada, nada garante que quem viva estas alegrias não possa ter dores maiores, presentes ou, ainda mais, futuras, que lhe ensobrem a existência. Seria fácil, muito fácil, se a solução para as infelicidades e males do mundo passasse por uma coisa desse género, toda a gente, à partida e podendo, acorreria a ter mais do que um filho. Relembremo-nos também das pessoas que nem sequer os têm - por opção, aqui - e não serão mais infelizes por isso. E, do mesmo modo, nada provou nem prova que os filhos únicos venham a sofrer mais do que os não filhos únicos. Há um estigma social, meio a brincar meio a sério, que ainda considera que filho único é sinónimo de maluquice, ou de egoísmo. Mas então como explicar os desequilíbrios de quem o não é? Não ter irmãos é não viver muitas formas de contentamento companheiro e genuíno. É estar mais só, carregar todas as expetativas dos progenitores, viver no silêncio. Mas é também não ter uma panóplia de chatices, conflitos e dores alheias que acabam também por ser nossas. Basta observar à nossa volta, espreitando o mundo adulto. É, será, maravilhoso ter mais do que um filho assim como pode ser e é maravilhoso ter um. Que um único filho não signifique, na opinião das pessoas, uma espécie de determinismo trágico, que só causa angústias ou aflições ao visado ou, pior, que o torna pior pessoa.
Infelizes podem ser ou vir a ser todos. Felizes são os que têm uma grande família feliz e felizes são os que têm uma família pequena feliz. E felizes serão uns e outros, ao construírem as suas próprias vidas e, certamente, famílias. Não necessariamente, mas possivelmente. 

6 comentários:

  1. Ora Fátima, tecer considerações absolutas sobre felicidade é extremamente infeliz. E revela incertezas e desconhecimento da causa humana, pois. Um risco desnecessário, efectivamente. :) Um beijinho e momentos felizes.

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    1. :) Obrigada, igualmente, sra psicóloga, que sabe mais disto do que eu. :)

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  2. Infelizmente o problema hoje tem contornos diferentes e dramáticos. Como educar e sustentar um ou mais filhos?

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    1. Pois, ainda por cima essa questão existe e não é menor. Portanto, as assunções de que falo nos post carecem totalmente de bom senso e visão.

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  3. Posso afirmar que, apesar de ter tido uma irmã (que de irmã não foi nada), fui uma filha única muito feliz e bem resolvida.

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    1. Não duvido, Rosa. Um disparate imenso, colocar a felicidade e a bondade humanas em questões deste tipo.

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