julho 30, 2012

As escolhas corajosas


Ontem, ao ler um artigo intitulado “10 coisas que não aprendi na escola” prendi-me numa frase em particular. Segundo o autor do artigo, uma das coisas que aprendeu pela vida fora foi que as pessoas tendem a mimetizar os comportamentos dos outros por falta de coragem para assumir as suas próprias opções e preferências.
Uma frase que muitos refutarão, por considerarem que o livre arbítrio preside à grande maioria das escolhas. Na verdade, esse livre arbítrio, ainda que possa parecer liberto, é também, na maioria das vezes, não mais do que o reflexo do padrão comportamental dos outros. E ao parecer estarmos a fazer escolhas pessoais, estamos, a bem dizer, a fazer eco do que vimos à nossa volta.
Assim sendo, não somos muito originais. Realizamos o que outros realizam, com maior ou menor grau de sucesso, com um ou outro pequeno desvio.  Mas a questão nem se prende com a originalidade. Prende-se com a noção de felicidade ligada à de normalidade. Ou seja, seremos felizes se fizermos opções normais, observáveis em outros, aprovadas por outros, exultadas por outros.
Podemos, à partida, ser felizes com este seguidismo, se ele for ao encontro dos nossos anseios mais profundos. Se as escolhas feitas forem aquilo que ambicionamos, que preferimos. O problema acontece quando os nossos desejos divergem dos dos demais. Aí teremos de traçar um caminho diferente, porventura ousado, até marginal. E isso significa que temos de ter coragem para o fazer.
Nasce, então, um problema. Ousar ser diferente, fazer diferente, ou manter-se infeliz no meio da aparentemente feliz normalidade? A resposta parece fácil. Todo o indivíduo ambiciona a felicidade. O pior reside na coragem – até que ponto temos nós coragem para seguir um rumo que é divergente? Que não encontra eco nas pessoas que conhecemos, de quem gostamos, que nos serviram como modelo?
Até que ponto aguentamos nós ouvir vozes discordantes, reprovadoras? Até que ponto conseguiremos nós seguir sozinhos? Mesmo se o caminho, a nós, nos pareça o mais natural possível? Como resistir às influências, à pressão, à mimetização? Como arranjar bolsas de coragem que resistam ao padrão normativo que nos vai presidindo? Como, pura e simplesmente, lhe sobreviver?
Não aprendemos isto na escola, mas aprendemos no decurso da nossa vida que nem sempre temos coragem para fazer opções diferentes. E que essa falta de brava ousadia pode condicionar e muito a nossa felicidade. O caminho parece óbvio. Ser feliz implica escolher aquilo que queremos. Mas nem sempre o fazemos, muitas vezes não o fazemos, quase nunca o fazemos. Parece óbvio e, no entanto, não é. Uns mais do que outros, procuramos a coragem.

também no bahia mulher

julho 29, 2012

A grande evasão


Ao ver a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos, dei por mim novamente a pensar como os grandes eventos transformam momentaneamente as pessoas. Engrandecem-nas. Sobretudo se existir uma dimensão internacional. As nações aproximam-se, as pessoas aproximam-se. Perde-se a timidez, fomenta-se a abertura, cresce a alegria, esmorece a intolerância, respira-se entusiasmo. Não achei esta cerimónia fulgurante, à exceção dos anéis de fogo e do magnífico acender da tocha. Mas parece-me que ao vivo teria sido contagiante e teria sido contagiada por um ambiente fantástico, em que as pessoas se unem sob uma bandeira, a da euforia e da universalidade.
Os grandes eventos são uma extraordinária forma de nos evadirmos. Podem ser criticáveis - pela despesa que comportam, porque nos fazem esquecer situações graves que não devem nem podem passar para segundo plano, por significarem alheamento dos problemas, e até porque podem ser causadores de outros (terrorismo, por exemplo). Mas a verdade é que nos projetam para uma outra dimensão, não pequena, não quotidiana, não trivial. E dessa forma, fazem-nos crescer. Crescer em júbilo, crescer em valores, crescer em espírito gregário. E se esquecemos o comum e o sério, na verdade precisamos destes instantes, em que nos libertamos de uma existência mais banal. 
Não sei se foram benéficos economicamente ou não, mas a Expo 98 e o Euro 2004 foram alturas em que os portugueses foram felizes. Um contentamento era visível nas ruas, nas conversas, na postura das pessoas. Subimos lá cima, onde raramente nos atrevemos ou deixam ir. A mistura de povos, a multiculturalidade, a babel linguística, as diferenças culturais, a miríade de experiências foram e são elementos que fomentam sentimentos mais nobres, mais sábios. Inesquecíveis momentos, para quem deles pôde usufruir.
É também um orgulho a nível nacional, a organização de uma Olimpíada ou de um outro mega evento. A reação popular ao anúncio da cidade ou país vencedor é disso reveladora. Orgulho em acolher os outros, em mostrar o melhor das suas terras, em mostrar competência organizacional. Um orgulho visível em Londres, naturalmente. Um orgulho em fazer uma grande festa, para todo o mundo. E nós recebemo-la e dela participamos, ávidos de alegria. Evadimo-nos com estes acontecimentos, pois então. E não voltaremos ao mesmo lugar em nós mesmos. Teremos, com toda a certeza, crescido.

julho 27, 2012

Tendências de verão



Este blogue está mais ou menos de férias. A autora ainda vai estando online mas menos, muito menos e também foi atacada pelo vírus silly que é apanágio da estação. Porque não declarou a mesma oficialmente um período para banhos e afins? Porque é muito fraca a planificar a médio e longo prazo. Nada a impedirá, em condições normais, de vir sentar-se ao computador e escrevinhar umas linhas breves. Ou umas mais longas. Na verdade, muito do que escreve decorre de impulsos de momento, necessidades de ocasião e também de coisas que vê ou de que tem conhecimento à medida que os dias correm. Por isso é melhor não decretar pausa nenhuma até setembro. O que não invalida que o ócio e a preguiça mental a levem a estar dias seguidos sem escrever uma linha. Entre a imprevisibilidade, o silly mood e o mundo que não para, estará algures a produção deste blogue.
Já agora, para quem está ou estará assumidamente a gozar os prazeres estivais ... boas férias. 

julho 25, 2012

Adeus Ilusões



Uma Liz Taylor de morena beleza e sensualidade, um cenário de praia apetecível, uma paixão imensa entre personagens vividas por atores casados na vida real, um filme maduro cuja história abana os bons costumes. E uma canção que ficaria célebre, "The shadow of your smile".

Brave inner world


Há ainda muitos que revelam um completo desinteresse pelo auto-conhecimento. Há inclusive um certo desprezo pelos livros de auto-ajuda, como se fossem menos merecedores e menos cultos aqueles que procuram algum conforto emocional e alguma reflexão que se centre neles mesmos. Não faço ideia se há livros de autoajuda idiotas que reduzem tudo a fórmulas básicas que não são, naturalmente, aplicáveis, não se decoram regras para ser feliz sem mais nem menos. Mas a interiorização de ideias que vão ao encontro do que somos parece-me, à partida, algo positivo. Assim como o conhecimento que temos de nós próprios.
Ele é, de facto, fundamental para nos posicionarmos de forma correta e justa no equilíbrio das nossas relações, sejam elas de que tipo forem. Acontece constatarmos que muitos falam e apregoam sentenças aos outros sem demonstrarem o mínimo conhecimento do que são, como reagem e como surgem aos olhos dos outros. Desta forma, há um denominador quase sempre comum nestes comportamentos – os indivíduos acham que têm sempre razão, que as suas opiniões são a verdade e que as suas ações carecem de reflexão. Como atingir equilíbrios exteriores se o conhecimento interior simplesmente não é cultivado?
O facto de se achar que se está sempre certo já é por si só indicador da ausência de introspeção. Não se podem esperar relações e comportamentos sólidos e maduros se partimos desta premissa. As pessoas que falam muito e também aquelas que agem muito e que pouco ou nada refletem sobre as suas atitudes são fáceis de identificar. Há sempre uma arrogância que ressalta destas certezas, nunca revelando fragilidades ou incertezas que seriam naturais porque parte da condição humana.
Porque razão as pessoas temem o confronto com a verdade do seu caráter? Porque lhes é mais fácil abrigarem-se no imediatismo dos atos e das palavras precipitadas e nunca optarem pelo silêncio reflexivo? Ou por momentos que lhes permitam conhecer-se? Porque é tão difícil irem ao âmago de si mesmas? Ou porque descartam leituras que o tentam viabilizar e estigmatizam quem o faz?
A psicologia, a psico-sociologia, a astrologia, a análise e outras são áreas que podem permitir o desbravar do nosso território interior. Só com esse conhecimento poderemos ser mais superiores e construiremos momentos melhores ao longo dos nossos dias. Desprezá-las, curiosamente, é um erro e revela grande presunção por parte de quem, afinal, teme a verdade sobre si mesmo e não é capaz de se conhecer. Ou sequer de dar mostras desse conhecimento. As minhas pessoas preferidas foram sempre essas, as que falam igualmente das suas potencialidades e das suas limitações, de forma natural, assumida.
Ao contrário do que se possa pensar, os indivíduos que se mostram com todo o seu potencial mas também com todas as suas incapacidades são os mais seguros pois nada se lhes abala só porque revelam uma inaptidão. Ao invés, quem muito esconde é porque sente pouca segurança para o admitir. Também haveria mais honestidade se as pessoas conhecessem o seu eu. Talvez não aceitassem posições para as quais são completamente desperfiladas, por exemplo. E não embarcariam em aventuras, sejam elas quais forem, para as quais não têm estofo.
Por outro lado, cultivar o otimismo e as atitudes positivas é bom. Repito que não se trata de fórmulas nem decorar aquilo que não se entende mas interiorizar boas vibrações e comportamentos sadios só pode ser benéfico. Felizes dos que estão mais além na escala do auto-conhecimento. Com livros ou sem livros que os ajudem, mas abertos à sabedoria e aos ensinamentos que há a colher desta nossa atuação por aqui.
                                                                                            

julho 21, 2012

Ninguém e tanta gente

É possível conhecer toda a gente e, no entanto, permanecer só a vida toda? Sim, claro. O facto de se ser sociável e mesmo popular não significa que se seja capaz de estabelecer afetos e relações duradoiras. Quantas pessoas não existem assim? Com uma invulgar capacidade de fomentar laços sociais mas que não têm, a bem dizer, coração? Porque é disso que se trata, de uma ausência de um lado afetivo que possa aquecer os outros, ao invés de espantá-los, de lhes fazer detestar a ideia de uma partilha de vida em comum. Conheceremos, decerto, algumas pessoas assim, popularíssimas, que são conhecidas em todo o lado e por muitos e que, todavia, não conseguem aprofundar os seus relacionamentos por causa de um claro déficit afetivo. Ao invés, há aqueles que são bem mais solitários socialmente, que se abrigam no seio familiar e pouco mais e que, contudo, encetam relações amorosas e depois podem mesmo constituir família num projeto comum. Ter-se muitos conhecimentos é uma mais-valia em termos sociais, dá-nos jeito, fazem-nos pequenos favores de que às vezes necessitamos, para além de podermos socialmente ser mais solicitados, pretendidos e desta forma estarmos mais presentes em vários momentos que preenchem o nosso lado boémio e cultural. Independentemente se os contactos são amizades ou não. Mas o curioso, que por vezes me ponho a observar, é a discrepância entre essa popularidade e a solidão de afetos em que se cai simultaneamente. Pode voltar-se para uma casa vazia, pode chorar-se sem ninguém por perto para reconfortar, pode envelhecer-se e um dia dar-se conta que o tempo já passou. Não que haja tempos definidos, não há e ainda bem, não que não haja solidões durante certos e por vezes longos períodos, não que não haja sentimentos de isolamento mesmo quando se vive com alguém, não que não haja relacionamentos falhados, não que tudo seja eterno. O que pretendo dizer resume-se  à ideia inicial - conhecer toda a gente não traz necessariamente o conhecimento íntimo do outro. As relações sociais podem ser extremamente superficiais - e são-no muitas vezes. E se o indivíduo não cultivar o aprofundamento individual, dos outros e dele próprio, não estará em condições de prender ninguém. Ninguém quer dividir a vida com uma multidão, a exclusividade é essencial. Se não nos fazem sentir exclusivos, então não nos prendemos. Não partilhamos a nossa intimidade. Da mesma maneira, ninguém quer embarcar numa relação com a frieza. Por muito interessante intelectualmente que se seja, não há como a presença de coração para despertar uma paixão. 
É isso. Os anos passam e há pessoas bem-sucedidas socialmente mas superficiais que vivem os seus dias ininterruptamente de forma solitária. Por todas as razões aqui evocadas, o afeto maior não germina. Mal ou bem, o social  - e o mental - prevalece sobre o afetivo.

julho 20, 2012

Do fado



Apáticos, desinspirados e desinspiradores, deprimidos e deprimentes, assim estamos (somos?) como povo português. E não se trata apenas dos professores e da falta de adesão à iniciativa de ontem, é geral, transversal a grupos que deveriam protestar mostrando o seu desagrado, de forma pacífica ou não. Não que se defenda a violência mas que ela seria compreensível, assim como o tem sido noutros países onde eclodiu. Esta é a massa de que é feita Portugal. Mestres na arte do queixume e cobardias cabisbaixas na hora de reagir. Pouca coragem, pouca audácia, nenhuma luta, nenhuma voz. O consumo sobrepõe-se a qualquer tipo de descontentamento. Distraimo-nos com as férias, com os aparelhos eletrónicos, com a praia, com a roupa de marca, com a internet, com os hipermercados, com as festas populares, com os copos e as noitadas, com as festividades que importamos, com o ballet e o karate dos filhos, distraimo-nos e esquecemo-nos das razões pelas quais nos queixamos. 
Pensamos que somos grandes, indignamo-nos quando alguém nos critica ou avalia por baixo, agigantamo-nos perante outras nações e culturas, sobrevalorizamo-nos em áreas que não devíamos e revelamos baixa auto-estima noutras onde também não devíamos, invejamos quem brilha, criticamos a corrupção mas colaboramos com ela de pequenas ou grandes formas, queremos transparência mas não falamos a verdade, exigimos dos outros mas nada fazemos, ficamos presos a fantasias sebastianistas e às descobertas que já foram, tememos o futuro, queixamo-nos do presente mas na hora h não nos mobilizamos. É tão mais fácil para nós não esticar o pescoço, nada arriscar e esperar por melhores dias. 
Cansaço ou comodismo? Desesperança ou indiferença? Depressão ou cobardia? Pouco importa quando o resultado é o mesmo - uma completa apatia social que revela uma grande falta de atitude perante políticas e ideias que, não sendo só de agora, têm vindo a agudizar-se e a afetar tremendamente o nosso quotidiano. A paz e o sossego são bens preciosos que cultivo com toda a determinação. Mas os mesmos não podem edificar-se sobre a inércia e a falsa serenidade. Não me perguntem como mas desta forma é que não nos servimos. Desta forma é que não construiremos nada, desta forma é que não evoluiremos como sociedade. Mudos e quedos, não iremos a lado nenhum. Doentes, morreremos.

julho 18, 2012

Desmobilização



Acabei de chegar da vigília pela educação, na cidade de Aveiro. Fui desmobilizada pelo quase total falhanço da iniciativa, pelo menos nesta praça. Estava pouquíssima gente,  um grupo de gatos pingados, ali ao frio (as noites a norte são do pior), sem palavras de ordem, nenhuma organização e pouco/a (à) vontade. Estava esperançada que a praça enchesse, que fosse um momento de união, espalhado a outras cidades. Organizada através do Facebook, foram milhares de professores "convidados". Postos perante políticas que ameaçam quer as suas práticas quer os seus rendimentos quer a aprendizagem efetiva dos alunos, esperava mais. Somos mesmo pacíficos, somos mesmo lentos a reagir, somos mesmo tímidos na forma como queremos reivindicar os nossos direitos. Não vi nenhum professor contratado conhecido - minto, vi uma colega, de perna partida a convalescer, que trabalha há 12 anos e que não sabe se em setembro terá trabalho. Mas são mais, muitos mais. Que não vi. E não precisaríamos de nos ver confrontados com este receio, tanta coisa haveria e há a protestar. Se participar numa manifestação em Lisboa acarreta alguns esforços que nem sempre podemos comportar, e o mesmo se dirá da greve, desta vez bastava uma simples presença local para mostrar o nosso descontentamento. Ou o de quem está pior na escala da empregabilidade. A praça morria de tédio enquanto pequenos grupos conversavam sobre tudo e nada. A minha vontade de ali permanecer morria à medida que os números não se alteravam. Porque não basta a vontade, é preciso gente. Só os números e a massa humana podem fazer movimentar decisões. Donde nos vem esta passividade? Este deixa correr que não vale a pena envolver-me? Um come e cala que difere tanto de posições vistas em  países por essa Europa fora? Uma noite que não chegou a ser. Um posicionamento que não vingou, para o mal que isso representa. Desunião, comodismo, apatia, cansaço. Desmobilizador.

(In) Flexibilidades


Só vejo vantagens em ser-se tolerante. Não se caindo na permissividade e no laxismo, não há outra forma de criar harmonias e consensos. A excessiva rigidez de ideias, posturas e palavras não acarreta senão crispações, reações acaloradas, mesmo violentas. Fazem-me muita impressão as pessoas que perseguem este tipo de comportamento, inflexível, inflamável ao mínimo desalinho, intolerante porque desprovido de paciência e de compreensão. Se há alturas em que se pede e há que mostrar firmeza e mesmo poder, outras há em que é preciso ter mais flexibilidade e abertura, descontração e humanidade. Que completo horror seria ter de viver com alguém maquinal, formatado de acordo com esquemas mentais mecânicos, reagindo a tudo e todos, sem espaço de manobra para tolerar desvios bem simples e que não beliscam a nossa dignidade. Porque tudo se resume a isto. Se algo ofende a minha dignidade, também vou reagir, se não, não se entende tanta capacidade de infernizar e perturbar a ordem dos outros. Como viver no inferno? Só para masoquistas, decerto.
(E isto tudo porque alguém que me passa a roupa a ferro não compreende o que é ser-se criança. Haja paciência. Agora é ela que me escapa a mim. Vai-se a ver também a minha tolerância já viu melhores dias. Ele há crescidos a quem apetece, pura e simplesmente, chutar para longe.)

julho 16, 2012

Montanha mágica


Ontem ainda consegui ver um bom bocado do filme "Cold Mountain" na televisão. Já o vira no cinema, numa vez que me encontrei completamente sozinha na sala da Lusomundo, tão sozinha que o écrã parou e tive de sair do lugar e ir chamar alguém para reparar o incidente. Trata-se de um filme que diria assumidamente narrativo, no sentido em que conta uma história que me transporta para os livros que lia em menina. Há filmes americanos que têm esse condão, o de nos fazerem sonhar com paisagens magníficas e romances de recorte feminino, situados numa rica época em acontecimentos como foram o da guerra civil e o da abolição da escravatura. São filmes impregnados de classicismo, desde o guarda-roupa de época até à cinematografia, passando pela construção de um argumento que preenche os nossos devaneios puramente românticos. Filmado com extrema sensibilidade, tempo e que nos faz viajar para mundos que ficam longe das nossas modernas rotinas apressadas. E confirma-se que aprecio muito os filmes com a Nicole Kidman, precisamente por essa dimensão sensível que a sua aparente fragilidade empresta às personagens. Não vi o filme até ao fim, embora já o conheça. Inesquecível, de resto. Como são as histórias assim, apanágio de um cinema que sempre celebro e amo. 

julho 13, 2012

O que estamos



Uma conhecida holandesa fez-me confrontar com verdades tristes. Acidentalmente, claro. 
1- Ela está hospedada num hotel com os seus 6 filhos, perto da minha casa. Quer ir para a praia e não quer pegar no carro. Decidiu ir de autocarro e perguntou no hotel onde apanhá-lo, horário e afins. Ninguém na receção do hotel a soube elucidar. Entretanto procurei essa informação. Na paragem do autocarro não existe nenhum horário afixado, nenhum. Noutros tempos existiram e bem. Como podem as pessoas ver o horário desta maneira? Estrangeiros ou não, é inadmissível que não se tenha esse tipo de informação facilmente. Dirigi-me ao posto de turismo para saber o pretendido, eram 17.52h, instalações recentes, estava fechado, tudo fechado, sem indicação de horário nem nada parecido. Tive de esperar na paragem de autocarro até vir um e perguntar ao chauffer. Pedi-lhe um horário, disse que não tinha. Horário de autocarro e tempos modernos em Portugal parecem, portanto, não combinar. E assim se prestam maus serviços e se dá uma imagem algo caótica de um país que é lento a satisfazer as necessidades dos cidadãos, turistas ou não.
2- Perguntou-me depois, enquanto tomávamos chá no átrio do hotel, se nas escolas portuguesas (sabendo que sou professora) os alunos tinham manifestações de formalidade como cumprimentarem os professores à entrada da sala de aula. Cumprimento formal, "strict" foi mesmo a palavra que empregou. Sorri. Não existe formalidade alguma nas escolas portuguesas. Não que a informalidade não seja uma coisa boa, mas cumprimentos formais é algo desconhecido. Aliás, cumprimento é algo que não existe, muitas vezes. Se há alunos educadíssimos e afáveis, porque os há e tenho-os, outros há que nem bom dia dizem quando entram para uma aula. Nem boa tarde, nem olá, nem adeus, até amanhã nem sequer boas férias. Há alunos que se caraterizam por uma grande frieza e má-educação, não demonstrando qualquer afeto ou regras de boas maneiras perante o professor. A sorte é ter dos bons porque se temos dos maus, e já tive, pouca proteção e ajuda temos na arena. 
Estes exemplos mostram que a prestação de serviços e a educação, em vários significados, precisam de reforços consideráveis neste país. E essencialmente por causa de quem cá assim vive.

julho 12, 2012

Flor à beira do pântano



Dificilmente se encontra uma atriz tão bela. Grande par. Belíssimo filme...

Uma não-notícia pode ser uma boa notícia(?)



Ao dar uma vista de olhos sobre o Público online, cliquei na notícia que dava conta da mulher mistério que já acompanhou o líder norte-coreano em dois eventos públicos. Li-a e segui para os comentários. Eram poucos e apenas um dizia que se tratava de uma bonita mulher. Os outros interrogavam-se e interrogavam o Público sobre a pertinência desta notícia, criticando o jornal sobre o facto de trazer para a frente das notícias uma não-notícia. Pus-me a pensar. É de facto uma não- notícia. Não nos informa sobre nada relevante para o país e para o mundo, não tem contornos de escândalo, põe-nos à margem de problemas verdadeiramente importantes, desvia a nossa atenção da crise e de assuntos que refletem a desonestidade do país como o das equivalências, enfim, trata-se de uma curiosidade, ainda por cima numa nação no outro lado do mundo. E, no entanto, li-a. E pelos vistos não fui a única. A bem dizer, há notícias que não têm de ser alarmantes ou gravemente sérias, talvez não sejam notícias mas são curiosidades e online só clica quem quer. É como ter um jornal de papel e haver uma página mais lúdica e de trivialidades que será só lida e apreciada por quem estiver com tempo e disponibilidade para tal. Bem pior é o que acontece na televisão. Os telejornais de hora e meia massacram-nos com tanta notícia e muitas não-notícias. Dificilmente escapamos e o que me faz fazer é desistir de os seguir. Também me interessa menos o que acontece numa aldeiazinha com pessoas que aprendem a navegar na net aos 80 anos ou num jardim zoológico com as novas crias cujos nomes ficamos a saber. Pessoalmente, acho mais interessante ver que o líder da Coreia do Norte parece ter vida pessoal e não fazer segredo disso, aproximando-o mais do comum dos mortais - a ser namorada ou esposa, a tal mulher. No fundo, as nossas não-notícias diferem porque diferem os nossos interesses e as nossas motivações. E clicar é uma opção. Nem sempre queremos ler sobre a crise. E há quem goste de romance, ah pois, não invalidando que se esteja atento a outras questões. Bonita, a mulher. Que traga mais sensibilidade ao regime, mais leveza e abertura. Que a não-notícia possa dar azo a melhores notícias.

julho 10, 2012

Do dia



Coisas deste dia:


1- 150 euros e um LCD como novo. Finalmente teclo com as duas mãos. Um mês de grandes dificuldades em estar online chega ao fim. O que não quer dizer que terminem as dificuldades em escrever... O verão é-me caro mas deixa-me sem grandes vontades reflexivas, acho mesmo que me apalerma.


2- reportagem choque na SIC. Comovem-me sempre as histórias assim, dilaceram-me, arrasam-me e ao mesmo tempo espantam-me pela dedicação, força, coragem. Grande Inês que cuida da sua bonita e frágil menina de 2 anos, Leonor. Como grande espero que seja a ajuda a partir de hoje.


3- uma ventania desgraçada obriga-nos a vestir o casaco aqui a centro-norte. Para onde foram os verões da minha meninice, quentes e longos? Não há direito o calor estar concentrado a sul, nós também queremos ir à praia e não ter frio. Para quem pode ir, claro. Não tem sido o caso, que o trabalho continua.


4- já terminei a formação há um mês e aguardo a avaliação. Consistiu em 50 horas. Não pode a Lusófona dar-me equivalência pelas minhas prestações profissionais e passar a 250 horas? Sempre eram 10 anos que eu fazia num. Trabalho há muitos anos e não acho que possa aprender mais...

A quem o estiver a viver






A vida dá muitas voltas. Ninguém pode estar absolutamente certo de nada nem de ninguém. O que hoje parece inabalável, inquestionável, inquebrável amanhã fragmentou-se, estilhaçou-se para não mais se recompor. Ou não. Às vezes ainda se consegue juntar os fragmentos e voltar a construir o que já fora. Ou não. Por vezes os estilhaços serão perenes, desaparecendo com o tempo e deixando apenas memórias do que foi ou sonhos do que poderia ter sido. Será isto bom ou nefasto? Não sabemos. As sensações de perda ou de reviravolta nas certezas serão certamente funestas, forjadas a desilusão e dor. Mas outra vida pode começar a desenhar-se. Outra forma de existir que aguardava, escondida, tímida, pode começar a projetar-se. Pode viver-se duas vezes. Pode encetar-se uma nova dinâmica, saída do mais completo desnorte. Pois é assim que as ruturas devem ser. Alavancas de mudança para uma dimensão maior. Ir ao encontro do que está lá dentro, mesmo depois de um profundo desencontro. A vida dá mesmo muitas voltas. Desejando-as ou não, nada como percorrer os labiritintos da mudança. Com dor ou menos dor, nada como encontrar o que se perdeu ou nunca teve.

julho 08, 2012

Quem não ama a solidão



Quem, portanto, não ama a solidão, também não ama a liberdade: apenas quando se está só é que se está livre. 
 Arthur Schopenhauer

Grande frase, pura verdade e está explicado o meu gosto em, não estando só, procurar estar sozinha frequentemente. Faço de facto muitas coisas sozinha, desde ir ao cinema, ir ao café, fazer compras, ir à praia, piscina. Embora o meu bichinho me acompanhe nalgumas atividades, quando não está a família toda reunida. Porque me sabe bem? Porque não tenho que marcar horas, andar ao sabor de ninguém nem impor o meu, não tenho de conversar se não me apetece. Estar com os outros implica sempre esforço, nem sempre estamos aptos para o fazer. Estar sozinho é o sossego, é ir à descoberta sem nada estabelecido. Basicamente, é ser livre.

Astros


Gosto, se falarmos de astrologia ligada ao estudo do caráter. Obviamente que não explica tudo acerca da nossa personalidade. Há naturezas que são travadas pela educação, nomeadamente, e outras que são bastante estimuladas pela mesma. Meio, percursos pessoais e outros também jogam um papel importante na definição daquilo que se é. Mas as caraterísticas base, sobretudo na combinação signo solar/ascendente, revelam muito do que somos. E as (in)compatibilidades entre elementos são observáveis. É também um estudo mais complexo do que se pensa, não se fala aqui de horóscopos que nunca leio e que não me interessam. 
Para quem gosta do auto-conhecimento, esta é uma interessante vertente a explorar.

julho 06, 2012

Uns não podem ser mais iguais do que outros


Coloring page Cut

A inconstitucionalidade dos subsídios serem apenas retirados aos funcionários públicos parece-me acertada e justa. De igual modo o facto dos privados poderem vir a usufruir da mesma medida. Não é que eu queira ver mais gente a viver mal ou meramente menos bem mas a verdade é que nunca compreendi porque há de ser o funcionário público a pagar a crise sozinho. Que eu saiba a gasolina está cara para todos, os preços dos serviços essenciais aumentam para todos, impostos são taxados a todos, o iva aumentou para 23% e todos pagam esse aumento. Tento, por várias razões, não imiscuir-me em assuntos atuais e que tenham a ver com a crise, mas desta vez deixo aqui a minha opinião. Poderá não agradar ao setor privado mas o corte dos meus subsídios também não me agradou a mim. E o facto da minha carreira estar congelada há anos e com ela não ver um aumento de ordenado também há anos, muito pelo contrário, também não. Todos somos portugueses, os sacrifícios são dos diabos, reconhecendo que há situações limite de quem já não pode esticar mais a corda, mas a igualdade tem de prevalecer neste tipo de coisas - e bom seria que em tudo ela fosse respeitada. 
Inconstitucional e injusto, foi assim o corte no orçamento da função pública. Trabalhadores incansáveis e incompetentes que nada produzem há nos dois setores. Não à austeridade e aos grandes transtornos familiares, sociais e económicos que ela causa,  mas outro não à desigualdade de direitos e deveres.

julho 05, 2012

Substituição ou a ausência de lugar cativo



Há indivíduos que pensam ser insubstituíveis. Nos afetos, no emprego, socialmente. Na verdade, excluindo os laços  familiares de sangue, somos todos mais do que substituíveis. Até nos afetos do coração, entre marido e mulher, podemos ser substituídos facilmente por outros. Às vezes espantamo-nos até com a rapidez dessa substituição, como nos puderam esquecer assim tão rapidamente, após uma divergência, um rompimento, um divórcio, até uma morte.  
A pessoa que pensa ser insubstituível não é só arrogante, por considerar que ninguém ultrapassa os seus encantos ou as suas capacidades, é também, e talvez surpreendentemente, ingénua. Ingénua por pensar exatamente o que disse atrás. Pois não é ingenuidade não reconhecer o valor de um outro e, ainda mais, não conhecer a natureza daquele que a substituiu ou não entrever a circunstância da sua substituição? 
Alberoni escreve sobre as pessoas que no trabalho criam uma ordem desordenada na qual só elas se entendem, porque querem precisamente criar a ideia de que são insubstituíveis, de que sem elas nada avança e tudo paralisa. Da mesma forma a mãe que faz pensar à sua filha que esta sem ela não consegue ser boa dona de casa e até mãe, está também a achar-se insubstituível, prolongando a sua vida com pequeno alcance na dos filhos, tolhendo-lhes os movimentos e incapacitando-os. Esse tipo de pessoas surpreende-se quando os outros se desenvencilham sem elas, mas achando sempre que as coisas não estão tão bem feitas como se fossem elas a fazê-las.
Quem se acha insubstituível é o oposto de um generoso, de alguém que confia nos outros. É, portanto, um desconfiado que desconhece coisas como delegar, relaxar, estimular o outro. Sendo alguém que vive de forma aflita, pode infligir sentimentos de impotência a quem o rodeia, a começar desde logo pela impossibilidade que vemos de se (auto-)analisar com justeza, atribuindo-se o lugar certo no equilíbrio das relações e no meio laboral, se for o caso. 
Ser substituível não significa que não se tenha qualidade. Podemos tê-la e muita mas outros a terão também. Significa apenas que estamos vivos, sujeitos às nossas limitações e a contingências de várias espécies. Significa também que podemos, nós mesmos, substituir alguém.

julho 02, 2012

Think

Porque se o fizéssemos quantas coisas inverdadeiras, prejudiciais, desinspiradoras, desnecessárias e malévolas ficariam, e bem, por dizer.
(Roubado do facebook.)

julho 01, 2012

Desinspiração

                                   
Andei a dar uma volta por blogues nunca dantes navegados. Femininos, popularérrimos - fiquei impressionada com o número de online users, de seguidores, de comentários, e senti-me a mais pequena das bloguistas. (Não sei, aliás, se gosto desta palavra, porque soa a intervenção que nem sempre faço, e ainda não a adotei como minha.) Impressionada com o sucesso, deveras. Sobretudo porque não fiquei impressionada com o conteúdo, o teor da linguagem, a ligeireza de algumas assunções. Era bom que fizesse parte desse mundo rosa, era. Tinha, decerto, mais leitoras. Sem posts sobre moda nem sobre talentos de fada do lar, as coisas ficam meio tramadas para o meu lado. Ainda por cima junho trouxe-me um kit desinspiracional de primeira linha como bónus não pedido. Está lindo, está. Sem tempo para ser uma intelectual como gostaria de ser (já estive quase, noutros tempos, já), nem os ditos lavores femininos, lá estou eu numa espécie de limbo que não cai nem para um lado nem para o outro. Isto de ser mulher feminina q.b. tem que se lhe diga. Se ao menos eu conseguisse ( quisesse?) desfiar um rosário mais íntimo dos meus dias. Mas nem isso. É por isso que a maior parte das mulheres que por aqui aparece são minhas amigas e colegas. Claro, leem-me com o coração e já vou cheia de sorte. Eu bem que deveria ter nascido homem... que não diz palavrão, já agora. Não posso aventurar-me mais na infindável blogosfera rosa ao domingo à tarde, deprime-me, está visto. Embora me tenha ajudado a escrever qualquer coisa, bem vistas as coisas. (Ora isso já é qualquer coisa).