abril 30, 2013

Danos não colaterais


1. Vejo as notícias de relance, à hora de jantar, na cozinha, e os títulos de sempre: mais cortes, mais sacrifícios, mais despedimentos, mais medidas austeras, mais apertar do cinto. Saturada, dos jornais televisivos, da crise, da política, ainda mais da politiquice, disto tudo, penso: quando é que isto vai, finalmente, acabar? Quando é que nos veremos, finalmente, livres disto? Até quando ouviremos esta realidade? Ou, pior, até quando a suportaremos?

2. Alunos que faltam ou têm atrasos de 25 minutos sistematicamente ao primeiro tempo, alunos que faltam a testes para irem buscar familiares ao aeroporto, ou ainda porque não "sabiam" que era teste, alunos que nos entregam trabalhos de recuperação em minúsculas folhinhas de papel, escritos à mão, ao melhor estilo escola primária. Alunos que, sendo finalistas no secundário, parecem não ter aprendido nada, evoluído nada. E que o sistema, viciado, promove.

3. O atentado em Boston, que não registei aqui antes, reside em mais um ato tresloucado, como há tantos nos EUA. Pode ter a motivação religiosa (que para mim tem origem em razões políticas desde a fundação do estado de Israel) mas não difere muito dos outros em que se disparam perturbações psicóticas e mal resolvidas em tantas outras circunstâncias. Escolas e cinemas não diferem muito de uma maratona. Infelizmente, são os kill bills de que já falei aqui há algum tempo.

abril 28, 2013

As horas e os dias

                          

Foram muitas as horas
Foram muitos os dias
Em que o tempo parou

Foram mais as horas
E foram mais os dias
Em que esperou e esperou

Foram tantas as horas
Foram tantos os dias
Em que desesperou

Foram ainda mais as horas
E ainda mais os dias
Em que finalmente voltou

Horas e dias
Tempo interminável
Dias e horas
Para retornar saudável

Horas e dias
De invasor sofrimento
Dias e horas
Para voltar o alento

abril 26, 2013

A confissão do medo


De um modo geral, mas bastante claro, as pessoas oferecem muita resistência à confissão do medo. Como se confessar que se tem medo pudesse significar ausência de bravura. Ora, pode ser-se corajoso e avançar adiante e, ainda assim, ter medo. Porque este, em muitos casos, pode significar apenas uma grande dose de humildade face àquilo que é a condição humana e àquilo que, frequentemente, não podemos controlar. Assumir a vulnerabilidade face a coisas como sérias doenças e tragédias iguais ou maiores não devia ser visto como falta de coragem, porque não é, mas a verdade é que se tende a escamotear muito aquilo que verdadeiramente se sente.  
Resumindo, as pessoas não falam a verdade. Sobretudo sobre elas próprias e as suas angústias interiores. É um facto que há indivíduos altamente mentais cuja fria racionalidade os faz, pelo menos aparentemente, parecer imunes ao sofrimento. Ou ao medo do sofrimento. Mas mesmo esses, mais cedo ou mais tarde, terão um revés que nunca haviam antecipado. E de nada lhes valerá essa natureza feita de ferro, sobretudo a nível do controlo do seu percurso. Estão tão expostos como os outros, os que sentem mais e que admitem o medo que lhes vai lá dentro.
Há dias, vi a atriz Fernanda Serrano na televisão falar do seu conhecido problema de saúde, já ultrapassado. A sua sensibilidade e sobretudo a verdade que saiu das suas palavras deixaram-me sensibilizada. Confessou o grande medo que sentiu, pois outra coisa não seria de sentir. Estas pessoas verdadeiras, que não aligeiram as dificuldades, têm todo o meu apreço. E sinceramente cada vez menos me apetece falar com as outras, com as insensíveis e superficiais, sobre problemas sérios para os quais não têm, obviamente, capacidade de empatia. Ou verdade. A máscara está sempre colocada. E eu gosto pouco de jogar ao carnaval.


abril 25, 2013

Um só dia

Hesitei entre Sophia e Alegre, pois poucos foram, e na minha opinião pessoal, os que escreveram sobre abril como eles. 
São 39 anos. E por muitas promessas que haja ainda por cumprir e sonhos por realizar, há sempre que celebrar. Talvez por isso mesmo. Porque há quimeras e vontades que carecem de concretização, ou porque até já estivemos mais perto de as concretizar. Mas, neste dia, não me interessa particularmente a politiquice, ou não devia interessar. A liberdade é um triunfo e dom maior, a bem de todos e para bem de todos. E desta forma, também, todos a deviam sentir e honrar. A liberdade não tem preço e não devia, sequer, ter cor. 
Mas a palavra a quem sabe, porque, ao contrário de mim, conheceu o antes e o depois.


abril 24, 2013

(N)O Coração das Trevas

Heart of Darkness, no original. Li na universidade, no seminário, em inglês, e lembro-me de ter achado o pequeno livro, que ainda hoje tenho, denso, labiríntico, comparável a um longo caminho sinuoso. Penso que não andará muito longe daquilo que podemos encontrar na sua adaptação cinematográfica, no filme número um sobre a Guerra do Vietname, "Apocalypse Now". Não vou abrir novas perspetivas na genial adaptação da short story de Joseph Conrad pelo por demais conhecido Francis Ford Coppola, não poderia, nem é esse o propósito.  Apenas digo que este é um dos casos em que o filme ultrapassa, a meu ver, a obra original. 
Para quem, como eu, já foi ou ainda é fã dos dramas psicológicos da Guerra do Vietname (desde "O Caçador" até "Platoon"), não será fácil de esquecer a abertura do filme ao som de The End, dos The Doors, ainda por cima uma música de eleição para mim, nem a alucinante e alucinada interpretação de Robert Duvall (sim, o napalm), nem a menos estranha e psicadélica aparição de Marlon Brando por poucos minutos no filme, nem a subida do rio entoando-se I can´t get no satisfaction, num misto de cultura pop e alienação individual e coletiva que foi, no fundo, a toada maior da guerra do Vietname. 
Não é um filme fácil, do género que nos delicia, assim como também não fora a leitura do livro anteriormente. Mas se com Joseph Conrad ficou-me uma sensação de pouca nitidez narrativa, já com Coppola foi uma avalanche de instantes que ficaram para a posteridade, individual e coletiva, tal como a própria guerra. O filme é icónico, em momentos e imagens. Atualmente, prefiro ver outro tipo de filmes, menos violentos, mas ainda assim metafísicos. Portanto, acho que ainda sobrevive àquilo que eu própria procuro hoje em dia.



abril 23, 2013

Culta e chata

Aprecio a arte e a cultura. Mas não gosto nada de cultura chata. Ou de arte árida e entediante. Se isso faz de mim inculta, pois que seja. No limite, a escolher, antes inculta com vida do que culta aborrecida de morte.

abril 22, 2013

Quando a beleza é fundamental

        (foto do herdeiro do Dubai, que me parece que é o tal poeta, isto ainda carece de pesquisa...)

homens bonitos dos EAU expulsos da Arábia Saudita. ora aqui está uma não notícia com um potencial danado para análise. num festival, três homens foram considerados demasiado atraentes, podendo fazer as mulheres apaixonarem-se por eles, e portanto, deportados. inacreditável.
por razões óbvias que começam por ter a ver com curiosidade feminina e expetativas de deslumbramento ocular, fui ver se encontrava fotos dos potenciais desviadores de almas e nada. encontrei uma de um príncipe poeta do Dubai e não estava nada mal, nadinha, um verdadeiro príncipe das árabias, em moldes que nada têm a ver com terrorismo moderno e machismo religioso e cultural. 
ora isto leva-me a abordar alguns aspetos.
1º existem homens bonitos, até mesmo demasiado bonitos, por aquelas bandas. habituados que estamos a ver os homens de lá em imagens que nada remetem para a beleza nem para a sensualidade, pois não é que seria bom vermos esses três e outros numa outra perspetiva que não a de sempre, aquela que é repetida até à exaustão pelos media?
2º estamos a caminhar para a igualdade dos sexos ... ou talvez não. na verdade, não, de todo. explicando. ora se as mulheres por aquelas bandas (diga-se a retrógada Arábia Saudita) têm de andar tapadas para não mostrarem belezas que possam distrair os homens, então também não podem os homens ser muito bonitos para não distrair as mulheres. igualdade, à partida. mas o pior é que as mulheres tapadas devem poder, ainda assim, ser bonitas, ou não? então se elas podem bonitas ser e os homens podem apreciar, porque é que as mulheres depois não podem apreciar os homens bonitos? a não ser que eles andem mais destapados do que elas, pois é o que me parece. provavelmente a elas ninguém verá o rosto. não sei, nunca estive lá e gostaria de visitar, para ver com os meus próprios olhos. e apreciar, claro. por outro lado, já vi telenovelas da Arábia Saudita e os bocados que vi, mesmo sem entender a língua, deram para ver que as mulheres têm longos cabelos, têm muita maquilhagem (alguém já viu um casamento árabe, eu já, são camadas e camadas de make up) e usam roupas sedosas, caríssimas, esvoaçantes. é um facto que assim aparecem nos interiores, em casa, não me lembro de ter visto nada dessa beleza exposta em plena rua ou locais públicos. mas o facto permanece inaceitável: a elas não lhes dão o direito de encantar-se. 
3º a vida no Dubai e nos restantes EAU difere da vida na Arábia Saudita, com as suas brigadas anti-vício, as mesmas que aprisionaram os homens do Dubai. tenho uma prima, professora, que vive lá e podia mostrar fotos do seu estilo de vida e look moderno. é uma estrangeira, mas é muçulmana e as fotos parecem saidinhas de Las Vegas. enfim, nada como ir para sentir o pulso e ver para além do que passa na nossa formatada e paupérrima televisão.
a beleza existe e há uns que foram mais abençoados com ela do que outros. e se no ocidente e no resto do mundo ela é já obsessão e até cansa precisamente porque caminha para uma perseguida ubiquidade, já nestes mundos misteriosos que tudo escondem tem muito mais graça. aqui beleza é mais ousadia, é mais desafio das ridículas normas impostas. aqui, direi, beleza é mesmo fundamental.   

abril 21, 2013

With or without you


Gosto desta música, desde que ela existe. Mas não é apenas, para mim, uma boa canção pop/rock. A letra parece-me não ser assim tão linear, não tão apenas romântica. Na verdade, acho que pode ser profundamente existencial, mesmo se falar exclusivamente do amor.  Ou por isso mesmo.
Li há muito tempo que Liz Taylor e Richard Burton diziam que não podiam viver separados mas que também não conseguiam viver juntos. Dois casamentos e dois divórcios significam alguma coisa, não é verdade? Pois é um bocadinho deste tema que reveste muitas relações, amorosas ou outras. Talvez seja mais lógico falar das primeiras porque há depois, ou haverá quase sempre, uma divisão do espaço e uma partilha do tempo que se destaca das outras, e um projeto comum que as faz suster de especial forma ou não.
O que significa "não consigo viver contigo ou (nem) sem ti"? No caso das ditas estrelas cinematográficas, parece que era por serem extremamente parecidas. A sua combinação astral pareceria perfeita (ela, peixes com ascendente em sagitário e ele, escorpião com ascendente em carneiro), encaixando perfeitamente os elementos água, emoções e sensibilidade com os do fogo, ação e impulsividade. Atração máxima, entendimento máximo. Mas da mesma forma argumentos iguais, capacidade de luta igual, filmes interiores iguais, reacções iguais. Tudo misturado numa torrente emotiva considerável. Quando bem, é o melhor, o êxtase máximo, quando mal, o inferno.
As pessoas demasiado parecidas ou até iguais conhecem-se reconhecem-se rapidamente. Envolvem-se com frequência facilmente, descobrem o estado de paixão absoluta, tendem a racionalizar muito pouco, enquanto dura esse deslumbramento mútuo. O amor raramente é razão, sabemos. Ou quase nunca. Com os momentos fulgurantes iniciais da paixão a esbaterem-se por via natural, há que possuir um projeto de vida comum. Se este não existe, não se resiste. Mas embora ele possa existir, também nada nos garante que consigamos viver com o nosso amor. Ou ele connosco. Sobretudo se as emoções estiverem sempre um patamar acima da razão. Continuamente. 
Para o dia a dia funcionar, com as chatices e rotinas próprias, há uma parte emocional que deve ser desligada da ficha. Brilho, adrenalina, ardor, e outros, a tempo inteiro desgastam a existência. E o mesmo serve para a irascibilidade, a impaciência, a hiper emotividade. Eu diria que até são caraterísticas faiscantes, que acendem um relacionamento mas que também o podem aniquilar. Se não a nível do sentimento, a nível da coexistência. Viver no limbo das emoções e da reações, ainda por cima de forma igual, pode mesmo dar cabo de um amor que podia ter tudo. Ou que tendo, ou tendo tido, nunca desceu à tranquilidade de dias menos feitos de paixões.

abril 19, 2013

Telenovelando

Uma chatice, amar alguém que nos está interdito. Porque não nos quer, lá calha, ou, querendo, não pode. Coisas de telenovelas. Ou não necessariamente.

N/Forma

                                     
A malta nova e a menos nova associa geralmente o tabaco, os copos, os saltos agulha e mais umas tantas coisas do dia e da noite a formas de transgressão. Esta vista como ousadia, desafio, modernidade, divertimento, carpe diem/noctem. Vista de forma simples, sem entrar em grandes desvios comportamentais ou outros. Na esfera social apenas, na verdade, não vou mais além. E portanto, dizia lá em cima,  a malta nova e a menos nova catalogam os outros que não o fazem como totós, pacóvios tristonhos que não se sabem divertir ou direitinhos que nunca pisam o risco. Ora acontece que quem não fuma ou até nunca fumou,  quem não bebe, por opção ou proibição devido a problemas de saúde, e quem não tem tempo ou atrevimento para mais umas coisas arrojadas ou uns looks a condizer pode ser, espante-se, ainda assim, extremamente ousado e até transgressor.  É que me saltam à mente inúmeras situações, inúmeras, em que uma certa ousadia e atrevimento vinham mesmo a calhar e nada. Quer dizer, nada dos que habitualmente pisam ou pisaram o risco da forma que sabem e podem. Porque podem aparecer outros que, da forma que podem e sabem, o façam quando mais  ninguém o faz. Do tipo o certinho aparente partir a loiça toda socorrendo-se de coisas que outros não possuem. E não falo de cigarros, super bocks ou tops que deixam ver muito. Ou estilos punk ou rastafarian e mil uma outra coisas que saltam à vista.  (Nada contra uns e outros,  estamos no campo da observação do que está em redor, pura e dura.) Assim tipo, e perdoe-me quem não gosta desta linguagem, existirem ferramentas que não se veem, que não são físicas. Rebeldia sem idade, inclusivamente. Transgressão do que para os que não bebem, por exemplo, é chato, direitinho e sem graça. Das normas, pois. Realmente há cada uma. Tantos exemplos que saltam à mente agora, hoje e sempre. Quem haveria de dizer que os compostinhos e certos podem ser ousados e que os atrevidos e divertidos podem ser uns quadrados? São as formas, senhores, são as formas. A cada um a sua. E, se não pensaram nisso antes, deixem-me que lhes e vos diga que sim, também na transgressão.

abril 17, 2013

O ator é um fingidor


Cada vez admiro mais as artes da representação. E se sempre fui fã de cinema não deixo de o ser de teatro. O tipo de teatro de que gosto sei eu mas não é disso que falo hoje aqui.  Porque independentemente do conteúdo e da forma em palco, é o talento de quem representa que me colhe os maiores aplausos. O despojamento de um eu e uma outra pele que se cola a quem ousa estar em cena é das coisas mais difíceis de fazer no mundo do espetáculo ou da arte. Interpretar uma canção, tocar um instrumento, pintar, esculpir, escrever, requerem talento, sim, mas não se abandona os tiques, as manias, as obsessões, a personalidade. Cria-se e ousa-se, é certo, mas na redoma daquilo que somos e apenas mais descobertos e expostos do que o normal. Ao invés, representar, e representar em teatro, é o abandono total daquilo que é o nosso caráter, é o mergulho numa dimensão que não é nossa e é feito tudo ali, em cru, em bruto, sem qualquer espécie de rede, perante olhos anónimos que estão focados em quem está debaixo do holofote, que esperam, curiosos, histórias e desempenhos para aplaudir ou criticar. A linguagem teatral é dura, despojada, uma espécie de solidão entre quem representa e uma massa na escuridão que pode depois apontar o polegar para cima ou para baixo. Há uma absoluta coragem. Não consigo deixar de ver senão coragem na arte representativa. Uma reação imediata lá estará, as palmas, ou o silêncio. Não há mentira no teatro, não há filtragem intermédia, não é depois. É ali, durante, num processo de construção de uma personagem que precisa do público lá, no escuro, mas presente em simultâneo. Uma ousadia, uma ousadia que não pode fugir aos olhares mesmo se estão diluídos pela contraluz. Cada vez gosto mais, cada vez admiro mais quem pisa um palco para fingir ser quem não é. É uma arte de fingir maior. Pois pode chegar-se a fingir até o que, completamente ou não, deveras se sente. O ator é um grande fingidor. E ao entreter a razão e o coração,  traduz, como ninguém, a grande verdade, nua e crua, da arte.

abril 15, 2013

As we are taught to know


E lá vamos nós julgando a partir disto. Relativismo cultural, o todo pela parte, estereótipos, etnocentrismo, seja lá o que for. De norte para sul e vice-versa, de leste para oeste e vice-versa. Transversalmente, lá vamos avaliando em função do que nos mostram e impingem, conhecendo pouco, muito pouco. É tão mais fácil comprar uma imagem do que desmontar uma aparente realidade. O desconhecimento serve, assim, uma panóplia de assunções repetidas, mimetizadas. Que nos levam a ignorar que nas diferenças culturais, las hay, las hay, somos mais parecidos do que julgamos. Ninguém é uma nação. Ou é muito mais do que isso. 

abril 13, 2013

Os 3 aninhos






Eu e as efemérides. Os nossos santos não se cruzam. Estava eu há pouco nas brumas, não somente as da noite mas as de um blogue que visito regularmente, quando me apercebi que o AEfetivamente fez 3 anitos há três dias. Oh, mãe desnaturada que se esquece do aniversário de um seu filhito. Lá achei que devia fazer um mimo ao aniversariante. Pois foi. 3 anos e cá vamos, como sabemos e podemos. Soubesse-se mais e sobretudo pudesse-se mais. O resto, é muito bom. O prazer, o alento, as visitas, os comentários, os amigos, a rede blogosférica que se vai alargando. Um facto - é possível desenvolver afetos desta forma, é sim senhores. AEfetivamente, mais uma vez. 


Políticos e políticas menores

                          
Tenho andado atarefada com burocracia escolar e planos de remediações para quem não tem remédio, o que me afastou física e psicologicamente da atualidade em geral. Fui sabendo das coisas por terceiros, por fugazes olhares para as notícias enquanto me encontro na cozinha e por uma ou outra publicação nas redes sociais e afins. E resumindo agora, opino assim:

1- o ministro mais anedótico e impopular do governo saiu. Saiu e já o podia ter feito antes, se bem que ainda vá a tempo. Dele retenho apenas uma ideia - a de mediocridade. Não lhe vislumbrei, pois, nenhuma qualidade, embora se tratasse de uma figura com um ar não totalmente antipático. Mas quem vê caras, já se sabe. O discurso de despedida foi pequeno (que não significa curto). Mas compreende-se, tinha que fazer pendant com quem nunca foi grande.

2- o líder norte-coreano parece andar com umas ideias atrevidas que podiam ter graça não fossem perigosas. Sobrestimei-o quando, há tempos, apareceu em público com a mulher mistério que já era ou se tornaria sua esposa. Pensei que o amor o pudesse tornar menos querido líder belicista e mais novo líder humano. Mas, pronto, vem-me à ideia a existência das carcereiras nazis e percebo que nem todo o sexo feminino gira à volta de bordados e florzinhas. 

3- o chumbo do TC preocupou muita gente, ao que ouvi, porque dizem que não há dinheiro e que agora é que vão ser elas. Pessoalmente, agradou-me a decisão, uma espécie de travão quando se acelera em demasia a caminho do desastre. Não gosto nem percebo de economia mas regozijo-me também pelas minhas economias voltarem a ter o reforço do subsídio de férias. Vêm lá, devem vir, mais tempos maus, mas tenho o direito de sentir algum alívio pessoal lá por volta do final de junho. 

E agora, se me dão licença, volto para a papelada. Maioritariamente saída de cabeças menores, como se calcula.

abril 11, 2013

Sair de cena quando (não) vale a pena


Dá vontade mas não vale a pena.
Às vezes não vale a pena.
Às vezes não vale a pena explicar, justificar, traduzir.
Às vezes não vale a pena insistir, arrastar, convencer.
Às vezes não vale a pena bradar, gritar, lutar.
Voltar as costas. Vir embora. Deixar. Sair de cena.
Mas dá vontade, por vezes.
Dá vontade de mudar, alterar, esbracejar, persistir e resistir.
E possivelmente vencer. Ou perder.
Mas dá vontade. E, no entanto, também não vale a pena.
Deixar. Deixar ficar, deixar ir.
Por vezes.
Sair é que pode valer a pena.
Às vezes.
Pouca perseverança? Pouca atitude? Pouca combatividade?
Não, é apenas deixar correr, correr da forma mais natural. E, claro, máxima liberdade.

abril 10, 2013

(Des) Confianças


Há dois dias correu a notícia da morte do ator Nicholas Cage, que pelos vistos não passou de uma mentira. E que pelos vistos já não era a primeira vez. Bom, nem sequer o aprecio e disso já dei conta aqui no AE. Mas ainda bem que não é verdade, obviamente. Isto fez-me lembrar uma coisa, uma caraterística que é tipicamente minha desde há anos e anos a esta parte. Que é o de ser extremamente desconfiada quando leio algo em determinadas esferas. Acontece há anos com as revistas e agora também nos murais do facebook. Leio e a minha primeira reação é não acreditar, sobretudo quando se trata de separações e divórcios e medidas políticas. Sim, assim mesmo, de um extremo ao outro. Quando comecei a dar aulas, ia a reuniões sindicais com mais frequência. Nunca acreditava no que estavam a dizer e o pior é que mais tarde acabaria por acontecer o que previam, ou algo parecido. Com as revistas daquela cor que é discutível, a mesma coisa. Leio na capa que houve uma separação e não creio. E depois vem a confirmar-se que, afinal, onde havia fumo, havia mesmo fogo. E na política, igual, seja no FB ou nos jornais, papel ou online. Desconfio sempre e só acredito quando se torna, infelizmente, realidade. Não comprei a crise logo que ela surgiu, por exemplo, numa péssima amostra desta incredulidade de que padeço. E não acreditei no regresso do ex-prime no prime time, já agora. Pensei que fosse uma brincadeira, juro. Há gente incrivelmente trapalhona, quer dizer, brincalhona, e portanto dou(lhes) sempre o benefício da dúvida. Só quando o vi aparecer na tv, ali em direto e a cores, é que me convenci (e mesmo assim ele não me convenceu).
Tentando analisar o que não tem grande interesse de análise mas ainda assim é analisável, vejo que ofereço grande resistência a notícias notoriamente más. É que me parece que acredito logo nas boas, mesmo que sejam mentira. Se ouvir falar de um casamento galático ou de uma medida governativa excecionalmente boa, tenho para mim que compro a história. Trata-se então de um raro fenómeno de otimismo que faz parte da minha natureza contraditória. Avanço eu. Pode testar-se esta teoria. Eu vou estar atenta. E vocês, se calhar e se não tiverem mais nada para fazer, também. Confiemos.

abril 08, 2013

Quando o importante é ir



VIAGEM

Todas as manhãs o aeroporto em frente
me dá lições de partir.
Hei de aprender com ele a partir de uma vez.

Sem medo
sem remorso
sem saudade


(Manuel Bandeira)


Encontrei-o um dia destes. Um poema com significado. Há muitos, claro, mas também há outros que nada (me) dizem. Será assim com a poesia, com a música, com o cinema, com a literatura, com todas as formas de arte, expressando o pensamento verbalmente, como é o caso, ou até não.
Têm significado estas palavras. Significam que o partir pode ser uma dimensão meramente física - há quem possa ver aqui inclusivamente a partida deste mundo terreno - mas também não só. Que se pode partir para uma viagem exploratória mas também que se pode partir à procura de um lugar que pode não ser apenas geográfico. Há lugares feitos de tempo e tempos, afetos, liberdades, escolhas. E que podem estar perto, até mesmo dentro de cada um de nós. 
Significam também estes versos que partir pode não simbolizar apenas um fim. Que não pode ser apenas um fim. Pode deixar-se algo para trás, é certo, mas eles são significativos porque podem representar um recomeço. Um recomeço que tarda muitas vezes por medo, o medo do remorso, o medo da saudade. Porque refreamos frequentemente  o desejo de aventura, o salto no desconhecido, o desbravar de caminhos não calcorreados, pois tolhidos estamos, por medos e angústias que nos povoam as horas e nos atrasam os tempos. 
A saudade significa memória. Não é negativa, de todo, se não for impeditiva de uma libertação e ousadia em frente. Há que aprender a partir. Do sítio que não nos faz feliz, do momento que desejámos melhor. Até mesmo com medo, é possível, mas não deixando de ir.

abril 06, 2013

Fit for purpose

A forma pode ser boa mas sem conteúdo, nada feito. Esperar-se-ão coisas que nunca virão. Ou, da mesma maneira, ter boas intenções não chega. É preciso ter-se competência.


abril 05, 2013

Ausências


Tenho talvez falado um bocadinho demais em educação ultimamente. Aproveito o facto de ser professora e de ter, em boa hora, vindo parar ao mundo dos blogues para dar conta a quem por aqui passa da nossa realidade e de certas peculiaridades com que vamos, ano após ano, sendo brindados por experiências governativas.
Uma delas é a recuperação de assiduidade (e dos respetivos conteúdos). Nada contra. Se pelas razões certas, que quase nunca são boas. As certas. Obviamente que é benéfico para o aluno recuperar as matérias a que faltou, e eliminar as faltas que foram causadas por doença, acidente, convalescença, consultas, perdas de familiares, enfim, faltas que fazem sentido limpar e recuperar. Agora, o que não é entendível é que este sistema permita abusos constantes por parte de alunos, inclusive maiores de idade, com idade para revelarem uma maior responsabilidade, ao invés de se refugiarem na lei e, lá vai, baldarem-se. 
Pois que outra atitude é a de alunos que fazem planos de recuperação de assiduidade (com trabalho acrescido para eles e para os docentes) com faltas sistemáticas ao primeiro tempo e estando já presentes ao segundo ou com constantes atrasos de 20, 25 minutos e mesmo mais? Que atitude é a de, passados dois meses sobre o plano, exigirem um outro pelas mesmíssimas razões? Como justificam as faltas, ultrapassa-me. Porque os planos incidem sobre as faltas justificadas (só faltava serem sobre as outras, embora não me surpreenda que qualquer dia cheguemos lá). Ultrapassa-me, não é da minha responsabilidade enquanto professora (já o será enquanto diretora de turma, mas isso é outra história).
Pergunto que atitude é esta, quando há alunos que já estive sem ver semanas e semanas a fio, quase meses, sabendo que vinham a outras disciplinas. O meu azar (e a total irresponsabilidade deles) chamava-se horário. Horário da disciplina, claro. Duas vezes por semana ao primeiro tempo da manhã é obra. Estava muitas vezes frio e a chover, ou o chat tinha acabado muito tarde ou coisas parecidas ou diferentes que os faziam ter sono de manhã. E assim fomos e íamos. Planos de recuperação sempre para os mesmos, pelas mesmas razões que razão nenhuma tinham de ser.
Um dia, a professora disse, alto e bom som, que fazia os planos mas contrariada. Que a eles tinham direito mas contrariada. Que não sabia como justificavam as faltas e contrariada. Silêncio. Uma delas, nesse dia, chegara à escola ao mesmo tempo que a professora mas entrou na aula 25 minutos depois. E a professora disse-lho. Os planos são para fazer. Contrariada. E alguns alunos no dia seguinte chegaram a horas. Estavam sorridentes, felizes por cumprir e a professora sorriu e disse que, sim, era possível terem outra atitude. Adivinhem agora se esta nova atitude, a certa, se aguentou até ao fim. Ou se mais planos falsos tiveram de ser feitos. Ou terão. O sistema continua. E quem, adivinhem outra vez, vai saindo para a rua?

abril 04, 2013

O porquê e o porque


A falta de tempo, mesmo com os dias a crescerem, tem condicionado as visitas a outros blogues. E ainda mais os comentários, sobretudo se tiver de inserir códigos (não, não sou um robot:) e escrever uma série de informação que me leva alguns minutos). Lamento o facto e só queria dizer isto para não estranharem essa ausência.

Por outro lado, não sei se é alguma dimensão causa/efeito, reparei hoje que partilharam o AE no google + duas almas. Simpáticas, decerto, mas durante algum tempo eram quatro. Indago-me se é possível as pessoas despartilharem-me, passo a expressão, e se ando por aqui a escrevinhar coisas sem interesse nenhum. Ou que afugentam alguns leitores, o que é bem possível. (Também é possível a primeira hipótese e francamente não me parece melhor.)

Oh, deuses, dai-me inspiração e tempo para reavivar a minha vida blogosférica. De dentro para fora, porque gosto de ler outros, e de fora para dentro. Imaginam porquê.

abril 03, 2013

Olá. Bom dia. Boa tarde. Boa noite.



Estranho sempre quando nos enviam e-mails e não dizem mais do que olá, boa noite, boa tarde, bom dia sem se usar o nosso nome na primeira abordagem (aliás, dificilmente se fará noutra a seguir). O nome ou outra forma carinhosa ou agradável de se nos dirigirem a nós, como amiga/o ou outras que tais. Falo, claro está, das pessoas com quem nos relacionamos no dia a dia, por vias profissionais, nomeadamente, ou por outras que nos fazem estabelecer contactos e relações que depois têm um complemento qualquer através de e-mail. Relações de anos, inclusivamente. Pessoas que até podem almoçar connosco e conversar frequentemente sobre variadíssimos aspetos. Estranho e não entranho quando essas pessoas assim se nos dirigem por e-mail. Trata-se de gente que vemos  todos os dias, até, e ainda assim, não há boa tarde colegas ou bom dia amiga/o ou olá fulana/o. Não sei ainda explicar se é por um claro déficite de afetividade ou por lacunas na competência comunicativa. Do género o indivíduo ter um grande coração e não saber comunicar, ser parco em palavras e curto e grosso. Ou do género não ter emoção, nem qualquer espécie de sentimento que o faça cativar quem recebe a mensagem. Ou até as duas razões, e aí coitado não de quem recebe mas de quem envia, mesmo. Bom, pode haver um terceiro fator, que é a falta de tempo. Escrever olá beltrana/o demora mais tempo do que escrever apenas olá. E bom dia, em vez de bom dia colegas. Escrever colegas dá muito trabalho e consome muito tempo. Então caros colegas nem pensar. Tempo e energia. E esta é por demais necessária para tentar perceber qual dos motivos leva alguém que conhecemos a dirigir-se aos colegas desta não simpática forma. Ou então qual dos motivos leva alguém que conhecemos a dirigir-se. 

abril 02, 2013

Bendita sois vós entre as horas

Abençoada luz que prolonga os dias e nos faz vaguear por aqui e ali sem apetecer vir para casa. Muda a hora e cresce a alegria de explorar a vida.