setembro 10, 2013

As contínuas sementes de violência




A escola (re)começa daqui a dias. E daí a lembrança.
Obviamente que tive professores péssimos. Medíocres. Existiam antes e existem ainda, agora, e não desaparecerão. Assim como existem e existirão médicos medíocres, maus, que se safarão ou serão responsáveis por pequenas ou grandes tragédias. Também já os apanhei, claro. E daqui podemos correr muitas profissões, todas, uma vez que são desempenhadas por pessoas e estas, mais do que falíveis, são também incompetentes, oportunistas, gananciosas, falsas, incapazes. Agora, o que faz com que se destile o ódio que se vê por aí de forma mais frequente, intensa e visceral à classe docente, naquilo que terá - e tem - de incompetência e inabilidade? 
Pus-me no outro dia a pensar nisto. Quantidade. Quantidade é a resposta. Ok, também algum ressabiamento e efeitos mega colaterais de quem não foi feliz na escola, mau aluno ou algo do género. Mas insisto na conclusão acima. Na verdade, quantos médicos tivemos nós,  podendo observá-los diariamente, durante a nossa vida? Só com grande azar nosso poderíamos avançar para as dezenas ou até centenas. No máximo, com sorte, passámos pela clínica geral e por algumas especialidades, onde também encontrámos os bons e os maus profissionais, passando pela parte científica e pela humana. Sem demérito algum para uma classe que respeito e admiro no seu global, claro. Muito. E como esta, outras áreas. Advogados, quantos conhecemos no exercício do seu trabalho diário? Com sorte, nenhum, até. E quantos outros, com profissões variadas, podemos escrutinar ao detalhe, de forma constante, sistemática? Se o fizermos, quando o fazemos, decerto encontramos falhas. Setor público, privado, semi, estão carregadinhos de indivíduos que não fazem um bom trabalho, que mereciam ser despedidos. Conheço uns tantos empregados de balcão, uns tantos empregados de mesa, ui tantos, uns tantos mestres de obras, mais uns engenheiros que não deviam ter o diploma, enfim a lista podia ser longa... porque os acompanhei de forma mais direta e permanente ou então imediata que foi o que bastou para me aperceber da sua incompetência e desleixo no trabalho. O rigor e a competência não podem ser apenas exigidos aos docentes nem aos médicos, com óbvias responsabilidades coletivas, tantas são as áreas em que a qualidade da performance se repercute no bem estar dos outros. Estamos, mais ou menos, todos ao serviço uns dos outros. Acontece é que algumas profissões estão mais expostas do que outras, publicamente, e de forma frequente, numa base diária. É muito mais fácil descortinar as falhas numa convivência deste tipo, quando se está sob o olhar direto de quem observa. São muitos os professores que passaram pela nossa escolaridade. Recordamos certamente bons e maus. Mas se fizermos um esforço vamos recordar outros profissionais divididos nas mesmas categorias. O mal não é de classe nem de hoje. É de sempre e é transversal. E quanto mais conhecemos, mais descobrimos. Resta esperar que seja o bem..

6 comentários:

  1. Muito bom texto. Gostei. Gostei.

    Assim de repente recordo-me de dois professores que me marcaram. Português e Filosofia. De Português porque era uma senhora muito doce e ao mesmo tempo firme, com um ar tranquilo, pele muito branca e olhos azuis, sorriso lindo, ninguém diria que se encontrava ali uma professora com uma garra impressionante. Não admitia faltas de respeito e sabia muito bem como fazê-lo. Conseguia levar, sem grande esforço, os alunos a gostar de português. Não no meu caso porque sempre adorei a disciplina. Nunca a esqueci. Impressionante.

    Por outro lado um professor de filosofia, algo excêntrico, sempre mal arranjado e de cabelo que parecia não ser lavado há pelo menos 3 meses. Era excelente. Inteligente que doía. Adorava as aulas. Nunca me atrevi a faltar. Também duvido muito que alguma vez o esqueça.

    Médicos, acho que tive muita sorte com os que encontrei pelo caminho, pelo menos até ao presente, principalmente na Maternidade Alfredo da Costa. Devo-lhes a minha vida. A minha médica pessoal/família é do melhor que existe. Para além de médica, é uma grande amiga.

    Advogados, já trabalhei com muitos, acho que lhes conheço todas as manhas e espero muito honestamente não ter de trabalhar novamente com um. Se calhar era melhor não generalizar...

    E muito mais havia a dizer de muitas profissões que por aí existem. Esqueci-me de dizer que enfrentei uma médica porque achei que era demasiado fria, bati com a porta, exigi outra. Depois deste episódio, e entretanto termos conversado, tornou-se na minha médica de confiança. A vida tende a surpreender-nos quando menos esperamos. Só por isso vale tanto a pena.

    Beijinho, Fátima, e peço desculpa pelo comentário tão longo :)

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    1. Ora essa, é sempre bem vinda, maria. :) Pois, esta generalização decorre da quantidade e da má imagem deixada por alguns professores e funcionários públicos menos capazes, numa altura em que as pessoas estão viradas umas contra as outras, público e privado. Mas há muita, muita inabilidade em todas as áreas, embora umas estejam mais expostas do que outras. Exposição diária, diretamente observável.

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  2. Quando se está sujeito a escrutínio, a "classificação" é uma consequência inevitável. O grave é que muitas vezes os escrutinadores é que são os incompetentes.

    Abraço

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    1. Absolutamente. Aliás é mais fácil criticar do que ... fazer. :)

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