setembro 30, 2013

O mau estado da nação


Não vi a noite eleitoral de forma completa porque tive de preparar o jantar, arrumar a cozinha, deitar o pequeno e depois preparar aulas. À segunda começo logo ao primeiro tempo, aliás como quase sempre. Estive na escola desde cedo, ocupada entre aulas, contactos com encarregados de educação, papelada administrativa das 2 direções de turma, e agora vim ver os resultados e a informação disponibilizada online sobre a matéria. Sou uma leiga nestes assuntos mas como sou livre e estou na minha casa, aqui ficam as minhas primeiras impressões a propósito das autárquicas e do que li por aqui na internet.

1- metade do país não foi a votos. É uma brutal abstenção e contribui negativamente para o exercício da cidadania responsável e da democracia, que não é perfeita, mas que nos deixa participar em momentos como estes. Falamos à boca cheia das ditaduras que vão por aí mundo fora, dos direitos violados, de vários tipos de opressão, mas depois quando temos a possibilidade - e a liberdade - de opinar, de marcar uma posição, de mudar os acontecimentos, que fazemos? Ignoramos, chutamos para canto. O que se espera com este comportamento? Dizer que espelha o descontentamento e desilusão com a política? Possível, mas e qual é a solução, então?  Não vamos lá desta forma, parece-me. E espanta-me mais ainda porque diz respeito a aspetos diretamente relacionados com o local onde vivemos, com a qualidade de vida ou não que também passa pelas práticas do poder local. Não sei se compreendo esta indiferença, esta forma de protesto ( a sê-lo, duvido).

2- não foi a votos e, pior, o país pôs-se a ver o reality show que considero inenarrável e que, infelizmente, inicia mais uma temporada. Como pode uma nação abster-se de se interessar pela organização da sua vida pública e quotidiana? Como pode um povo afundar a sua responsabilidade civil em programas de duvidosa qualidade que são o oposto de modelos de conduta para toda uma geração? Como podem, depois, estas pessoas ousar reclamar, pedir, queixar-se, quando o exercício de uma consciência coletiva e individual lhes passa completamente ao lado? Tenho sentido de humor e nada tenho contra o entretenimento. Contra o bom entretenimento, que eleva o espírito e que desperta o melhor das pessoas. Que nos faz rir, descomprimir e soltar os nossos demónios. Já não compactuo com a vulgaridade, a boçalidade, a estupidez, a burrice, o despudor descarado propositadamente ostensivo (e ofensivo?). Triste país este que promove estes paradigmas da inversão de valores e prioridades.

3- temos um novo mapa cor-de-rosa, na grande maioria das localidades. Não deixa de ser um cartão amarelo, amarelíssimo, ao eixo governativo. Sabemos que em questões autárquicas, por vezes são os nomes, as figuras e o seu bom trabalho (ou mau) que arrastam os votantes. Terá ainda acontecido desta forma em muitas localidades. Mas não deixa de significar uma amostra da insatisfação crescente com os governantes. O descrédito atual dos partidos também se revela através dos independentes e das suas surpreendentes vitórias. Pessoalmente, penso que o slogan do Porto estava extraordinariamente bem conseguido. O partido é o Porto, e veja-se no que deu. O futuro virá e dirá, mas não deixa de transparecer a vontade de dar um pontapé na política mais alinhada e sectarista. Ainda não vi nem li a reação do PM sobre estes resultados. Quanto à CDU, reforçou-se e o BE quase... desaparece? Neste, não aprecio a liderança bicéfala e considero a Catarina Martins (com cujo pai já trabalhei numa escola) uma fraca escolha. 

Para onde vais? Eleições autárquicas. Donde vens? Eleições autárquicas. Donde vens? De um país com muitos problemas. Para onde vais? Para um país com muitos problemas...

setembro 29, 2013

Romantic mode

E esta foi a minha banda sonora para este fim de semana. É verdade, também sou um bocadinho isto.


(não costumo postar aqui este tipo de música mas o meu ladinho british por defeito de profissão e o culto dos anos 80 fazem-me gostar, muito e ainda, dos Depeche Mode)

Loisas e coisas


         
              

Não estou - devia estar? - preocupada porque não tenho estado a refletir. 

Vi mais televisão hoje, e não foi muito, do que vejo habitualmente num mês. Dei uma volta pelas telenovelas portuguesas e, justiça seja feita, a nossa ficção tem evoluído muito. São é muitas, à mesma hora, e a quantidade só baralha.

Considero inacreditável o nível de insultos e de estupidez que vejo nas caixas de comentários dos (excelentes, hiper excelentes) textos do Daniel Oliveira no Arrastão. E como ele responde a um ou outro comentário, imagino que os lê todos. É dose... 

A prova de acesso para ingressar na carreira docente peca por duas coisas: passa um certificado de incompetência às universidades e promove a desigualdade. No dia em que os governantes e ministros da educação também a fizerem pode ser que tudo seja mais igual. Ou então que as universidades chumbem mais. Que os liceus chumbem mais. Que a primária chumbe. E que o PR, pois então, chumbe esta mirabolante ideia.

Andei a ver fotografias de decoração online, no FB. Decididamente sou mais El Mueble do que Interdesign Interiores. Esta última abordagem ao décor é muito moderna, muito in, mas o minimalismo acaba por cheirar-me a hospital em muitas das suas criações. Não há vida; tudo simétrico, sintético, absolutamente estético, mas decoração sem madeira, sem fusão de estilos, sem exotismo, sem criatividade colorida, sem calor, . Prefiro o estilo mediterrânico, onde é mais fácil encontrar isso tudo. Portanto, nem clássico barroco e pesado nem minimalista hospitalar e frio. Diversidade, conforto e alma devem ser as palavras...


(6 etiquetas para um só post é record absoluto aqui no AE. Agora que reparo. )

setembro 27, 2013

Filhos de uma família menor

       

Hoje aconteceu estar a falar com uma colega nova na escola e ir-se até ao tema dos filhos únicos. O que eu lhe disse, face à preocupação dela a este propósito, foi o seguinte: ninguém pode afirmar com certeza absoluta, ou com certeza não absoluta, que alguém com irmãos será forçosamente mais feliz do que alguém que não os tenha. Pois disse.
Para lá da partilha, das gargalhadas, da cumplicidade, de todas as alegrias que os irmãos, de facto, trazem, há uma noção de felicidade pessoal e de percurso individual que vai para além das fronteiras familiares deste tipo. Sobretudo quando se cresce. Nada, nada garante que quem viva estas alegrias não possa ter dores maiores, presentes ou, ainda mais, futuras, que lhe ensobrem a existência. Seria fácil, muito fácil, se a solução para as infelicidades e males do mundo passasse por uma coisa desse género, toda a gente, à partida e podendo, acorreria a ter mais do que um filho. Relembremo-nos também das pessoas que nem sequer os têm - por opção, aqui - e não serão mais infelizes por isso. E, do mesmo modo, nada provou nem prova que os filhos únicos venham a sofrer mais do que os não filhos únicos. Há um estigma social, meio a brincar meio a sério, que ainda considera que filho único é sinónimo de maluquice, ou de egoísmo. Mas então como explicar os desequilíbrios de quem o não é? Não ter irmãos é não viver muitas formas de contentamento companheiro e genuíno. É estar mais só, carregar todas as expetativas dos progenitores, viver no silêncio. Mas é também não ter uma panóplia de chatices, conflitos e dores alheias que acabam também por ser nossas. Basta observar à nossa volta, espreitando o mundo adulto. É, será, maravilhoso ter mais do que um filho assim como pode ser e é maravilhoso ter um. Que um único filho não signifique, na opinião das pessoas, uma espécie de determinismo trágico, que só causa angústias ou aflições ao visado ou, pior, que o torna pior pessoa.
Infelizes podem ser ou vir a ser todos. Felizes são os que têm uma grande família feliz e felizes são os que têm uma família pequena feliz. E felizes serão uns e outros, ao construírem as suas próprias vidas e, certamente, famílias. Não necessariamente, mas possivelmente. 

setembro 26, 2013

Mundo do trabalho

Os criativos perdem frequentemente - quero acreditar que não sempre - para os legalistas. Nem sequer se trata de saber quem é mais preciso, trata-se de saber que quem não segue aquela e a outra regra, por muito sentido que não (lhes) façam, é simplesmente  albaroado. 

            

Modus vivendi



Ilumina a noite e no entanto deixa a noite cair
Não travemos o tempo enquanto escolhemos o nosso tempo
Ilumina a noite até ao amanhecer
Façamos o tempo e deixe-se o resto apenas ir
O dia virá depois da noite mais escura
Virá, pois e depois da melancolia
Ilumina a noite, mas deixa-a vir
Enfrentemo-la, com bravura
Apaguem-se as luzes ao raiar do dia
Apaguem-se as luzes ao alvorecer
E apaguemos a maior agrura
A noite virá, mesmo a ritmo lento
Ilumina a noite e ilude o tempo

setembro 24, 2013

Out of Europe



Um dos meus filmes preferidos assenta numa relação que começou com a oferta de uma esferográfica - "he began our friendship with a gift", diz ela, em voz off. E depois fala da história de amor que a uniria a um homem e a um continente. Eterno, romântico, já aqui falei deste famoso filme uma vez ou outra antes.
Hoje ofereceram-me uma caneta. Foi numa papelaria, onde fui tirar fotocópias para os alunos, e o gesto pareceu-me uma simpatia, uma vez que sabem qual é a minha profissão. Não estava a sonhar com fazendas nem viagens, nem o resto, claro, era apenas uma generosidade e, por isso, apressei-me a agradecer, sorrindo, ah, obrigada, dá sempre jeito. Lá fora uma algazarra de microfones e pessoas pela rua. O rapaz sorriu, é sempre simpático, é verdade, e enquanto esperava pelo troco, rolei a caneta nas mãos para a ver melhor. Vejo umas coisas escritas, penso rapidamente que pena a caneta era tão mais bonita sem nada, e logo logo reconheço o símbolo de um partido político e respetivo nome. Ui, a desilusão. Era propaganda política, a combinar com as carrinhas, as bandeiras e a música lá fora. Não foi a generosidade que eu supusera. Não deixou de ser simpatia, se pensar que ele pensou que a caneta me fazia jeito, mas não deixou de ser campanha. Logo eu, que tenho escapado ao folclore autárquico, talvez como nunca até hoje, por várias razões. África está mesmo longe. 

setembro 22, 2013

A origem das espécies


Isto realmente há pessoas e pessoas. Umas valem mais do que as outras, ou assim parece. E umas são conscientes e outras são inclassificáveis. Num dos jornais da noite, vejo a notícia do ataque terrorista a um centro comercial no Quénia. Sabia do sucedido mas ainda não tinha visto nem lido nada sobre esse horror. Mas, espantosamente, a notícia não abriu esse jornal. Fica a dúvida, se a houver : aconteceria o mesmo se este angustiante e horrível acontecimento tivesse lugar em Nova Iorque, Paris ou Madrid? Como pode aparecer uma notícia destas a poucos minutos das 21 horas? E, pior, como pode vir alinhada com duas notícias de menor impacto, sendo a última apenas um fait-divers? Fala-se da perda de vidas e do terror dos reféns e a seguir fala-se da anca do rei Juan Carlos (nada contra isso mas não me parece de todo comparável) e, pasmemo-nos, do bebé dos príncipes Kate e William como atração turística e a constar de uma lista de grande figuras. Vidas perdidas em África estão ao lado destes apontamentos? Estão. As prioridades, insisto, andam trocadas de forma transversal. Tristemente trocadas. Nada contra as celebrities, distraem. Mas, mais importante, nada contra a valorização da vida humana, venha ela de onde vier. Sobretudo nada contra a igualdade de tratamento de vítimas e tragédias. No fundo, nada contra a igualdade da espécie. 

Agridoce

                      

tenho dias em que resmungo - e muito - contra a minha condição de mulher, uma condição que me faz sentir gata borralheira quase a tempo inteiro. para os diabos a casa, as tarefas, a roupa, a cozinha, o pátio, a garagem, tudo o que me tira o tempo para explorar e aproveitar a natureza no seu esplendor. ontem e hoje estiveram dias magníficos, que ainda convidam à areia e ao mar, ao sol e às árvores, à ria (mesmo em frente) e aos campos (praticamente ao lado), ao sentir livre e regenerador que é percorrer os trilhos naturais. estiveram dias maravilhosos e eis que se me cola o limpar, arrumar, organizar, preparar refeições, e mais verbos tarefeiros acabados em ar, um rol de coisinhas chatas que podem saber bem  - a saberem - apenas em dias mais frios, chuvosos, caseiros e recolhidos. o verão, ainda que pelo outono adentro, atira-me para fora de portas, o caráter solar foge das quatro paredes, e o resto, a rotina, impede-me de usufruir da natureza como gostaria.  
tenho dias em que me sinto uma privilegiada, porque o sou. nesses dias maravilho-me com o que vejo em redor. como queixar-me? uma natureza plena, magnífica, cerca-me a existência, uma (para mim) elevada qualidade de vida faz-me alegrar pela escolha do lugar onde estou, olho e preencho-me, sorrio, contemplo e absorvo cenários e estímulos revitalizantes sem os quais já não posso passar. não me canso de maravilhar com o mundo, com o natural que há no mundo, com o meu pequeno mundo. que engloba também o meu pequeno. o encantamento é perene, se olhar à minha volta, havendo tempo para olhar. talvez por isso, quando não há, me sinta como no parágrafo acima. não gosto que me roubem o tempo para as minhas explorações natureza adentro. para as minhas explorações, sejam elas quais forem. mas eu estava na fase do encantamento. que não se quebre, ao menos, neste parágrafo. 
e assim vão os dias, entre a resmunguice e o deslumbramento. venero setembro, por isso o deslumbramento e a resmunguice.

setembro 21, 2013

Break


Please, don´t break my heart
Don´t break up with me
My heart has been broken too many times
People already call me Breaking Benjamin
Without you I´ll surely break down

Come on, give me a break
You don´t look like the breaking type
And I´m not breaking up
All I want is to break the routine
Like breaktime, you know, essential

setembro 20, 2013

O partido não é devido


Às vezes, muitas vezes, apetecia-me um mundo sem partidos. Que sentido faz nós gostarmos das ideias de alguém, muito frequentemente até, e depois não nos revermos, dizer que não nos revemos, na sua área política? Afinal, o que é uma área política? Não seria melhor identificarmo-nos com projetos ou não? E dessa forma não estarmos subjugados por nenhuma área em particular nem nenhuma bandeira? Explicando. Podíamos, devíamos, trabalhar em prol de um bem comum e neste sentido, mantendo a individualidade, optar por compactuar e colaborar naquilo que achamos que é o bem e recusarmos aquilo que consideramos mal. Ou seja, agora podíamos estar a trabalhar com uma pessoa, num projeto, porque nos identificávamos com ele, e depois com outra, noutro, pela mesmíssima razão. No fundo, como acontece com o trabalho diário, quando temos opção, ou mesmo quando não a temos, quando temos de trabalhar com quem nos identificamos ou não a favor de uma causa comum e maior. Que sentido faz catalogarmos as pessoas por áreas políticas se isso nos faz desvalorizá-las? Tem uma ideia boa mas não a apoiamos nem queremos na nossa equipa porque veste uma camisola diferente. Por outro lado, tem uma ideia péssima, ou várias, e continuamos ao seu lado apenas porque devemos, porque é da nossa cor, porque queremos manter os privilégios. 
Ainda há pouco vi nas notícias algo que vai um bocadinho ao encontro disto, a ambição pessoal levada a um certo extremo em detrimento do bem de todos. Há autarcas que estão impossibilitados de se candidatarem novamente ao lugar que detinham. Então, ao que me pareceu, estão em nr 2 nas listas que é para depois o nr 1 renunciar e assim eles manterem o cargo. Corrijam-me se me enganei, isto de estar a ver, quer dizer, ouvir notícias na cozinha não é muito fiável no que diz respeito à minha pessoa. A ser verdade, então o nr 2 não pode estar em nr 2 e trabalhar para o projeto comum? Não terá (n)a mesma importância o seu empenho e dedicação? Partindo do princípio que quer fazer o bem, pois. Ou confirma-se que é o umbigo que interessa, os interesses pessoais, a imagem e o resto que acompanha o topo da pirâmide? Se se acredita numa ideia, num projeto, não se pode ter uma participação menos vista ou mediatizada mas igualmente válida e necessária? Até mesmo no mesmo partido tem de haver egos que se sobrepõem ao ideário? 
Não sei se uma coisa pode ser ligada à outra,  mas eu liguei-as na minha cabeça. Pessoalmente, adorava que não houvesse partidos, que houvesse apenas ideias, boas, e competência. Que melhor seria o mundo sem partidos. O que parte divide, desune, e destrói. Continuaria a haver posturas intoleráveis a nossos olhos, continuaria a haver pensamento oposto ao nosso, mas não sempre e de forma continuada. O mundo teria mais nuances, menos jogos e mais cooperação. Haveria, digo eu e não há provas em contrário, mais construção. 

setembro 19, 2013

A importância de ser verdadeiro


Este verão provei pela primeira vez as tortas de Azeitão, pois estive umas boas horas nesta localidade. "As verdadeiras", acrescente-se. Pois foi isto que me foi dito no local onde as comprei, seguido de uma explicação mal humorada e infindável, que não foi pedida, sobre as abundantes falsificações das ditas cujas por parte de outros locais, nomeadamente hipermercados. Enquanto as tortas estavam a ser postas numa caixinha de papel, o homem, baixando-se e levantando-se para as colocar na embalagem, ia desfiando a história das verdadeiras tortas e praticamente mandando-nos calar porque queria, nitidamente, manter o discurso enquanto nós, fartinhos, o tentávamos apressar. Fomos muito pacientes (embora desgostados) com o homem das verdadeiras tortas mas quando chegámos ao carro desatámos a disparatar contra o proprietário - porque o devia ser - do estabelecimento (que não vou dizer qual nem onde fica). O husband recusou-se a comer as verdadeiras tortas, dizendo que o homem estava definitivamente com os azeites, enquanto eu me refastelei verdadeiramente com uma de imediato. O pequeno ouviu e registou tudo, como se comprovará de seguida. Há dois dias, por volta das 8.30 da manhã, levava eu o garoto para a escola. No carro, ele diz: Olha mãe, eu, se fosse eu, ia ter com o homem das azeitonas e dizia-lhe, olha meu amigo tu és um totó. Soltei uma estridente gargalhada. E assim chegámos, a rir, à escola. Hoje, o miúdo voltou à carga. Enquanto lanchávamos numa pastelaria, pergunta: e as tortas de Azeitão? Ri e disse: eu gosto muito, são muito boas. Pois, diz ele, mas o homem em vez de pôr azeitonas nas tortas devia pôr outra coisa.
Está, assim, descoberto o segredo pelo qual as tortas são "as verdadeiras". Afinal, são as azeitonas. E estar com os azeites também deve ajudar a apurar o gosto. Afinal, são as verdadeiras tortas de Azeitão.


P.S. Podem enviar-me estas tortas, "as verdadeiras", claro, sempre que quiserem. Eu deliciar-me-ei com elas e mais ainda por não me serem vendidas com um arrogante mau humor. Humor, compro o do pequeno.

setembro 18, 2013

Divagações várias apenas porque sim


1. Agora o inglês é obrigatório no 1º ciclo, agora o inglês não é obrigatório. Assim vai o mundo das incongruências governativas referentes à educação. Esta entre muitas. Somos - docentes e discentes - sistematicamente cobaias de ideias que não resultam ou que não resultaram, que podiam resultar, que não podiam resultar, enfim, é riscar o que não interessa. Todos os anos, em qualquer altura, lá veem a luz do dia alterações que agora são verdade e agora são mentira, que agora são boas e agora são más. Não há pachorra - e, pior, não há sanidade mental - que aguente tanta ordem (leia-se ordens), tanta desordem, tanta contraordem. Temos aguentado estoicamente, ingloriamente, tanta desorientação, capricho e desconhecimento do que é o terreno. E os alunos vão, de igual forma, sendo testados de uma maneira agora e de outra maneira agora. Para quando a serenidade? Para quando a coerência? Adia-se o essencial enquanto se brinca com o acessório. Não se trata de recear a mudança, trata-se de manter uma lógica que contribua para a qualidade do ensino. De experiências está o inferno cheio... e nós seguramente também.

2. Pessoas há com um potencial enorme dentro de si que demoram anos a afirmar-se. Ou a libertar-se de quem as aprisiona. Trata-se de um fenómeno que observo mais nas mulheres e no outro dia cogitei sobre isto. Muitas destas mulheres, umas mais jovens do que outras, têm mães cuja geração viveu sob a ditadura, mulheres simples, de famílias humildes, com pouca instrução (que comum era ficarem pela quarta classe, lembremo-nos de que o direito à educação era só para os mais privilegiados), com pouca ou nenhuma cotação social a nível familiar e que, por essas razões, viveram anos e anos sob o lema do comer e calar. E desta forma educaram as suas filhas, num misto de conservadorismo respeitoso e servil, pensamento pudico - ou comportamento - e muitos medos. Resultado: as filhas não foram habituadas a ser livres, desinibidas, ousadas e fortes. E não puderam, durante muito tempo, ser o que poderiam ter sido e eram, lá dentro. Ipiranga, meninas. Familiar e doutros níveis. Amor próprio e autoestima, ou seja, amem-se e estimem-se. E eduquem as vossas filhas de forma completamente diferente. No respeito mas na liberdade e na coragem.

3. Já terminei há tempo o livro "Mulheres que amaram demais", de que gostei mesmo muito. Confirma-se que não gosto da Marlene Dietrich, não pelo que foi a sua vida mas porque a leitura da sua bio não me fez mudar de ideias em relação ao que vi no écrã. Há uma série de atrizes que não me dizem nada, são quase todas dos anos 40, muito rígidas, muito dominadoras (ok, aprecio-lhes a segurança e a autoconfiança mas não chega) e muito pouco afáveis ou sensíveis. Jane Wyman, Joan Crawford, Greta Garbo, Barbara Stanwick, Bette Davis, Katherine Hepburn (sim, não sou lá grande fã, de longe). Doris Day, Lucille Ball e Ginger Rogers em géneros que não apreciei. Vieram os anos 50 e a galeria começou a mudar. Fruto do tempo ou da colheita, a verdade é que as atrizes foram transmitindo mais vulnerabilidade, mais sensualidade e mais calor. Por falar nisso, setembro foge e já uma nostalgia se instala...

setembro 16, 2013

A menina do deserto


A notícia da menina de oito anos iemenita  que faleceu na noite de "núpcias" de um casamento com um homem de quarenta anos deixou-me estarrecida, horrorizada. Sabemos, já ouvimos, lemos, que coisas terríveis acontecem neste mundo às crianças mas quando as sabemos mesmo, através de histórias assim, com nomes e factos, tudo nos parece mais horrendo. E sobretudo porque parece ser aceite normalmente em certos locais do planeta. Como aqui parece ser, apesar dos ativistas da região, também ao que parece, estarem atentos e denunciarem estes casos. Esta gentinha que permitiu isto devia ir presa, no mínimo. Para os diabos com medievalismos destes, abrigados sob o manto religioso ou não. Muitas destas infelizes práticas têm profundas raízes culturais - em tribos, por exemplo - que, combinadas muitas vezes com a miséria, económica e humana, impedem que tais situações não se perpetuem. Como esta, deploráveis são também a pedofilia, a prostituição infantil e juvenil e outras. Que vão aí pelo mundo fora. Esta história, chocante, que os media mostraram, e outras, escondidas, por vezes perto de nós, igualmente terríveis e intoleráveis. Todas me causam náuseas sem fim, incompreensíveis realidades quando há uma declaração universal dos direitos da criança, que à partida traduziria o pensamento avançado  das civilizações modernas. Penas grandes para esta gente, enormes, sem perdão. Para os grandes que não sabem defender os pequenos, nem protegê-los, nem amá-los. De qualquer cor, credo, nacionalidade, género, estatuto. Pois grande é o alcance da sua perversidade.

setembro 15, 2013

Através dos tempos


talvez isto explique porque é que os conflitos continuam, porque é que as nações se digladiam desde sempre, porque é que as pessoas mudam de lugar, porque é que a paz tem caminhado a par com a guerra, porque é que certas memórias persistem, porque é que certas memórias, por outro lado, não deviam ser tão curtas, porque é que a história tem sido e será feita de conquistas e derrotas, territoriais e outras, porque é que nada é eterno, porque é que não há mal que sempre dure nem mal que nunca acabe, porque é que o ser humano ainda hoje é tão complicado, porque é que continua sedento de poder e glória, porque é que o espírito de cruzada não se apagou no tempo. explica isto, tudo isto, e mais. 

setembro 13, 2013

Manhã resplandecente


O pequeno entrou hoje na escola primária (o 1º ciclo dos tempos modernos). É - foi - um dia de grande alegria, entusiasmo e importância que não deixei de lhe passar. Senti-me muito feliz, é verdade, e achei muita graça. Sorria de orelha a orelha enquanto ele me apertava a mão no átrio, antes de entrar. Foi uma bonita manhã, ainda por cima com um radioso sol a saudar a chegada à escola. Não chorou - tal e qual como eu quando fui para a primeira classe - e portou-se impecavelmente nos momentos, breves, em que entrei na sala de aula com ele e se sentou numa pequena carteira. Pudera. Passei estes dias - e o verão - a antecipar alegre e descontraidamente este dia, ao mesmo tempo que lhe dizia que era uma etapa especial da sua ainda pequena existência. Porque independentemente de como está a escola pública, submersa em águas que teimam em turvar, este é um dia para celebrar. É um grande momento e felizes são aqueles que dele podem usufruir. Há, em todo o mundo, crianças e jovens que querem aprender e não podem, por variadas e tristes razões. Alegrem-se alunos, portugueses e não só, por terem direito e hipótese de se sentarem nos bancos de uma escola e aprenderem. Celebremos as alegrias, os direitos e as conquistas. Das crianças, especialmente. Na escola e fora dela, a melhor sorte para o meu rapazinho e para todos os meninos do mundo.



(Este post não retira um milímetro à minha indignação pelo que está a acontecer a professores e alunos neste momento na escola pública. São demasiadas as mentiras, as injustiças porque demasiado más as condições em se que vai iniciar mais um ano letivo, para docentes e discentes. Irei escrevendo sobre isso, à medida que possa e que consiga. Um colossal equívoco ministerial que resulta num incrível retrocesso - mais um - neste país.)

setembro 11, 2013

À la carte


Dois homens à conversa à saída de um restaurante local. Um: o meu cunhado ficou num "risot(t)o" estas férias e eu já disse à minha mulher que para a próxima vamos nós também. O preço do "risot(t)o" não foi caro e ele diz que é muito bom. Eu, blogando: Venha então o prato, uma vez que está perto. 

setembro 10, 2013

As contínuas sementes de violência




A escola (re)começa daqui a dias. E daí a lembrança.
Obviamente que tive professores péssimos. Medíocres. Existiam antes e existem ainda, agora, e não desaparecerão. Assim como existem e existirão médicos medíocres, maus, que se safarão ou serão responsáveis por pequenas ou grandes tragédias. Também já os apanhei, claro. E daqui podemos correr muitas profissões, todas, uma vez que são desempenhadas por pessoas e estas, mais do que falíveis, são também incompetentes, oportunistas, gananciosas, falsas, incapazes. Agora, o que faz com que se destile o ódio que se vê por aí de forma mais frequente, intensa e visceral à classe docente, naquilo que terá - e tem - de incompetência e inabilidade? 
Pus-me no outro dia a pensar nisto. Quantidade. Quantidade é a resposta. Ok, também algum ressabiamento e efeitos mega colaterais de quem não foi feliz na escola, mau aluno ou algo do género. Mas insisto na conclusão acima. Na verdade, quantos médicos tivemos nós,  podendo observá-los diariamente, durante a nossa vida? Só com grande azar nosso poderíamos avançar para as dezenas ou até centenas. No máximo, com sorte, passámos pela clínica geral e por algumas especialidades, onde também encontrámos os bons e os maus profissionais, passando pela parte científica e pela humana. Sem demérito algum para uma classe que respeito e admiro no seu global, claro. Muito. E como esta, outras áreas. Advogados, quantos conhecemos no exercício do seu trabalho diário? Com sorte, nenhum, até. E quantos outros, com profissões variadas, podemos escrutinar ao detalhe, de forma constante, sistemática? Se o fizermos, quando o fazemos, decerto encontramos falhas. Setor público, privado, semi, estão carregadinhos de indivíduos que não fazem um bom trabalho, que mereciam ser despedidos. Conheço uns tantos empregados de balcão, uns tantos empregados de mesa, ui tantos, uns tantos mestres de obras, mais uns engenheiros que não deviam ter o diploma, enfim a lista podia ser longa... porque os acompanhei de forma mais direta e permanente ou então imediata que foi o que bastou para me aperceber da sua incompetência e desleixo no trabalho. O rigor e a competência não podem ser apenas exigidos aos docentes nem aos médicos, com óbvias responsabilidades coletivas, tantas são as áreas em que a qualidade da performance se repercute no bem estar dos outros. Estamos, mais ou menos, todos ao serviço uns dos outros. Acontece é que algumas profissões estão mais expostas do que outras, publicamente, e de forma frequente, numa base diária. É muito mais fácil descortinar as falhas numa convivência deste tipo, quando se está sob o olhar direto de quem observa. São muitos os professores que passaram pela nossa escolaridade. Recordamos certamente bons e maus. Mas se fizermos um esforço vamos recordar outros profissionais divididos nas mesmas categorias. O mal não é de classe nem de hoje. É de sempre e é transversal. E quanto mais conhecemos, mais descobrimos. Resta esperar que seja o bem..

setembro 09, 2013

Basicamente complexo


As pessoas complexas, mais tarde ou mais cedo, precisam de pessoas complexas. Na vida, nos relacionamentos. A complexidade é um conceito vasto, subjetivo, decerto, mas o seu contrário traduzir-se-á de uma maneira geral por uma ausência de visão, de compreensão dos fenómenos mais interiores e mais psíquicos. Estamos no oposto de pessoas eminentemente ligeiras, ou áridas, outras, ou toscas, até. Ou seja, as pessoas complexas precisam de quem as entenda, de quem as leia. Torna tudo muito mais difícil mas tudo muito mais aliciante. Porque, sobretudo, mais verdadeiro. A ideia de que queremos ao pé de nós pessoas sempre "bem dispostas" e que debitam banalidades e soluções que fogem ao confronto com a verdade é errada. São ótimas em certos momentos mas não a tempo inteiro. A complexidade é sinónimo de inteligência, na maior parte das vezes. Até de dor. As pessoas simplistas - não simples, é diferente - não sabem ler os complexos. E não sabendo lê-los a partilha nunca é completamente verdadeira. Pode partilhar-se uma vida inteira com alguém, fisicamente, emocionalmente, e nunca chegar à partilha total, à de lá dentro, da alma. As pessoas que não sabem ler os complexos podem ser uma excelente companhia, por várias razões, e péssima, também por outras. Não pode haver verdade sem verdadeiro conhecimento, entendimento do que é o outro na realidade. Mas isto acontece porque as pessoas simplistas também não se conhecem a si próprias. Se o fizessem deixariam de o ser. O conhecimento traz complexidade. Que extraordinário, para o complexo, quando não se tem de explicar. Quando alguém entende, assim, à primeira, sem justificações, nada. Já viu, já percebeu, já sentiu o mesmo. Criam-se laços eternos assim. Que até podem não passar pela partilha da vida, em forma de amizade, amor; os desencontros são muitos, mais do que supomos. Funciona como um íman. A complexidade atrai complexidade. Para quem deseja viver na verdade e não na ilusão. Aquela que é feliz, tonta, falsa. O banal e o óbvio distraem a complexidade mas não a seduzem. Nunca. E, basicamente, é isso.

setembro 08, 2013

Alta tensão

A exigência é amiga da perfeição e inimiga da felicidade. Por outras palavras, a exigência traz, sem dúvida, a necessária qualidade mas pode ser também uma grande dor de cabeça. O exigente, de alta qualidade, está frequentemente tenso e o não exigente, de mais baixa qualidade, está frequentemente bem disposto. 

setembro 03, 2013

É ela menina que vem e que passa


A questão do piropo, vista à primeira e da forma como tem sido tratada na blogosfera, soa, obviamente, como uma tontice. Afinal, passar perto de obras é ainda e sempre um grande teste à nossa boa forma. Há piropos que até nos elevam a autoestima e são bem vindos. Eles acontecem um pouco por todo o mundo, eu cá aprecio especialmente o italiano bella, portanto, uma vez que a ideia é para aplicar, seria, cá no burgo, sinto-me feliz porque poderei continuar a ouvir estas musicais palavras sempre que for a terras italianas. Ou o gata brasileiro, pois é igualmente bom de ouvir. Claro que são palavras que enchem o ego a todas porque a todas ou quase são dirigidas mas não faz mal. Um pouco de ilusão nunca fez mal a ninguém. Uma tontice, a sê-lo, que já me fez rir e que é, naturalmente, passível de um chorrilho de críticas logo de imediato. 
Por outro lado, e porque não consigo, muitas vezes, deixar de ver a coisa pelos dois lados, é bem verdade que há piropos, ou melhor, ordinarices que são ditas e que incomodam seriamente quem as ouve. Já todas as teremos ouvido e aquilo que nos incomoda não pode ser aceite de ânimo tão leve. Uma senhora ignora, dir-se-á, e é o que fazemos, na maior parte das vezes, mas um bom par de estalos não seria uma má ideia, pois há, porque conheço, quem o tenha feito! Aquilo que nos incomoda e fere a nossa dignidade individual, noção que pode diferir de pessoa para pessoa, de mulher para mulher, deveria tão somente não tomar lugar. Provavelmente, o que as bloquistas pareceram propor, ao que percebi de relance, uma espécie de criminalização à maneira, não será a solução. Qual é a solução, então? Bom, se for persistente e se tornar assédio sério, a coisa já se torna também mais séria, e há o direito de apresentar queixa. A não ser, esperar que as mentalidades evoluam.
Na verdade, parece - e digo apenas parece porque não tenho grandes termos de comparação - que o piropo, sobretudo o mais atrevido, e até o assédio parecem ocorrer com maior frequência nas sociedades mais machistas tradicionalmente. Os países mediterrânicos, latinos e árabes, a latinidade, novamente, da América do Sul parecem, repito, levar a dianteira nesta questão da abordagem verbal às meninas que passam. Somos culturalmente mais machistas, é verdade, mas também há outros aspetos das nossas sociedades, numas mais do que outras, em que o machismo é visível e bem mais grave. No fundo é um colorido pitoresco - para quem aprecia o género - muito próprio de povos ainda muito passionais, respondendo a questões climáticas ou não só. 
Pessoalmente, não suporto a vulgaridade. Condeno-a e não é bem vinda. Se me incomodar até um ponto intolerável tenho o direito de exigir algum tipo de punição ou, no mínimo, apenas de mudança de comportamento. A não ter a coragem de espetar uma galheta. A graça, o humor e os piropos mais saudáveis - pelo menos na minha cabeça - já são perfeitamente aceitáveis. Como em tudo ou quase, há o bom senso. Desejável que os que os atiram o tenham e quem os recebe também. Sejam homens ou mulheres a atirar (que as haverá e porque não havia de haver) ou a receber.

setembro 01, 2013

Differently


He always felt he was different though he tried hard to be normal. He knew he was different as others kept saying he was. He wished to be normal as he thought others were simpler, happier. Yet others looked at him thinking he was the happiest of all as they valued his difference as much as he valued their normality. He felt happy about his difference at times. But he wished he was just like the way others were at times, too. He longed to be normal, as normality would make him blend. Others longed to be different to stand out the way he did.