Não vi a noite eleitoral de forma completa porque tive de preparar o jantar, arrumar a cozinha, deitar o pequeno e depois preparar aulas. À segunda começo logo ao primeiro tempo, aliás como quase sempre. Estive na escola desde cedo, ocupada entre aulas, contactos com encarregados de educação, papelada administrativa das 2 direções de turma, e agora vim ver os resultados e a informação disponibilizada online sobre a matéria. Sou uma leiga nestes assuntos mas como sou livre e estou na minha casa, aqui ficam as minhas primeiras impressões a propósito das autárquicas e do que li por aqui na internet.
1- metade do país não foi a votos. É uma brutal abstenção e contribui negativamente para o exercício da cidadania responsável e da democracia, que não é perfeita, mas que nos deixa participar em momentos como estes. Falamos à boca cheia das ditaduras que vão por aí mundo fora, dos direitos violados, de vários tipos de opressão, mas depois quando temos a possibilidade - e a liberdade - de opinar, de marcar uma posição, de mudar os acontecimentos, que fazemos? Ignoramos, chutamos para canto. O que se espera com este comportamento? Dizer que espelha o descontentamento e desilusão com a política? Possível, mas e qual é a solução, então? Não vamos lá desta forma, parece-me. E espanta-me mais ainda porque diz respeito a aspetos diretamente relacionados com o local onde vivemos, com a qualidade de vida ou não que também passa pelas práticas do poder local. Não sei se compreendo esta indiferença, esta forma de protesto ( a sê-lo, duvido).
2- não foi a votos e, pior, o país pôs-se a ver o reality show que considero inenarrável e que, infelizmente, inicia mais uma temporada. Como pode uma nação abster-se de se interessar pela organização da sua vida pública e quotidiana? Como pode um povo afundar a sua responsabilidade civil em programas de duvidosa qualidade que são o oposto de modelos de conduta para toda uma geração? Como podem, depois, estas pessoas ousar reclamar, pedir, queixar-se, quando o exercício de uma consciência coletiva e individual lhes passa completamente ao lado? Tenho sentido de humor e nada tenho contra o entretenimento. Contra o bom entretenimento, que eleva o espírito e que desperta o melhor das pessoas. Que nos faz rir, descomprimir e soltar os nossos demónios. Já não compactuo com a vulgaridade, a boçalidade, a estupidez, a burrice, o despudor descarado propositadamente ostensivo (e ofensivo?). Triste país este que promove estes paradigmas da inversão de valores e prioridades.
3- temos um novo mapa cor-de-rosa, na grande maioria das localidades. Não deixa de ser um cartão amarelo, amarelíssimo, ao eixo governativo. Sabemos que em questões autárquicas, por vezes são os nomes, as figuras e o seu bom trabalho (ou mau) que arrastam os votantes. Terá ainda acontecido desta forma em muitas localidades. Mas não deixa de significar uma amostra da insatisfação crescente com os governantes. O descrédito atual dos partidos também se revela através dos independentes e das suas surpreendentes vitórias. Pessoalmente, penso que o slogan do Porto estava extraordinariamente bem conseguido. O partido é o Porto, e veja-se no que deu. O futuro virá e dirá, mas não deixa de transparecer a vontade de dar um pontapé na política mais alinhada e sectarista. Ainda não vi nem li a reação do PM sobre estes resultados. Quanto à CDU, reforçou-se e o BE quase... desaparece? Neste, não aprecio a liderança bicéfala e considero a Catarina Martins (com cujo pai já trabalhei numa escola) uma fraca escolha.
Para onde vais? Eleições autárquicas. Donde vens? Eleições autárquicas. Donde vens? De um país com muitos problemas. Para onde vais? Para um país com muitos problemas...