março 21, 2012

Por qué no te callas?

Sempre nos espantamos quando ouvíamos nas notícias que os discursos de Fidel Castro duravam 6 horas e que tais maratonas discursivas eram também apanágio de outros líderes mundiais e/ou ditadores que não primavam ou primam exatamente pela democracia. Hoje, de volta a casa pelas 10 da noite, trazida  pelo tal meu amigo que sabem muito bem quem é, vinha a pensar que não é preciso deslocar-me muito para encontrar paralelos, numa vida bem mais próxima e não propriamente mediatizada. Tais pensamentos surgiam depois de duas sessões de uma ação de formação, em horários impróprios para quem dá o litro de dia e ainda tem de suar durante três horas antes, durante e depois do jantar. (Só para quem ainda duvida que os professores trabalhem, há gente distraída que convém informar.) É possível, pensava eu, ficar farto de alguém depois de dois, apenas dois encontros profissionais? É possível que alguém monopolize tanto o discurso que nos faça desejar ir para longe? É possível alguém não se aperceber que falar demais, continuada e insistentemente, maça e aborrece de morte os outros? É possível não ter pachorra para alguém que simplesmente não se cala?
Tantas vezes, e mais do que as gostaríamos, temos decerto assistido a manifestações do ego que passam por enunciados verbais dignos de um registo no guiness. Há pessoas que gostam mesmo de se ouvir, indiferentes à reação dos outros, indiferentes aos sinais exteriores, por falta de insight emocional, falta de discernimento,  falta de educação. Uma pessoa entusiasmada que desfia sem parar o rosário de alegrias e aventuras perante a nossa crédula ou incrédula colaboração e curiosidade é uma coisa. Uma que não fecha a boca a emitir ondas de arrogância inteletual e de aborrecimento entediante é outra. Na área da docência este tipo de indivíduos pode pôr-se em evidência em reuniões, especialmente quando as preside, tendo os desgraçados que lá estão sentados de o ouvir, o tipo, a exibir dotes carismáticos que frequentemente nem possui. O carisma não passa pelo abuso da palavra. Ouvir os outros, interagir com eles, saber calar-se oportunamente, isso, sim, faz de alguém um líder que sabe cativar e motivar. Só se ouve com prazer quem nos seduz com as palavras, quem faz com elas uma intervenção equilibrada, ainda que firme. 
Nestas ações de formação, de vez em quando, também surgem assim uns chicos muy espertos e unas chicas, también, presupuesto, que nos fazem bocejar quando arrancam para não mais parar. Mas o que me espanta mais é que falam e dizem e contam histórias, bem contadas,  pormenores não faltam, podendo alguns ainda fazer uns exasperantes desvios, e mostram que sabem muito, saber é bom, claro, não se diga que não. Não é o conteúdo, é a forma. A forma estraga tudo. Quando a excessiva verbalização da inteligência, mais aceitável, ou da não inteligência, pior, pior, inaceitável, ultrapassa aqueles minutos para além do razoável não há inteligente ou não querido e compreensivo bom ouvinte deste lado que aguente. Uma pessoa começa a sentir crescer sentimentos nada agradáveis, que podem ir do total enfado até à sempre enervante irritação. Deseja-se até que o outro vá dar uma volta ... e que não volte. Sentimentos, está visto, nadinha cristãos.
10 da noite e não me apetece ouvir mais ninguém. A não ser que seja o pequeno, com frases muito curtas, verdadeiramente significativas e que vão direitinhas ao coração. E que, mesmo ensonadas, não me fazem, por tudo o que disse mesmo antes, adormecer a meio. 

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