março 07, 2012

Instantes humanos

 
Hoje, num pequeno espaço, apareceu de tudo um pouco. Estou a ver que basta pôr um pé fora da rotina habitual que surge uma torrencial panóplia de tipos sociais e psicológicos deveras interessante de assinalar. Ter de estar em serviços públicos de saúde pode desesperar, portanto há que nos distrairmos a observar o que doutra forma, provavelmente, nos passaria ao lado.
Várias pessoas na exígua sala de espera, o que para quem gosta de grandes espaços, já não é o melhor dos mundos. Televisão também ela minúscula para entreter o pessoal. Está sintonizada no euronews, para meu gáudio. Vou vendo uns apontamentos interessantes, espalhados pelo globo. Uma mulher levantou-se e, sem pedir autorização, vai de mudar de canal. Ora bem, não era obrigada a perguntar se podia mudar, mas era simpático que o tivesse feito, cívico até. O pior foi ter sintonizado para a TVI, pois claro. Lá tenho que gramar aquele programa da tarde sem adjetivação digna de aparecer aqui.
Entretanto, vou olhando em redor e noto uma ausência de glamour - as pessoas são simples e já de idade, as da minha simples são e eu não fugirei à regra. Subitamente, entram duas esculturais jovens, muito jovens, uma com um bebé ao colo, escoltadas por um jovem musculado de peito inchado ao andar. Uma é loura outra é morena, a primeira muito ashakirada, tigresa, praticamente despida. A segunda mais alta ainda, pintadérrima, as duas de peep toes, magérrimas. Tinha-me queixado da falta de brilho, mas não era preciso ser um provocante kitsch, passava, até porque descontextualizado.
Adiante. Entra depois uma mulher também alta, lá do alto dos seus saltos nada baixos, senta-se, aparece um rapazito com um cinto punk cheio de tachas bem espetadas, que começa a conversar com ela, um ou dois fortes palavrões pelo meio mesmo ao meu lado, falam em voz alta de uma ela que dizem ser mentirosa, ele diz que a tal garantia ter saído com um amigo, esta a dizer que ela saiu com um velho. Para. Oh, meu deus, na sala 80% das pessoas são idosas, entre mulheres e homens. A falta de educação e de sensibilidade fazem-me bradar aos céus. Abano a cabeça, quero lá saber se percebem ou não. Na realidade, espero que o percebam, mas não, infelizmente.
Saí, não angustiada, mas desconfortável daquilo tudo. Já não bastava o exame, as 2 horas de espera, também tinham que sair na rifa assim umas amostras que bem precisavam de adquirir noções de decência e civismo em locais públicos que não são propriamente de atrevida folia, a nossa casa ou com espaço para conversa de café barata.

5 comentários:

  1. Malefícios da "caixa" que estupidificou o mundo.

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  2. As salas de espera são um bom spot de observação de tipos humanos e de comportamentos. Pena é abundar o tipo "pechisbeque", produtos do tal canal televisivo...

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  3. Desfile significativo de um certo tipo de sociedade, sem qualquer dúvida.:)

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  4. O espelho do que somos, Fátima.

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  5. É verdade:) Obrigada pela tua visita, Leonor.*

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