março 16, 2012

De não se lhe tirar o capuz

 

Há alunos estrangeiros, africanos, que vieram para cá estudar e que não têm cá os pais. Têm, muitas vezes uma tia ou primos em Lisboa, ocasionalmente uma mãe ou até uma madrasta. São, na maior parte dos casos, maiores de idade. Mas pouca sabedoria puderam ainda tirar da sua curta existência, apesar de uma ou outra experiência, e algumas não bem sucedidas. Tenho-me visto, assim, a dar-lhes conselhos, não moralistas mas preocupadamente sinceros e amigos, especialmente no que toca às raparigas.
Na qualidade de diretora de turma que lhes fala verdade, uma verdade que já conhecem e ouvem, lá abri hoje, mais uma vez, o consultório de aconselhamento académico, relacional e mesmo, é verdade, amoroso. Como há algumas que digo ter adotado porque as vou ajudando e protegendo em aspetos particulares de saúde e outros, contudo sem paternalismos nem atitude maternal, houve hoje mais umas sessões que tentaram pôr juízo e amor próprio naquelas miúdas de evidente maturidade física mas a necessitar frequentemente de umas palavrinhas agridoces, na minha apreciada técnica combinada do estalo e do rebuçado.
Mas o melhor digo já a seguir. Fiquei a saber, pela primeira vez na vida, e provavelmente a única, que sou, como dizer isto, temida. Soltei uma gargalhada que brotou do espanto daquela declaração tão crédula e inocente. A rapariga disse ai professora ainda bem que ele tem medo da professora, assim não chega perto de mim. É que ele não pode chegar mesmo. Ela não queria, ele não podia chegar. Se ela queria agora, era outra coisa, mas eu não deixo. Não deixo porque ela não pode querer. E mais não digo. Aliás disse. Disse-lhe para lhe dizer que eu sou e serei a sua protetora, a sua "anja da guarda". Sabia que havia medo do diabo, agora dos anjos não, que diabo. Mas que dá um jeito danado, dá. Deve o lobo continuar a sentir medo de mim, sim. E procurar outra floresta se quer história. A menina não está sozinha e eu, e não digo como, estou reconhecidamente armada.

6 comentários:

  1. Não sabia que tinha dotes de "caçadora"...
    :)))

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  2. Nem eu, jrd::)) Pelos vistos meto medo e nunca o soube. Watch out! :)

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  3. Delicioso. Lol
    Grande Fátima, sempre a dar provas...
    Revejo-me nesta situação. Com estes meninos, estamos sempre a descobrir em nós "qualidades" que jamais imaginámos.
    Bjs

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  4. :) Hilariante, Ana.
    Quem tem medo do lobo mau? As histórias já não são o que eram! Aqui o próprio é que foge a sete pés... e ainda bem, para a menina.:)

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  5. A caçadora dos tempos modernos... mais uma vez, excelente texto!
    Dulce Novo

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  6. :) Obrigada, Dulce. Beijinho e boa semana***

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