setembro 26, 2012

Não poder muitas vezes é não querer

Por esta altura, costuma assaltar-me uma pequena irritação relacionada com a vida escolar. Gostaria de não ser mal interpretada, por isso vou tentar ser o mais clara possível. Trata-se dos manuais escolares, ou melhor, de uma quase aversão por parte de alguns alunos à aquisição dos livros de que precisam, como foi desde sempre, para a consecução das aulas.
Estamos num período complicado - a crise e a falta efetiva de dinheiro por parte de tantos, acrescida do preço bastante caro dos livros. 25, 30 euros por unidade é, de facto, uma soma difícil de comportar por muitas famílias portuguesas. Em todo o caso, nota-se que os alunos com verdadeiras dificuldades económicas desejam o/s livro/s, numa atitude humilde e até constrangida perante tal dificuldade. Esses acabam sempre por consegui-los, felizmente, até pelo sistema de empréstimo e de subsídios da escola. Mas aquilo que também se nota de uns anos a esta parte é, por parte de muitos alunos, uma péssima reação quando lhes dizemos que vamos precisar de manual. Provavelmente têm razão, num ensino verdadeiramente gratuito seriam grátis, mas não é e eu própria, em casos extremos, tiro imensas fotocópias que pago do meu bolso - porque me custa pedir-lhes dinheiro para elas. Ora bem, esta aversão aos manuais parece residir numa certa resistência ao aprender e ao prazer de o fazer, que também é apanágio de muita da nossa população estudantil. Quem está no meio, sabe disso. Reagem mal e curiosamente são, muitas vezes, alunos de 18, 20  e 22 anos que inclusivamente trabalham aos fins de semana e mesmo nas férias, nos estágios remunerados. Se trabalham aos fins de semana provavelmente fazem-no porque precisam de dinheiro. Justíssimo e é louvável o esforço. Mas pagam cigarros e copos, saídas para discotecas e algumas roupas de marca, têm  carta e vão de carro para a escola. Para além dos telemóveis da última fornada e dos gadgets eletrónicos, pois isso não pode faltar. Ora este trocar de prioridades, e este investimento quase nulo na educação, está no meu top de incompreensões, pronto. Antigamente, antes da sociedade de consumo, era eu pequena e não vivendo desafogadamente, os manuais eram sagrados. Aguardava a sua chegada com tanto entusiasmo e abria-os para os ver, encapava-os com tanto gosto, era uma festa. E isso prolongou-se até tarde, tanto que tenho todos os meus livros escolares, os da escola primária então tornaram-se uma relíquia que guardo religiosamente. 
A verdade é que, hoje em dia, há um desprezar dos livros, da palavra escrita, e um desinvestimento na escola em detrimento de outros bens materiais e estilos de vida que lhes são mais apetecíveis. Isto se saber mais implica abdicar de formas de entretenimento ou apostas na imagem. Considero que as editoras abusam claramente nos preços e que é difícil suportar as compras escolares quando se tem 2 ou mais filhos mas também há um desinteresse generalizado pela aprendizagem. Querem muitos formar-se e ter certificados e diplomas mas, na realidade, não querem aprender.

9 comentários:

  1. Apelidou-se toda uma geração de Rasca; depois uma outra de À Rasca. Estaremos agora porventura ante uma nova geração, a Geração Gadget...? Ou a Geração por um Canudo...? Bom tópico.

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  2. Olá, Paulo! Obrigada pela visita:) Sem dúvida, parece-me que estamos a competir com os gadgets e, pior, a perder. Beijinho

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  3. Fátima (tenho uma irmã com o mesmo nome),

    Não tem de agradecer nada. Para que conste, visito-"a" com regularidade. Se comento ou não, não depende do gosto que tenho em lê-la, mas da disponibilidade e da vontade. No caso, acho este de uma grande pertinência. Quase um alerta, extremamente fundamentado. Creia-me.

    Beijinhos

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  4. Ohhh Paulo, claro que entendo isso da disponibilidade, nem precisava de se justificar, imagine-se. :)Eu própria tenho dificuldades em comentar e mesmo alargar o meu conhecimento a outros blogues, por falta de tempo. (E nem sempre os textos/posts nos suscitam as mesmas reações, já agora.) Também vou "à Terra e ao Céu" com regularidade e padeço da mesma sintomatologia. :)
    De qualquer modo, é um prazer tê-lo por cá:) Isto é giro, porque conhecemos pessoas e afeiçoamo-nos a elas, apenas virtualmente. Like! :)

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  5. Completamente de acordo! Este ano, em especial, prevê-se duríssimo, pois irei trabalhar muito à base de cópias. Tendo os alunos de pagar uma propina pelo curso pela primeira vez (na história), não fui capaz de pedir dinheiro para comprar manuais para não sobrecarregar os pais e desmotivar alguns a desistir do curso.
    Ainda a propósito deste tema, a Uma aluna perdeu o rasto ao livro de exercícios e a sua mãe pediu-me para adquirir outro. Quando a interroguei sobre a possibilidade de tirar cópias para evitar comprar o livro novamente, a senhora disse que considerava os livros muito importantes e que fazia questão de guardar os manuais todos da filha. É tão bom encontrar pessoas (cada vez mais raras) como nós que dão o devido valor aos livros! bjs Marla

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  6. Concordo inteiramente consigo e esse desinvestimento na aprendizagem e no prazer que ela pode proporcionar é, quanto a mim, a par da indisciplina, o maior drama da educação actualmente.
    Isabel Mouzinho

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  7. Pois, Marla, é mesmo bom encontrar esse gosto pelos livros e pela aprendizagem:) vai escasseando :(


    Olá Isabel, bem vinda! :) Subscrevo o seu comentário. Obrigada.

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  8. Muito pertinente a sua reflexão. Por vezes o comprar ou não um manual escolar é uma questão de prioridades erradas.
    Defendo o empréstimo de livros e a reciclagem dos mesmos ( como se faz aqui na Alemanha) mas considero que investir num livro, mesmo que custe muito, é valorizar o conhecimento , e esse não tem preço.

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  9. Completamente, Helena. E o que custa é ver isso, essa desmotivação face à aprendizagem, ao saber. Beijinho e obrigada pela leitura.

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