setembro 13, 2012

À espera de Job



Andamos todos muito impacientes porque nos tornámos todos muito impacientes. Não estou a falar da política nacional, dos efeitos da crise, porque são sérios, nem das reações (e aflições) que a mesma legitimamente provoca. Mas de um modo geral, falta a todos nós paciência. Queremos tudo e rapidamente. Desse mal também às vezes admito poder padecer ou já terei padecido, se bem que tenho treinado uma maior serenidade à medida que os anos vão passando. Também era melhor. Ou não era, quer dizer, significaria que não teria aprendido nada. Mas nota-se realmente uma grande dose de impaciência em relação a muita coisa, sobretudo aos tempos dos outros. Do género eu posso tardar em evoluir mas os outros não. Essa intolerante e apressada intranquilidade é visível naquilo que se escreve, que se diz e na ausência de reflexão mínima para se escrever e dizer com equilíbrio e verdade. Isto veio a propósito, neste caso, do filme que passou na televisão tunisina há algum tempo atrás (pois, não me enganei e não se trata do filme americano de agora, o tal que tem originado cenas lamentáveis por parte de quem insiste em não evoluir). De repente, queremos que a democracia recentemente conquistada (e tanto tempo que falta para a sua consolidação plena, nomeadamente nas cabeças, porque é natural que leve tempo, até muito tempo) seja um facto estendível a tudo para além das eleições livres. Sobre esse ponto em particular alinhavarei um post em particular, mas aquilo que ressalta é que não damos - ou não estamos aptos a dar - tempo ao tempo. É que a nossa pressa em julgar e tirar conclusões anda, ainda por cima, de braço dado com uma incrível falta de memória, pessoal e coletiva, em relação ao que fomos até há bem pouco tempo e ao que continuamos a ser em muitas vertentes. Sempre achei que as pessoas fazem voar o tempo. Sempre achei que considerar 35 ou 50 anos como muito é descabido e inverdadeiro na longa linha da história das nações e do mundo. 35 anos e 50 anos não são nada na evolução do tempo. E não é por termos nascido ou termos vivido fora de problemáticas situações políticas e sociais que devemos esquecer como fomos e ainda somos, de resto. A nossa impaciência, e consequentes erros de julgamento, é terrivelmente condicionada por esta desmemorização, e pior ainda se somos pessimistas e nunca acreditamos no real progresso social. Falta tanta calma, tanta lucidez, tanta racionalidade no turbilhão das emoções e dos etnocentrismos que grassam por aí. E o mais espantoso de tudo é que esta ausência de paciência não parece criar nenhum tipo de vantagem. As pessoas indignam-se e algumas vivem permanentemente indignadas mas não há, frequentemente, ação concreta que depois seja visível, do género fazer melhor, optar melhor. Por outro lado, condena-se e condena-se e muitos esquecem-se de olhar para o seu próprio percurso, no meio em que se moveram e movem, e de como é preciso tempo para tanta e tanta coisa. Sei que este tipo de texto não é para todos, há quem  não aprecie este tipo de reflexão, pois estão no seu direito, há quem possa pensar que nos estamos a vergastar, a infligir um autossofrimento de alguma espécie mas... não. Realmente, não. Sem qualquer tipo de traumas. Apenas não defendo que se seja muito lesto a julgar. A precipitação não é construtiva. Ela confunde, baralha mas não cria nem muda. Portanto, na verdade, não ajuda a coisíssima nenhuma.

6 comentários:

  1. É verdade, sem dúvida! Mas não funciona só para nós. Nós podemos ser precipitados a julgar, outros são ainda mais precipitados a incendiar ou a atirar rockets.Talvez seja uma característica do ser humano.

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  2. Tem toda a razão - aliás, disso constará o meu próximo post. :)

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  3. A impaciência traz muitas vezes frustração e impede a tão necessária ponderação. Li e concordo plenamente! Bjs. Regina

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  4. :) Obrigada pela leitura, Regina!

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  5. A impaciência é uma característica humana cada vez mais presente na sociedade ocidental/ moderna. Fruto de uma evolução tecnológica e científica aceleradíssima, assim se tem revelado o ritmo das nossas vidas, tornando-nos em seres super impacientes. A própria internet advoga o que tanto procuramos atualmente: Aqui e agora / "em qualquer lugar, a qualquer hora". Isto tudo está na base da nossa impaciência e precipitação aliadas à falta de ponderação, que pouco ou nada resolvem. Como bem dizes, o progresso social não se faz em correrias e as mudanças / revoluções sociais demoram a apresentar resultados. Sejamos pacientes! Marla

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  6. O que me espanta é exigirem-se coisas que nós próprios - portugueses - conquistámos há pouquíssimo tempo (poderia dar vários exemplos). E não ver que quem está a sair ou ainda não saiu de ditaduras ainda tem um longo caminho a percorrer...

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