novembro 20, 2012

O fim e o começo

"O casamento é o fim do romance e o começo da história.
Oscar Wilde



 Não sei se o casamento é ou é sempre uma desilusão agora que é o fim do romance... é. Pois que romance pode haver em quotidianos impregnados de tarefas não glamorosas e que sugam as energias? Que magia há em cestos de roupa para lavar, em peúgas espalhadas pelo chão, em louça acumulada no lava louças, em compras para fazer no supermercado, em esfregonas a bailar no meio da cozinha e entre tantas outras coisas que não existem no cinema? Que lugar para o romanticismo em espaços partilhados onde a resmunguice, a impaciência, a desresponsabilização,a exigência, a pressa, a falta de colaboração, a cobrança e outras fazem mossa à melhor das intenções?
O começo da história. Na verdade, uma história que deve ser vista realisticamente, sob pena da desilusão chegar cedo. Recordo uma ideia ou outra que já ouvi de mulheres ( pois nunca ouvi o mesmo de homens) que acharam que o seu casamento  significava a almejada chegada da liberdade. E eu a pensar que se sai da prisão da influência dos pais e se passa a morar no cárcere das explicações e compromissos. Compreensíveis, mas que nos roubam liberdade - a nós e ao outro. Outra ideia é a de que o casamento é  ou ia ser para sempre. Como assegurar que será eterno? Esperamos que seja. é tudo, e já vamos com sorte... Cada dia que passa é uma vitória - frase que digo amiúde e como ficam estarrecidas algumas almas à minha volta. Do género o que quererá ela dizer com isso. Mas eu penso e pensei sempre assim, desde o primeiro dia, o encantamento é para quebrar, ao passo que outras coisas são para fortalecer. A história começa - com os altos e baixos, alegrias e tristezas, cumplicidades e divergências. Não sempre pior, não necessariamente pior, apenas muito diferente. O romance é o antes. O resto é o depois.

12 comentários:

  1. Desta vez tendo a discordar completamente. Já fui casada e não me revejo nestas suas palavras, nem nas palavras do digníssimo Oscar Wilde. Durante o tempo em que estive casada e aqui vou colocar aquela frase feita do: "é eterno enquanto dura" e acrescento que permanecerá eterno na nossa memória ainda que tenham existido momentos menos bons. Não me causou tristeza suficiente nem decepçção suficiente, para que não pense voltar um dia a casar. A minha mania de independência é que poderá dificultar as coisas.

    E as tarefas do quotidiano podem ser interessantes se existir uma boa comunicação entre os dois. No meu caso existiu e correu bem. Entretanto é só pôr as cartas na mesa antes de nos casarmos. E se perguntasse porque não deu certo então? Garanto que não teve nada a ver com o tal "fim do romance e o começo da história". Para mim o início da história dá-se quando o romance começa.

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    1. Olá, maria:) Não discorda assim tanto:) Se a sua mania da indepedência, como diz,é uma dificuldade assim é porque o casamento condiciona e de que maneira a liberdade. Não adianta dizerem que não, porque não se é totalmente livre quando se vive com alguém (seria estranho se o fossem...)De resto, as tarefas do quotidiano são em tudo o oposto do romance. A não ser que o nosso conceito de romance seja substancialmente diferente. :) Pode ser:) Romance não quer dizer amor, já agora. O amor pode ser até fortalecido e é-o seguramente mas alimenta-se de muitas coisas que nada têm a ver com romantismo. Sobretudo quando há filhos pequenos. Não estou a dizer que as pessoas casadas são infelizes, de todo, apenas que o quotidiano e a rotina matam o encantamento inicial. Realisticamente. Conheço pessoas que disseram que tinham um casamento perfeito e vieram a descobrir que tinham vivido uma mentira. Acontece.Não acredito em casamentos perfeitos e não gosto de ilusões. E atenção que gosto de estar casada. :) O casamento é um enorme desafio.

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    2. Concordo e subscrevo cada palavra Fátima. Cada dia é uma vitória, e não há nada de romântico no quotidiano. De todo! Romântico era o inesperado, a surpresa, a ansiedade, as idas ao cinema, os jantares a dois, os copos noite dentro, ver a lua e a mar... essas coisas.
      E compreendo a parte da ilusão dos que achavam que tinham o casamento perfeito... Não existe.
      Maria, não existe de todo. E acho que concorda comigo: se existissem não existiriam separações.

      Cada dia é um momento de sobrevivência e vitória.

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    3. Obrigada pela leitura atenta, Andreia. Cada dia é uma vitória, sim. Porque partimos do princípio - um bom princípio - que tudo pode falhar. Como sempre, Andreia, afinamos pelo mesmo diapasão.:) Beijo muito grande**

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  2. Discordo em absoluto. Sou casado há 25 anos e o romance ainda não acabou.

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    1. Independentemente do seu conceito de romance, e sabendo que romance e amor são coisas distintas, só posso, KK, dar-lhes os parabéns. :) E que seja eterno, já agora:)

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  3. Fátima
    Desta vez não estou de acordo. O romance acaba ou não, depende do investimento que se faz, do encantamento que se experimenta. Mesmo as tarefas do dia a dia podem ser partilhadas e vividas com humor e amor. A palavra chave é mesmo essa: amor. Quando existe, tudo vai melhor!
    Bjs

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    1. Concordo em absoluto que o casamento passa por um grande investimento, Teresa. Agora, humor e amor não se podem confundir com romance. Tarefas, rotinas e o caseiro, para mim, são completamente desromantizados, em tudo. E atenção que não estou a falar do meu casamento, estou a falar da ideia que tenho de romance e do que, na realidade, as exigências da vida a dois, sobretudo com filhos pequenos,acarretam. E são muitas as mulheres a sentir e a admitir isso mesmo, acredite.:) Obrigada pela leitura, beijinho grande

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  4. Pois eu não acredito nem um bocadinho no casamento que quanto a mim tem pouco a ver com o amor. Pode-se amar e muito mesmo, durante muito tempo, sem ser preciso o casamento. Posso dizer que os casamentos que conheço, todos, são mais ou menos uma farsa. É muito forte, mas muito real!As pessoas mantêm-se juntas por inúmeras razões que têm pouco a ver com o amor, que vão do hábito, aos filhos, a razões económicas, sociais, ou outras. E frequentemente "enganam-se" (a si e ao outro)...
    Dizendo isto, que parece uma visão demasiado crua e desencantada, devo dizer que acredito profundamente no amor, que o considero a melhor e a maior coisa da vida, que acho que se pode amar uma pessoa a vida toda, mas para mim ele está muito mais associado à liberdade do que à prisão do quotidiano.
    Gostei do seu texto, Fátima!
    Beijinho

    Isabel Mouzinho

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    1. Obrigada, Isabel!:)
      Não acho nada essa visão crua, é tão somente a capacidade de dizer a verdade. Pois é verdade isso que diz acerca das pessoas se manterem, muitas vezes, juntas no casamento. E o romance (muito mais do que o amor, na minha opinião) não tem nada a ver com a prisão do quotidiano, de longe!!!
      Aliás, quanto mais realistas as pessoas forem e encararem o casamento como algo difícil e sem certezas de eternidade, melhor.:)
      Beijinho a dobrar

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  5. Há quem diga que a "coisa" começa a correr mal, quando se liga para casa para dizer que se vai chegar tarde e o gravador responde que o jantar está no micro-ondas...

    :) :)

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    1. :)Essa está boa, jrd. Desencontros daqueles, portanto:)

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