janeiro 15, 2014

O sexo e a sociedade


Muito se tem escrito e falado acerca de François Hollande e da alegada ligação amorosa com uma atriz francesa que o coloca na posição de alguém indecente que trai a companheira ou esposa. Independentemente dos atributos e encantos que o presidente da república francesa possa ou não ter e dos pecados que esteja a cometer, a verdade é que considero isto como um aspeto da sua vida privada. Dele ou de qualquer um. O que me continua a espantar é a diferença de tratamento que relações amorosas ilícitas e apimentadas, de figuras famosas ou influentes, acabam por receber dos media. Uns são atacados de forma descarada, outros nem por isso. Ou os primeiros não sabem fazê-las, o que é possível, ou os segundos estão protegidos, também possível. Continua a intrigar-me, por exemplo, que o mundo gay, de pessoas famosas ou influentes, não receba o mesmo tratamento que as relações heterossexuais recebem. A igualdade é para o bem e para o mal, assim penso. Só sabemos, a um nível coletivo, que figuras gay têm casos e com quem quando isso é assumido publicamente pelos indivíduos em questão. Affairs que poderão passar por traições, também, não será diferente. Vida privada, dizem. E está certo. Mas também se trata de vida privada quando se fala dos amores e das traições dos que são straight, para variar a palavra. Donde vem esta dualidade de critérios? Nada tenho, obviamente, contra as opções de cada um, cada um escolhe viver como quer, sabe, pode. Mas é nítida a proteção que certos grupos têm e não me refiro apenas à orientação sexual. Os lobbies são vários e o poder que detêm determina e muito a informação que sai cá para fora. Em todo o lado, diga-se, não me parece que seja algo exclusivo da realidade portuguesa, de todo. Há quem esteja muito desprotegido e há quem se abrigue sob o manto da influência e da hipocrisia. E há aqueles que só sabem destruir, dizendo quer a verdade quer a mentira. A mentira é ignóbil, a verdade, não é, há que assumi-la. Mas na frente em cujo lugar ela pertence. Ainda que possa a verdade privada dizer algo sobre o caráter, pode não dizer nada sobre o desempenho público de uma função. Pode não dizer, não digo que não possa dizer. Mas então, para ser justo e coerente, haveria - e haverá - decerto muito mais para contar, para saber e para avaliar. 

5 comentários:

  1. Ainda relativamente a Hollande e à vida pública e privada, o que não se pode é querer misturá-las quando é conveniente e invocar a privacidade quando isso já não convém.
    A este respeito, certamente conhece, mas concordo inteiramente com este post da nossa querida HSC: http://hsacaduracabral.blogspot.pt/2014/01/o-preco-pagar.html

    Beijinho

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  2. Sem dúvida, Isabel, concordo em absoluto e neste caso o indivíduo em questão pagou mesmo esse preço. Mas isso é algo que muitos fazem também. Quando está tudo bem mostram a privacidade (até a usam para se promover), quando corre mal, escondem-na ou querem escondê-la.
    Mas o meu post não é sobre isso, é sobre a clara diferença de tratamento que os media dão a uns e outros, porque ela existe e não vamos dizer que não existe. :) A opção sexual é um dos aspetos em que essa diferença nos media é evidente. Não vamos dizer que não (e não sou homofóbica, de longe, longe,, espero que se leia isto corretamente).

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  3. Ah, e não é Paris a cidade do amor? Parece que na França, a tradição ainda é o que era! E no Eliseu não há monotonia no que diz respeito à vida amorosa. Os media tentam explorar o filão de ouro ao máximo, claro, mas penso que os franceses continuam a fazer a separação das águas (vida privada/ profissional). Se fosse nos E.U.A., já teriam rolado cabeças, ...
    Vamos ao que interessa: Acredito que haja lobbies muito fortes, o gay será um deles. Mas acho, sobretudo, que uma boa parte da sociedade ainda não aceita a realidade homossexual e, por isso, a imprensa ainda não foca a vida amorosa dos famosos homossexuais. Por ser ainda, em grande parte, um assunto tabu! Quando for aceite com naturalidade, haverá muita matéria para as revistas cor-de-rosa. Marla

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    1. Não creio que essa discrição, Marla, tenha a ver com o facto da sociedade não aceitar ainda essa "realidade" tão bem, isso revelaria uma sensibilidade que não existe por parte de quem quer vender e usa escândalos para isso mesmo. Se houvesse esses pruridos, bom senso e respeito por todos igualmente, não devassariam vias como fazem, porque o que fazem em relação a tantos e tantos é condenável. E nem sequer estou a falar deste caso, onde a figura em questão até se pôs a jeito.

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