janeiro 26, 2014

A última caminhada



Um dos assuntos destes dias - e naturalmente - é a praxe académica. Já li opiniões certíssimas sobre o assunto e não irei acrescentar nada de novo nem dizê-lo melhor. De qualquer maneira, aqui fica um registo pessoal.
Não gosto de praxes, nada, nada, e senti-me desconfortável quando eu própria fui praxada, na Universidade de Aveiro, há anos e anos. Apesar de ter sido ligeira, relativamente ao que se via e vem vendo, a verdade é que me deixou algo apreensiva e envergonhada. Eu e as minhas colegas com quem estava na altura, sobretudo as da/o turma/curso. E não vejo as vantagens desse estado de alma, porque no meu caso nunca chegou ao verdadeiro divertimento e à euforia. Contrariado ninguém pode ser feliz, certo? 
É falso, totalmente falso, quando se defende a praxe como um primeiro passo para a integração. No meu caso, novamente, as pessoas que a fizeram nunca mais me ligaram, nem sequer me dirigiram a palavra. Também é verdade que não me lembro delas. Apenas recordo um aluno e digo o mesmo em relação a ele. Nunca fui de grupos nem de copos, ainda por cima, estudava e vivia em casa dos meus pais, não estava fora. De maneira que fui tudo menos popular na vida académica. Sim, tive os meus momentos de diversão, mas saudáveis e longe da boémia constante e noctívaga de outros. Era nova e financeiramente dependente dos meus pais, tive isso sempre em mente, para o bem ou para o mal.
Hoje em dia tenho uma notável - e até antipática - capacidade para dizer não. Não sei se a tinha na altura, era mais insegura e, claro, mais inexperiente. Daí que não me surpreenda quem não consiga fazê-lo, mas aí também depende do que nos pedem ou obrigam. Claramente. Ainda assim, penso que há medos nos caloiros - um deles é o de que os marginalizem, os achem demasiado caretas, sem graça nem espírito de diversão. Também acho que foi o que pensei na altura, que se não achasse graça a certas coisas, e foram leves, o erro estaria em mim. Estupidez monumental, impensável desde há tempos e tempos mas que é possível ocorrer em idades menos sábias. 
No presente caso de que toda a gente fala, a estupidez é levada ao mais absoluto extremo. Ainda assim, pesa mais para o lado de quem praxa, como sempre e como é mais do que óbvio. Porque exercem um domínio inqualificável sobre quem não sabe ou soube defender-se. Um domínio que está para além da minha compreensão. Pois uma enorme dificuldade tenho em compreender o que se retira de divertido, positivo e construtivo deste tipo de experiências. E não compreendo, assim sendo, para onde se vai com elas.

3 comentários:

  1. Não podia estar mais de acordo! Abomino as praxes, apesar de ter sido praxada, de ter "entrado no jogo" (a ingenuidade, lá está) e até ter estado presente numa praxe que os colegas da minha turma organizaram como "veteranos" (detesto o termo!!!). É curioso, pois tive exatamente a mesma experiência e as mesmas sensações que descreves nos primeiros parágrafos. Não, não foi nada divertido, apesar de ligeiro, também nada de muito humilhante, e também não serviu para criar quaisquer laços com os colegas mais velhos. Já li sobre os objetivos iniciais da praxe académica, adoptada há uns bons séculos na Universidade de Coimbra, mas esses foram desvirtuados há muito. Restam práticas humilhantes e sádicas que nada abonam em favor do bom ambiente que deve reinar no ambiente estudantil. Apenas tenho a lamentar que depois de vários episódios graves relacionados com as praxes, sobretudo este último que culminou na mortes de vários estudantes, que o governo e/ ou as universidade ainda não tenham posto termo a esta tradição. Bom domingo! beijinhos Marla

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    1. Práticas de alarves, mesmo. A mim espanta-me como a bestialidade (de besta, claro) tem tantos adeptos.

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  2. * correção: no universo estudantil.

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