fevereiro 24, 2012

Algures na Europa

Desde há dois anos a esta parte tenho tido a oportunidade de trabalhar com alunos africanos, de expressão portuguesa, mais concretamente com estudantes vindos de S.Tomé. Trata-se de uma experiência cross-cultural, enriquecedora, como docente e também na qualidade de diretora de turma, já que esta função permite uma mais estreita ligação com os alunos e encarregados de educação, que no caso destes são eles próprios.
A maior parte destes alunos é maior de idade, algumas raparigas são inclusivamente mães, e vêm para estudar, tirar um curso, alguns instalando-se depois aqui, porque já cá têm familiares em Lisboa, e outros com ideias de voltarem e melhorarem as condições de vida do seu país. Parece-me que um, que não é meu aluno, quer candidatar-se a presidente. Oxalá o faça, claro.

Na aula de Inglês as coisas nem sempre têm estado perto do ideal. Há dificuldades que não permitem melhores performances na sala de aula e melhores resultados, residindo elas no facto de virem com poucos anos de Inglês e entrarem diretamente para um nível seis, ainda que por opção. A falta de vocabulário e de conhecimento do mundo anglo-saxónico nomeadamente nas artes, por via de uns media que certamente não importam essa cultura, complica um bocadinho as coisas, mas também se regista a aprendizagem que fazem, fazendo da aula um interessante encontro de culturas, a portuguesa, a santomense e a de expressão inglesa.

No entanto, aquilo que salta à vista é a postura destes alunos, sobretudo quando aqui chegam. Apesar de haver uns naturalmente mais efusivos, salienta-se a atitude em sala de aula, calma, educada, humilde, profundamente respeitadora, bem ciente dos limites, disciplinada, recetiva, na maior parte dos casos, à aprendizagem.
Queixam-se do frio, pudera, e não é fácil mudarem de país - só quem nunca o experienciou, por si próprio ou por alguém próximo, o pensará. Não são perfeitos, pois ninguém o é. Mas são bem vindos (porque outra coisa não desejo eu para os estudantes lusos lá fora) e estamos cá para percorrermos juntos a aventura da escolaridade e da formação, pelo menos. Que já não é pouco e, se possível, com um bocadinho do calor de África.

2 comentários:

  1. É tudo verdade! Só nós é que sabemos...
    Bom fim de semana.
    Beijinhos

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  2. Pois, achei que devia registar esta experiência. Só nos enriquecem, estas coisas:) Kisses

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