fevereiro 18, 2012

Ainda elas, ainda nós

                

Este é o terceiro post quase consecutivo sobre as mulheres. O primeiro foi uma fotonovela de instante, onde se escondia um feminino cansaço por detrás de um sedutor glamour, o segundo porque se impunha, escrito a quente, e este porque importa que se reflita um pouco mais a frio. 

PODER ficar em casa não é mau, pelo contrário, nem as pessoas que não trabalham fora de casa são menos por isso, em absoluto. Mas apenas se fruto de uma opção livre e consciente. Se o estado criar mecanismos que possam melhorar os nossos dias, dando-nos mais tempo para nós, como mulheres e sobretudo como mães, será extremamente positivo. Há porventura, em alguns casos,  uma excessiva divinização do trabalho, do sucesso profissional como fator primeiro para o valor pessoal e para a utilidade social. Penso que não somos hoje em dia necessariamente mais  felizes com milhentas solicitações ao mesmo tempo, mesmo se a motivação da profissão e a carreira nos possam fazer sentir realizadas. Há frequentemente  um evidente cansaço. De qualquer maneira, a cada uma a sua tabela de resistência. E daí a sua escolha. No caso desta poder fazer-se, acrescente-se.
Dizerem-nos que temos uma função essencial - educar os filhos, ou seja basicamente procriar - é redutor, determinista e refuto-o. Ser mulher não se esgota na maternidade, como se de um selo que garante validade se tratasse. Existe-se para além da prole. As expetativas sociais que se tornam eventualmente formas de pressão não são saudáveis e não têm graça, ainda que as pessoas apenas gracejem, do alto das suas certezas de família completa e feliz. Os padrões de vida de cada um não podem ser tomados como garantias de felicidade noutros. Cada um vive como quer, sabe ou pode. Como, onde e sobretudo quando. Para além disso, não nos podem negar vontades de projeção que vão para além do ser mulher ou mãe. Voos para além do ninho que nos fazem crescer por dentro e muitas vezes nos lançam para fora dele. Que podem passar por um emprego ou uma arte.

Independentemente das palavras do cardeal, que poderão ter ecos diferenciados, aqui fica: ser mãe é ser feliz, é-se, e válido, assim como é ser mulher, descomprometida ou não, cozinhar, pintar, viajar, estudar, correr, escrever, mergulhar, representar, voar, ou absolutamente nada disto, estar em casa ou trabalhar fora. Porque a função essencial é viver, de acordo com o que é ou vai sendo. E servirá,  mais do que obviamente, para os homens.

6 comentários:

  1. Ser Mulher é ser futuro. Digo eu, que sou homem!

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  2. Great text. Hate cardinals more and more. hate the idea that we were brought up to be maids and build a home. Home is good when it's not the only thing. Sara Sagi

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  3. Thank you:) The main thing is freedom. Free to choose.

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  4. Concordo plenamente com o teu belíssimo texto. Porém, tenho algumas reservas em relação aos ataques que muitos têm dirigido ao cardeal. Segundo consta, ele disse que a mulher "deve poder ficar em casa" e isto soa-me a opção, não a imposição.
    Esta é uma realidade frequente na Suíça, em que muitas mulheres que são mães optam (felizmente há flexibilidade e qualidade de vida neste país)por trabalhar 70/80% para poderem estar mais tempo com os filhos. Eu faria o mesmo! Se bem que em Portugal a realidade é outra! Hoje em dia, o trabalho ocupa-nos muito tempo e, por vezes, não há tempo para coisas essenciais, nomeadamente estar com a família.
    De facto, ele valoriza o papel da mulher em casa, mas não me pareceu de uma gravidade que todos parecem apontar. De qualquer forma, eu não vi a sua entrevista, por isso não sei se ele enviou a mulher diretamente para a cozinha, como todos afirmam. Se houver alguma incorreção da minha parte, corrijam-me. Marla

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  5. De todo, Marla - tb vi assim, Aliás escrevi dois textos - o primeiro mais a quente e este mais a frio. Mas nos dois concluo: imposição não mas possibilidade de sim. Acho e espero que tenha ficado claro nos meus textos. Não me importo nada de ter mais tempo e qualidade de vida em casa e em família, anseio por isso; por outro lado, quem me conhece sabe que não viveria feliz só com os tachos e tanque, preciso de outros voos!:) Bjokas e obrigada pela visita darling

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