dezembro 15, 2013

Não me agarres se puderes


Assim de repente, veio-me hoje à ideia o facto de muitos gostarem de se agarrar - muito - às coisas. Aos cargos, às posições, a coisas que não são deles, nem nossas, coisas onde apenas se está de passagem. Tudo é substituível, sobretudo a nível de trabalho. Apenas os afetos marcados pelo sangue não o são. O resto vai e vem, por muito duro que possa parecer. Há quem se instale rapidamente nas coisas, se apodere delas, se mova de todas as maneiras (ou talvez não de todas), não guardando qualquer espécie de distanciamento que me pareceria razoável. O distanciamento que nos diz que tudo é efémero, que tudo se ganha e perde. Dizer isto é assombroso, sei. Há quem não consiga viver senão sob o signo da paixão absoluta, do tudo ou nada. Considero essencial a entrega, a dedicação, o esforço. Chamemos-lhe, até, paixão. Impulsiona tudo isto e mais ainda. Mas a paixão, ainda assim, não deve andar sozinha, sem a companhia da razão. Um bocadinho de racionalidade coloca as coisas no seu devido lugar. Impede-nos de nos pormos acima desse lugar. Podemos sentir-nos motivados, galvanizados, entusiasmados e fazer, assim, um excelente trabalho. Mas convém não esquecer a hipótese de as coisas não correrem conforme os nossos desejos. O desejo, frequentemente, não chega. Aí a razão evitará a desilusão. Demasiada paixão imediata pode resultar em queda apaixonada, também. Isto sou eu a pensar, a antecipar friamente coisas a médio ou longo prazo que os indivíduos em questão - a ser o caso - nem pensam nem antecipam.  De tão agarrados que estão às coisas já à primeira. As paixões absolutas logo de início, sem margem para o distanciamento, dão grandes filmes. Apenas resta saber o seu fim. Também é verdade que cada um escolhe o seu género preferido. Apenas este não é um dos meus.

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