outubro 14, 2013

Os véus de dentro


Assim que abri o Google vi e li que houve uma manifestação anti-imigração na Rússia. Vítimas, muitas, e o slogan "A Rússia para os russos". Racismo a juntar-se, porque pelos vistos estão contra os imigrantes oriundos das antigas repúblicas soviéticas, no tempo da urss (ou ussr ou cccp, é só escolher a língua). Estes não devem ser "brancos", naturalmente. A Rússia está, é, cada vez mais igual aos Estados Unidos, aqui na vertente wasp. Mas o mais peculiar é que os russos emigram e muito. Ou seja, saem de dentro para fora, como nós em Portugal até sabemos por experiência própria. E penso que gostam de ser bem recebidos; eu cá, e obviamente sem ironias de qualquer espécie, gosto de os receber bem e de receber bem qualquer um que escolha (por extrema necessidade ou opção) o país onde nasci e vivo para trabalhar e viver. Portugal aos portugueses é algo que me deixaria (e deixa) chocada. Como a França aos franceses e o Brasil aos brasileiros. E mais umas largas dezenas de nações e nacionalidades a proferirem o mesmo. Se há coisa que me deixa ultra sensibilizada é a imigração, como já aqui fiz sentir, tantas vezes, neste blogue. E, de igual forma, a emigração, a forçada, a que não teve alternativa alguma para não vir a ser real. Posto isto, qual a diferença entre emigração e imigração? A primeira é coitadinhos, a miséria que isto está, não há emprego, e a segunda é desgraçados, vão embora, vêm roubar os nossos empregos e conspurcar a raça? A primeira recebe um sensível lamento e a segunda um agressivo "fora"?
Ao que parece, por detrás desta movimentação xenófoba e racista, houve um assassinato cometido por um imigrante. Esta costuma ser, aliás, uma das desculpas para justificar o vão-se embora voltem para a vossa terra. Os nossos podem matar mas os outros não. Os nossos podem ser falíveis mas os outros não. Porque quando os nossos matam são maus mas quando os outros matam são muito piores. Em qualquer parte do mundo, que isto não é exclusivo de ninguém, embora se pense que sim. O mal, e já o afirmei aqui no AE, não tem cor nem bandeira. A extrema direita cresce a olhos vistos por essa Europa fora. E noutros locais existem outras formas de superioridade cultural e nacional que separam e dividem, o nós e eles. O mundo anda conflituoso porque as pessoas cultivam os conflitos. A mistura das diferenças, fruto do avanço tecnológico e da globalização a vários níveis, complica muitas cabeças. As pessoas não estão preparadas para o mix, por desconhecimento e porque os media fabricam demónios, por contraposição aos anjos. As pessoas pensam que são livres, porque mais livres deveriam estar, mas carregam burqas interiores.

6 comentários:

  1. Continuamos na era de Salomé; Cortem-se as cabeças!

    (...)
    Diz o jornal que um emigra
    morreu afogado em Mira
    Antes da data
    Do mariage

    Estamos na Europa
    civilizada
    já cá faltava
    uma maison
    pour la patrie
    p´lo Volkswagen
    acabou-se a forragem
    viva o patron!
    (...)
    Zeca Afonso

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    1. Continuamos, sim. Séculos que deviam ter erradicado isso e muito mais...
      Bela referência, tão a propósito :)

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  2. É terrível esta xenofobia que assola o mundo...sinto muito :(

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    1. Terrível, sim. O receio do desconhecido e do não igual é quase irracional, por vezes. Não se dá qualquer hipótese à diversidade como enriquecimento e evolução.

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  3. Sem dúvida! Há muito racismo por esse mundo fora... Uma grande falta de aceitação do outro e da diferença.
    Na minha opinião, as autoridades locais (de cidades...) deveriam promover a paz entre os povos, desenvolver campanhas anti-xenófobas e organizar eventos que promovam a interculturalidade e a descoberta de outras culturas. Talvez assim, se evitassem certas atitudes, comportamentos, pensamentos intoleráveis...
    Marla

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    1. Tens toda a razão. Eventos interculturais ajudariam. Porque estes sentimentos brotam do desconhecimento ou do conhecimento parcelar das coisas. Mas não - as televisões e as autoridades locais insistem no folclore de sempre, no pimba, barato e de vistas curtas.

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