outubro 11, 2013

Muro das lamentações


Não se percebe como dizem haver funcionários públicos a mais - e, neste caso, professores -, como, dessa forma, são dispensados milhares e como, a seguir, se aumenta a carga horária semanal.

Não se percebe como a avaliação dos docentes tão apregoada para premiar o mérito não tem valor absolutamente nenhum; há quem tenha trabalhado muito e muito bem, de forma excelente, na verdade, e tenha no ano a seguir ido parar a 400 kms longe de casa.

Não se percebe como trabalhando cada vez mais, em condições cada vez mais adversas, se ganha cada vez menos. Mais uma tesourada de 10%, mais outra no subsídio de refeição e outra no valor cobrado para a assistência médica. Daqui a pouco estamos de volta ao início da carreira.

Não se percebe como a almejada qualidade do ensino se pode alicerçar na completa desresponsabilização dos alunos, nomeadamente recuperação de faltas sem justificativa válida, na exigência de metas de sucesso praticamente a 100%, nas trocas e baldrocas sistemáticas na legislação e consequentemente nas práticas educativas, nas turmas de 30 alunos ou maiores ainda (sim, nas línguas, isto existe) e em muito mais.

Percebe-se, contudo e como resultado, o estafanço e desânimo que já se fazem sentir nas escolas, pouco naturais para inícios de outubro.

Não se percebe, já agora, como ainda aguentamos. Não se percebe, para mais, como a paciência ainda não se esgotou completamente. Mas percebe-se, é um facto, que já faltou mais.


(Não querendo tornar, apesar de tudo, este blogue num queixume profissional constante, cá fica mais um post tocado pela maré da revolta na esperança de que algum jornalista por aqui passe e possa, com mais uma gota, dar eco do mar de adversidades em que andamos mergulhados.)

8 comentários:

  1. Quando um dia derrubarmos os muros, "eles" vão perceber que os portões vão ser inúteis.

    Abraço

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  2. Realmente, não se percebe como aguentamos... Tudo é demasiado mau para que, no meio disso, possamos ter pensamento positivo, um sorriso na cara... Este país está a acabar connosco! Pior do que isto? A inércia, a falta de sensibilidade, a crueldade de quem nos governa... Lília

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    1. Ainda hoje se deu conta de um número crescente e gritante de gente que sai, literalmente, para os quatro cantos do mundo.

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  3. Diana Oliveiraoutubro 13, 2013

    Oh Faty Laouini, acho que o principal problema nem é não perceber, eu pelo menos pela minha parte sinto é que percebo até bem de mais o porquê disto tudo, mas se por acaso for verdade aquele dito que diz que só nos é dado o que podemos aguentar então olha, espero que a minha quota de "aguentamento" esteja perto de atingida :S

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    1. Só nos é dado o que podemos aguentar? Ora aí está uma boa matéria para um post futuro... :) Isto tem muito que se lhe diga.

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  4. Eu acho é que estamos todos a "romper pelas costuras". Gostei do artigo, como sempre.

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    1. Sim, e as pessoas andam cansadas, desanimadas, Sobretudo aquelas que não podem usufruir de escapes que sempre vão - iriam - aliviando... Obrigada, tri.

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