janeiro 02, 2013

Os ex

Imagino que toda a gente tenha ex-amigos. Eu tenho e não são assim tão poucos. Trata-se de pessoas com quem já tivemos uma proximidade grande, física e emocional, e que em hoje em dia já não fazem parte da nossa vida. Ou, menos radicalmente, do nosso círculo de cumplicidades ou afetos. Sentimos ainda alguma coisa por eles? Penso que sim, eu não desgosto dos meus ex-amigos, e há alguns de que continuo a gostar. O que nos afasta, então? Afastou-nos uma mão cheia de vicissitudes, conscientes ou não, voluntárias ou não. Coisas que interferiram no nosso percurso em comum, como seja a deslocação de local de trabalho (há uma tendência natural para todos criarmos amizades na área laboral), mudança de cidade, interferência de terceiros, incompatibilidades de feitios ou atitudes que se vêm a observar, historietas amorosas no meio, de forma variada, palavras a mais ou mal colocadas, silêncios que não deviam ter ocorrido, influências ou intromissões que não toleramos, entre outras arestas que ficaram por limar.
Se os queremos de volta é pergunta que pode dividir. Por um lado, alguns haverá que gostaríamos de repescar, uma vez que foram circunstâncias algo involuntárias que ditaram o nosso estado atual, o da separação. Por outro, existem outros que sacudimos dos nossos dias, porque mantermo-nos com eles seria comprometer algo nosso, da nossa personalidade ou estilo de vida. São escolhas, foram escolhas e há que seguir com as nossas. E possivelmente haverá um terceiro grupo, o de aqueles que se perderam sem se saber exatamente como nem porquê, mas fruto de um desinvestimento de ambas as partes, porque é preciso alimentar a amizade de alguma maneira. 
É verdade que há amigos que podem ser eternos, mesmo sem aquela presença física constante, apanágio de muitas amizades, independentemente do conceito não estar a ser explicitado aqui. Basta um telefonema, uma visita, uma mensagem mais pessoal por e-mail, em tempos e ritmos que muitos achariam incomportáveis. Mas funciona assim e quando os vemos é como se os tivéssemos deixado ontem, tal é a osmose de emoções e pensamentos que com eles se consegue criar. Mas, lá está, sabemos onde estão, o que fazem, que pensam em nós. E nós neles. Outros precisam de maior amparo afetivo, de uma maior proximidade física, embora pessoalmente não goste de cultivar amizades com pessoas dependentes, causa-me alguma impressão que a pessoa precise de mim para existir, prefiro amizades independentes, seguras, estimulantes e não apegadas demais.
Mas falava dos ex. Os ex tiveram a sua importância, datada no espaço e no tempo. Conhecemo-los como forma de nos conhecermos mais a nós mesmos, por simpatia e empatia ao princípio e contraste depois. Não guardo más recordações de nenhum, só as boas. Tendo saudades de alguma coisa ou outra, porque de certa forma também já fomos felizes com eles, há que saber deixá-los lá, no baú das memórias que enriquecem a nossa história pessoal, embora, por vezes, nos apetecesse reescrevê-la. (Claro que não faríamos tudo igual de novo, isso é uma enorme mentira.) Os ex-amigos já não são nossos amigos. Não se aguentaram connosco nem nós com eles. O que diz isso de nós? Talvez alguma coisa e possivelmente nada. Vivam os presentes e sabendo que haverá sempre futuros.

8 comentários:

  1. Colecciono alguns ex, admito. Uns, porque a vida nos separou e nos colocou em países diferentes. Outros, por interferência de terceiros e personalidades que se deixaram influenciar. Um dos meus calcanhares de Aquiles, é não simpatizar muito com gente influenciável.
    Mas, apesar de tudo, são situações que ficaram bem resolvidas, pelo menos na minha cabeça.

    Não concordo com aquela frase, de que se deve voltar aos locais onde já fomos felizes. É demasiado perigoso! Portanto, foram grandes amigos no passado. Foram amores no passado. E ficarão para sempre no passado.

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    1. maria, ter ex-amigos é a coisa mais natural do mundo. Então na minha profissão... o resto está no texto.:)

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  2. Este seu post, hoje, assenta-me "como uma luva", Fátima! Nem sei bem explicar porquê (ou talvez não queira, para ser mais verdadeira...)
    Na verdade, das pessoas que passam pela nossa vida há as que temos pena de ter "perdido" pelo caminho, (mas, como diz, isso também quererá dizer alguma coisa) e há as que foram um claro "erro de casting"). Eu tenho a mania que sou muito intuitiva e que a minha impressão inicial sobre as pessoas é quase sempre certa. Mas a minha intuição não é infalível (hélas) e já me proporcionou as mais dolorosas desilusões e desgostos de que só me recompus a custo.
    E, depois, há também aqueles laços que parecem fazer-se eternos e que não há distância nem tempo que destrua, que podem até propiciar uma intimidade crescente.
    Não sei se fui suficientemente clara, mas, como na canção, eu hoje "não me recomendo". Porque há também dias assim, tão cheios de emoções fortes que ficamos meio aparvalhados. Mas isto passa-me, garanto! E é rápido.
    Beijinho
    Isabel

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    1. Isabel, é profundamente humano e natural sentirmos que há dias em que não nos recomendamos. :) E é natural, naturalíssimo, termos ex - amigos ou mais do que isso. E ainda é natural falharmos - na intuição ou algo mais - e falharem-nos. Dou-lhe os parabéns por se atrever a comentar o post - sem tabus. Porque me parece que este tema o é, um bocadinho... Beijos e obrigada pelo seu espontâneo comentário

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  3. Os "ex" passados deixam marcas, por vezes indeléveis, mas o pior são mesmo os futuros "ex".

    Abraço

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    1. Bem dito, jrd, só esperemos que sejam apenas ditados por imperativos geográficos... são os que, porventura, menos doem. Digo eu. En tou cas, c´est la vie.

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  4. Pois, a vida encarrega-se de nos fazer cruzar com as mais diversas pessoas e de nos afastar de tantas outras... A mim, sempre me custou perder amizades, pois sempre gostei de as cultivar, sobretudo aquelas mais próximas. O mesmo não se passa com outras pessoas... Como bem dizes, são vários os motivos que tornam as nossas relações de amizade em histórias passadas. Mas há que saber olhar em frente. Vivam as amizades, as atuais e as futuras! :) Marla

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