julho 21, 2012

Ninguém e tanta gente

É possível conhecer toda a gente e, no entanto, permanecer só a vida toda? Sim, claro. O facto de se ser sociável e mesmo popular não significa que se seja capaz de estabelecer afetos e relações duradoiras. Quantas pessoas não existem assim? Com uma invulgar capacidade de fomentar laços sociais mas que não têm, a bem dizer, coração? Porque é disso que se trata, de uma ausência de um lado afetivo que possa aquecer os outros, ao invés de espantá-los, de lhes fazer detestar a ideia de uma partilha de vida em comum. Conheceremos, decerto, algumas pessoas assim, popularíssimas, que são conhecidas em todo o lado e por muitos e que, todavia, não conseguem aprofundar os seus relacionamentos por causa de um claro déficit afetivo. Ao invés, há aqueles que são bem mais solitários socialmente, que se abrigam no seio familiar e pouco mais e que, contudo, encetam relações amorosas e depois podem mesmo constituir família num projeto comum. Ter-se muitos conhecimentos é uma mais-valia em termos sociais, dá-nos jeito, fazem-nos pequenos favores de que às vezes necessitamos, para além de podermos socialmente ser mais solicitados, pretendidos e desta forma estarmos mais presentes em vários momentos que preenchem o nosso lado boémio e cultural. Independentemente se os contactos são amizades ou não. Mas o curioso, que por vezes me ponho a observar, é a discrepância entre essa popularidade e a solidão de afetos em que se cai simultaneamente. Pode voltar-se para uma casa vazia, pode chorar-se sem ninguém por perto para reconfortar, pode envelhecer-se e um dia dar-se conta que o tempo já passou. Não que haja tempos definidos, não há e ainda bem, não que não haja solidões durante certos e por vezes longos períodos, não que não haja sentimentos de isolamento mesmo quando se vive com alguém, não que não haja relacionamentos falhados, não que tudo seja eterno. O que pretendo dizer resume-se  à ideia inicial - conhecer toda a gente não traz necessariamente o conhecimento íntimo do outro. As relações sociais podem ser extremamente superficiais - e são-no muitas vezes. E se o indivíduo não cultivar o aprofundamento individual, dos outros e dele próprio, não estará em condições de prender ninguém. Ninguém quer dividir a vida com uma multidão, a exclusividade é essencial. Se não nos fazem sentir exclusivos, então não nos prendemos. Não partilhamos a nossa intimidade. Da mesma maneira, ninguém quer embarcar numa relação com a frieza. Por muito interessante intelectualmente que se seja, não há como a presença de coração para despertar uma paixão. 
É isso. Os anos passam e há pessoas bem-sucedidas socialmente mas superficiais que vivem os seus dias ininterruptamente de forma solitária. Por todas as razões aqui evocadas, o afeto maior não germina. Mal ou bem, o social  - e o mental - prevalece sobre o afetivo.

6 comentários:

  1. De acordo, mas não creio que o afectivo possa sobreviver muito tempo sem o social e o mental.
    :)

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  2. Acredite, jrd, que não desenvolveria afetos maiores pelas pessoas em que me inspirei...:) Quanto ao resto, é matéria para um outro texto, trata-se de outra história:)

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  3. Estavas a pensar em pessoas em particular ou era mesmo de uma forma geral? Bjinhos :)

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  4. Às vezes, Regina, basta apenas uma pessoa para inspirar uma pseudo-teorização. :):)

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