julho 29, 2012

A grande evasão


Ao ver a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos, dei por mim novamente a pensar como os grandes eventos transformam momentaneamente as pessoas. Engrandecem-nas. Sobretudo se existir uma dimensão internacional. As nações aproximam-se, as pessoas aproximam-se. Perde-se a timidez, fomenta-se a abertura, cresce a alegria, esmorece a intolerância, respira-se entusiasmo. Não achei esta cerimónia fulgurante, à exceção dos anéis de fogo e do magnífico acender da tocha. Mas parece-me que ao vivo teria sido contagiante e teria sido contagiada por um ambiente fantástico, em que as pessoas se unem sob uma bandeira, a da euforia e da universalidade.
Os grandes eventos são uma extraordinária forma de nos evadirmos. Podem ser criticáveis - pela despesa que comportam, porque nos fazem esquecer situações graves que não devem nem podem passar para segundo plano, por significarem alheamento dos problemas, e até porque podem ser causadores de outros (terrorismo, por exemplo). Mas a verdade é que nos projetam para uma outra dimensão, não pequena, não quotidiana, não trivial. E dessa forma, fazem-nos crescer. Crescer em júbilo, crescer em valores, crescer em espírito gregário. E se esquecemos o comum e o sério, na verdade precisamos destes instantes, em que nos libertamos de uma existência mais banal. 
Não sei se foram benéficos economicamente ou não, mas a Expo 98 e o Euro 2004 foram alturas em que os portugueses foram felizes. Um contentamento era visível nas ruas, nas conversas, na postura das pessoas. Subimos lá cima, onde raramente nos atrevemos ou deixam ir. A mistura de povos, a multiculturalidade, a babel linguística, as diferenças culturais, a miríade de experiências foram e são elementos que fomentam sentimentos mais nobres, mais sábios. Inesquecíveis momentos, para quem deles pôde usufruir.
É também um orgulho a nível nacional, a organização de uma Olimpíada ou de um outro mega evento. A reação popular ao anúncio da cidade ou país vencedor é disso reveladora. Orgulho em acolher os outros, em mostrar o melhor das suas terras, em mostrar competência organizacional. Um orgulho visível em Londres, naturalmente. Um orgulho em fazer uma grande festa, para todo o mundo. E nós recebemo-la e dela participamos, ávidos de alegria. Evadimo-nos com estes acontecimentos, pois então. E não voltaremos ao mesmo lugar em nós mesmos. Teremos, com toda a certeza, crescido.

2 comentários:

  1. Os JO são praticamente a única manif desportiva que me mantém colado ao ecrã. Às vezes até a dois, pois enquanto vou vendo as provas, vou visitando os blogs....

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  2. Sempre gostei muito. E imagino que vivê-los in loco seja uma experiência fantástica... é a tal festa universalista de que falava.:)

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