junho 18, 2013

Serenidade versus sofrimento


É um facto que a serenidade, natural ou cultivada, foge quando se mergulha na realidade mais indesejável ou mesmo cruel. Saber significa sofrer, já sabíamos e confirmamos, infelizmente, saber o que é ou o que vai ou o que não sabíamos significa sofrer. Vai-se a serenidade, até porque não podemos, não conseguimos, manter a indiferença. Saber significa atuar, até querer mudar o mundo. E isso não é fácil, ou pior, nem será possível, sempre, ou quando e como queremos. Daí que não me surpreenda as pessoas construírem para si mundos onde não sofram, como fuga ao real que as faz ou possa fazer sofrer. Saber e atuar, porque há que atuar, sofrer. Ou não saber e não atuar, não sofrer. A primeira escolha é legítima, do ponto de vista da justiça e da verdade, a segunda não o será menos do ponto de vista da saúde emocional, até da sobrevivência. Atuar significa, ou pode significar, a sobrevivência de muitos, não atuar significa, pode significar, a nossa própria. Saber chuta a serenidade. Resta saber se queremos assim estar sempre, serenos e não atuantes, porque desconhecedores, ou perturbados e atuantes, porque sabemos. E resta o meio termo, que assegurará meia serenidade e meio sofrimento. E sobrevivências q.b. para estarmos e irmos indo.


8 comentários:

  1. Vem Serenidade(...)carrega para a cama dos desempregados, todas as coisa verdes, todas as coisas vis(...)

    Raul de Carvalho
    In: Vem serenidade

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    1. Lindíssimo e uma alusão "na mouche", como é seu apanágio, em relação ao post e a tudo isto que nos rodeia. "Vem cobrir a longa fadiga dos homens..."

      Vou colocar aqui um extrato:

      "Vem, serenidade,
      e faz que não fiquemos doentes, só de ver
      que a beleza não nasce dia a dia na terra.

      E reúne os pedaços dos espelhos partidos,
      e não cedas demais ao vislumbre de vermos
      a nossa idade exacta
      outra vez paralela ao percurso dos pássaros.

      E dá asas ao peso
      da melancolia,
      e põe ordem no caos e carne nos espectros,
      e ensina aos suicidas a volúpia do baile,
      e enfeitiça os dois corpos quando eles se apertarem,
      e não apagues nunca o fogo que os consome.
      o impulso que os coloca, nus e iluminados,
      no topo das montanhas, no extremo dos mastros
      na chaminé do sangue.

      Serenidade, assiste
      à multiplicação original do Mundo:
      Um manto terníssimo de espuma,
      um ninho de corais, de limos, de cabelos,
      um universo de algas despidas e retracteis,
      um polvo de ternura deliciosa e fresca.

      Vem, e compartilha
      das mais simples paixões,
      do jogo que jogamos sem parceiro,
      dos humilhantes nós que a garganta irradia,
      da suspeita violenta, do inesperado abrigo."

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    2. Lindo, não é? O jrd contribui e de que maneira para estas coisas :)

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  2. A indiferença corrompe

    Serenidade não é indiferença

    Pelo sonho é que vamos

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  3. Que belo e poético, Eufrázio. Obrigada.

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  4. O equilíbrio é sempre o ideal, mas vivem-se tempos em que não resta outra opção senão atuar! Marla

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    1. São os tempos e o que fazem deles, porque, no fundo, são mesmo os (des)humanos. :) :(

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