fevereiro 27, 2013

Sim e não



Há pessoas facilmente escravizáveis. Sempre pensei isso. E não estou propriamente a referir-me à história e às relações de poder que ficaram famosas, às relações de domínio em que um subjuga muitos outros por via política. Estou mesmo a referir-me ao dia a dia que podemos observar, a pessoas como nós e que, no entanto, têm dificuldade em dizer não, em recusar um pedido, em atrever-se a não fazer o que dela esperam. A generosidade é uma das maiores virtudes. Preciosa, cada vez mais rara. O desvelo pelos outros e a abnegação também são qualidades. Mas a meu ver a primeira implica uma escolha, uma vontade consciente, um ato de liberdade. A segunda e a terceira, sobretudo, parecem encerrar um laivo de abandono às próprias vontades e necessidades, um submeter à vontade de outrem mais do que o desejável, e nem sempre isto será comportável.
Pensar nos outros, ajudar os outros, colaborar, agradar, tudo são dimensões maravilhosas, que descentralizam o ego e contribuem para o bem estar comum. Mas a bondade, a amabilidade, o espírito de entreajuda não significa, não pode significar, indulgência a tempo inteiro. Ou ingenuidade. Porque há quem use e abuse das pessoas que baixam as defesas, que estão sempre disponíveis, que não conseguem rejeitar o apelo, por vezes malévolo ou egoísta, de um outro. Sim, exigir de quem é benevolente sem parar é ser egoísta, é não ver que a bondade pode ser contrária a uma necessidade e timing pessoais. Exigir sempre e nunca deixar escolher é errado, assim como aceder sempre e nunca opor-se também o é. E falar de amor ou amizade ou lealdade como desculpas para quem exige e para quem dá também não é suficiente. Quando se gosta não se escraviza. Não pode, não é isso que significa gostar. Ou respeitar.
Claro que as pessoas que nem sempre estão disponíveis, que conseguem dizer não, que também pensam nas suas próprias exigências não são nunca tão populares. Claro. Mas que quem é popular dessa forma saiba que esse tipo de afeição é mais um amigalhaço porreirismo do que uma verdadeira admiração. Resume-se a isto. A generosidade está no patamar das qualidades maiores. Mas a complacência ingénua e quase masoquista não. É preciso saber dizer não. Porque simplesmente há quem precise de ouvir não.

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