fevereiro 24, 2013

Estranha forma de fé


As 1001 interpretações da renúncia do papa que por aí se leem maçam-me. Primeiro porque não é um assunto que me inquiete, segundo porque foi dita a razão e não há porque não acreditar nela. As teorias da conspiração nunca foram do meu agrado, a igreja não faz parte das minhas preocupações e o que tenho a dizer é que ele é livre de o fazer e que demonstrará inclusive bom senso. Não estamos é habituados a que alguém com poder o faça. Achamos sempre que há coisas mais obscuras por trás, ao invés de o vermos como um exemplo, sempre nobre, de desapego ao poder. Está velho e cansado, renunciou, fim da história.
É verdade, a igreja, naquilo que é e se transformou ao longo dos tempos, não me interessa. E sei porquê. Estava a ler Alberoni quando o descobri, ou confirmei, mais isso. Há quem viva a religião ao nível da superfície e quem a viva ao nível da profundidade, diz o sociólogo. O primeiro nível engloba os ritos e rituais, as práticas coletivas, a igreja como instituição e impulsionadora de certos comportamentos em detrimento de outros, tudo aquilo que não me diz nada. O segundo nível tem a ver com a questão da espiritualidade, a vivência da fé a um nível íntimo, sentido, inspirador e moldador de valores refletidos e interiorizados. Se acredito? Acredito. Deus, e mesmo Jesus, que considero uma figura extraordinária. Católica por geografia, nascimento, educação, meio. Não me deu para mudar, contudo, para quê, continuaria a não gostar do nível da superfície, demasiado rebelde para aceitar dogmas e ideias que são contrárias à liberdade, respeitadora, tolerante. Aglomerados em forma de romaria também não fazem o meu género. Mas cultivo a solidão e o silêncio de uma igreja vazia ( e o mesmo pode acontecer numa mesquita ou sinagoga, não vejo diferença). A minha espiritualidade é do estilo ecuménica, universal, e existe porque me reconforta. Quem não acredita e é feliz e faz o bem, ótimo. Quem acredita e idem aspas, o mesmo. Como eu. Agora tudo o resto que vai para cerimónias e afins, passando por padres que pouco me dizem, passo. Daí que me passe ao lado esta questão da sucessão papal. Ou talvez não totalmente. Se o sucessor for africano ou libanês parece-me bem. Por causa da tal universalidade que aprecio e que é bem precisa entre religiões, credos e raças. Rezo interiormente, pois, para que o mundo se torne melhor, a nível mais profundo.

8 comentários:

  1. Nasci católica e creio em Deus, mas, há muito que não vou á missa.Quando um padre falta com a sua palavra, quando é ele que deve dar o exemplo,mas isso é uma história...Para mim padres, bispos, cardeais,ou até o Papa, são só homens, a Igreja tem que evoluir.Bjs.

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    1. Prefiro a igreja vazia do que a missa...isso diz muito, ou tudo. :)

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  2. Não sou crente e talvez por isso atrevo-me a dizer que a Religião tem cada vez mais dificuldade em resistir à igreja.

    Abraço

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    1. Bem pensado e dito, jrd. E não era assim que devia ser...

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  3. Palavras para quê? estamos todos de acordo. Agostinho Gomes

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    1. Todos não estaremos mas é o que penso :) Bem-vindo, Agostinho :)

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  4. Subscrevo cada palavras. Penso tal e qual como tu em relação a todos os tópicos abordados.
    Marla

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