fevereiro 20, 2013

Antes do amadurecer

                         

Tenho conhecido de perto gravidezes precoces, em idades e circunstâncias que não comportam a criação de um filho, tanto a nível financeiro como em termos de maturidade psicológica. Algumas destas jovens mães (e pais) são maiores de idade - 19, 20, 22 anos - mas ainda estudantes, alguns deslocados do seu país e das suas famílias e com pouquíssimos apoios. Na qualidade de diretora de turma, sobretudo, conversei várias vezes com alguns rapazes e raparigas sobre este tema, alertando-os e relembrando-os dos aspetos a ter em conta para viverem a sua juventude sem riscos e assegurarem condições de vida que passe por segurança material (pois, sobretudo nestes tempos) e liberdade de escolhas. 
As minhas palavras (e certamente a de outros adultos, inclusive professores) não têm surtido o efeito desejado, nalguns casos. Não que elas tivessem de ter esse poder, o de traçar destinos um bocadinho mais pensados, mas porque era bom, muito bom, que não visse depois os rostos apreensivos por causa de situações novas, situações que não souberam prever, antever, controlar. Situações para as quais denotaram um incrível desconhecimento em pleno século XXI, com as tecnologias e a informação que elas permitem na ponta dos dedos. Porque vamos acreditar que a maior parte dos deslizes acontece por desconhecimento. Ainda e apesar dos tempos e lugares mais esclarecidos, teoricamente.
Se por desconhecimento, adolescentes ou jovens adultos ainda (sem qualquer tipo de independência económica nem maturidade emocional) escorregam na parentalidade, ainda vamos compreendendo, ou melhor, vamos mostrando-nos compreensivos e ajudando no que é possível. Mas há casos em que me parece que continuam a ser jogadas expetativas amorosas desta forma. Dá-me a ideia de que, para algumas raparigas, esta ainda parece ser a forma de garantirem que o rapaz fique a seu lado. Ora, nada mais errado. Se os amarram para sempre por meio de um vínculo de sangue e alguma obrigação financeira para com uma criança em comum, não os prendem pelo afeto, pelo menos porque eles ainda não se querem prender, e isto é bem pior. Fantasiar o futuro a partir desta premissa é uma tontice.
Conversei com um, por exemplo, que não queria seguir as pisadas do pai, que os abandonou há muito tempo e que tem filhos da companheira atual e é a eles que se dedica. Viu-se ele próprio depois numa situação que, a mim, não me parece comportável, a longo prazo. O seu rosto cabisbaixo, a sua energia e alegria habituais completamente anuladas, o seu receio pelo futuro, um futuro de alguém que não queria - nem saberia - ser pai ainda. Um filho é uma alegria e uma benção mas tudo tem a sua altura certa. Consoante as circunstâncias que envolvem cada um, num preciso momento. Imagino que a mesma apreensão assalte a jovem mãe. Mas o que importa é que nenhuma criança seja fruto de uma armadilha. Porque não funciona. Não funcionará para ninguém. E isso é que me dá voltas ao estômago.

6 comentários:

  1. E ainda dizem que o verde é esperança. Neste caso não é certamente.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Verde de inexperiência que os surpreende antes do tempo...

      Eliminar
  2. Perdoe-me Fátima, mas não acredito que seja por desconhecimento. Acredito que talvez a questão passe por uma certa apatia por parte dos pais em relação aos filhos. Sem querer cair em generalizações.

    Faz-me alguma confusão que miúdos de 12,13,14 anos já frequentem a noite, onde se sabe os excessos são mais do que muitos, uma bebida a mais, leva por vezes a que a coisa acabe por descambar numa gravidez indesejada. Se procuraram tal situação? Não me parece. Se aconteceu por desconhecimento? Também não me parece.

    Um dia gostava que uma mãe me dissesse, como é que consegue dormir tranquila sabendo que a filha com 12/13/14/15 anos está lá fora, na noite. Numa idade em que achamos que somos adultos e, só mais tarde nos apercebemos que é completamente ridículo tal coisa acontecer.

    Aos 19/20/21/22 anos serem considerados maiores de idade, sim com certeza, se entretanto tiveram um bom suporte em casa. Porque a não acontecer, a idade aqui, é meramente um carimbo para um estado que de maior não tem nada.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Desconhecimento de que a realidade é diferente do que fantasiam... Porque não pensam e facilitam. Mas, maria, ainda há muita ignorância e mitos, acredite... pelo menos aqui na "província".
      Quanto ao resto, concordo, claro.

      Eliminar
  3. É exatamente assim que penso... Entristece-me e aflige-me saber que certos jovens não saibam o que os espera e que "atropelem" a sua vida... A vida merece ser vivida de outra forma e podem condenar-me à vontade, mas uma gravidez precoce, para mim, não devia, de todo acontecer... Lília

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Aflitivo, sim, porque as consequências estão muito longe da visão idílica inicial que os acompanha...

      Eliminar