outubro 05, 2012

As novas vidas


A maternidade (e acredito que o mesmo se possa dizer da paternidade) traz-nos grandes e pequenos prazeres, pequenos e grandes pânicos. Passamos a dar valor a pequenas coisas que passamos a fazer e enchemos o coração com um afeto maior do que tudo. Passamos a preocupar-nos com pequenas coisas que não faziam parte do nosso rol de preocupações e ganhamos grandes medos face a outras realidades. Relativizamos coisas que antes nos angustiavam e tememos outras que antes não nos atemorizavam. Tornamo-nos mais serenas e também mais stressadas. Ganhamos forças e perdemos coragem. Reforçamos o nosso mundo de sentimentos e perdemos o sentido de aventuras. Já não queremos estar em todo o lado e queremos estar sempre ao seu lado. Pois os filhos trazem essa transformação, interior e exterior, com marcas visíveis na atitude e na postura perante as maravilhas ou dificuldades da vida.
Pessoalmente, tornei-me mais serena, menos impulsiva, menos aguerrida. Provavelmente menos corajosa e certamente menos aventureira. Não estou sempre a desejar viagens e estar em locais diferentes, nem me apetece ir ao outro lado do mundo, à procura de sensações diferentes. Pelo menos, com a mesma intensidade ou frequência. Passei a viver pequenas coisas quotidianas com outra perspetiva, com entusiasmo, pois olha-se o mundo pela segunda vez. Assim sendo, descobrimos coisas há muitos esquecidas ou aprendemo-las pela primeira vez, já que nos é naturalmente exigido que ensinemos o que sabemos, e o que não sabemos, aos nossos filhos. Também não me exponho tanto a confusões, profissionais ou outras, porque a serenidade é maior e aprendemos a gerir e a centrarmo-nos no que verdadeiramente importa.
Há, pois, uma centralização muito grande em torno da família. A dispersão de espaços e atividades e a socialização de que antes fazíamos questão, saem afetadas. Há quem consiga ainda gerir os dois mundos, o familiar e o social quase de igual forma, mas para quem trabalha e tem responsabilidades várias, torna-se mais difícil. Obviamente que temos todos de matar saudades da vida social de vez em quando mas não é possível fazê-lo com a mesma intensidade se se respeitar os horários vários de crianças e todas as suas necessidades. Ao mesmo tempo, há muitas vezes a preferência por ficar em casa, em família, porque a necessidade de acompanhamento é natural e é saudável que assim se faça.
Quando não se tem filhos, não se sente a falta, já dizia uma grande amiga. Mas quando se tem a falta é quase permanente. Não se está mais completo, e não é uma mera questão de saudades, é mais do que isso. É a preocupação constante com o seu bem-estar, a certeza de asseguramos a sua segurança e podermos protegê-los de possíveis perigos. O mundo lá fora surge agora como algo perigoso, de uma forma que não antevíramos antes. E dessa forma queremos manter-nos por perto.
A maternidade (ou, mais alargado, a parentalidade) é o grande teste da vida. Há um antes e um depois. Uns dias mais atarefados e cansativos, uns dias menos glamourosos e ousados mas sempre compensadores e felizes. Porque é, afinal de contas, a grande aventura.

escrito para o bahiamulher

9 comentários:

  1. Quando eu souber, comento! ;)
    Sagi

    ResponderEliminar
  2. A maternidade é para toda a vida,o sentimento fica, a falta, a necessidade de proteger, a preocupação...depois, tudo isto se deve compadecer e conviver com outros quereres, asas que querem crescer e voar, contrariar, ser diferente. É uma viajem, uma aventura com muitas peripécias. :)))

    ResponderEliminar
  3. Já passei por isso. Agora sinto assim:
    http://bonstemposhein-jrd.blogspot.pt/2011/10/e-o-mundo-ficou-melhor.html

    Abraço

    ResponderEliminar
  4. É isso mesmo amiga! Nada mais é igual... Lília

    ResponderEliminar
  5. Regina, é uma aventura, sim - a maior:)

    jrd, já espreitei e comentei in loco:)


    Pois não, Lília...:)

    ResponderEliminar
  6. ..."Não se está mais completo!"
    E aprende-se, sente-se o verdadeiro sentido de amar incondicionalmente, de dar a vida por...
    Adorei!
    Beijinhos

    Ana

    ResponderEliminar
  7. "Quando se tem a falta é quase permanente". Que definição magnifica da maternidade e da paternidade. A maior bênção nesta vida são os nossos filhos, tudo o resto é acessório.
    Adorei o post.Beijinho

    ResponderEliminar
  8. Queridas Ana e Helena, muito obrigada pelos vossos beijinhos, que retribuo a dobrar, e por terem gostado. São a nossa benção maior, sim. *****

    ResponderEliminar