novembro 17, 2011

RETROperSPETIVA

Não sou grande fã de objetos retro (a não ser que sejam pop art) e detesto antiguidades. Para falar a verdade, estas deprimem-me. As feiras de velharias que proliferam por aí, e que acho muito bem que se façam, não são poiso para mim. A falta de brilho, as coisas velhas, a quinquilharia decadente, a inutilidade de grande parte delas, as coleções que não me dizem nada - moedas, postais, mais moedas, selos, moedas e mais selos, um pavor. Para mim, leia-se.
Não gosto de decorações antigas, sobretudo se tiver que me mover entre elas por algum tempo. Uma coisa é um luxuoso hotel decorado ao estilo século XIX, outra é ter em casa escrivaninhas do século XVII, uma cama do século XV e ainda um baú da época medieval. Credo. E quadros antigos? Daqueles que não são Van Goghs nem Klimts nem nada de geniais telas? Não gosto, não gosto. Prefiro o décor moderno, amplo, espaçoso, estilo lounge. Casas empilhadas de tralhas velhas põem-me, a bem dizer, doente.
Mais. Termas à antiga, fugir. Spas século XXI, sim, ir.
Parques com bancos antigos revestidos a antigos azulejos agora partidos convidam-me a ir para outro local. Fugir.
E bares vintage, que estão tão na moda? Fugir ou ir?
Bem, cafés vintage podem ser altamente estimulantes, mas tudo dependerá do grau de conservação e manutenção do espaço. Ou seja pode ter elementos decorativos de décadas ou séculos passados mas há que haver ali uma estética, um estilo que convide ao conforto, ao bem estar. Sem isso, nada feito. O Mercado Negro é um bar muito apreciado por uma certa élite universitária e não só e, porém, não gosto (certamente que o bar também não gosta de mim, não estou, pois, a fazer ninguém sofrer). Entro lá e só a visão daquela cozinha antiga, em estilo quase degradado, transformada em bar, gosh. Não gosto muito de cozinhas e muito mas muito menos de cozinhas antigas. (Nem de cebolas penduradas do teto - leia-se tecto - nem de alhos nem de chouriços nem nada parecido a pender.) Nossa senhora.
E feiras com roupa em segunda mão? Depende. Uma vez em Londres comprei umas camisolas numa dessas feiras. Vesti-as com um gosto tal, achei que era mesmo muito in, muito cool, muito londrino. Mas por cá confesso que não pratico, não sei. Será porque não há uma Candem Town por aqui perto? Deve ser.
Não sou, portanto, apreciadora de coisas usadas e de mobilário e bibelots que já tiveram o seu tempo.
Contudo, CONTUDO, adoro filmes de época. Estranho, não? Pus-me a pensar em mais esta grande incongruência minha. E talvez possa dizer-vos que é por me permitirem fazer uma viagem. Sempre gostei da ideia da máquina do tempo, que me pudesse transpor facilmente para uma qualquer época passada à minha escolha. E porque me permitem sair da realidade urbana, do frenético ritmo da sociedade atual. Viajo e ausento-me, vou para outros lados, conheço outros tempos e vivo outras histórias. E já agora viva o cinema de época e os filmes do passado. Dos quais gosto, claro, cresci a ver clássicos, inclusivamente a preto e branco. (Ah, gosto de fotografias antigas, de as ver. Mas não de as ter espalhadas pela casa, como já era de calcular.)
Viagens ocasionais ao passado, vistas no grande écrã, sim. Décor antigo, sem laivos de modernidade ou exotismo, sem espaço e sem design ... não. Ele há coisas.


4 comentários:

  1. Concordo contigo inteiramente! Brilhante como sempre! Gracinda

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  2. Bem apanhado! :))) Luísa

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  3. Velharias, antiqualhas e tradições são muito boas para serem eliminadas. Passar uma noite em alguns quartos de caríssimas pousadas históricas cheias de arte sacra e reposteiros e móveis grandes altos e escuros, só se fosse para ter pesadelos.
    Filmes de época e livros históricos - quanto mais politicamente incorrectos melhor- pode ser. Já filmes "do tempo dos Lumiére" só por interesse científico porque eu tenho olho clínico e descubro logo as falhas que a tecnologia da época deixa tristemente expostas. Enfim, sou muito à frente. Para a frente é que é o caminho. Retro é mesmo isso, para trás. Not for me, please!
    Sara

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  4. Pois, é deprimente uma coisa chamada degradação:::))) A sério, tenho pavor a ambientes decorados ao toque da antiguidade :) e parados no tempo. Jesus. (em inglês) Se for moderno com toque retro aí é diferente, há um design, há uma releitura, geralmente bela, do passado. Agora velharias e antiques (inglês, outra vez), passo. :)

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