agosto 16, 2011

Ocidentalismos - versão 2


O texto anterior debruçava-se sobre uma certa forma de radicalismo. Mas há outras e este é sobre o contrário, ou seja, é acerca da visão colonialista e arrogante culturalmente que muitos revelam na blogosfera. Tal como os anteriores, também devem estar estes submersos em ideologias muito vincadas ou muito próprias. Vêem no "ocidente" todas as maravilhas do planeta e nos outros pontos do mundo e seus habitantes todos os males. Acham que o colonialismo não existiu ou foi ´meiguinho´, que os "nossos valores" são os mais corretos e que a "nossa civilização" é superior. Desta forma todos os que chegam à Europa e aos EUA vindos de outros continentes e culturas vêm, necessariamente, conspurcar a perfeita sociedade que os caracteriza. Estes comentadores e bloguistas são, desta forma, contra a Imigração (mas não tanto contra a E) e contra o multiculturalismo, pois defendem que as pessoas de outras raças e religiões não se integram, fazem distúrbios e até que são inferiores inteletual e moralmente. São indivíduos assim que muitas vezes insistem numa guerra de civilizações, num confronto entre culturas.  Escusado será dizer que fico aterrada com estas formas de intolerância e desconhecimento...
As pessoas, em todo o lado, têm basicamente as mesmas aspirações, sonhos e delírios. Podem estar marcadas pela sua cultura em determinados aspectos, mas na sua essência, terão anseios muito semelhantes. Valores como a liberdade, a paz, a família, e objectivos como ter uma vida digna ou um pouco mais, são transversais. Dizer que viver numa sociedade livre resulta de intrínsecas características culturais é ridículo e ao mesmo tempo inaceitável. A recente revolução árabe é prova disso... Todos os povos podem funcionar em liberdade e democracia, se conseguirem lutar por elas e a elas tiverem acesso. Colocar as suas culturas num plano inferior é hediondo. Podem estar em diferentes níveis de desenvolvimento, isso sim. Há que lhes dar tempo, em muitos casos. Mas a natureza humana é revestida do mesmo material e por isso sou adepta da multiculturalidade, pois só pode enriquecer e renovar as sociedades. Mas para isso há que manter uma atitude aberta, tolerante, curiosa e construtiva. Do lado dos "ocidentais" e do lado dos que imigram, nomeadamente.
Tudo isto para renegar estes pensamentos de direita extrema (no anterior refutava a visão de uma extrema esquerda). A noção de superioridade cultural não é própria dos humanistas, dos sábios, dos conhecedores, dos verdadeiros viajantes, do planeta e da alma. O "ocidente", com tudo o que tem de bom na sua democracia não perfeita, não pode julgar-se dono do mundo nem impor os seus padrões de vida. Prefiro vê-lo como um conceito primeiramente geográfico e reconhecer as suas qualidades mas não esquecendo que as outras regiões e culturas também as têm e que em muitas delas ainda há um tempo que é preciso decorrer. Aos extremistas que são cruelmente etno e geocêntricos aconselha-se a conhecerem, a misturarem-se, a aprenderem, a refletirem, a serem humildes, despertos, positivos e generosos... Só assim a tolerância, a visão, a construção e a justiça poderão emergir.

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