agosto 11, 2011

Ocidentalismos


As pessoas falam muito ou escrevem ainda mais mas a verdade é que a Europa e os EUA continuam a atrair gente de todo o mundo. Ou seja, por muitos defeitos que tenham, a vida que permitem ainda é melhor do que a permitida em muitas nações. Sim, há uma absoluta crise de valores:  há um consumismo doido, há frieza e arrogância nas relações humanas, há má-educação e agressividade, há um acelerado ritmo de vida e de trabalho doentio porque exagerado em muitos casos, há ausência de reconfortantes afetos, há um sem número de coisas que tem tornado estas sociedades longe do ideal que muitas vezes apregoam (acrescentando-se  os crescentes  problemas económicos).
Mas vejamos. Muitas das pessoas que criticam a torto e a direito tudo o que é ocidental (para mim, noção geográfica, primeiro que tudo), com ódios fossilizados que saltam à vista, fruto por vezes de ideologias muito marcadas e que lhes roubam a independência de espírito, não saberão concerteza o que é viver na Somália e no Corno de África, no Iraque, na Síria, na Líbia, no Haiti, nas Filipinas, no Afeganistão, no Yémen, e isto para não apontar muitos mais nomes de países cujas situações são complicadas por diversas razões. Ora nestes e noutros locais luta-se por uma sobrevivência a vários níveis. Guerra, fome, seca, corrupção, censura, opressão, medo, terror, pobreza, tudo a um nível extremo que porventura nunca experimentámos, nestes tempos modernos em que se esperava que coisas deste género estivessem completamente erradicadas.
Daí que fazer acusações primárias, baratas e desprovidas de reflexão seja fácil e cómodo. Não são estas democracias ocidentais, perfeitas. Bem sabemos que não. Mas entre elas e muitos outros sistemas negadores das essenciais liberdades e dos essenciais bens, escolhamos as que melhor nos convêm. E parece-me que a resposta é clara. Os fenómenos migratórios (com e ou com i) explicam essa preferência. Vem este pequeno apontamento a propósito das leituras que faço dos jornais online. Os comentadores disparam sobre a Europa e os EUA como sendo os responsáveis por todos os males do mundo. São, de facto, responsáveis por acções erradas e por exportarem modelos  de vida aparentemente perfeitos mas não estão sozinhos.
As viagens que fiz fisicamente e ainda faço culturalmente mostram-me que há pessoas maravilhosas por esse mundo fora, autênticas nas sua simplicidade, longe da cultura do consumismo vazio e agressivo. Mas e que tal não esquecer também, em muitos desses locais, que há ditadorzecos fora do normal, nacionais e locais, carniceiros e algozes, corruptos e egoístas, fantoches e idiotas, que oprimem e reprimem, usam e abusam, mantendo as suas populações no obscurantismo, na ignorância, no medo, na pobreza, no atraso, no desespero? Sem leis que as protejam, sem direitos, sem dignidade, sem vida? Caros comentadores...apanhem o avião e experimentem viver assim. Longe da zona de conforto que tanto denigrem. Depois digam alguma coisa, se entretanto tiverem sobrevivido. Cá vos esperamos com as vossas sábias tiradas.

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