
Mas vejamos. Muitas das pessoas que criticam a torto e a direito tudo o que é ocidental (para mim, noção geográfica, primeiro que tudo), com ódios fossilizados que saltam à vista, fruto por vezes de ideologias muito marcadas e que lhes roubam a independência de espírito, não saberão concerteza o que é viver na Somália e no Corno de África, no Iraque, na Síria, na Líbia, no Haiti, nas Filipinas, no Afeganistão, no Yémen, e isto para não apontar muitos mais nomes de países cujas situações são complicadas por diversas razões. Ora nestes e noutros locais luta-se por uma sobrevivência a vários níveis. Guerra, fome, seca, corrupção, censura, opressão, medo, terror, pobreza, tudo a um nível extremo que porventura nunca experimentámos, nestes tempos modernos em que se esperava que coisas deste género estivessem completamente erradicadas.
Daí que fazer acusações primárias, baratas e desprovidas de reflexão seja fácil e cómodo. Não são estas democracias ocidentais, perfeitas. Bem sabemos que não. Mas entre elas e muitos outros sistemas negadores das essenciais liberdades e dos essenciais bens, escolhamos as que melhor nos convêm. E parece-me que a resposta é clara. Os fenómenos migratórios (com e ou com i) explicam essa preferência. Vem este pequeno apontamento a propósito das leituras que faço dos jornais online. Os comentadores disparam sobre a Europa e os EUA como sendo os responsáveis por todos os males do mundo. São, de facto, responsáveis por acções erradas e por exportarem modelos de vida aparentemente perfeitos mas não estão sozinhos.
As viagens que fiz fisicamente e ainda faço culturalmente mostram-me que há pessoas maravilhosas por esse mundo fora, autênticas nas sua simplicidade, longe da cultura do consumismo vazio e agressivo. Mas e que tal não esquecer também, em muitos desses locais, que há ditadorzecos fora do normal, nacionais e locais, carniceiros e algozes, corruptos e egoístas, fantoches e idiotas, que oprimem e reprimem, usam e abusam, mantendo as suas populações no obscurantismo, na ignorância, no medo, na pobreza, no atraso, no desespero? Sem leis que as protejam, sem direitos, sem dignidade, sem vida? Caros comentadores...apanhem o avião e experimentem viver assim. Longe da zona de conforto que tanto denigrem. Depois digam alguma coisa, se entretanto tiverem sobrevivido. Cá vos esperamos com as vossas sábias tiradas.
Sem comentários:
Enviar um comentário