fevereiro 29, 2012

Green


Lovely place.
Absolutely.
Feeling ... blue?
I´m in blue.
What´s the difference?
Well..., there´s hope.

Cidade aberta

 

Hoje vim para casa tarde, muito tarde. Uma consulta que atrasou e que me fez deambular um bom bocado pela cidade. Como já não fazia há anos, àquela hora, em dias de semana. Em que todos voltam para casa para jantar e muitos para  recolher, e há uma paz, uma ausência de ruído, sem carros, sem pessoas, só as luzes da noite e os edífícios, eu e pouca gente mais, alguns apressados que não queriam estar ali. Dei por mim a sentir saudades de outros tempos, mais vagabundos, mais libertos de responsabilidades, não mais felizes, mas diferentes porque disponíveis para sentir o pulsar da cidade e das suas milhentas sensações.
Também não deixei de reparar nas ruas impecavelmente limpas, ordenadas, comparando com outros locais espalhados pelo mundo onde já estive, somos felizardos, pensei, que bela é esta cidade. Já foi minha e continua a ser, um pouquinho, embora viva numa outra pequenina, bem pequenina, cinco minutos ao lado. Como pode ser magnífica uma cidade à noite, ruas vazias mas a cheirar a vida, de alguma forma. Nem sempre aprecio as ruas desertas, quando o que procuro é movimento e cor. Mas hoje soube-me bem ser eu praticamente a única protagonista daquela zona, sentar-me numa pastelaria sem ninguém, olhar para as montras, sentir uma estranha porque avassaladora calma para quem ainda tinha de ir buscar o filhote e trazê-lo ensonado para casa quando nos espera mais um dia preenchido amanhã.
O país e a vida são por demais bonitos. Haja tempo para os apreciar. Corre-se em demasia e gente a mais atrapalha a contemplação. Nada como poder percorrer as calçadas sozinho para respirar a beleza e o encanto. Mas isto são considerações de quem passou o dia enfiada em casa e saiu só porque teve de ir ao médico. Não interessarão, certamente, a  ninguém.

fevereiro 28, 2012

Mulher



Nenhum mundo é perfeito. Que tal o melhor dos dois?
Vá, comecemos a listar os prós e os contras do campo e das épocas vitorianas deste mundo e os da cidade e da vida moderna. Depois diga qual ganhou. Todas as respostas serão válidas e aceites, para que conste.

Contra o relógio

art, broken, clock, clockwork, design, fire
Nunca fui de rituais. Fazer as coisas àquela hora, naquele dia, ir àquele sítio em especial amiúde porque me habituei muito a ele e não o troco por outro, criando hábitos de anos, décadas até. Nunca percebi se isto é bom ou mau, já agora.
Estamos a falar de tempos livres, de lazer, de tarefas que não pertencem ao exercício da função laboral e do seu espaço. Há pessoas que dizem ler o jornal no sábado depois do almoço, fazer um jogging ao entardecer de sexta feira, ou ainda caminhar à beira mar pela manhã cedo ao domingo, ir àquela pastelaria todos os dias (bem eu vou mas é para comprar pão perto de casa, mesmo assim também compro noutras). Que gostam de se organizar, e muito bem, segundo horas e dias, que são fiéis a um local, a um costume.
Outras há que fazem coisas e vão a sítios sem qualquer tipo de obrigatória fidelidade, desde cabeleireiros e supermercados e lojas, como é o meu caso. Quer dizer, há um cabeleireiro a que vou desde há anos mas é porque é o menos caro dentro do que conheço na cidade e como é homem e já de uma certa idade elimina, perdoe-me o mulherio, aquelas conversas de secador na mão muito concentradas na vida alheia e na intimidade da minha própria, que podem ser bastante inconvenientes.  Também há quem diga que nunca faz compras naquele dia ou naquela hora, e com toda a razão, mas eu posso fazê-las em qualquer dia caso absolutamente necessite ou até me apeteça. Se há coisas que faço como ir para aquela praia regularmente, por exemplo, é mais por sentido prático, mais perto, fácil de estacionar, falta de tempo e de pachorra para mais demoras. 
Fora do trabalho, não gosto de ter dias nem horas marcadas para nada. Não gosto de ter de ser fiel a sítio absolutamente nenhum. Gosto de explorar, de pasmar, respondendo aos impulsos e aos ócios em simultâneo. Perdem-se alguns encontros, ajuntamentos, convívios, cafés tomados em grupo. Mas a minha necessidade de espaço de movimentos e de inexistência de horários não permite mais. Como gosto de fazer o que me dá na real gana. Sozinha muitas vezes, é certo, ninguém tem de, nem conseguiria, seguir os meus impulsos de última hora, mas livre, libérrima. Desritualizada, sem relógio. Fluir, ao sabor do meu imprevisível conjunto de vontades e necessidades. Que me sabe tão bem, embora não seja socialmente amistoso nem profícuo e revele uma desastrada organização na gestão do tempo.
Independências, para o melhor e para o pior. 

fevereiro 26, 2012

O novo mundo




Porque sem ele - um continente desbravado por uma velha Europa - não haveria noite de óscares. Ainda por cima se feito de poesia. Voltarei a ele, mais tarde e sempre. Ao filme de Terrence Malick, naturalmente neste caso.

Acentuando

As caixas de comentários na blogosfera são de interessante análise. Não me apetece agora fazer nenhuma, mas que são ricas em diversidade, isso são. Ou por serem acutilantes, ou serenas, ou catastrofistas, ou divertidas, ou informativas, ou desafiadoras, ou sábias, ou um desastre, há de tudo. E ainda bem. Gosto de comentar ainda que não seja possível fazê-lo sempre (vontade não falta). E são realmente importantes para quem escreve, dão-nos um feed back que nos faz continuar e melhorar, à partida.
Tenho achado piada aos comentários, de pessoas que obviamente não conheço, anónimos e parecidos, em relação ao AO. Estou fora dessa guerra e entristece-me ver argumentos às vezes um bocadinho passionais, a necessitar de alguma humildade, abertura e racional frieza, simultaneamente. Mas cada um é livre, em relação ao tema, e escreve como quer, para já, e há que respeitar as opiniões - claro que também as de quem não faz disto uma cruzada, já agora. Até porque bem colocadas são igualmente válidas.
Mas o mais engraçado é verificar que no calor das sentimentais investidas aparecem coisas extraordinárias como: eu sou contra o AO porque defendo a minha língua, o saber escrever bem, o respeito pela fonética  e a fonologia, pelas regras, e a seguir vem isto estéticamente é muito mau e não sou capaz de faltar á palavra e..e... tantos outros. A mim aflige-me que quem diz escrever bem (porque) em acérrimo desacordo cometa estas incorreções. Ou será que em vez de tirarem acentos preferem colocá-los, como no primeiro exemplo? Era melhor tirá-los, no caso da preposição. Falta esta mudança, facilitaria a vida a muita gente. Que diz querer preservar a sua língua, claro. Imagine-se se intencionassem o contrário.

Animação

 
Que saudades...
E por causa delas, no outro dia pus-me a mostrar ao pequeno os primeiros episódios da Heidi nas montanhas via youtube. Penso que gostei mais do que ele, pois, passado algum tempo, ele já não quis continuar. Vá lá imaginar-se porquê.

fevereiro 25, 2012

Arte, para além da sétima

"Se se ganha dinheiro, o Cinema é uma indústria. Se se perde, é uma Arte." Millôr Fernandes.
Tirado do blogue de Pedro Rolo Duarte



Amanhã é dia da sétima arte ser premiada. Portanto, e tal como diz o Pedro, isto calha mesmo bem. Mas esta frase expressa o que sinto algumas vezes, e não (é) só sobre o cinema. Que a arte parece ter de ser hermética, inacessível, difícil, a preto e branco, sombria até, apanágio só de alguns. Porque se é colorida e leve, alegre e popular então deixa de o ser, como se as massas e as opiniões convergentes a descredibilizassem. Como se a arte tivesse de ser sempre controversa, divisora, criadora de élites e privilégio dos únicos inteligentes ou génios sobre a terra. 
A arte é uma expressão que reside nas interpretações mais variadas do universo e das coisas. Portanto é passível de criar preferências, estilos, modas até. Não apreciamos todos o mesmo e é natural que assim seja. Mas nada nos diz que uma vertente seja maior do que a outra quando esta aceção nasce da ideia de que não é para todos e que quando o é deixa de ser válida. Picasso não é melhor do que Van Gogh, é apenas diferente. Um filme que ganha muitos óscares e é um êxito de bilheteira não é pior do que um filme independente que é exibido para um pequeno público especializado num festival de cinema europeu. O alternativo não vale mais do que o mainstream. Isso depende da qualidade de muitos aspetos e não duma definição de críticos frequentemente mal dispostos com a vida que pregam só eles saberem. 
O sábio é, na maioria das vezes, incrivelmente simples. E a arte pode ser simples. O sábio é aberto e não renega outras formas de conhecimento e expressão. A arte pode ser aberta. A arte pode ser feliz, até. Pode ter cor e fazer rir, e fazer dinheiro. Grande será a frustração quando ela não vende. Por muito que ela seja expressão, muitos querem dela reconhecimento ou reconhecimento através dela. E satisfação monetária, também. Não se iluda o que é óbvio. Claro que também funciona ao contrário. Há muita manifestação artística que não vale grande coisa  e faz dinheiro e agrada a muitos. Mas aqui também pode ser o meu filtro que escoa só o que me interessa. E como o meu, o nosso. Assiste-nos esse direito de preferir, não desvalorizando, porém, o que não se cultiva. 
Gosto de cinema, indústria e arte. Gosto de várias formas de arte, muitas, que me digam alguma coisa, na cabeça mas também no coração. Poderia e gostaria de saber mais mas faz-se o que se pode e o que nos foi possível. Às vezes complicada para uns e simplista para outros. Tal é a arte que reflete tão somente a vida.

fevereiro 24, 2012

White


What are you looking at?
What are you looking for?
    I´m looking...back.
    Back at sunny mornings of blue skies and golden fields.
Come inside. It´s snowing.
    Not within me.

Algures na Europa

Desde há dois anos a esta parte tenho tido a oportunidade de trabalhar com alunos africanos, de expressão portuguesa, mais concretamente com estudantes vindos de S.Tomé. Trata-se de uma experiência cross-cultural, enriquecedora, como docente e também na qualidade de diretora de turma, já que esta função permite uma mais estreita ligação com os alunos e encarregados de educação, que no caso destes são eles próprios.
A maior parte destes alunos é maior de idade, algumas raparigas são inclusivamente mães, e vêm para estudar, tirar um curso, alguns instalando-se depois aqui, porque já cá têm familiares em Lisboa, e outros com ideias de voltarem e melhorarem as condições de vida do seu país. Parece-me que um, que não é meu aluno, quer candidatar-se a presidente. Oxalá o faça, claro.

Na aula de Inglês as coisas nem sempre têm estado perto do ideal. Há dificuldades que não permitem melhores performances na sala de aula e melhores resultados, residindo elas no facto de virem com poucos anos de Inglês e entrarem diretamente para um nível seis, ainda que por opção. A falta de vocabulário e de conhecimento do mundo anglo-saxónico nomeadamente nas artes, por via de uns media que certamente não importam essa cultura, complica um bocadinho as coisas, mas também se regista a aprendizagem que fazem, fazendo da aula um interessante encontro de culturas, a portuguesa, a santomense e a de expressão inglesa.

No entanto, aquilo que salta à vista é a postura destes alunos, sobretudo quando aqui chegam. Apesar de haver uns naturalmente mais efusivos, salienta-se a atitude em sala de aula, calma, educada, humilde, profundamente respeitadora, bem ciente dos limites, disciplinada, recetiva, na maior parte dos casos, à aprendizagem.
Queixam-se do frio, pudera, e não é fácil mudarem de país - só quem nunca o experienciou, por si próprio ou por alguém próximo, o pensará. Não são perfeitos, pois ninguém o é. Mas são bem vindos (porque outra coisa não desejo eu para os estudantes lusos lá fora) e estamos cá para percorrermos juntos a aventura da escolaridade e da formação, pelo menos. Que já não é pouco e, se possível, com um bocadinho do calor de África.

O menino desta mãe



A notícia da absolvição do homem que viu o Rui Pedro pela última vez deixou-me agoniada. Não porque acho que a sentença está errada, na realidade, não sei, e não possuo os conhecimentos necessários acerca do caso para me poder pronunciar com sensatez, justiça e verdade. 
Mas a agonia está cá, porque penso na mãe, também há um pai, e até uma irmã, mas é na mãe que sempre pensamos, naquele rosto que exala um doloroso aroma a angústia, penso na mãe e no facto de, e muito provavelmente, destranquilizar-se de novo. Não que já o estivesse, impossível a calma de quem não pode fazer qualquer espécie de luto, mas decerto haveria mais esperança. E a esperança mantém-nos de pé, ilumina o mais sombrio dos caminhos, agarra-nos a um pilar que ainda não tombou por entre os escombros do sofrimento.  
Não gostamos de ver histórias na vida real sem um final, narrativas abertas que impliquem leituras longe de um pretendido epílogo. Não gostamos de saber que há histórias assim, não gostamos de saber que esta não tem fim. Apesar de continuar a esperança, é um bocadinho de infelicidade que a mãe do menino desaparecido que não será mais menino sente cavar mais uma vez desta vez. Infelicidade que decorre da torrente de incertezas, de indefinições, de dúvidas maiores que não a deixam sossegar e que abalam tristemente a certeza enorme que é o amor pelo seu filho.
Como mãe, isto entala-me, dilacera-me. Como gostaria eu  de lhe poder escrever um outro final que não este. Como gostaria eu de lhe poder inventar um amor de mãe sem lágrimas. Como gostaria eu de poder fazer ressurgir, ainda e sobretudo aqui, o menino de sua mãe.

fevereiro 23, 2012

Arcanjo

    

Não é que conheça toda a sua filmografia, de todo. Mas nos filmes que vi ficou um rosto irlandês que me persegue, voluntaria e conscientemente, para qualquer obra de ficção com pano de fundo da ilha esmeralda.  Gravou-se-me, assim, como o herói literário por excelência, credibilizando no preto e branco destas imagens a paisagem irlandesa - o verde, a terra, a chuva, o frio e o vento -, a insularidade, a solidão das almas, até a tragédia. Os Mortos ficar-lhe-ia tão bem...
Trata-se de uma figura na tela em tudo oposta ao frenético citadino dos tempos modernos, pelo menos da forma como eu o tenho eternizado. A paixão irlandesa... Mas consigo ir um bocadinho mais longe, ali ao lado. Poderia vê-lo em Jane Austen e em Emily Bronte, em histórias de verdes campos e chuva miudinha, em amores trágicos e fora desta época.
Mais velho, bastante mais, com um nome que é o mais bonito dos nomes, especialmente se dito em inglês, Gabriel Byrne faz  parte da galeria dos belos heróis românticos que me evocam poesia e teatro, cravado de espiritual charme e fulgurante alma.

Espanta-me o espírito



O jornal da noite tem destas coisas. Assim de repente, só pelo que ouvi de raspão:

1- Americanos queimam exemplares do corão, inadvertidamente, no Afeganistão.
O não intencionalmente oficial não apaga as fúrias que se seguiram entre as hostes mais radicalizadas.  Que diabo lhes deu para fazerem mais esta (ou terá sido realmente acidental?), sabendo onde estão e mesmo se não lá estivessem. Gostariam que lhes fizessem o mesmo com as bíblias em outro contexto? Já estou a ver manifs de cristãos horrorizados em plena NY.

2 - Nome de bloco/escola de samba que vence o Carnaval despoleta violência em sambista(s) perdedor(es).
No Brasil colorido impossível de não amar, o mau perder de alguém criou uma confusão tal que atos violentos foram a consequência que não tem nada de festa. Carnaval, sim, mas isto leva-se a mal. O Brasil não merece este tipo de propaganda carnavalesca. E saber não ganhar é, em todo o lado, um sinal mais.

3- Na Síria dois jornalistas ocidentais são mortos nos bombardeamentos que não cessam.
Destruição total, escombros, mortes, e tudo continua igual há meses. Que raio de alianças políticas vão por esse mundo. Lealdades e cumplicidades incoerentes, inesperadas, e pior, cruelmente assassinas. Esquerda, direita, centro, canto, esquina, quero lá saber. Morre-se, impavidamente, no país da milenar Damasco.

fevereiro 22, 2012

Quando o amor vier ter convosco *

  
Uma amiga enviou-me um excerto de um texto de Khalil Gibran sobre o amor. O conhecido texto, dirigido à segunda pessoa do plural, tem, de facto, algo de profundamente religioso, como dissera assim que lhe dei conta da leitura.  Sem intenção de comentar a intenção do autor, cuja obra fui depois brevemente googlar, não deixa contudo de nos fazer querer perceber o que é o amor.
Assim de repente - É o amor uma espécie de religião? Que incondicionalmente cresce a partir de um objeto amado? Ou não deve contemplar nenhuma adoração ainda que seja quase sempre uma grande dádiva? É difícil definir o amor se visto na suas múltiplas facetas. Romance, amizade, erotismo, paixão, parentalidade, sexo, solidariedade e outros podem servir-lhe como sinónimos ou sub formas, não conseguindo defini-lo unicamente mas para lá caminhando se num todo. Mas se nos cingirmos ao amor comum, que brota da seiva que alimenta a vida de dois seres que querem um encontro de dois mundos, poderemos começar por aí - e não necessariamente acabar. 
Alberoni chama-lhe estado nascente, em que há um despertar de pelo menos um para uma nova existência. É o amor revelação, projeto de vida, revolução. No seus livros, Enamoramento e Amor e Amo-te, discorre sobre esse novo estado, em que o encontro de duas almas que querem renovar-se não é exatamente sinónimo de fusão total. É uma união de vontades, de ânsias que são novas, ou então velhas mas adormecidas,  mas não me parece que seja a entrega - amai para sangrar - que sinto no amor religião do texto de Gibran. É mais pragmático, e ainda que signifique comunhão de sonhos ou ideias, não chega à brutal espiritualidade embrenhada no  texto que recebi.
Claro que o autor de origem libanesa usa esta e outras imagens de dor que podem afastar a noção de prazer geralmente associada ao amor, e assim afastar-nos. Mas, é certo e sabido, nem sempre ele é prazeiroso e fácil, os seus caminhos podem ser insondáveis e mesmo tortuosos. Os grandes amores não chegam facilmente e, por vezes, partem antes da hora. Há até grandes amores que poderiam ter sido.Também não possuímos os nossos amores, vamos até onde ele, o amor, nos deixa ir. Querer aprisioná-lo não nos garante o amor. Devemos recebê-lo mas não prendê-lo.
Pessoalmente acho mais inconcebível o amor adoração que cega e ilude o lado menos pacífico, este estado estará mais próximo de uma paixão inicial que é impossível comportar a longo prazo. Mas já o vejo como uma escalada conjunta que implica cedências e dúvidas, mas também apoio e generosidade. E vejo-o definitivamente como não possuir nem ser possuído, embora seja tão difícil, tão difícil essa libertadora abnegação. Os fisicamente observáveis orgulho e possessividade teimam, tantas vezes, em reinar sobre o espiritual.
Entre Alberoni e Gibran, e tantos outros que o conheceram e sobre o amor escreveram, está algures a definição certa. Ou então pode até não ter definição nenhuma. Na proliferação de teorias sobre o que é o amor, retenhamos aquela que nos faz sobreviver dentro dele. Se possível, pois, com menos dor e mais coração alado.


1. * É a primeira frase do/a texto/versão que me foi enviado/a.

2. Texto completo Pela voz de Letícia Sabatella

fevereiro 21, 2012

No divã

Meanwhile at the psychiatrist...

A prova de que todos, mas todos têm ou teriam algo para dizer. (Roubado de uma amiga, via FB.)

Parisien du Nord

França

Do álbum Meli Meli, um tema Rai cantado por Cheb Mami, e pelo rapper K-Mel. Cheb Mami faz parte de um conjunto de bem-sucedidos cantores de origem argelina que conseguiu grande sucesso em terras gaulesas. Primeiramente entre as comunidades imigrantes do Magrebe, mas depois também apreciados pela restante sociedade francesa.
Cheb Khaled e Cheb Faudel ( a palavra cheb significa jovem) são outros nomes de vulto, embora de idade algo díspar, sendo o primeiro apelidado de “rei”, que fizeram do Rai um estilo de música popular mas também erudito, dependendo da perspectiva, nomeadamente geográfica.
Rai significa “opinião”. Na Argélia, de onde é oriundo, este estilo causou controvérsia nos sectores mais tradicionalistas  pelas letras arejadas que continha e pelo estilo de vida mais moderno e descontraído a que apelava. Vídeos de Khaled foram claramente mal vistos e Cheb Hosni foi, de resto assassinado, daí que outros cantores se tenham exilado em França.
Há alguns anos atrás, Sting  lançou  Desert Rose. Nesta composição fantástica, aparecia uma voz magrebina que dava um toque profundamente exótico mas também espiritual ao tema. Estava lançada a carreira “internacional” de Cheb Mami. Meli Meli e Dellali são dois CDs a ouvir, para quem gosta de estilos mais étnicos, mas também para quem não conhece. K-Mel é um rapper nascido nos subúrbios de Paris e ascendência também argelina.
Entre o árabe e o francês, aqui fica a sugestão:   Parisien du Nord

                                                                                                                                ESAP, 2009 (pré AO)

fevereiro 20, 2012

InCoerências


É mais do que assente que a coerência é uma belíssima caraterística, uma garantia de integridade, de equilíbrio, de um caráter definido pela firmeza. Não gostamos de detetar incoerências, coisas que não ligam, que confundem, que não edificam nem constroem. Estampa-se logo uma imagem de pouca credibilidade, de pouca honestidade intelectual. Espantam-nos os malabarismos vários, repulsam-nos os contorcionismos políticos, desagradam-nos as oscilações de posturas, atitudes, crenças. Sobretudo se em tempo que consideramos insuficiente para a maturação de uma ideia, de uma nova ideia, assim sendo, ou de uma paixão que parecia impossível antes.

Todavia, será isso sempre intolerável? Não teremos direito nunca a uma mudança de opinião? Devemos continuar agarrados permantemente à mesma convicção? Não podemos reter das coisas um novo entendimento? Não é, afinal, possível evoluir?
Trata-se de uma discussão interessante, saber até que ponto evolução não é considerada esquecimento, contradição, traição, ilogicidade. Porque, na realidade, nada nos obriga a manter sempre o mesmo ponto de vista relativamente a um inúmero número de coisas. Se frequentemente mudamos de opinião em relação a pessoas, porque o tempo nos permitiu entrever mais do que supuseramos, porque não poder fazê-lo perante gostos, preferências, comportamentos sociais, políticas, filosofias?

Adaptar-se, caminhar ao lado do tempo que é nosso  faz parte do andamento próprio de uma existência válida, aberta, descomplexada. Os olhares não param, não ficam circunscritos a um período, a um espaço e a um sentir que já não são, movem-se, soltam-se muitas vezes, e não quer dizer que a perspetiva recente seja a errada ou inaceitável mesmo se, do nosso ponto de vista. Ser coerente é uma qualidade ímpar mas ser livre ainda é mais. Porque pior do que ser incoerente é viver no opressor complexo de seguir algo em que já não se acredita.

Cortar, sair, deixar, desviar, alinhar, abraçar algo, mudar é muitas vezes, também, uma espantosa e inteligente estratégia de sobrevivência.

fevereiro 19, 2012

Indisfarçável



Sol a brilhar, domingo de carnaval, pequeno a recusar vestir o disfarce mexicano outra vez, almoço fora, vento gelado, regresso a casa, tarefas domingueiras de roupa estendida e pátio lavado, inusitado recolhimento no sofá, lareira e nat geo wild, pois claro, há um zoólogo biólogo palenteólogo a quem não se pode negar saber mais, preguiça invernosa, pasta e papéis ao largo, pequena felicidade, noite que entra vidraças adentro.
Veneza está, mal ou bem, muito longe.

fevereiro 18, 2012

Ainda elas, ainda nós

                

Este é o terceiro post quase consecutivo sobre as mulheres. O primeiro foi uma fotonovela de instante, onde se escondia um feminino cansaço por detrás de um sedutor glamour, o segundo porque se impunha, escrito a quente, e este porque importa que se reflita um pouco mais a frio. 

PODER ficar em casa não é mau, pelo contrário, nem as pessoas que não trabalham fora de casa são menos por isso, em absoluto. Mas apenas se fruto de uma opção livre e consciente. Se o estado criar mecanismos que possam melhorar os nossos dias, dando-nos mais tempo para nós, como mulheres e sobretudo como mães, será extremamente positivo. Há porventura, em alguns casos,  uma excessiva divinização do trabalho, do sucesso profissional como fator primeiro para o valor pessoal e para a utilidade social. Penso que não somos hoje em dia necessariamente mais  felizes com milhentas solicitações ao mesmo tempo, mesmo se a motivação da profissão e a carreira nos possam fazer sentir realizadas. Há frequentemente  um evidente cansaço. De qualquer maneira, a cada uma a sua tabela de resistência. E daí a sua escolha. No caso desta poder fazer-se, acrescente-se.
Dizerem-nos que temos uma função essencial - educar os filhos, ou seja basicamente procriar - é redutor, determinista e refuto-o. Ser mulher não se esgota na maternidade, como se de um selo que garante validade se tratasse. Existe-se para além da prole. As expetativas sociais que se tornam eventualmente formas de pressão não são saudáveis e não têm graça, ainda que as pessoas apenas gracejem, do alto das suas certezas de família completa e feliz. Os padrões de vida de cada um não podem ser tomados como garantias de felicidade noutros. Cada um vive como quer, sabe ou pode. Como, onde e sobretudo quando. Para além disso, não nos podem negar vontades de projeção que vão para além do ser mulher ou mãe. Voos para além do ninho que nos fazem crescer por dentro e muitas vezes nos lançam para fora dele. Que podem passar por um emprego ou uma arte.

Independentemente das palavras do cardeal, que poderão ter ecos diferenciados, aqui fica: ser mãe é ser feliz, é-se, e válido, assim como é ser mulher, descomprometida ou não, cozinhar, pintar, viajar, estudar, correr, escrever, mergulhar, representar, voar, ou absolutamente nada disto, estar em casa ou trabalhar fora. Porque a função essencial é viver, de acordo com o que é ou vai sendo. E servirá,  mais do que obviamente, para os homens.

Esclarecendo o que não foi pedido



Durante muito tempo não consegui visualizar muita coisa no meu pc através do internet explorer. Não pude ver listas de seguidores, por exemplo, se me circunscrever aos blogues. Com o google chrome isso já me é possível, daí só agora poder seguir. Não será bem um pedido de desculpas mas quase. Pois lamento não tê-lo feito antes e provavelmente até poderia ter sido estranhado, nomeadamente em blogues que visito (muito) regularmente. Coisas de quem percebe pouco de computadores embora goste deles. Afinal, pode gostar-se de algo sem propriamente o entender. :)

fevereiro 17, 2012

Should I stay or should I go?


Francamente, como convém.
Não me apetecia trabalhar tantas horas, chegar tão tarde, não ter tempo para fazer as coisas de que gosto e que me são saudáveis, não ter tempo para mim, para a família, para o meu filho. É verdade e se pudesse trabalhar half time seria decerto muito bom. Agradar-me-ia ter mais equilíbrio familiar, qualidade de vida. Se me pudesse dar ao luxo de não trabalhar de todo, no sentido de  não ter uma profissão, um emprego com horários fixos e outras tantas exigências, seria ainda melhor. Poderia concluir que não, que não sirvo para estar em casa "sem fazer nada" - que é o que me dizem quando (me) proponho uma vida assim em devaneios impossíveis -, mas como nunca estive por cá dessa forma não posso sabê-lo. Portanto poder por as minhas potencialidades e tendências à prova seria mais do que desejável. Fazer uma pausa na correria, acompanhar mais o pequeno, dedicar-me a outras coisas boas da vida, passando certamente por algum ou vários tipos de criatividade, perfect. Porque seria opção. Fruto da minha livre escolha.
Agora a outra parte. Que alguém me diga que eu tenho de estar em casa, confinada à cozinha e aos rebentos, porque para isso nasci, estilo determinismo de frigideira e fraldas, não, não, não. O caso, assim, muda completamente de figura. E tanto se me dá que seja a igreja católica, o machismo, inclusivamente feminino, sim, claro que o há, a família, a vizinhança, as fadas do lar encantadas na sua submissa procriação e medieval felicidade. Não, porque aquilo que, a nível pessoal,  me é imposto sem pergunta nem concordância simplesmente não terá nunca o meu aval. Disse-o há pouco numa caixa de comentários e repito aqui - as tarefas domésticas faço-as sem grande prazer que há outros mais sedutores, mas porque quero, vá escolho, e necessito - à falta de alternativa ou solução. Organização, estética, seja, gosto disso. Mas não me digam que tenho de o fazer porque esse é o meu papel que largo logo a vassoura e o sabão. Passo de feminina a feminista em dois tempos, ou mesmo em um. Não sei bem porquê - ou saberei? - mas aciona-se um mecanismo cá dentro que recusa veementemente acatar destinos marcados. Ordens na minha vida, não.
As pessoas devem desejar as coisas, atuar segundo vontades vindas de dentro. E não como robots das vontades e desígnios de outros que nada sabem de que somos feitos. Se fico, em casa ou no trabalho, ou vou, só a mim confesso.

fevereiro 16, 2012

Red

Great colour
Guess so
You are beautiful
I am tired
You look tired
I´m exhausted
Why
Because
Tell me
You should know
I don´t
I know
Really
I´ve always known

fevereiro 15, 2012

Log ou o meu diário de bordo


Estive a fazer um powerpoint sobre a Nova Zelândia e de repente apeteceu-me fazer parte de uma expedição aos mares do sul. Tenho uma crónica escrita há anos (no Recado, ESAP) sobre a grande história que foi a revolta na Bounty, opondo gerações e sensibilidades, nas figuras míticas de Fletcher Christian e William Bligh. Vi as 3 versões cinematográficas, li o livro de Richard Hough, em que a de 1984 se baseou e que é a minha preferida, e continuo a conseguir mergulhar, anos e anos depois, naquele destino traçado a fruta pão  e amores de ilhas. Não será alheia a essa marítima paixão a inesperada música eletrónica de Vangelis, que pareceria desfocada a bordo de His Majesty´s Ship mas que encaixa bem, tão bem afinal, nas odisseias da história e do cinema.
Enquanto não encontro o texto, perdido nas papeladas que acumulo com facilidade, embarco rumo ao Pacífico. Não vou, creio, voltar tão cedo.

The Bounty, 1984, de Roger Donaldson

fevereiro 14, 2012

Muito barulho por nada...não!

No outro dia entrei numa farmácia onde não costumo ir. Estava um gelo lá dentro, a farmácia é grande e nova. Mas se o frio se suportava já não aconteceu o mesmo com a música. Não queria acreditar. Rádio a passar música de discoteca, acho. Demasiado agitada para mim, ainda por cima era o final da tarde. Demasiado agitada para uma farmácia, ponto. Estava demasiado alta, ainda por cima. Mas porque carga de água uma farmácia tem de ter música quase aos berros? Já me basta o ruído em alguns restaurantes, isso ou mesmo televisão em alto som, já me basta as lojas de roupa em centros comerciais fazerem uso do mesmo recurso para animar funcionários e baralhar os compradores, agora também num local que me habituou a ser calmo, mesmo silencioso? Há alguns anos entrei uma loja de decoração num centro comercial um pouco mais a norte. Os anormais décibeis rebentaram-me a vontade de comprar de imediato. Saí a correr, parecia que a criança ia nascer logo ali. Não sei de onde veio esta ideia maluca de ter de haver música techno, rap, house, acid, trance e todos aqueles estilos que me põem doente no comércio. (Começo logo a praguejar, a dizer que este país precisa de regras.) Deve ser porque muito dele está direcionado para gente muito nova. (Há adolescentes nas farmácias? Ainda não vi nenhum.) Mas eu não sou propriamente velha, penso. Não gosto é de barulho. Serei?

Certo por linhas tortas?

Nunca vos dá a ideia de que tudo está torto, trocado? A mim acontece-me, e mais vezes do que consideraria desejável. Gente que se acha uma coisa que não é, palavras que são lidas como não foram ditas, coisas que são apreciadas e que não significam nada, aspetos em que se insiste e que nada acrescentam, imagens que se criam e que não são autênticas, méritos que se atribuem a quem não os merece, fraquezas que são vistas onde não existem, verdades corajosas que são encaradas como fragilidades, seguranças que se exibem onde há insegurança, certezas que se debitam onde há sobretudo dúvida, silêncios que se votam a quem merece aplausos, tanta, tanta coisa que não mora no sítio certo.
Nessas alturas é difícil manter a confiança, perdemo-nos também nós na encruzilhada de injustiças. O que vale é que há algo à frente. Que pode ser bem melhor do que o que vemos agora. Nem sempre o será, muitas vezes até, mas pode. Porque muitas vezes há-de ser.

fevereiro 13, 2012

Pequeno post de esperança

Um aluno veio hoje dizer-me no final da aula que Portugal é muito bem visto. Estranhei. Perguntei o que queria dizer. Disse-me que costuma frequentar um chat num site gótico com pessoas de muitos países e que lhe dizem todos muito bem de Portugal. Como estava a sorrir e é brincalhão assumi que estaria a gracejar. Não, a sério. Se não fosse a parte económica, disse, que lamentam, Portugal era o maior. Mas donde são essas pessoas, indago curiosa. Ingleses, mexicanos, lituanos, tantos. Acrescentou que elogiam a história, a música, a gastronomia, as paisagens, que é muito bonito, que adoraram e adoram cá vir. Música? Conhecem a música portuguesa?, espanto-me. Sim professora. A Canção do Mar, Dulce Pontes, e O Pastor, Madredeus, estão entre as favoritas.
Nem tudo está perdido, afinal. O aluno é gótico e diz que é um vampiro ("my nights are very busy") mas é bom aluno e tão doce e afetuoso que há que lhe dar algum crédito. O crédito que Portugal vai perdendo no campo económico mas que se aguenta, para nosso gáudio, noutros, ainda que de somenos importância no panorama atual. Nem tudo está desacreditado. Sobretudo quando 3 nações nos reconhecem. Esperança.

fevereiro 12, 2012

Miss Saigão


Não sou grande apreciadora de filmes musicais, embora haja alguns que são eternos e outros que, mais recentes, me tenham cativado pelo refinado cruzamento que fizeram das várias artes. Mas já sou bastante apreciadora de musicais no palco. Hoje, não sei porquê, lembrei-me de Miss Saigon, o primeiro musical a que assisti, quando estive em Londres, há mais de uma década. Lembro-me de que foi no Theatre Royal Drury Lane, Covent Garden, e de estar esgotado por volta das 5 da tarde. Apanhamos o metro outra vez no dia seguinte para conseguirmos tirar os bilhetes de manhã. Era assim há anos, esgotado todas as noites.
Ficou-me na memória o helicóptero ruidoso a surgir em palco, fazendo-se um remoínho de vento à medida que descia. Ficou-me na memória o barato vestido preto que comprara em Oxford Street. Ficou-me na memória  a fotografia que tirei antes com um dos atores da peça, um asiático sorridente que era filipino. Ficou-me na memória a presença na plateia do nosso ator António Montez e família e da pequena audácia em dirigir-me a ele e dizer que também era portuguesa. Ficou-me na memória a vida daquela cidade, o West End, fervilhante de cultura, de culturas. Ficou-me na memória a paixão por histórias abrigadas sob o mote vietnamita e as cores e traços condizentes.
Miss Saigon saiu de cena em 1999. Não voltei a Londres. Persiste o gosto pelo oriente.

fevereiro 11, 2012

Era

Uma conhecida atriz nacional dizia numa entrevista há algum tempo que dantes queria aparecer em todo o lado, estar em todos os sítios, fazer todas as coisas. Antes da maternidade, da construção da família, da felicidade que exibe e diz sentir. E como isso lhe parecia desgastante e sem sentido agora. Compreendi-a tão bem.
Há serenidades que só surgem com o tempo, com a segurança e acalmia que ele traz, com novas fases e etapas que invariavelmente cria. O que nos fazia vibrar ontem não será o mesmo de hoje. E vamos sempre seguindo mais ou menos desta forma, ondulando ao ritmo do calendário e das mudanças, mentais, comportamentais e físicas que provoca.
Penso que a maternidade, na mulher, e será o mesmo para os pais, muito seguramente, é de facto um saboroso travão na adrenalina e propensão sociais, assim como o é na impulsividade e na inquietação de sair, de ver, de ir, de aparecer. Ou pode ser que seja apenas a maturidade, é  mais do que provável, que pode coincidir ou não com a descendência. O que interessa é que as sensações de irrequietude e impulso social diminuem, por via das circunstâncias, filhos ou não, ou mesmo porque outros tipos de prazeres e de vontades começam a emergir. Os nossos sábados à noite, por exemplo, vão perdendo glamour - e aqui cito uma bloguista que sigo - mas ganham outras tranquilidades, outros afetos, outras dimensões.
Nem sempre é fácil para pessoas vivas e cintilantes, com claro gosto pelo social, pelas conversas, pelas manifestações culturais, pela diversão, retirarem-se de uma espécie de palco onde possam sentir alguma espécie de reconfortante brilho e prazeirosa projeção, e sem sentido negativo nenhum, diga-se. Mas há fases em que se passa a um protagonismo mais interior, mais caseiro, mais intimista, até mais consanguíneo. Que canseira, ir a todo o lado, ver toda a gente, fazer todas as coisas. Já não vamos ou não queremos ir, já não vemos ou não queremos ver, já não fazemos ou não queremos fazer. Por impossibilidade logística, no caso das crianças, por impossibilidade espiritual, na intemporal aceção camoniana mudam-se os tempos mudam-se as vontades, ou mesmo por ambas.
Os encontros passam a ser  outros. E sobretudo  um  tempo e um espaço para se encontrarem provavelmente com elas mesmas.

Diário de um professor de aldeia



1. Não que o ensino seja propriamente na aldeia. A bem dizer também não o é na metrópole, longe disso. Mas só assim o título evoca a missão e o cinema ao mesmo tempo.

2. Continuação de Stop ou como era bom acabar com isto. De cavalos passamos para tabaco.

3. Aula. Aponto as faltas de material que persistem em fevereiro. Uma aluna de quinze anos,  nível quatro a querer chegar ao cinco, está com ar enfadado e de quem está mal com tudo - e ao que soube posteriormente não estará bem com muitos, na verdade, mas por culpa própria. Não tem livro. O colega ao lado diz como é possível. Ela diz que já não há livros, os tais de 5 euros de caução, na papelaria. Ele diz-lhe que já devia ter lá ido há mais tempo. Ela diz que não tinha dinheiro. Ele responde mas tu fumas. Ela espanta-se. Ele insiste se tens dinheiro para tabaco tens dinheiro para um livro. Ela diz-lhe desagradada a minha mãe está desempregada. Ele ai sim e então, os cigarros? Ela responde, entre o desgraçado e o irritado, tu não sabes mas eu trabalho para os pagar. Ele ri-se ela olha para mim à espera de aprovação.

4. Mais tarde sabe-se que a aluna, que frequentemente enrola cigarros nas aulas, usa uma marca não comum, a combinar com o refinamento próprio de quem diz não ter 5 cêntimos para uma fotocópia.

5. Os livros continuam à espera, às resmas, na papelaria.

fevereiro 10, 2012

Sensibilidade e bom senso

Associar Portugal ao declínio ou mesmo vaticiná-lo a curto prazo não terá caido no goto dos portugueses, isto porque quem o disse é alemão. Lá teve o presidente do parlamento europeu  que se justificar, twitando, de forma a que não recaia sobre ele uma espécie de fatwa ao melhor estilo de indignação radical.
De que nos queixamos, afinal? É que vozes a preverem um futuro negro para o país não têm faltado também por cá, não interessando para o caso se são justificadas e sensatas ou não. Analistas, economistas, políticos, teóricos, peritos e leigos, quantos não ditam o fim da nação, em campos variados que vão desde a língua portuguesa até à finança? Porque nos espantamos, e mais, repudiamos tal expressão?
Bem, a verdade é que nós podemos dizer mal da nossa família (e já vamos com sorte, há quem seja absolutamente familiodependente) mas não nos podem dizer mal dela. Assim tipo irmandade siciliana e até islâmica, unimo-nos logo para o contra ataque. Ah, pois. Ninguém brinca com o nosso nome e muito menos com a nossa raça. Podemos dizer mal da Grécia, satirizar o seu presente, agoirar o seu futuro, mas se fizerem o mesmo connosco é que não. Por outro lado, os gregos também não iriam achar piada às nossas graçolas ou tiradas de relativo gosto político. E sobretudo se for alguém importante a fazê-lo, alguém com responsabilidades, alguém cujo cargo o impede de falar verdade ainda que seja a mentir.
Não me ponho de fora, de todo. Não gosto nada que me digam mal de Portugal, eu que adoro este clima, vá mais lá para o verão é verdade, esta geografia, ai o sul, a costa, a serra, estes brandos costumes, esta vida, ainda assim, tranquila, tudo. Não fiquem dúvidas de que gosto de Portugal e mais que muito. Portanto reagirei mal, sobretudo se estiver no estrangeiro. Falarem mal de Portugal lá fora é muito pior do que cá dentro. Ângulos, espantoso como podem ser sensíveis.
Em jeito de conclusão, e serve para todos nós, mandaria o bom senso que se visse uma crítica exterior da mesma forma que se encara uma interior. Mas não é o que na maior parte das vezes realmente acontece. Piegas ou não, são as tais sensibilidades.

fevereiro 09, 2012

À descoberta

        

Ler é das coisas mais enriquecedoras, porque nos permite aprender tanto e saber sempre mais. Há definições, certamente, sábias e maravilhosas sobre o que significa a leitura, os livros, as histórias, os ensaios, a prosa e a poesia. Não estarei, portanto, em condições de o fazer melhor, nem é o ponto onde quero chegar hoje.
Quando estudei os Descobrimentos, vistos da minha condição de aluna adolescente interessada pela história, e pelas viagens, interesse  que então se começava a desenhar, houve uma parte que me chamou particularmente à atenção. Era a que dizia que o conhecimento deixara de ser livresco para passar a ser experiencial. Ou que deixara de se centrar apenas nos livros para passar a centrar-se na experiência dos sentidos, da descoberta, da observação in loco. E lembro-me de ter gostado. De ter gostado muito do que isso significava e envolvia.

O saber, as referências, a fantasia, a cultura dos conhecimentos não chegam para tornar um indivíduo verdadeiramente sábio e até interessante (pronto, aqui poderá apenas expressar uma preferência, porque todos as temos). O indivíduo fechado em bibliotecas ao melhor estilo bookworm sem contato exterior com os exteriores vários que fazem parte disto tudo, sem capacidade de sociabilização e de abertura, sem conhecimentos sensoriais e de comunicação com o existente, e até com o diferente, sem laços afetivos e efetivos de uma mão cheia de matérias que vão para além das páginas ou de uma hermética erudição, não passa de uma enciclopédia ambulante. Adoro enciclopédias mas também adoro atlas, ou o que eles acarretam. Ou como cultura e vida, viagem, aos locais e às pessoas, não podem estar disassociadas. Sob pena de estarmos perante algo ou alguém meramente fantasioso que sabe muito e exibe muito mas que na prática nada conhece do ser humano, do mundo e das suas idiossincracias, tonalidades. Nada pior do que não reconhecer as nuances de mil e um lugares, de mil e uma coisas, de mil e uma realidades. Não viveu, não viu, não sentiu, não assimilou. Conhece, opina, enuncia factos e nomes, refere, discorre, mas terá realmente apre(e)ndido?

Da mesma forma, o saber experiencial obrigará também a uma organização de ideias, a um registo de ocorrências, a um contar para a posteridade. Eternizar o momento. Aí os livros, as leituras, melhor dizendo, são imprescindíveis para a interiorização, para a reflexão, para o sonho, para viajar no tempo e no espaço. Uma bela dança de emoções entre um e outro será algures e somehow o ponto de encontro. Encontro entre a cultura e o conhecimento e entre as vivências e as experiências. Só esta fusão nos poderá tornar mais completos. E, lá está, muito mais interessantes.

fevereiro 08, 2012

To be or not to be

Ainda não vi/ouvi o discurso do PM. Mas pelo que andei a ler por aqui na blogosfera, e apesar das opiniões absolutamente contraditórias, parece-me, ter-me-á parecido que a coisa terá sido empolada por métodos de jornalismo mediático frequentemente habituais.
Não votei PSD, aliás nunca, mas ainda assim perceberei se alguém se zangar aqui momentaneamente comigo. Mas então, não o defendendo, o que me fez estar do lado de quem não enfiou o rótulo da pieguice? Basicamente porque retirar um frase ou expressão do seu contexto natural e desvirtuar completamente o seu significado é prática comum no jornalismo sensacionalista que apenas pretende vender, baralhando e acirrando os ânimos. Foi agora como o foi antes, como o foi antes tantas e tantas vezes. E não é só na política que tais estratégias de desorientação com vista a diferentes formas de lucro ocorrem. Muitas vezes aparecem capas sensacionalistas, com outro tipo de figuras, com frases desordenadas que logo nos espicaçam a comprar a revista ou o jornal. Quando temos a oportunidade de ler o artigo ou a entrevista no seu todo, lá dentro, verificamos que fomos defraudados na nossa curiosidade voyeur. Não era nada daquilo que se suposera. Nada. E ainda bem que é nada, pois não era tão grave nem tão inusitado ou idiota como o pintaram. 
Serve isto para dizer que o piegas pode, podia não ter as leituras que foram criadas se enquadrado na sua moldura original. Porque neste domínio, a autocrítica é sempre mais difícil de fazer. Posto isto, penso dever ver o video. Até lá não sou piegas. Não sei se o serei depois.

fevereiro 07, 2012

Valiosa oferta altamente limitada


De vez em quando largo entre os colegas a teoria maluca do numerus clausus. E soltam-se gargalhadas, às quais me junto, de tão louca, impossível e basicamente estapafúrdia que é.
Quando frequentei a universidade e tive de escolher, graças a deus, viva a escolha, o tema do meu seminário no último ano, em paralelo com o estágio, passei, e não estava sozinha, uma noite, uma noite inteira em claro, à porta da uni, departamento de letras, para poder inscrever-me naquele tema, naquele grupo e, last but not least, com aquele professor. Não queria outro e lá levamos uma mantinha para aguentar o fresco da noite, não era muito, penso que seria junho ou julho no máximo. Consegui, assim, a inscrição - pudera - entre os 20 alunos possíveis. O meu seminário - obras literárias de expressão inglesa adaptadas ao cinema e estudo comparativo de ambos - ficará na minha memória como das últimas experiências de aprendizagem sentada do lado de cá, na carteira, verdadeiramente enriquecedora, cultural e mesmo genial. Assim foi e postarei mais tarde sobre algum do seu teor, por tudo o que disse mesmo agora. Penso que todo o grupo terá ficado igualmente marcado, afinal estavamos lá porque o escolhemos, porque nos esfalfamos por uma inscrição limitada.
Mas falava eu disso - de quão seria revolucionário e extraordinariamente eficaz se fossem os nossos alunos a escolherem-nos. É verdade, acabei de escrever isto desta forma. Sendo mais complicado para alguém que acaba de chegar a uma escola, por não possuir curriculum ou reputação na mesma, não o seria para os que estão, os que permanecem, os que, mal ou bem, já são conhecidos. Teríamos portanto um número máximo de alunos e depois seguir-se-iam critérios para os aceitarmos ou não. Classificações anteriores, ordem de chegada - não vão os fãs horas antes, dias até para o local do concerto? -, comportamento geral, gostos musicais e outros que podem acrescentar. Obviamente que as nossas aulas subiriam a um nível nunca antes visto. Obviamente que a nossa cotação subiria em flecha. E até poderia e deveria subir o cachet, sim, que não temos que ser missionários na excelência.
Pressupõe-se, claro, que somos excelentes. Pressupõe-se que todos nos querem. Pressupõe-se que podemos ser quase ídolos, se não fosse o pequeno pormenor de avaliar. E avaliar justamente, também fica claro. Isto poderia jogar contra nós, se o aluno apenas procura aprovação, boas notas e pouco esforço. Mas se procura o saber, o enriquecimento, a formação, e mérito nas notas então escolherá decerto os eleitos. Se não formos escolhidos ou tivermos poucas inscrições isto sim seria a verdadeira avaliação de professores. Alguma coisa está mal connosco. Pode ser só um penteado antigo ou não usar computador na aula, mas vamos remediar isso concerteza. (Claro que também posso comprar os alunos em caso de aflitivo desespero.)
Grande sistema de ensino. Grande realização profissional. Grandes aulas. Só vantagens. Inesquecível experiência. Para mim foi. E não é que hoje, hoje mesmo avistei o meu professor de seminário à hora de almoço? Num local perfeitamente inesperado, displaced? A dirigir-se ao restaurantezinho perto da praia onde vai diariamente esta sua ex-discipula? Ah como desejei falar-lhe! A conduzir, já ia apertada, entrava às 13.20h,  e não me viu, ele do alto do seu britânico 1,95m enfiado no sobretudo. Que saudades tive dele, daquelas aulas, daquelas viagens pelo conhecimento que ofereceu. Numerus clausus. Riam-se, riam-se. Do melhor que tive.

fevereiro 05, 2012

E se, de repente, alguém lhe oferecer flores?


O que é a imprevisibilidade?
Pode ser a ausência de rituais, de fazer aquelas coisas de sempre, à mesma hora, no mesmo lugar.
Pode ser um reflexo da impulsividade de caráter, que não programa o que dizer ou fazer.
Pode ser uma manobra, para confundir o outro, baralhá-lo, e fugir da suas previsíveis análises.
Pode, desta maneira, ser também uma poderosa estratégia de sedução, pelo surpreender constante.
Pode ser uma atitude natural, de quem vive ao sabor do momento sem gosto pela planificação.
Pode ser cada uma destas coisas e todas ao mesmo tempo.
Pode incomodar, sobretudo os que não são nós, porque não conseguimos nem conseguem organizar-nos. Pode dar prazer, sobretudo se formos nós, deliciando-nos com impulsos surpresa que pensamos que deixam marca e melhor ainda se o pensam os outros.
Pode assustar, mesmo quem o é. Pode fascinar.
Pode repelir. Pode prender.
Pode matar. Pode fazer viver.
Assim é a imprevisibilidade.
Pode-se?
Depende. Depende se gostarmos de flores vindas de um desconhecido.

Olhos de África

Noite de cinema que não tinha há séculos.

Os olhos azuis de Yonta, que ainda não vira.
Pós independência. África já livre, pobre, pois não se trata de África?, resgatada do passado mas ainda sem o futuro que quereria.
Presente a desligar-se dos ideais, surgem os negócios e as negociatas.
Inocência de costumes, liberdades ainda muito coletivas.
A moça star de Bissau, vaidosa, a querer viver a moda e o romance.
E Amilcarzinho, maradona de bola na mão, que diz à irmã: sabes que tenho de treinar todos os dias. Quero ir para Portugal jogar.

Como renegar o sonho de uma criança? Como desejar que não venha?
Alguém de longe sonhar com o meu país alegra-me, enche-me de jubilante orgulho.
Como fechar as portas a quem vem? Como dizer vão embora, não pertencem cá?
Como desprezar quem sonha, terna e inocentemente, com o meu país?
Como, afinal, cortar as asas ao sonho?

Nem era a questão central do filme, mas tornou-se na deixa que não esquecerei.

fevereiro 04, 2012

Languages

Que língua falas?
Português.
Bela língua. E és do Brasil ou de Portugal?
Sou português. O português é a minha língua.
É verdade. Mas não é só tua. Também é daquele ali.
Porquê?
Porque também a fala. E eles, os outros também. Pode até ser minha, se eu quiser aprender. E a minha também é tua, vês?


Ela não fala.
Não?
Não. Comunica.

Que língua falas, pergunta ele.
Falo a língua da música. Entendes?
Não.
Pois não.

O que os une? Que língua falam eles afinal?
A língua do amor.



A frio

Uma breve passagem pelos comentários do jornal online e o caos instalado na ordem que se tenta construir. Já sabia, já escrevi, já jurei não repetir. O que me dá para voltar? Raio de curiosa esperança idiota e sem nexo.
Parece que o frio, e não sou a única a dizê-lo hoje, não está a ser suficiente. Os ânimos e o teor das paixões não arrefecem a propósito de coisas relevantes e doutras nada relevantes.
E a liberdade de expressão que tanto prezo aparece irritante, pois tudo parece que tem de ser aceitável, justo, certo, democrático, ético. Aceita-se, claro, mas fujo para longe. Posso? Afinal, também sou livre.
Não me apetece inflamar-me na desorganização infernal do pensamento que por aí vai.
Mantenha-se o frio.

fevereiro 03, 2012

O inferno não são só os outros

Há umas semanas entrei numa saudável disputa com um familiar acerca da desonestidade crassa que assola a sociedade portuguesa. Ele referia-se essencialmente à dos governantes e dos políticos, naturalmente zangado como está com a crise causada por jogadas de oportunismo, por situações de impunidade,  por incompetências mentirosas, por injustiças descaradas e por tudo o mais que nos tem afundado social e economicamente.  
Dizia-lhe eu que esses comportamentos não encontram eco apenas em quem ele referia. Que são, infelizmente, muito mais transversais do que possa parecer, que vêm de cima, certo, mas de baixo também, estendendo-se para os lados. Porque simplesmente se cultiva e vive-se do safanço próprio mais do que era desejável. É culpado o governante, o político, o patrão, o gestor, o funcionário, o gerente, o empregado, todos estes, outros e muitos mais, se olham para o seu umbigo e para os seus interesses primeiro e apenas, e os dos amigalhaços e os dos parentes e os dos vizinhos.
Que quero eu dizer com isto? Desculpabilizar quem tem culpa, não. Repartir culpas, talvez. Porque se eu compactuo/compatuo com favores, favoritismos, cunhas, palmadinhas nas costas enquanto recebo uns bónus, obediência cega e acéfala em troca de umas regaliazitas, então eu sou culpada, mesmo se estou longe do topo da pirâmide. Sou culpada por omitir, sou culpada por não produzir, sou culpada por (ajudar a) promover o demérito, sou culpada por ser incompetente e receber  privilégios sabendo que o sou, sou culpada por comprar de formas diferentes bons horários e demais benesses, sou culpada por deixar que o meu bem estar seja o mal estar de outrém, sou culpada por não recusar uma  pregorrativa que não deveria ser minha ou apenas minha, sou culpada quando minto, quanto trapaceio, quando entro no jogo do logro.
Vi, vejo, veremos isto diariamente, ontem, hoje e, pior, amanhã. Quem, e não são poucos, aceita prémios em nome de algo não limpo. Pequenas coisas, grandes coisas. Maus exemplos vêm de cima? Certo, vêm, vêm muito e muitos e é revoltante que venham. Aumenta a descrença, desilude e repugna. Mas preciso sempre de ter modelos para que possa projetar-me construtivamente? Por vezes, desanima-se, porque não fazer como os outros, os que se safam, os que passam incólumes, sem mérito, sem caráter, sem transparência. Mas o desânimo, justo porque tudo é tão injusto, terá de dar  lugar à esperança, à consciência de que não me juntarei a eles, à honestidade. E isto tem de construir alguma coisa. A curto ou a longo prazo, não sei. Mas tem de.

fevereiro 02, 2012

Volta ao mundo em 17 países



Não é que dá vontade de agarrar o passaporte?
Não é que estas e outras viagens nos levam a infinitos de descoberta?
Não é que o melhor destas e doutras voltas é  fazer amar o mundo?

E não é que Portugal aparece?

Rosa choque


O rosa das revistas e o choque em que estou por ver que um texto nada, nada, nada, como dizer, nada abonatório (não quer dizer que os outros o sejam, já agora, de todo) continua no top mês em número 2 e no top de sempre em número 1. Só pode ser porque o nome do Pedro Rolo Duarte aparece logo no início, dando todas as garantias de que a coisa poderia ser interessante. Já nem me lembro do que escrevi exatamente  mas é muito pouco consentâneo com a cultura de qualidade, com a intelectualidade seletiva, com a élite dos gostos.

Mantenho, apesar de, o que terei dito, no essencial. No outro dia folheei uma revista desse tipo numa papelaria e pude ler uma belíssima entrevista da regenerada Angelina Jolie. Uma celebridade, continuo a gostar delas, sim, prefiro-as aos cinzentões, que diz coisas que achei interessantes, numa abordagem em discurso direto ao seu novo filme, como realizadora, e ainda ao encanto familiar que tem atravessado desde há algum tempo. Era isso a parte boa, o facto de poder ler acerca de artistas, atores, cantores, e pessoas com outros talentos e outro tipo de notoriedade, ainda que em publicações de supermercado, de consumo rápido e de fácil acesso, e que têm, no geral, péssima reputação. (Pensando bem também 698668090 autores se encontram disponíveis nos escaparates dos hiper. Se acho isso bom? Preferia, prefiro as livrarias, mas se chega assim de forma mais acessível a todos, não é mau.)

Também dizia que havia o (relativo) bom e o mau no meio deste tipo de oferta. Claro, às vezes o muito mau. Este muito mau refere-se sobretudo a figuras que não o são, que vendem histórias que não interessam nada, que não acrescentam nadinha, que não nos enriquecem nada nem nadinha. Há, de facto, revistas que parecem incluir apenas isso, aquelas capas com as casas dos segredos e os reality shows todos, numa parafernália oca, fácil, deslumbrada, pirosa e inculta. Isto sim é aflitivo, e é-o não porque quem sabe discernir vê mas porque quem não sabe cultiva, imita, glorifica, desde adolescentes a graúdos sem outro tipo de curiosidade, leituras ou conhecimentos. Ainda que  momentaneamente. Quase sempre momentaneamente porque o real talento sobrevive enquanto que o aparente, o falso ou o inexistente sucumbirá na prova do tempo.

Há então uma imprensa rosa light que inclui algumas coisas interessantes, relaxantes, curiosas, dependendo dos visados e dos gostos de tempos livres de quem lê, e há depois uma rosa choque que nos confunde, nos desagrada e nos repulsa e que não merecem os nossos livres tempos. Má, péssima, meramente sensacionalista, desinformativa. Dizer que há alguma dela aceitável, sem dizer nomes de publicações, claro, não abona a meu favor. Mas pode filtrar-se o que interessa e desligar e esquecer o que não. A memória seletiva é uma grande aliada de gente não preocupada em ler só o canónico ou o exigido pela cultura eminentemente elitista.

Porque o rosa, tal como todas as outras cores, também tem nuances.

fevereiro 01, 2012

Etnicidades



Étnico, exótico, boémio, individual ou conjuntamente, desde que jogue com a cor, almofadas e tecidos de recortes orientais a convidarem-me ao ócio consciente de apetecíveis recantos, cor, modernidade citadina inspirada em viagens de seda, hippy chic, as mil e uma noites e as índias todas, ainda a cor, é muito assim que gosto. Já foi mais assim, apartamento de estreia, e às vezes gostaria que assim pudesse voltar a ser.