fevereiro 07, 2012

Valiosa oferta altamente limitada


De vez em quando largo entre os colegas a teoria maluca do numerus clausus. E soltam-se gargalhadas, às quais me junto, de tão louca, impossível e basicamente estapafúrdia que é.
Quando frequentei a universidade e tive de escolher, graças a deus, viva a escolha, o tema do meu seminário no último ano, em paralelo com o estágio, passei, e não estava sozinha, uma noite, uma noite inteira em claro, à porta da uni, departamento de letras, para poder inscrever-me naquele tema, naquele grupo e, last but not least, com aquele professor. Não queria outro e lá levamos uma mantinha para aguentar o fresco da noite, não era muito, penso que seria junho ou julho no máximo. Consegui, assim, a inscrição - pudera - entre os 20 alunos possíveis. O meu seminário - obras literárias de expressão inglesa adaptadas ao cinema e estudo comparativo de ambos - ficará na minha memória como das últimas experiências de aprendizagem sentada do lado de cá, na carteira, verdadeiramente enriquecedora, cultural e mesmo genial. Assim foi e postarei mais tarde sobre algum do seu teor, por tudo o que disse mesmo agora. Penso que todo o grupo terá ficado igualmente marcado, afinal estavamos lá porque o escolhemos, porque nos esfalfamos por uma inscrição limitada.
Mas falava eu disso - de quão seria revolucionário e extraordinariamente eficaz se fossem os nossos alunos a escolherem-nos. É verdade, acabei de escrever isto desta forma. Sendo mais complicado para alguém que acaba de chegar a uma escola, por não possuir curriculum ou reputação na mesma, não o seria para os que estão, os que permanecem, os que, mal ou bem, já são conhecidos. Teríamos portanto um número máximo de alunos e depois seguir-se-iam critérios para os aceitarmos ou não. Classificações anteriores, ordem de chegada - não vão os fãs horas antes, dias até para o local do concerto? -, comportamento geral, gostos musicais e outros que podem acrescentar. Obviamente que as nossas aulas subiriam a um nível nunca antes visto. Obviamente que a nossa cotação subiria em flecha. E até poderia e deveria subir o cachet, sim, que não temos que ser missionários na excelência.
Pressupõe-se, claro, que somos excelentes. Pressupõe-se que todos nos querem. Pressupõe-se que podemos ser quase ídolos, se não fosse o pequeno pormenor de avaliar. E avaliar justamente, também fica claro. Isto poderia jogar contra nós, se o aluno apenas procura aprovação, boas notas e pouco esforço. Mas se procura o saber, o enriquecimento, a formação, e mérito nas notas então escolherá decerto os eleitos. Se não formos escolhidos ou tivermos poucas inscrições isto sim seria a verdadeira avaliação de professores. Alguma coisa está mal connosco. Pode ser só um penteado antigo ou não usar computador na aula, mas vamos remediar isso concerteza. (Claro que também posso comprar os alunos em caso de aflitivo desespero.)
Grande sistema de ensino. Grande realização profissional. Grandes aulas. Só vantagens. Inesquecível experiência. Para mim foi. E não é que hoje, hoje mesmo avistei o meu professor de seminário à hora de almoço? Num local perfeitamente inesperado, displaced? A dirigir-se ao restaurantezinho perto da praia onde vai diariamente esta sua ex-discipula? Ah como desejei falar-lhe! A conduzir, já ia apertada, entrava às 13.20h,  e não me viu, ele do alto do seu britânico 1,95m enfiado no sobretudo. Que saudades tive dele, daquelas aulas, daquelas viagens pelo conhecimento que ofereceu. Numerus clausus. Riam-se, riam-se. Do melhor que tive.

2 comentários:

  1. Boa ideia. Mas eu cá tinha que escolher tudo, já que duvido que a procura fosse do nível da oferta, lol SAGI

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  2. ::))), Sara!
    Não, eu cá queria mesmo ser escolhida:) Se não, olha terei que mudar de penteado lol e passar a ouvir dead metal e hip hop:)

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