Não sou muito française, por defeito de profissão. O francês que falo, pouco, é o do liceu. Desconheço o francês atual, com gíria ou outros. Compreendo pouco ou quase nada se vir um filme ou estiver a ouvir uma conversa entre nativos ou falantes que se expressam igualmente bem. Gosto de cinema francês, é um facto, e pouco de música francesa, outro facto. Mas nem é isso bem que interessa, aqui, apesar da língua ser inesperada e surpreender ainda mais. Um tema eterno dos The Stranglers, uma música de que gosto sempre. Além de que, nos tempos que correm, é preciso ter alguma - la folie, claro.
dezembro 31, 2013
Criatividade e felicidade
Ontem peguei numa revista não de agora de moda feminina, enquanto esperava pelos meus num determinado local fora de casa. O tema era a criatividade e tudo nela andava à volta disso. Havia uma rubrica em que 6 criativos, escolha da revista, respondiam a questões sobre o ato de criar. Estive a ler. Confesso que não tinha pensado em algumas delas, mas aqui vai o que responderia, se fosse eu. E tendo em conta o que criar significa para mim e em mim.
Onde - Não sei se há um lugar exato para criar. Pode surgir em vários locais, dependendo do que observamos, sentimos ou recordamos. Já me vi a ter ideias em locais completamente distintos, embora haja deles mais recorrentes, acompanhando naturalmente a rotina dos meus dias.
Quando - Dizia um dos criativos que as melhores ideias lhe chegam pela manhã. Errado, para mim. É geralmente a noite e até o deitar que trazem mais e melhores ideias. Não sou de manhãs, nem de madrugadas, já agora. Essas horas são-me ótimas para dormir.
Como - Se o ato de criação é individual ou não. Diria que sim, que é, acontece na cabeça, lá dentro e para isso é preciso algum tipo de solidão ou silêncios criativos. Levá-lo a cabo já dependerá daquilo que se cria. Há criações absolutamente individuais e há outras em pares, grupos, equipas, sei lá o que mais.
Crio, logo... - Acabava assim. E gostei da frase da fadista Ana Moura, se não estou equivocada. Crio, logo "sou livre e feliz". Subscrevo e acrescento que criar é sempre ser livre. Ou exercer um bom bocado da liberdade que temos. E isso, sem dúvida, pelo menos nesse instante, é ser feliz. Já não é nada mau, convenhamos.
dezembro 30, 2013
Na corda bamba
1. No mesmo grupo, largo grupo, diga-se, constituído por duas turmas dei mais de 50% de classificações negativas numa e obtive uma taxa de sucesso maior, bem maior, noutra. Sou a mesma, diga-se, e sempre eu na mesma sala, à mesma hora. Noutro grupo parecido, algo parecido. Sucesso mas baixo, mais baixo do que o da outra turma, com um alto sucesso. Ainda não sei, pois, se me deva juntar ao grupo dos maus professores que devia ir para a rua ou ao dos muito bons que ainda merece lá estar.
2. Parece que os médicos que passarem mais receitas vão ser penalizados. (Um bocadinho como os docentes que dão muitas negativas.?) Uma receita com resmas de medicamentos para tomar nunca é agradável, por várias razões, mas o importante não será o problema e a sua cura? Estarão agora a performance do médico e a sua reputação ameaçadas por esta espécie de intimidação? Não pode um bom médico receitar muito? E um que receita pouco é automaticamente bom? Era ainda melhor que isto fosse tão linear assim.
dezembro 29, 2013
Um mundo à parte
Há semanas, à conversa com uma amiga, dizia eu que não podemos evitar que digam mal de nós. Ela anuiu, lá isso é verdade, disse. E não é? Acrescentei umas palavras que soam a frases feitas mas que são um facto: o que interessa é estarmos bem com a nossa consciência, de resto não podemos impedir que nos critiquem.
Quando somos criticados justamente, ao serem-nos apontados defeitos e erros que nos podem ser imputáveis, então não temos nada que nos incomodar. Quando somos censurados injustamente, então há uma razão maior para nos incomodarmos, sim. Mas, não sendo uma ofensa direta e pessoal ou uma calúnia ou difamação, valerá a pena incomodarmo-nos? É possível, para agirmos em nome da verdade, sabermos tudo sobre as críticas que nos fazem? Quem, onde, como, porquê? E é viável irmos tirar as satisfações todas, corrigir tudo, dizer de nossa justiça? E se o for, valerá, insisto, a pena?
Por isso defendo, desde há muito tempo, que não me venham dizer porque não quero saber o que censuram em mim. Não me interessa e não me importa. Houve um tempo em que provavelmente sim mas já não. Don´t care. Faça-se o que se fizer, bem ou mal, todos somos sempre criticados. Não se agrada a gregos a troianos, é mítico. E real. Portanto, importa é que a nossa consciência não nos critique a nós mesmos... pelo menos não muito.
Porque as palavras dos outros, certas ou profundamente equivocadas, leva-as o tempo. E o que interessa o tempo dos outros, nesse caso? Uma espécie de autismo, saudável e cultivado, às vezes não é uma má ideia.
Quando somos criticados justamente, ao serem-nos apontados defeitos e erros que nos podem ser imputáveis, então não temos nada que nos incomodar. Quando somos censurados injustamente, então há uma razão maior para nos incomodarmos, sim. Mas, não sendo uma ofensa direta e pessoal ou uma calúnia ou difamação, valerá a pena incomodarmo-nos? É possível, para agirmos em nome da verdade, sabermos tudo sobre as críticas que nos fazem? Quem, onde, como, porquê? E é viável irmos tirar as satisfações todas, corrigir tudo, dizer de nossa justiça? E se o for, valerá, insisto, a pena?
Por isso defendo, desde há muito tempo, que não me venham dizer porque não quero saber o que censuram em mim. Não me interessa e não me importa. Houve um tempo em que provavelmente sim mas já não. Don´t care. Faça-se o que se fizer, bem ou mal, todos somos sempre criticados. Não se agrada a gregos a troianos, é mítico. E real. Portanto, importa é que a nossa consciência não nos critique a nós mesmos... pelo menos não muito.
Porque as palavras dos outros, certas ou profundamente equivocadas, leva-as o tempo. E o que interessa o tempo dos outros, nesse caso? Uma espécie de autismo, saudável e cultivado, às vezes não é uma má ideia.
dezembro 27, 2013
Pequena teoria da timidez
Ao almoço do dia de natal, calhou a conversa resvalar para o tema da timidez. Disse eu que a coisa melhora consideravelmente com a idade, experiência própria. As experiências, várias e a níveis variados, vão aniquilando, e felizmente, a timidez. E rematei com um toda a gente é tímida em alguma circunstância, em algum momento, em algum local. Mesmo os não tímidos (como atualmente sou, na maioria das vezes). As pessoas com quem abordava isto olhavam à espera que acabasse o meu raciocínio, uma delas, muito jovem, decerto aliviada por desdramatizar a sua confessa timidez. E acabei-o: todos somos tímidos quando não dominamos uma certa situação, quando é inédita para nós, quando estamos fora do nosso contexto, quando somos postos perante circunstâncias com as quais não estamos familiarizados, quando, por causa disto em separado ou em conjunto, sentimos a autoconfiança a fugir-nos debaixo dos pés. Desta forma, e já agora, lanço um desafio. Quem nunca foi ou se sentiu tímido que atire a primeira pedra.
Dever ou não dever - eis a desmotivação
Em conversa sobre tudo e sobre nada com uma amiga e colega neste natal, descubro uma coisa espantosa. Mas já lá vamos.
A avaliação de desempenho docente é uma farsa, isso já sabemos. Nós, que a sabemos por dentro. Foi feita em moldes duvidosos, com critérios duvidosos, com intenções duvidosas. Ainda assim existe e se existe quem é professor tem o direito de trabalhar - ou não - para obter a classificação que pretende, independentemente das suas motivações. Um facto, a sua existência, seja boa ou má, útil ou não útil, justa ou não justa.
Chegados a este ponto, o que me espanta? Saber que foi dito pela avaliadora da minha amiga e colega (que discordou da avaliação e que o manifestou livremente) que não se deve trabalhar para obter uma nota, ou em função da classificação, algo deste género. Rebobino, aqui. Não se deve trabalhar desta forma? E qual a razão pela qual não se pode, já agora? Digo eu a um aluno: vá, não deves trabalhar para uma nota? Não pode? Não deve? É moralmente errado? (É verdade que os alunos motivados e com ambições são criticados.) Pessoalmente não aprecio a competição feroz ou doentia mas considero natural o desafio, a superação de metas interiores, a satisfação de sabermos que conseguimos. A ser esse o desejo, a forma de estar, o objetivo do momento, seja o que for. Se algumas coisas destas servem como motivação para melhorar a performance e obter mais satisfação, pessoal, profissional, não consigo ver onde está a imoralidade. Mas consigo ver que uma lição de moralidade destas não pode ter lugar. A avaliação é para ser feita, objetivamente, sem leituras ou acrescentos pessoais perfeitamente dispensáveis e desmoralizantes.
Desde que não se atropele ninguém, que se respeite os outros, que se trabalhe de forma digna e honesta, não vejo qualquer problema em pedir aulas assistidas para obter a nota máxima. Que vale o que vale, pode mudar e muda de ano para ano, de escola para escola, de avaliador para avaliador, porque há sempre uma dose de subjetividade nos critérios, no interpretar dos mesmos e na sua adaptação aos ciclos avaliativos. Mas cada um é livre de escolher a motivação que ainda o faz trabalhar melhor. Até estupidamente, é possível. Já que tudo está contra nós, sociedade em geral, políticas educativas, congelamentos, salários diminuídos, só faltava esta: a de colegas que se tornaram nossos avaliadores dizerem-nos que não devemos trabalhar com metas pessoais. A minha amiga e colega de missionária nada tem (eu igual, é um direito que nos assiste).
Isto - a inverdade, a falsa abnegação, o tabu - provoca-me alergia. Só mesmo neste país pequenino se retira esta conclusão tão pobre: a avaliação - neste caso, a docente - não é uma forma potenciadora para a melhoria da performance (com o que de positivo isso acarreta) mas sim, pelos vistos e apenas, uma forma para tramar o outro. Triste sina, a nossa, portuguesa, que cultiva a missão e a mediocridade. Não admira estarmos onde (não) estamos.
dezembro 24, 2013
Um desejo simples
Mais luz, hoje e depois, para quem conheceu ou conhece a escuridão. De alguma forma, em algum momento. Neste e nos natais de todos os dias, para lá das crenças e tradições. E, sobretudo, do calendário.
dezembro 23, 2013
Modernidade ou modernice e a história
Os alunos, mas não só, mostram um desprezo considerável pela história. E esse desconhecimento, que advém da falta de vontade em saber algo ou mais sobre o passado, só gera equívocos em relação ao presente. Não sou agarrada ao que já passou, a nível pessoal. E não sou muito de festividades, de efemérides, de datas no calendário, de celebrações exteriores. Gosto de história não para a celebrar com atos mais ou menos públicos e alegrias forçadas. Gosto de história para compreender. O presente, o que foi, o que é e o que ainda poderá ser, para me dar uma visão mais completa do que aquela que é feita por leituras parcelares e imediatas, centradas no hoje, no agora. A história interessa-me, e o que sei não me chega. Por isso, agradeço existir uma coisa chamada cinema que, de vez em quando, me faz viajar lá para trás, para que possa ter essa compreensão dos tempos modernos. E tento, com imensas dificuldades, passar isso, sempre que possível, a quem está sentado na minha sala de aula. Eles não gostam, na sua maioria, e muitas vezes. Querem que a aula seja, sempre, uma continuação do que têm lá fora, daquilo que gostam. Contrario esta expetativa. Com os filmes que passo. Conscientemente, voluntariamente. Porque tenho um objetivo muito específico: o de lhes mostrar algo que não conhecem, que nunca viram nem (de que) ouviram, que até rejeitam, por vezes, ou frequentemente. Mas isto acontece para lá das fronteiras da sala de aula. Há muito desconhecimento do que foi feito e conseguido, mal ou bem, em tempos que não são estes, os nossos. Não há curiosidade, não há interesse, não há investimento em conhecer. E, por isso, muitas opiniões e ideias sobre o hoje refletem essa falta de conhecimento. Nomeadamente, quando se pensa que tudo o que temos esteve sempre e desde sempre garantido. Que sempre fomos esclarecidos, justos e livres. Na verdade, esclarecimento, há muito pouco. E há liberdades que são apenas exteriores. Conheça-se a história, a mais recente e a outra, também. E conheçamo-nos, dessa forma, um pouco mais enquanto gente moderna.
dezembro 21, 2013
De barriga cheia
Está na moda bater nos sindicatos.
Dantes, há bastante tempo, não havia sindicatos.
Muitas pessoas, ao longo da história, pagaram um alto preço para eles vingarem.
Agora que os temos, gostamos de dizer que nada fazem e que são os responsáveis pela instabilidade social.
Talvez fosse melhor, então, voltar à era da Revolução Industrial?
Às horas de trabalho até à exaustão?
Ao trabalho infantil?
À miséria das slums - que não se erradicaram, infelizmente, em muitas partes do globo?
Está na moda bater nos professores.
Em muitos locais do mundo, as crianças não têm escola.
Não há escolas, não há carteiras, não há cadeiras.
Não há livros nem manuais.
Não há escolas, não há professores.
Em muitos locais do mundo, repito, as crianças não vão à escola.
Não podem ir, porque são meninas, porque são pobres, porque estão impedidas, porque trabalham.
Porque as leis e as condições de vida não as deixam.
E ficamos contentes quando sabemos que podem.
Que já há escolas.
E livros.
E professores.
Que as leis mudaram.
Que as condições o permitem.
Aqui, insultamos os professores. Rebaixamo-los, humilhamo-los.
Culpamo-los dos males que as nossas escolas têm.
Culpamo-los dos males que a sociedade tem.
Quando não temos nada, queremos ter. E estamos zangados por não ter. E bem, diga-se.
Quando temos tudo, ou muito, não queremos ter. E zangados estamos por ter. Mal, diga-se.
dezembro 20, 2013
If ou o filme que não é nosso
Melhor até: what if...? Com isto quero dizer que é sempre possível algo não ser aquilo que parece. Ou que as nossas interpretações podem estar parcial ou totalmente erradas. Ou que há um outro lado que não pensámos existir. Ou que a impressão primeira - primária? - não corresponde à verdade. Ou, pelo menos, à verdade do outro. Temos sempre - bem, não sei se sempre - a hipótese que não antevimos, que não previmos, que não vimos. Mas que grande tontice, poderá dizer-se. Assim, não temos certezas de nada. Pode ser, pode ser. Precisamos de certezas. Precisamos, não precisamos? Claro que sim. Podemos, então e por isso, estar a ser perfeitamente tontos. A não ser que... E se não estivermos? What if...?
(If=se; what if= e se : isto para quem não sabe ou não tem obrigação de saber inglês)
dezembro 18, 2013
Comovente
O ministro Crato quase me comovia ao jantar não fosse eu saber que isto é uma grande mentira: a preocupação com "os alunos e as suas famílias". Diz ele que, por isso, para assegurar que "os alunos e as suas famílias" tenham os melhores professores, se faz esta prova. Comovia-me, se não soubesse o resto. Que passa, por exemplo, por lecionar uma turma de 38 alunos (agrupadas em Língua Estrangeira) e outra de 35, um CEF, com dois cursos agrupados (já para não falar das outras todas, de 30, e para quem sabe, claro, o que é um CEF, na grande maioria das vezes). Em ambos os casos, alunos amontoados, sem qualquer margem para receberem apoio individualizado na sala de aula, onde mal me mexo, de resto, e com os quais não vejo a tal preocupação com "os alunos e as suas famílias" que, quase comoventemente, esta espécie de ministro quis deixar transparecer. O ensino pode ser bom mas assim a aprendizagem não vai lá. A não ser que o ministro não queira, ainda que o diga, os melhores, bons professores. E sim super professores, com super poderes. Um deles o de conseguir mexer-se leve e facilmente por entre aquela babel de mesas e cadeiras.
O inglês leva-te a qualquer lado ... ou não
Como se sabe, sou professora de inglês. Não sei se é por isso mas aqui vai: a minha primeira viagem, de avião, foi a Londres, sempre gostei de bolacha americana, sou fã dos U2 e da ilha esmeralda, um dos meus heróis de sempre foi e é Madiba, não me importava nada de viver "down under", o meu melhor professor até hoje era e é neozelandês, e, icing on the cake, estou a acabar o ano apoiada em canadianas.
dezembro 16, 2013
Vidas em jogo
Ontem, uma amiga minha a lecionar na Alemanha postava no FB que estava a ver um documentário sobre a escravatura sexual em países asiáticos. Dizia, chocada, e eu li, chocada, que os pais vendiam as filhas, miúdas muito novas, a troco de dinheiro rápido que muito ajudaria as famílias. Por coincidência, hoje passou no jornal da noite da SIC uma reportagem sobre o tráfico de seres humanos, principalmente com vista à exploração sexual e laboral. São chamados os novos escravos. Estas vítimas atravessam fronteiras (e literalmente), numa abordagem criminosa à escala global. Obviamente que as regiões mais pobres são terreno fértil para esta drama, pois gente desesperada tudo ou quase tudo faz para sair da miséria e ousar querer ir mais longe (literalmente, também). O horror reside nisto - nesta ausência de valor da dignidade individual e em pior - na crueldade de quem explora, aproveitando-se da miserável infelicidade dos outros. A reportagem de hoje mostrou várias nacionalidades envolvidas nesta escravatura moderna, quer como carrascos quer como vítimas. Mas fiquei a pensar num país em particular, aqui na Europa, que me parece continuamente massacrado por misérias que parecem não ter fim: a Roménia. Primeiro, e falando apenas da sua história recente, foi o miserável desabrigo das vidas sob a ditadura cruel e demente de Ceausescu. Depois, parece ser a infindável pobreza que nem a mudança de regime conseguiu eliminar. (Confesso que sei pouco, muito pouco, sobre a atual Roménia e que tenho de pesquisar o possível sobre a mesma.) Continua-se a ver os mesmos rostos sofridos, a mesma mendicidade, as mesmas histórias dilacerantes de quem nada teve e nada continua a ter. Que é verdade que nem todos têm a mesma capacidade de fazer riqueza e de fazer as opções mais acertadas dentro das terríveis condições em que vivem, é, mas é também verdade e uma pior verdade que os governantes, leis e políticas de tantas nações não permitem que os seus cidadãos vivam condignamente. É que ninguém está a falar em vidas de luxo mas sim em vidas maltratadas que são vendidas por uma ilusão de uma existência mais confortável. É essa a maior tragédia. É que o sonho passa a sobrevivência, rapidamente, e no limite.
dezembro 15, 2013
Não me agarres se puderes
Assim de repente, veio-me hoje à ideia o facto de muitos gostarem de se agarrar - muito - às coisas. Aos cargos, às posições, a coisas que não são deles, nem nossas, coisas onde apenas se está de passagem. Tudo é substituível, sobretudo a nível de trabalho. Apenas os afetos marcados pelo sangue não o são. O resto vai e vem, por muito duro que possa parecer. Há quem se instale rapidamente nas coisas, se apodere delas, se mova de todas as maneiras (ou talvez não de todas), não guardando qualquer espécie de distanciamento que me pareceria razoável. O distanciamento que nos diz que tudo é efémero, que tudo se ganha e perde. Dizer isto é assombroso, sei. Há quem não consiga viver senão sob o signo da paixão absoluta, do tudo ou nada. Considero essencial a entrega, a dedicação, o esforço. Chamemos-lhe, até, paixão. Impulsiona tudo isto e mais ainda. Mas a paixão, ainda assim, não deve andar sozinha, sem a companhia da razão. Um bocadinho de racionalidade coloca as coisas no seu devido lugar. Impede-nos de nos pormos acima desse lugar. Podemos sentir-nos motivados, galvanizados, entusiasmados e fazer, assim, um excelente trabalho. Mas convém não esquecer a hipótese de as coisas não correrem conforme os nossos desejos. O desejo, frequentemente, não chega. Aí a razão evitará a desilusão. Demasiada paixão imediata pode resultar em queda apaixonada, também. Isto sou eu a pensar, a antecipar friamente coisas a médio ou longo prazo que os indivíduos em questão - a ser o caso - nem pensam nem antecipam. De tão agarrados que estão às coisas já à primeira. As paixões absolutas logo de início, sem margem para o distanciamento, dão grandes filmes. Apenas resta saber o seu fim. Também é verdade que cada um escolhe o seu género preferido. Apenas este não é um dos meus.
dezembro 13, 2013
War and peace
All I want is peace.
You should give me peace.
Everywhere I look there´s war.
What are you saying? We´re not at war. I´m not at war, with you.
You´re at war with yourself.
Please don´t say that. You know how this war is affecting me.
This war doesn´t depend on you alone. But your war does.
Do something to appease yourself. You´ll appease me too.
Don´t know if I can make it before the war is over.
We´ll talk when the war is over, then.
When peace comes.
Yours, especially.
dezembro 12, 2013
O essencial na fragilidade
O internamento, ainda que muito breve, num hospital ou numa clínica, ou a passagem por um serviço de urgências ou atendimento permanente faz-nos confrontar com a extrema fragilidade de que todos padecemos. Mais cedo ou mais tarde, tem de haver um encontro com a debilidade física (ainda que seja mental, ela é orgânica), com a nossa impotência face ao superior a nós, com a vencibilidade do nosso corpo. De nada nos vale o caráter, a vontade. Todos podemos, mais cedo ou mais tarde, passar por algum tipo de aflição ou sofrimento físico. E se, por sorte, não formos nós os grandes sofredores, basta olhar para o lado, para quem lá está e pior estará, para saber que o ser humano não é invencível. Ele é extraordinariamente inteligente, criativo, tem conseguido dominar parte da natureza e da adversidade dos males mas não é invencível. Sobretudo enquanto indivíduo, indefeso contra algo maior. Há quem se julgue invencível, há, e não são poucos. Debitam alegrias, seguranças, certezas - fortes e infalíveis. Provavelmente temos, todos nós, momentos em que assim nos sentimos, e não é mau, nada mau. A autoconfiança e o otimismo, aliados sobretudo à juventude, são motores de paixão pelos dias e potenciam as nossas maiores qualidades - e possivelmente os defeitos, também. Um encontro com a doença, com a debilidade, muda radicalmente mesmo a mais arrogante das almas. A humildade não pode advir senão do sofrimento, diria. De saber que podemos ser vencidos, facilmente, rapidamente. Nota-se, amiúde, no discurso de quem já passou por algo deste género. Há uma maior maturidade, uma maior serenidade, também, uma maior valorização de pequenas coisas em detrimento de grandes e - tantas vezes - efémeras coisas. Por isso, continuo a achar que é essencial saber o que é o sofrimento para a construção da sensibilidade e da humildade. Não que o defenda, que o aprecie, de todo, que o deseje, não. Apenas penso que quem sofreu é diferente. E, apesar de alguma amargura e revolta poderem estar subtilmente lá, a nobreza de alma tende a ser maior porque a empatia é, necessariamente, outra. Pode haver casos e casos. Há sofrimentos que resultam em revoltas violentas, por dentro e que atingem quem está à volta. Mas no caso do sofrimento físico, a tendência é uma espécie de elevação moral. De generosidade, até. Que não é visível necessariamente através de ações quotidianas, mas através de palavras, mudas até, de compreensão. As pessoas que sofreram, e fisicamente, pertencem a um outro departamento. Não se critica quem não pertence, essa sorte que lhes coube até agora é fabulosa, aproveite-mo-la, mas quem lá está, conhece-se, reconhece-se. E reconhece que o que importa está numa outra dimensão.
dezembro 10, 2013
Lá longe
Ontem, enquanto esperava que vissem a minha entorse, peguei no único jornal que se encontrava nas cadeiras da sala de espera. Não sei já quem escreveu o artigo, se era editor, jornalista ou nada disso. Falava da escola de Xangai e dos resultados milagre que por lá se operam, fruto das aulas de rajada que os alunos têm, das 8 às 16h, da ausência de intervalos e da competição feroz que se fez fomentar entre os professores. Por fim, sugeria o autor do artigo que nós, portugueses, puséssemos os olhos naquele exemplo, professores, pais, alunos. E comparava-se esse sucesso ao de Ronaldo, porque oriundo, também, de esforço, dedicação e muito trabalho. Certo, nada se obtém de verdadeiramente notável sem estas três vertentes. Nem a inteligência basta, sabemos. Mas refuto essa visão de escola e de sociedade automatizadas, em que as pessoas são máquinas, sem margem para outros tempos que fazem também o tempo coletivo e individual. Não é preciso trabalhar-se até à exaustão e viver-se sob permanente pressão para se ser excelente. A excelência passa pelas dimensões mencionadas acima, realmente, mas as condições socioeconómicas e background cultural dos discentes também são favoráveis à aprendizagem. E mais, claro, que tem a ver com aquilo que é a qualidade de ensino. Destas e doutras harmonias, nascerão o prazer de aprender, o saber pensar, o equilíbrio entre ambição e qualidade do tempo que só favorecem o sucesso académico e mais tarde o profissional. Tendo em conta a noção de sucesso que tenho, é possível. Sucesso é, em última instância, ser feliz, connosco e com os outros, conseguir ter alma no meio da engrenagem laboral e social. Horroriza-me a escola de Xangai nos moldes em que foi apresentada, pelo menos. Estamos as milhas, sei. Dos seus resultados, infelizmente, mas da sua robotizada prática. E aqui só tenho a dizer ´ainda bem´.
Terapia de grupo natalícia
Fresquinho, a combinar com o frio que anda por essa Europa fora. Roubado do mural de uma psicóloga amiga.
dezembro 09, 2013
Das teimosias
A teimosia só é justificável quando há uma lógica dentro da razão que se pensa ter. Quando ela é desprovida de lógica e a razão escasseia, a teimosia é um mau aliado. A teimosia emotiva é, admita-se, sinónimo de lenha para uma pessoa se queimar.
dezembro 08, 2013
O triunfo sobre o medo
Tenho lido algumas opiniões proferidas online afirmando que as homenagens e condolências dadas pela morte de Nelson Mandela constituem uma banalização da sua morte. E li ainda que até parece que somos todos guerreiros pela paz tal o nível de envolvimento no chorar a sua partida deste nosso mundo, na blogosfera ou nas redes sociais. Particularmente nestas. Ou seja, as mensagens de pesar que se têm publicado nestes dias, mundo fora, são alvo de críticas por serem muitas e em catadupa. Tenho apenas quatro coisas a dizer:
1- ainda bem que são muitas e quantidade, neste caso, não significa banalização. Significa que este homem tocou gente de todas as cores, credos, idades e nações. Comovente e é bom quando as pessoas se unem num sentimento comum, de elevação, como este.
2 - se havia gente que desconhecia a sua vida e exemplo e ficou a saber algo mais sobre a inspiração em que se tornou e porquê, ótimo. Haja mais exemplos destes por aí e o mundo torna-se melhor. Haja mais conhecimento, também, como arma contra a opressão.
3 - prefiro, por razões óbvias, estas demonstrações nos murais das redes sociais do que as fotografias de gatinhos fofinhos e respetivas frases fofinhas que inundam os mesmos.
4- continuo a maravilhar-me a comover-me com as citações e discursos proferidos por Madiba. Identifico-me totalmente com eles e são uma inspiração para quem gosta da liberdade e da igualdade de direitos. Da mesma forma, continua a galvanizar-me o discurso de Luther King na Marcha sobre Washington, "I have a dream". Há figuras, assim, poucas, infelizmente, que nos chegam lá dentro e trazem para fora o melhor de nós. MLK e, neste caso, Mandela foram duas delas.
dezembro 06, 2013
Cheers
Amanhã, dia 7 - daqui a uma hora, mais propriamente - é um dia especial, o meu pequeno faz 6 anos. Esta semana, o AE ganhou 3 novos seguidores, coisa não habitual - com esta rapidez, explique-se. Acho que, apesar do ano letivo extremamente difícil que estou a atravessar em termos de carga de trabalho e falta de tempo, é para celebrar. As coisas grandes, sempre, e as coisas mais pequenas, mas que têm uma grande importância para nós de alguma forma, assim o exigem. Estou contente. E agradeço a quem assim me faz sentir.
dezembro 04, 2013
O meu querer e o teu querer
Hoje, mais uma vez, confirmei que não podemos mudar os outros - ajudando-os, diga-se - se eles próprios não querem mudar. Hoje, mais uma vez, confirmei que não sou de insistências - quer, quer, não quer, não quer. E disto hoje confirmei, mais uma vez, que não sou de masoquismos - porquê preocupar-nos e incomodar-mo-nos com quem não merece? Há tanta coisa que requer e quer a nossa atenção e esforço. Hoje também e mais uma vez confirmei que de vez em quando uma pessoa desacredita ou então que as nossas impressões no fundo não estavam erradas e que o nosso querer não basta. E, pior, que por vezes não vale a pena. E que sair e deixar que cada um siga o seu caminho é inevitável. Ou necessário. E até justo. Sair, tantas vezes, é a nossa sobrevivência ainda que seja o contrário para quem deixamos que siga. Pode ser que a fé volte, voltará, porque há sempre quem nos ponha de volta no trilho da esperança, mas não todos. Inegável. Os caminhos estão em aberto - que os sigam, para o lado que quiserem. Tenho pena e não o desejaria mas querer, por vezes, no nosso caso, não é poder.
dezembro 01, 2013
Obviamente, indemnize-se!
Não vou dissertar sobre a prova dos docentes porque não me apetece. Havia muita coisa a dizer e não me apetece. Mesmo. Mas li algumas coisas sobre a mesma que me desagradaram. Este comentário que transcrevo abaixo é um entre muitos que vi em caixas de comentários online que, estupidamente, ainda me ponho a ler.
"Se um professor chumbar o Ministério deve indemnizar os pais dos alunos pelos danos causados pela contratação indevida de pessoal não qualificado para a profissão."
Duas coisas apenas. Primeira - eu também exijo indemnização, como professora, funcionária pública e cidadã, pelos danos que me têm vindo a ser causados pela(s) eleição(ões) indevida(s) de pessoal não qualificado para a profissão de governantes e políticos. Segunda - como mãe de um aluno prejudicado, no presente e no futuro, por turmas enormes e por outras manobras governativas que tresandam a incompetência e desconhecimento do terreno, também exijo indemnização.
E há mais outra coisa, afinal. Defendo uma prova para todas as profissões, políticos e governantes incluídos. Em 120 minutos devem provar o que (não) valem.
novembro 30, 2013
Feliz natal?
Lá vem a época que adoro e detesto em simultâneo. Gosto dos pinheiros de natal, da consoada aconchegante e doce, das luzinhas a piscarem nas janelas, do prazer de comprar para os outros, da magia da decoração natalícia que com uma criança em casa se volta a sentir. Mas não suporto a azáfama até lá, as compras no meio das enchentes, as filas de trânsito, as escolhas apressadas dos presentes mais exigentes por falta de tempo antes, a histeria coletiva que atravessa os centros comerciais, um consumismo que nos vai sugando perante as muitas coisinhas bonitinhas que aparecem sempre nesta altura. Depois, há outra coisa. Não penso que vá ser um natal fácil. É uma época já terrível para muitos, por razões afetivas, nomeadamente, mas também porque muitos não chegam ou não chegarão à fartura que lhe fomos associando nos últimos tempos. Vai ser muito difícil para muitos, mesmo muito. E este marketing das sociedades de consumo só cria insatisfação e desejos que não se podem concretizar. É uma época para ser mágica mas não há magia sem condições socioeconómicas que o permitam. A simplicidade de outros tempos enchia-nos a alma mas a complexidade em que se tornou tudo isto - os presentes e a consoada que que pretendem fartos - já não deixa que o simples volte sem alguma espécie de dor. Sobretudo para aqueles que nem ao simples conseguem chegar. O natal é uma época muito bonita mas pode ser uma época muito triste, também. Difícil. Todos os anos, é certo, mas cada vez mais para um maior número de pessoas.
novembro 29, 2013
Mudar de vida
Eliminei o perfil Google + porque não fazia sentido ter aderido a algo que não utilizo, por falta de tempo e de paciência. É certo que aderi a esse perfil por puro acidente, enquanto fazia experiências no blogger do AE, mas a verdade é esta - pretendo manter apenas aquilo que me interessa. Às pessoas que gentilmente me adicionaram agradeço a simpatia. Também reverti os comentários para o perfil do blogger e alterei o nome para AEfetivamente, porque sim. Mantive o nome e a foto porque o AE não é anónimo, embora às vezes me apetecesse, no anonimato pode dizer-se mais coisas e estamos mais salvaguardados. Mas enquanto isto correr bem ficará assim. Quanto ao resto pode ir mudando. Já sinto, por exemplo, vontade de mudar o fundo outra vez.
novembro 28, 2013
Naturezas
Tenho muitas dúvidas se o homem (e a mulher) nasce naturalmente bom, segundo a teoria de JJ Rousseau. Que a sociedade corrompe ou pode corromper não tenho dúvidas. Que uns são mais bafejados pela sorte desde que nasceram também não tenho dúvidas. Que uns não nasceram virados para a lua não tenho dúvidas. Agora que a natureza pura seja igualmente boa em todos e potenciadora de experiências positivas já me apresenta dúvidas. A educação, o meio, as possibilidades que nos são oferecidas ou que nós procuramos facilitam e favorecem o esclarecimento e a bondade. Pelo contrário, as adversidades de muitas vidas que brotam de condições desfavoráveis ao esclarecimento favorecem a maldade. Mas o bem e o mal existem para lá dos limites impostos pelas dimensões exteriores. O mal existe lá dentro e daí a sua grande imprevisibilidade. Pode surgir de um desnorte, pode ser fruto de uma escolha mas pode haver uma natureza mais predisposta para o mal. A bondade pode ser construída, estimulada, é verdade, mas pode nunca instalar-se totalmente. Ou pode a maldade vir gravada de alguma forma desde que se viu a luz do dia.
novembro 26, 2013
Inteligência companheira
Escrito por Andreia Silva, de Aveiro, com quem colaborei com grande prazer no projeto de Teatro Escolíadas durante dois anos.
A verdadeira inteligência é a emocional. Só esta nos conduz ao encontro
do outro. E sem estes encontros não há vida, não há amor, não há nada. Só esta
nos ensina a ser gente. E mesmo quando falha o raciocínio lógico articulado, se
esta não nos falhar, seremos homens e mulheres que podem marcar a diferença.
Hoje, o meu aluno Rúben revelou-se um grande menino, um grande homem, ainda que
marcado pela sua trissomia 21: esteve sensível, sempre atento e carinhoso, numa
tentativa de levar algum conforto a uma das pessoas que o acompanham todos os
dias na nossa sala de apoio à multideficiência (e que infelizmente recebeu uma
muito triste notícia hoje). Foi um companheiro à altura o nosso homenzinho. E
está muito certo e seguro de uma das grandes lições que devemos levar da vida:
à amizade, responde-se com amizade!
novembro 25, 2013
Montanha russa
Ser paciente o tempo todo é impossível ou é tolice. Ser impaciente a tempo inteiro é impossível ou um tormento. Ser paciente em determinadas circunstâncias é uma benesse. Ser impaciente em determinadas circunstâncias é um motor de construção. Ser paciente em algumas situações é ser estúpido. Ser impaciente noutras tantas é ser insuportável. A paciência é uma grande virtude, enorme, mas pode ser, ao invés, sinal de uma grande idiotice. De um grande marasmo. De uma ausência de ação considerável. É preciso ser paciente, muitas vezes. Esperar é ganhar, ainda que custe. Saber esperar é uma coisa maior. A impaciência é irritante, para nós e para os outros, não dá sossego. E, no entanto, pode trazer a força de um espírito dinâmico e empreendedor, sem tempo para mais delongas. A paciência quer-se e a impaciência é precisa. Um pico aqui, outro acolá. A paciência empata serenamente e a impaciência é grito de libertação. Cada um embarca no ritmo que quer. Ou sabe ou pode. Ou mantém os dois, que será o mais plausível. Ou o menos aborrecido, vá.
novembro 24, 2013
Up there where we don´t belong
Is it me?
Our marriage?
I´ve been thinking...
Have I done anything wrong?
You´ve stopped loving me?
You´ve found somebody else?
Tell me, I hate to see you like that.
And I´d hate to see you like that because of me.
Come on, nothing of that sort!
So, what is it?
You´re strange...
Why that face?
Why that uncomfortable look that makes me feel even more uncomfortable myself?
Oh, silly silly Sally
It´s the cold!
Gosh I´m freezing up here!
Come on, baby, let´s go down. Now!
novembro 23, 2013
Das boas intenções
As intenções podem ser boas, as melhores, mas pode fazer-se asneiras pelo caminho. Danos colaterais que podem fazer mossa em quem está na paz e no sossego. Muitas das boas intenções podem vir acompanhadas de manipulação, inconsciente é certo, mas manipulação. O difícil é ver para além do óbvio. E difícil é apoiar as boas intenções quando já se viu para além dele.
novembro 21, 2013
Pequena instrospeção
Inicio aqui - espero - um novo capítulo intitulado Outros olhares que consistirá na publicação de posts/textos escritos por outras pessoas. Para começar, serão escritos por pessoas que conheço, amigos, na verdade, e que aceitaram participar no AE com a sua perspetiva ou apenas sentir perante alguma coisa. Não vou interferir em nada com o seu conteúdo, identificando-me com o mesmo ou não, interessa-me apenas enriquecer o AE com outros afetos, seguramente, e com outros factos, também. E não se manterá - espero - o toque exclusivamente feminino, desta forma. A ver vamos, haja vontade e tempo para outros nos darem a conhecer o seu olhar.
O post que segue abaixo foi escrito por Lília Santos, de Coimbra, que conheço desde 2009.
Aqui vão rascunhados alguns pensamentos...
Sendo este um ano mais difícil do que o normal (estou a trabalhar mais
longe do que gostaria), dou por mim nas minhas viagens (a CP vai ganhar imenso
dinheiro comigo este ano) a pensar em tudo e em nada.
Estou, sem dúvida, numa fase mais introspetiva da minha vida, que
passa por uma atitude de solidão em relação aos outros e de um “encontro”
comigo mesma. Será bom? Sinceramente, não sei. O “afastamento” tem aspetos
positivos e também negativos. Como positivo destaco o facto de me reencontrar,
como negativo, o sentir que estou a perder a minha melhor caraterística: o
sorriso. Rir é muito bom, mas quando acontece de uma forma espontânea, fácil,
natural… Neste momento não vejo grandes razões para tal. O nosso país está em
colapso, em falência… O que é hoje, não é amanhã. Muito preocupante! Mas pior
do que tudo é quando penso nas próximas gerações… No entanto, é a pensar nelas
que vou continuar a sorrir, a pensar que tudo irá mudar e que a minha filha, os
nossos filhos terão um futuro feliz, brilhante, colorido. Além do mais, quem me conhece, sabe que o meu sorriso fará falta.
novembro 18, 2013
Pela noite dentro
Na inicial madrugada de domingo tive de me dirigir à urgência pediátrica do hospital da cidade maior aqui da zona. Um cansaço tremendo está instalado nos rostos dos pais e mães que acompanham os filhos àquelas horas da noite (e que se prolonga, muitas vezes, durante horas). Não é, logicamente, um local onde apeteça propriamente ir, seja de madrugada seja a qualquer altura, mas acredito que a hora é especialmente dura para pequenos e grandes. E enquanto se espera e se sai de lá quase de manhã, o que passam na televisão de uma sala de espera da urgência pediátrica? A casa dos segredos, pasme-se. Não há som, também era o que faltava, mas só o teor daquilo dá vómitos. Mas se se pensa que não podia piorar, podia, podia, pode sempre piorar. E pôde. Acaba a transmissão e começa uma sessão de cinema. E o filme que passa na ala das crianças é Call Girl. É preciso dizer mais alguma coisa acerca deste mundo maluco - ou país maluco, provavelmente e melhor dizendo - onde vivemos? Mas digo, sim, ainda algo mais - é que não sei se aquilo era para animar os pais que por ali se encontram, para os despertar, entenda-se. Porque não pode ser para a pequenada, pois não? Não pode, mas o problema é que eles também lá estão. E quem ligou o televisor naquele canal? Outra boa pergunta. De qualquer forma, tanta regulamentação - e tanta fiscalização - que falta fazer por este país adentro. Porque bom senso, sensibilidade e respeito pelo outro são coisas que não existem. Nem que o outro tenha meio metro ou um metro e pico. Mude-se algumas vontades, mude-se por favor. Mas urgentemente.
(E por falar em fazer falta, vejo que me falta um capítulo - ou etiqueta - que agora encaixava aqui tão bem: mega irritações.)
novembro 15, 2013
Contente descontentamento
Ontem, enquanto via o telejornal, animei-me momentaneamente quando me foi dito que agora vão começar a distribuir ouro pela população (não gosto de ouro, já agora, mas trocava-o logo logo, vendia-o logo logo, e fazia imensas coisas com ele). Esta resposta que me animou tinha a ver com a minha super sorridente e tonta pergunta: ai sim, saímos da recessão? e agora? o que é que isso significa para nós? vão melhorar as coisas? - enquanto via e ouvia (e lia em rodapé) a notícia da noite (terá sido a do dia, também?). Reparando que a ironia brincalhona era apenas isso mesmo, pergunto a outros, já hoje, na esperança de recuperar a alegria: saímos mesmo da recessão? e agora? já está a acontecer alguma coisa? em concreto? já posso fazer um sem número de coisas que os cortes no salário, congelamento desde 2004, iva, roubo dos subsídios, etc e tal, não me deixaram fazer? Sem falar em quem está pior, muito pior, já no limite da sobrevivência. Bom, digam-me, há alguma coisa que eu já deveria estar a sentir, efetivamente? Sintomas da saída da recessão já esta manhã? Coisas concretas? Hmmm, não? No meu caso, não? Hmm, bem me parecia. Era então um contentamento descontente, porque palerma e apressado, bem me parecia, outra vez. Foi apenas um contente momento porque o descontentamento, esse, parece que não me abandona. A recessão é uma coisa má e a saída é uma coisa boa, deve ser, mas só quando na prática começar a ver aparecerem coisas (na verdade ressurgirem, uma vez que foram tiradas, e sem permissão) que fui vendo desaparecerem. Entre elas o contentamento contente de ver quem trabalha, há anos e anos, compensado por isso. E o resto que daí advém.
novembro 14, 2013
O lado sapato
Salvo seja. O título, melhor dizendo, e lembrando-me de uma velhinha frase dita numa revista por Rita Lee. Quanto ao post, é para não se dizer que não falo de sapatos. Não falo, é certo, mas mostro-os. E numa língua que dá jeito, caso se vá para fora ou se esteja a ler revistas de moda femininas e sugestões dadas por quem sabe. Quanto ao armário de cada uma, é ver o que falta.
(Custou-me ver a diferença entre os platform e os pumps, mas ela existe, existe mesmo. E agora confirmo que os peep toes não são pumps, claro que não, silly me, peep é aquela coisa do espreitar, engraçado o nome, acho que há um filme chamado Peeping Tom, agora que me lembro. Aqui está matéria para uma boa aula em inglês, para meninas, preferencialmente, é possível. Talvez inclui-la no tema shop till you drop, por exemplo?)
novembro 12, 2013
A banalidade do ranking
Não gosto de rankings, valem o que valem e, para mim, nada valem. Já estive numa escola que esteve bem colocada num, naquela altura, e não partilhei o entusiasmo que vi gerar-se entre algumas hostes. Talvez por ser muito infeliz lá, malgré la qualité. Engraçado como uma boa escola, consensualmente falando, pode ser um lugar onde não se é feliz, mas isso seria - é - outra história. Não trabalho para rankings, nem para exames, credo. Sempre me fez espécie fazer-se isso, e fazia-se, dar as aulas em função dos exames que se sabia virem aí. Também me fazia - e faz - impressão aquela histeria, sobretudo dos colegas, em volta do exame (então as reportagens televisivas nesse dia nem se fala) como se de vida ou morte se tratasse. É importante para os alunos, claro, para as entradas nas universidades, vivemos de acordo com seriações e números, mas a mim, enquanto professora que privilegia o saber, era-me igual ao litro. Sou a mesma pessoa de escola para escola, se mo deixarem ser, claro, com exames ou sem exames, com rankings ou sem rankings. Agora estou numa escola profissional pública, que não tem exames, e sou a mesma, ou tento ser, mas aos condicionalismos já lá vamos.
Os rankings vão dizendo o de sempre, porque baseados em resultados de exames (que podem ilustrar uma verdade, parcial, mas ainda assim ser o mais falaciosos possível), vão dizendo o de sempre - que as escolas privadas são melhores do que as públicas. E as pessoas que não gostam dos professores nem do ensino público logo aproveitam este dado para se lançarem ferozmente contra eles. Bom, a escola pública está cheia de condicionalismos, de dificuldades, que não partem de nós, professores ao seu serviço. As conversas e o nosso espírito revelam muito desencanto e a sensação de se ir contra os próprios princípios. Os professores do público são piores do que os do privado? Os do privado trabalham mais e melhor? Não. Pelo contrário, os do público trabalham em condições adversas a muitos níveis, inclusivamente, e teríamos de chegar lá, trabalham com uma matéria-prima que diverge completamente da do ensino privado, no geral. Mas então os melhores alunos estão no privado, não há excelentes alunos no público? Claro que há alunos brilhantes no público, mas ao lado de outros completamente desmotivados, oriundos de famílias completamente desestruturadas, um rol de problemas que só quem passa por eles é que sabe. Muitos alunos brilhantes perdem-se, de resto, na complexidade inclusiva de muitas turmas (um tema sensível, a não ser explorado aqui agora). Quem vai para o privado não é necessariamente mais inteligente, de todo, mas pode ser melhor aluno, devido ao background socioeconómico da sua família, à sua consequente motivação e aos demais potenciadores do sucesso escolar. Há CEFs, por exemplo, no privado? Seria interessante haver. Em 4 anos já vou no meu sexto CEF e acreditem que aquelas aulas não são a mesma coisa embora eu seja igualzinha por dentro (conhecimento científico, seja lá o que for) e não menos meritória, claro. A matéria-prima é uma noção essencial para o sucesso na escola. Considerando esta e os condicionalismos a que estão sujeitos na escola pública, os seus docentes fazem milagres, acredite-se.
Também não quero dizer que são melhores docentes os professores do ensino público, porque as generalizações são um princípio errado, mas são milagrosos, isso realmente são. Fazem milagres, repito, para conseguir resultados. Sim, são praticamente obrigados a passar os maus alunos (porque os há, que não se ignore) para favorecer as estatísticas, o umbigo dos diretores, a imagem das escolas e, sim, manter o emprego. Sucesso é igual a abertura de turmas e investimento, nomeadamente financeiro, insucesso não. Posto isto, os rankings não me dizem absolutamente nada. Porque nada dizem, nada de nada. Nada que alimente o essencial. Existem para espalhar a desconfiança, a divisão, o caos. A luta de um professor na escola pública é desgastante, diária, constante. Não precisamos de mais nada que a venha tornar mais dura ainda.
À posteriori: também existem excelentes alunos no ensino profissional público, já agora. O que não devia existir é toda a investida governativa para acabar com ele(s).
À posteriori: também existem excelentes alunos no ensino profissional público, já agora. O que não devia existir é toda a investida governativa para acabar com ele(s).
novembro 09, 2013
Descomprimir
Sem qualquer interesse público mas hoje soltei umas boas gargalhadas em frente ao televisor (voltei a saber o que é uma coisa chamada televisão, abençoada chuva e abençoada resma de testes para corrigir que me atiraram para o sofá e me fizeram trabalhar mas rir, combinação que vai sendo cada vez mais rara, segundo o evangelho de muitos de nós).
1. O filme do Robin Williams "Mrs Doubtfire" resiste ao tempo pois não consegui parar de rir até praticamente 10 minutos do fim, mais ou menos. Um mais para Carpe dentum, seize the teeth (agarra os dentes), num hilariante momento que vai buscar, adaptando, a mítica deixa no filme "Clube dos Poetas Mortos", também protagonizado por ele num registo puramente dramático. Trata-se de um ator que não faz parte da galeria dos meus sedutores mas que nos faz rir e chorar simultaneamente num ápice, talento que não é para todos. Mesmo quando puxa ao melodrama lá estou a comover-me, sobretudo se a história meter miudagem, coisa que acontece desde há uns anos para cá. Grande comédia, esta, e rir ainda é um bom remédio.
2. Vi o episódio da telenovela da SIC passado na Golegã (a propósito, acho que tenho que voltar lá, à terra da festa do cavalo. Quando lá fui, há 4 anos, não gostei, talvez por ir em visita de estudo com pessoas que mal conhecia na altura. Senti-me desconfortável naquele ambiente, vá lá saber-se porquê. Até acho que sei mas não me apetece dizer). Bom, não sabia que o par Rui Unas e Luciana Abreu podia ser tão engraçado, a cena das castanhas está ao nível da boa comédia que aparece, por exemplo, nas produções semelhantes brasileiras. Ela chamar-se Fátinha ou Faty na novela também não está nada mal. Afinal, a personagem podia ser pior. Tudo pode piorar, como se sabe. Nada como descomprimir, então. É S. Martinho e ninguém leva a mal.
Das dores
Temos muita dificuldade em admitir o sofrimento. Porque há quem nos faça sentir, provavelmente, que fazê-lo revela fraqueza e debilidade de caráter. Então quando algo nos dói instigam-nos a fugir a essa dor, rapidamente e através de variadas formas. Esta exigência de não sofrer - como se o sofrimento significasse, então, fragilidade - é cruel e foge completamente à verdade. A dor não é uma boa sensação, não é, e o ideal de muitos de nós é não senti-la mas a verdade é que ninguém lhe está imune. E ninguém pode ser julgado ou inferiorizado por senti-la. Ou deixar que, de forma transparente, o vejam senti-la. Ninguém deve interferir - até certo ponto, claro - com o exorcismo da dor.
Também ninguém nos pode exigir que nos irritemos com as coisas que não nos irritam. O que irrita e faz sofrer um pode passar completamente ao lado de um outro. E vice-versa. A cada um as suas irritações, já aqui o escrevi anteriormente. De igual forma, ninguém pode exibir superioridade moral em considerar a sua irritação maior do que a do outro. Cada um escolhe a sua cruzada e sofre com aquilo que para si é essencial. A noção do essencial diverge de pessoa para pessoa e não se pode impor ao outro que algo que não lhe faz diferença faça. Ou o contrário. Há movimentos coletivos que são precisos, certo, mas em várias frentes e de várias maneiras. Não podemos todos atuar de igual forma em todas as circunstâncias se temos dessa circunstância uma visão diferente. A democracia das ideias deverá estar acompanhada da democracia dos sentimentos. E, consequentemente, das atitudes.
novembro 08, 2013
Civismo e inspiração
Um mini-regresso já hoje para dizer apenas uma coisa: a rejeição do que Margarida Rebelo Pinto disse numa entrevista na televisão - que não vi mas da qual tive conhecimento por causa da rábula feita por Bruno Nogueira a esta figura da literatura light (epíteto não meu ainda que concorde). Disse a mesma que fazer manifestações nesta altura, presumo, dado não saber se o pensa em relação a anteriores, demonstra falta de civismo e um desrespeito pelo trabalho dos governantes. Podia ser irónica e até sarcástica, porque também o consigo, mas calmamente digo apenas que a mim, pessoalmente, me espanta é haver tanto civismo por parte de todos nós. Na verdade, temos reagido da forma mais pacífica possível, tendo em conta o agravamento das condições de vida, de trabalho e demais retrocessos em vários aspetos da sociedade em geral. Tem havido, como sabemos, reações muito mais acaloradas e explosivas noutros locais do globo, e mesmo na cívica Europa reações então muito pouco cívicas, sendo assim colocada a questão.
Pessoalmente não me tenho identificado muito com o estilo das manifestações mas considero-as uma muito boa e legítima forma de se mostrar descontentamento e com um significado que dirá muito e poderá ainda fazer mais. Porque não me identifico eu com a forma como as manifestações são levadas a cabo, isto se estiver lá dentro e não apenas a olhar de fora? Porque nas que já participei concluí que foi - é? - muito superficial a maneira como os manifestantes encararam a coisa - pelo menos os que pude observar. Dizem-se piadas, fala-se de trivialidades, reúnem-se pessoas que não se viam há muito e tenta mostrar-se que apesar de tudo se está muito bem disposto e que se está a triunfar de alguma maneira individualmente. Não há profundidade, não há reflexão e, sobretudo, não há silêncio e consternação. Sim, para mim as manifestações deviam ter qualquer coisa de funeral, mostrar-se que não se trata de uma festa e de um passeio a não sei onde mas sim de um momento de tomada de consciência coletiva e que envolve alguma dor, desencanto e revolta pelo estado das coisas. Obviamente que haverá e há decerto exceções mas naquelas a que fui houve, frequentemente, um sentimento de não pertença a uma forma de protesto que gostaria de ver encarado de uma forma diferente. Poderá argumentar-se que a revolta necessita da exteriorização de sentimentos e da capacidade argumentativa dos manifestantes, da luta. Certíssimo. Isso vejo em quem as lidera, realmente, mas não em quem está lá dentro, nos anónimos (e infelizmente conhecidos a fazer paródia). São demasiado levianas (até tímidas, pode ser, no confronto com a verdade que elas significam), demasiado levianas, repito, as coisas que se dizem nesses momentos. Mas isto sou eu e as manifestações onde estive e com as quais não me identifiquei. Repudiá-las, impossível, pelo contrário, e acusar os manifestantes de falta de civismo é de uma insensibilidade social para além do razoável. Se há erro nas manifestações, nestas circunstâncias de revolta social, é que são ou demasiado mornas ou demasiado festivaleiras. Como disse acima, não concebo o ato da manifestação sem consternação nem seriedade. Também não defendo a violência, é um facto, embora não me surpreenda quando certas situações são levadas ao limite. No fundo, sonho com manifestações ao estilo marcha sobre Washington ou mesmo a non-violent non-cooperation de Gandhi, daquilo que vi e penso saber sobre elas. O silêncio e a profundidade são uma inspiração que deve acompanhar a indignação. E mais do que palavras de ordem precisamos de inspiração. O que não retira em nada do que disse sobre o total repúdio acerca da falta de civismo dos portugueses dita pela MRP. (Discordo de tudo o que disse, de resto.) Falta-nos inspiração, sem dúvida, mas já não nos falta civismo. Aqui, sinceramente, até o estamos a ter em demasia.
(Todas as imagens do AE são tiradas do Google - ou do FB. Espero não repetir nenhuma mas é bem possível.)
novembro 04, 2013
Pausa no cais
O AE vai estar em standby esta semana, visto que a autora está atolada em trabalho. Obrigada pelas leituras e visitas e até ao fim de semana, em princípio, quando deverei começar a sair um pouco do lodo.
novembro 02, 2013
Passo a palavra
Passo reuniões em que se projetam atas e outros documentos, passo papeladas certificadas para tudo e para nada, passo memorandos para mostrar que se esteve, fez e falou, passo ideias de gente que ou tem medo de não sei o quê ou não tem nada melhor para fazer. Passo a ineficácia, passo a verborreia, passo a exibição pessoal, passo a tecnologia desnessária. Passo isto tudo e passo todo e qualquer tipo de massacre mental (e físico) para o qual não tenho compreensão, complacência ou, na verdade, paciência. Quanto tempo desperdiçado, quanta energia despendida, quanta coisa que realmente interessa não se faz por causa disto e de mais. Passo. E sofro quando não me deixam passar. Podem passar palavra.
novembro 01, 2013
Considerações blogosféricas
1. Ando sem tempo, e prevejo que vá continuar, a ver pela minha desafiante direção de turma e também porque o pequeno e a escola primária o exigem. Não tenho conseguido, e prevejo que vá continuar, visitar os blogues onde costumo planar, daí que não estranhem, colegas ou amigos da blogosfera, a minha ausência. Não deixei de gostar de vos visitar, de todo. Ou, visitando-vos, não estranhem a baixa nos comentários, que prevejo que vá continuar. Tempo, não há. Não me lembro de um primeiro período assim, tão extenuante e exigente, ainda que, valha-me isso, aliciante (estou a olhar para os aspetos bons da coisa, porque os há, ou sou eu que quero que eles o sejam).
2. Não sou de coisas definitivas nem de lealdades estáticas e eternas. O blogroll que aparece aqui ao lado, bem em baixo, de vez em quando é e será alterado. Tenho a certeza que faltarão lá links de bons blogues que desconheço totalmente e de outros que não tive tempo ainda de explorar melhor - o que prevejo que irá continuar. Vão estando os blogues onde vou, uns mais assiduamente, outros frequentemente, outros de vez em quando. Se achar que nunca lá vou - é possível que os haja - será melhor retirá-los da lista e deixar espaço a outros que forem surgindo. Esta necessidade de mudança e de atualização de preferências também é algo que prevejo que vá continuar.
3. Tenho algumas preocupações com os números mas estou a aprender a relativizar. Tenho que pensar que qualidade é melhor do que quantidade. E, também desta forma, tenho escrito textos/posts que por vezes deviam ter mais qualidade, com menos gralhas (quantas vezes escrevo com o meu filho aos pinotes à minha volta), sendo mais pausados e mais refletidos, porque escrever muito não quer dizer escrever bem. Tento atualizar isto diariamente mas não é fácil, nada fácil. Admiro quem o consegue fazer numa base diária, até várias vezes ao dia. Eu vejo-me aflita e prevejo que vá continuar. Não fora a satisfação que ao mesmo tempo me dá e a sorte de ter amigos leitores que me dão alento, não sei, não. Ou melhor, sei. Continuaria, apesar dos pesares. Isto é viciante e um estimulante prazer. E prevejo que assim vá continuar.
outubro 31, 2013
Amigos amigos géneros à parte
"A amizade, entre um homem e uma mulher, é (o leitor que escolha): um bico de obra; uma coisa muito linda; ainda mais complicado que o amor; absolutamente impossível; amizade da parte da mulher e astúcia da parte do homem; astúcia da parte da mulher e amizade da parte do homem; só é possível se a mulher for forte e feia; impossível se o homem for minimamente atraente; receita certa para a desgraça; prelúdio certo para o romance; indescritível; inenarrável; sempre desejável; o que Deus quiser; o diabo." MEC
Uma amiga postou isto e achei muita piada. Eu, leitora, escolhia algumas, sem hesitações. Tenho amigos homens, essencialmente colegas, muito bons colegas, melhor dizendo. Amizades íntimas são poucas, sobretudo por opção e maneira de ser (independente). Poucas, dizia, sejam homens ou mulheres. Poucas mas muito boas, já agora. Quanto aos homens, e batendo certo com algumas coisas ali em cima sic MEC, a verdade é que perdi alguns amigos - vários - quando me casei. Foram deixando de telefonar, de aparecer, de estar comigo -ou connosco. Agora não sei se o fizeram porque deixei de estar disponível, quer dizer, livre, ou se por respeito ao respetivo, do género pensarem que causariam algum tipo de aborrecimento, é bem possível. Também é possível que nestas coisas os homens sejam mais observadores do compromisso alheio, enquanto que as mulheres continuam atiradiças e conversadoras com os homens casados. Não é regra geral, mas é possível. Ou então é mesmo aquela coisa do é impossível uma amizade desinteressada entre um homem e uma mulher. A não ser que ele seja feio ou ela feia. Ou os dois feios, o que também é possível. Os dois bonitos e atraentes deve ser um berbicacho, sobretudo se forem casados, um ou outro, ou até, possivelmente, os dois. Por causa da ciumeira dos respetivos, que pode ser possível. Mas há casos e casos. Pode, no fundo, esta amizade ser o que as pessoas quiserem. Ou então o que Deus quiser, claro. E aí a amizade pode desembocar em romance, é possível. (E numa possível desgraça.) Ou não, o que também não deixa de ser possível. Posto isto, aos bons amigos. Se possível, bonitos e atraentes, o que me parece impossível. Mas é possível que os haja, é um facto. Com ou sem astúcia, eis uma boa questão.
outubro 30, 2013
Quando não se vai à bola
Não é bom nem convém dramatizar a situação mas também a mim não me caíram bem as palavras do presidente da FIFA sobre o jogador Cristiano Ronaldo. Não é por ser português, é porque é um grande jogador (o melhor ou não, isso não vem ao caso) e não pode ser referido como "o outro". Este tipo de tratamento revela alguma frieza e sobretudo algum desprezo, quando lhe é reconhecido o mérito futebolístico pelos quatro cantos do globo. E depois a cereja podre em cima do bolo estragado: refere os gastos no cabeleireiro do português, por oposição ao bom rapaz que será Messi (e será, nada contra). Não se percebe o que tem isto a ver com a qualidade do futebol praticado e não se percebe quando houve um jogador que viveu da imagem como nenhum outro - Beckham - e, que eu saiba, ninguém o julgou ou gozou publicamente por isso. Ninguém com responsabilidades públicas e desportivas, ainda por cima. Sem entrar em histeria coletiva e nacionalista, a verdade é que observações deste género não ajudam a serenar em nada o já de si explosivo mundo da bola.
outubro 29, 2013
Ter e haver
A propósito dos maus - péssimos - profissionais em todos os setores e áreas, dou aqui conta de um pequeno episódio que me aconteceu para aí há duas semanas. Entrei numa pequena loja de decoração onde não entrava há bastante tempo. Desloquei-me lá, ao centro da cidade, porque nas outras lojas do género onde vou mais vezes, mais na periferia, não encontrara o que procurava. A loja estava vazia. A empregada de balcão estava sentada numa poltrona da loja e falava ao telemóvel. Devia, pelo teor da conversa que pude perceber, estar a falar com uma amiga, para passar o tempo. Entrei, disse boa tarde, como sempre, e ela, passado alguns instantes, levantou-se da poltrona. Continuou a falar ao telemóvel, embora já na parte de dentro do pequeno balcão onde está a máquina registadora. Entretanto, aproximo-me porque pretendo sair, uma vez que não encontrei o que procurava. Ao passar pelo balcão, a minha parva mania de dar explicações enquanto agradeço leva-me a dizer: obrigada, já vi, mas não encontro o que quero. A mulher pergunta o que procurava eu. E eu, parva a dobrar, respondo. E ela diz, com um ar muitíssimo snob e enfadado (enfadonho, também): ah, mas esse não é o nosso conceito. Conceito? Não percebi bem o que queria dizer com isto. A que diabo de conceito se referia ela? Porque tem de ter um conceito um simples desejo de uma coisa que tem - tinha - tudo a ver com a loja? Surpreendida, ou talvez não, mas já algo irritada, riposto: não? mas era, ou já foi, realmente não venho aqui há anos. Já nem sei o que ela disse, do alto do seu conceito e decerto a pensar que eu, no seu conceito, não valia grande coisa. Os jeans são grandes inimigos da credibilidade social a partir de certa altura, sobretudo se não tiverem uma marca italiana à vista. Ou pode ter sido dos cabelos não lisos, selvagens. Ou até de tudo, daquele meu ar. Ou foi mesmo dela, a exibir uma superioridade qualquer que não existe nem faz sentido, sobretudo para quem está a atender clientes, o público. Na verdade, este tipo de gente, antipática e sobranceira, que nos mira de alto a baixo e nos julga por um sem número de coisas que efetivamente nada revelam também não faz parte do meu conceito. Do meu conceito de profissional competente e que quer e tem de agradar ao público e aos clientes. Porque faz parte do meu conceito reforçar os meus teres e haveres sob um conceito de atendimento completamente diferente.
outubro 28, 2013
Reggae pró-volante?
Bom, acabei de ver isto nos murais do FB. Não sei se o Bob Marley árabe é realmente da Arábia Saudita ou não, mas que está engraçado, está. Um ativismo subtil, inteligente, humorístico. (Se assim for, pelo menos interpretei assim, pelo pouco que pude ler acerca do assunto, de resto.) Embora a temática não tenha graça nenhuma, claro. Vale a pena ver, sorrir ou rir, pela ironia, logicamente, e agir. Para quem o pode e deve fazer. Para que as mulheres não chorem, metaforicamente, e por razões que já deviam estar no baú das histórias medievais.
outubro 26, 2013
Filme do desassossego
Ilude-se quem pensa que uma relação é perfeita quando não há desarmonia de qualquer espécie. Quando não se discute, quando não se dizem palavras feias, quando não há desentendimentos. A perfeição no silêncio pode ser a mais traiçoeira e mentirosa das tranquilidades. Enquanto que o desassossego dos conflitos pode ser o sincero confronto das verdades.
outubro 25, 2013
Grilhões em demasia
Estou a ver histórias de perto, histórias de que não gosto, muitas histórias. Em demasia, até. São demasiadas as histórias de mães que são roubadas e agredidas pelos filhos, são demasiadas as histórias de mulheres que são maltratadas pelos maridos, são demasiadas as histórias de consanguinidade sexual forçada nas famílias, são demasiadas as histórias em que os jovens companheiros das mães exercem violências várias, são demasiadas as prisões e dores a que as mulheres se submetem neste país, em pleno século XXI, pós-libertação feminina, pós-direitos das mulheres, pós-lutas pela igualdade. São demasiados os casos em que as mulheres são agentes e vítimas de tragédias suas e de quem é delas. Se, por esse mundo fora, há leis que ainda legitimam certos comportamentos e práticas, aqui já não. O que torna, então, possível estes grilhões em que ainda vivem? Amor, medo, vergonha social, dependência emocional e financeira, medo da solidão, pavor da perda. Onde fica, por causa disto, a dignidade de cada uma, o amor a si mesmas e também, em certos casos, aos seus? Nas escolas sabemos o que se passa em muitas famílias, com muitas mulheres, com muitos filhos e filhas. E saber, já sabemos, é sofrer. Sobretudo quando, ao ajudarmos, ao tentarmos compreender e ajudar, falhamos redondamente. Para o diabo com as leis do coração que só trazem sofrimento. E igualmente para o inferno com as leis da estrutura familiar que se alicerçam no terror e na violência. O medo destas mulheres fá-las sofrer e fazer sofrer outros. Não há lei que o legitime e, no entanto, não tem conseguido a lei erradicá-lo. Não pode libertar-se quem não afronta o medo que aprisiona. A emancipação é uma fraude, a liberdade é uma máscara. Para muitas, porque o sabemos. Ou para demasiadas.
outubro 24, 2013
Chuva no coração
Sou essencialmente solar. Não gosto de dias cinzentos, escuros, nada. Mas tolero-os se chover. A chuva traz-me o gosto pelo recolher, e daí calha imaginar, viajar de uma outra forma. Olha-se pela janela e vai-se.
Hoje choveu. Muito, a potes e cântaros. Nestes dias, lembro-me da Irlanda, onde nunca estive. Lembro-me de "A filha de Ryan" e de "Esta terra não é minha", filmes passados naquela Irlanda rural, chuvosa, húmida. Depois também me lembro de "Mau tempo no canal", nos Açores nemesianos. Nove ilhas igualmente debaixo de chuva e tempestades durante dias e dias, onde nunca estive. Depois lembro-me das estações das chuvas, dos trópicos africanos e das monções asiáticas, locais onde nunca estive. Depois sou capaz de me lembrar do romantismo das grandes cidades sob a chuva, pois mais belas são as cidades quando a chuva cai. E sou ainda capaz de me lembrar de histórias de tempestades, crimes e naufrágios. De amores à chuva e de solidões, dolorosas ou não. E, invariavelmente, lá vem à memória também uma música de eleição, uma música que me pôs e põe a chuva no coração, desde há anos. Mesmo que não chovam gatos e cães no vídeo, é para mim, uma música intemporal, uma história quase literária no meio do temporal. Algo trágica, sem o ser... Then the storm... believe the light in you.
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