abril 30, 2012

Notícia de péssima hora



Então... subsídios por um canudo, não é verdade? Agora é 2018. E a seguir é vitalício? Ou sempre o foi e as notícias às pinguinhas é tipo tortura e confissão chinesas ao estilo pasta de dentes? (É que há a estilo torneira. As coisas que eu aprendo com o cinema, quando vi "O Último Imperador"...) Também nós qualquer dia acabamos a jardinar, sem desprimor para os jardineiros...



(Postei no Facebook mas depois vim aqui e não resisti. É que é só ligar a televisão que somos esmagados pelo telejornal. Não há como não partilhar o desconforto de quem trabalha e muito vê ir dos seus direitos desaparecendo.)

Transcultural

Não escapo à minha condição feminina e não o lamento. Não são sapatos nem ouro mas é bijuteria. Étnica, exótica, diferente, de madeira, oriental, africana, índia, árabe, de inspiração greco-romana até, sei lá, venha lá donde vier. Trata-se de um fraquinho, aliás, de um enorme fraco. E é uma fraqueza tão grande que é um perigo entrar numa loja destas. Ao menos não fico muito cara. Podia ser a Tiffany´s.... ainda bem que não sou rapariga de (grande) pequeno almoço.

abril 29, 2012

Em que estás a pensar?



Se há frase a que não gosto de responder é esta. Aliás, é pergunta que não gosto que me façam offline. Sou comunicativa e positiva mas é habitual ausentar-me em pensamento, desde miúda, e até sei porquê. Não interessa para aqui a razão mas o que interessa é que essas ausências não são significativas, nem são exclusividade minha. Tentar adivinhar o que elas escondem ou, pior, se elas simbolizam algo de negativo é que me tira do sério. Vejo, repito, que outros o fazem. E entendo-os, entendo-as. Entendo-as como necessidades de momento, em que as pessoas incorrem em pequenas viagens mentais que lhes são benéficas, ora porque recarregam energias necessárias ora porque se fomentam momentos de criatividade só delas e que mais tarde serão postos em prática, a seu tempo e no local apropriado. Ou porque se organizam ideias e se criam equilíbrios interiores, ambos fundamentais.
Um querido conhecido dizia, precisamente no FB, que esta será a frase que as mulheres mais fazem aos homens. Será? Eu disse que não, que não a fazia, pela simples razão de detestar jogos de adivinhação, ainda por cima de pensamentos, ainda por cima quando não suporto que o façam em relação a mim mesma. Que veleidade a nossa, a de querermos tudo saber acerca dos outros, de tudo querer controlar, até um momento de silêncio que surge. A não ser que se trate de um silêncio invulgar, atípico, melancólico que nos comece a preocupar. Aí saltará a pergunta, sem dramas - O que é que se passa? O que tens? - ou algo parecido.
What´s on your mind? Tudo e nada. Mas deixem-nos ser nós a dizê-lo. A partilha é uma coisa boa, muito boa, se nos faz feliz e se não se tornar devassa. Para isso não acontecer há salvaguardas que fazemos. Entre as quais há um espaço privado que é o pensamento e o silêncio (a não ser continuado, doentio, claro.) Façam o favor de entenderem, pessoas curiosas e/ou que acham tudo problemático e indicativo de aflições. Enjoy the silence, confiem mais nos outros, não queiram adivinhar tudo. Que pessimista canseira essa.

Peixes



Fazes muitos filmes.
Sabes que não sou ator.
Não é isso, tens muita imaginação.
Ah, isso...
É, isso. Sonha menos...
Está bem, está bem, mas depois quem escreveria "Cem anos de solidão"?

abril 28, 2012

A vida real

A vida real não tem charme, não tem trilha sonora, não tem grande angular, não tem flash back.  (Marco Gavazza, in  Aldeia Global obvious lounge)
              
Pois, isso é que é um grande, monumental agastamento. O facto de muito glamour se perder no meio da pressa matinal e nas limpezas e nas demais tarefas da baça rotina diária. O facto de não se poder glorificar nenhuma passagem em especial com nenhuma partitura que seja só e apenas nossa. O facto de não termos um spotlight só para nós, com uma equipa de make up que nos faça eternizar um rosto que ilumine o nosso plano interior com algum brilho exterior. O facto de, e porventura sobretudo, não podermos ir lá atrás e corrigir deixas, retirar cenas, acrescentar outras, interpretar tudo de forma certa ou nem interpretar absolutamente nada.
Alguns poderão dizer que há músicas que são as da sua vida (eu cá não consigo fazer estas escolhas). Outros que não gostariam de voltar atrás (algo em que não acredito). Outros ainda que não se importam com as rugas (deve ser por isso que não há cirurgia estética). E ainda há aqueles que acham o brilho coisa de estrela caprichosa, desprezando-o, por vezes, até (gostos não se discutem...?). Poderá assim ser e não ser assim, na maior das verdades.
Porque na maior das verdades, a vida real não é como a vida no cinema. A vida real alimenta o cinema, as suas histórias, as suas ilusões e dores, experiências e delírios, mas a vida real não é a ficção que sabemos durar duas horas, para o melhor e para o pior, final feliz ou trágico, na tela que projeta meramente tudo o que somos e queremos ser. Ou não.
A sua vida pode dar um filme, mas não é um filme. É muito mais do que aquilo que se poria no argumento, do que se filmaria... Haveria muita coisa sem graça, sem interesse. Não há efeitos especiais. A vida real não tem o que o grande écrã tem. Ou não o tem apenas. E voltando ao princípio. Falta a sedução, a banda sonora, o grande plano, a analepse - de forma conjunta, apelativa, emocionante, oportuna e ... voluntária. Daí vem, seguramente, o grande fascínio do cinema.

abril 26, 2012

Pequena alegria

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Nunca tinha escrito texto dramático. Nunca tinha escrito ficção, ponto.
A peça chama-se MetamorFASES - Encontros de Amor. Volta a estar em cena amanhã. Voltarei a dar notícias, para o bem ou para o mal.

Adenda: Subirá novamente ao palco a 1 de junho. Hoje, 27, foi a final, a peça foi pontuada com 18 pontos/valores pelos seis elementos do júri.  Passámos. Até à finalíssima, então, na Figueira da Foz.

Brown


Sleeping?
Dreaming...
Dreaming of what?
Neverending dusks.
How come...?
 Autumn leaves.
It´s spring.
In calendars.


abril 25, 2012

O mais selvagem

Paul Newman em Hud (1963)

Cresci a ver histórias do wild west. Houve uma galeria de heróis, ou melhor dizendo atores, que foram símbolo da mudança dos tempos, na maneira como Hollywood percecionou a figura do cowboy em confronto com o índio, também este sofrendo evolução no tratamento no cinema, fruto da alteração da nomenclatura e no consequente reconhecimento do habitante nativo americano na cultura dos Estados Unidos.
Desta forma, e não sendo uma estudiosa ou expert do cinema em nenhuma área, recordo os filmes em que os cowboys primeiro andavam aos tiros e exibiam a supremacia da sua cultura como justificação para a conquista de território, depois os filmes que passaram a mostrar um cowboy mais introspetivo e mais assolado por alguns demónios interiores, com o advento das décadas de 50 e 60 e do method acting já amadurecido,  depois os spaghetti westerns, que nos deram uma visão árida, geográfica e mesmo politizada das lutas no velho oeste, depois os filmes em que o cowboy já está do lado dos "índios", compreendendo-lhes as angústias e respeitando profundamente as suas tradições e riqueza cultural, e depois o filme choque para alguns, ao que li na altura, em que o mito do cowboy tradicionalmente viril é posto em causa por uma orientação sexual diferente e sem inverdade.
Foram vários os momentos marcantes ao longo da história do vaqueiro na grande tela americana. De John Wayne e John Ford a Marlon Brando na realização de One-Eyed Jacks, de Once Upon a Time in the West de Sergio Leone à recusa de Brando em receber o Óscar pelo Padrinho como protesto contra o tratamento do "índio americano" pelas fitas, de Danças com Lobos até a O Segredo de Brokeback Mountain, foram muitos os nomes, os títulos, as narrativas, as imagens icónicas, as deixas perenes, os fãs.
É o mais selvagem dos géneros, entre os mil que povoam o imaginário dos cinéfilos. Terá desaparecido de Hollywood, as pradarias transformaram-se em urbes, mas o western marcou gerações. A minha, a mim. Hud está, já agora, entre os meus favoritos. 


Resistência



O que me dizes tu, liberdade?
Não compreendes quem te esqueceu?
Não compreendes quem ainda te renega?


O que me contas tu, liberdade?
Que não te deixam crescer?
Que não te deixam ser quem és e só podes ser?


O que me dizes sentir, liberdade?
Tantas vezes angústia e tristeza?
Mais vezes ainda apreensão e medo?


Como me dizes viver, liberdade?
Calada, sufocada, silenciada?
Armadilhada, aprisionada, ainda amarrada?


Como resistes tu, liberdade?


Porque a força que vem de dentro é maior do que qualquer amarra.
Porque, contra o mal e contra o medo, nasce-se senão para ser livre.



abril 24, 2012

Silêncio e tanta gente

"Falta tanta humildade, (...) tanto respeito, tanto silêncio a todos nós. Menos barulho, menos berros, menos vaidade, menos sentenças definitivas (...)"  Pedro Guilherme-Moreira (Ignorância:::)
                                       
Quando li esta frase, cravou-se-me cá dentro. Andei vários dias a considerá-la, de tão verdadeira e espantosa que é (desculpe lá os elogios, Pedro). De facto, a barulheira é muita. Os palpites são demasiados, a justiça feita à pressa e sem conhecimento real e profundo, também. Opina-se acerca de tudo, por tudo e por nada, está na moda julgar, mesmo sem qualquer tipo de reflexão fundamental e que deverá preceder sempre qualquer sentença.
O texto do Pedro versava sobre uma vertente em particular, a literatura e os juízos de quem a torna boa ou má consoante critérios discutíveis e viciosos. Este pretende, a ser bem-sucedido, abordar coisas talvez mais simples como questões do dia a dia, passando pelas notícias e pela curiosidade alheia que não é saudável, para não ser, porque não quero, patológica nas palavras.
É que toda a gente é, frequentemente,  demasiado opinativa. Se passa uma notícia na televisão saem logo milhares de textos sobre o assunto e de forma fraturante, drástica. Não que esteja errado tecer considerações. Mas que revelem sensatez e alguma racional maturidade e, sobretudo, que construam alguma coisa. Que abram novas perspetivas, que desbravem outras hipóteses. A maledicência pura e dura pode ter alguma graça, e terá se feita com real humor, mas que tal um bocadinho mais de silêncio? Não resignação, entenda-se. Pode a resistência ser feita através do bem, do equilíbrio? Pode. Ghandi e Luther King e Mandela fizeram-no. Venceram pela paz e não pela violência primária das palavras.
E no dia a dia, em nós e nas pessoas de quem gostamos? Porque havemos ou hão elas de sofrer com bitaites maliciosos, precipitados, ignorantes e que nunca deveriam ter visto a luz do dia? Há verdades que ficam bem acondicionadas no baú da elegância e mentiras que ficam só bem enterradas nas almas mórbidas de quem as inventa e se diverte a lançá-las. Porque não se silenciam coisas que não interessam? Que não revelam bondade nem verdade? Que nada sabem, nada acrescentam, nada constroem? Que tudo julgam, que tudo sentenciam? 
Suponhamos, condenemos menos. Menos barulho, baixinho... Deixemos quem vive sossegar. 

abril 23, 2012

Farinha ... ou talvez não?

  

Na barra lateral direita do Facebook, um dia destes, apareceu uma aplicação com uma sugestiva pergunta: "És muito gira ou bonita?". Não sou dada a jogos de espécie alguma online, e muitos menos todos aqueles villes que inundam os murais e com os quais sou bombardeada, salvo seja, por amigos que não me querendo bombardear, pensam que gosto de jogar como eles, já que deve significar diversão.
Mas não é bem a questão do jogo que me faz escrever estas linhas. Aliás, nada disso. É sim a diferença, pelos vistos, entre "muito gira" e "bonita".  É que por mais que me tenha esforçado, e acredite leitor que o esforço tem sido grande,  não consigo vislumbrar qual é. Deve ser considerável, ainda por cima, para ser alvo de um jogo que nos daria uma entusiástica pontuação e tudo. Estive quase tentada a jogar, num pequeno exercício de vaidade que não vingou apenas porque os meus princípios anti-jogo baseados na total falta de pachorra e na quase total falta de tempo não deixaram que prosseguisse.
Mas que reaprendi estes dois conceitos de beleza, lá isso foi.  Ou sempre foi assim e enfiei-os, imperdoavelmente e durante anos, no mesmo saco? 

Pegar o touro pelo cabo

Cabo Horn, CHILE

Situado no arquipélago da Terra do Fogo, este  tem sido outro cabo das tormentas para marinheiros e navegadores que desde sempre atravessaram mares e oceanos. De tal forma tem feito parte dessa cultura de mar que a literatura e também o cinema lhe têm dado algum destaque.
No filme “The Bounty” (Revolta na Bounty, Revolta no Pacífico, dependendo das versões) vemos como a travessia do cabo Horn constituiu uma dura provação para a tripulação, a cumprir a rota Inglaterra-Taiti. Também Charles Darwin, navegando no Beagle, expedição que levaria à Origem das Espécies, escreveu no diário de bordo sobre as águas perigosas do cabo.
Este é considerado o ponto mais a sul do continente sul-americano.  A origem do nome  Tierra del Fuego, em espanhol naturalmente, deriva do explorador português Magalhães já que, navegando para a coroa espanhola, foi o primeiro europeu a a visitar tais paragens. Para os amantes das epopeias dos mares, o Cabo de Hornos é, sem dúvida,  uma referência quer histórica quer geográfica.


O Recado, ESAP, 2008/09 

abril 22, 2012

Porquê escrever o bem no pó e o mal no mármore?

                      


"Se lerem atentamente, frase por frase, tudo o que é escrito, se examinarem com cuidado cada palavra dita, aperceber-se -ão que as expressões de elogio, os adjectivos que exprimem admiração, reconhecimento são escassíssimos. Encontramo-los um pouco no campo da arte e dirigidos a alguns autores consagrados, sempre os mesmos (...)"  Encontrei esta fabulosa passagem (deverei retirar fabulosa...?) numa das minhas bíblias, um dos magníficos (ooops, outra vez...) livros de Alberoni, e pus-me de imediato a refletir. É que reparei que uso, de forma frequente e natural, muitos adjetivos de elogio e das duas uma - ou continuo na minha verdade embora a maioria das pessoas deva pensar que não pode ser verdade, pois não é o que a maior parte faz, ou devo começar a retirá-los desde já, por forma a não remar contra a má onda, perdão, maré.


Dia do...e do...





Na semana passada, foi o dia do beijo e logo no dia seguir o do café e a seguir o do não me lembro o quê e ainda virão outros, todos os dias, alguns dos quais importa lembrar e outros que nem por isso. En tout cas, uma vez que cada um faz peluches e invade os murais do FB com aquilo de que gosta, ficam aqui hoje quatro sugestões que me parece andarem esquecidas. Não querendo eu que você forçosamente ache graça, convém munir-se rapidamente de algum humor nonsense antes de começar a ler.

1. Dia do aspirador
2. Dia do rato
3. Dia do olho gordo
4. Dia do sim

1. Neste dia, iria dar-se finalmente valor público a tão valioso e tido como garantido objeto. Neste dia, poderíamos dar uma voltinha com os nossos aspiradores fora de casa, para que finalmente pudessem aspirar, quer dizer, respirar ar puro, o que habitualmente não fazem. Poderiam também organizar-se corridas de aspiradores, nomeadamente levadas a cabo por homens (e... senhoras?) que nunca tocaram num, fazer competições para ver qual era o aspirador mais potente e/ou com o, voilà, cabo mais comprido. Pequenas lustradelas ao ego do nosso menosprezado aspirador que costuma estar enfiado no escurinho da despensa. E também dá para comercializar aspiradores miniatura que ainda é o mais importante.

2. Hesitei muito entre o rato, a doninha e a própria lagartixa. Mas o rato levou a melhor porque se estende a várias frentes. Veja-se. Nesse dia, vários ratos entrariam em ação, descomplexadamente. Estaríamos o dia sem comer para alimentar alegremente o ratinho do estômago. Os ratos que costumam abandonar o barco seriam convidados a nele permanecer alegremente. Os ratos de biblioteca viriam alegremente cá fora apreciar a luz do dia. O rato do campo e o da cidade encontrar-se-iam alegremente a meio, algures numa berma de autoestrada mesmo ao lado de um campo cheio de florzinhas. O rato da carochinha nesse dia ficaria alegremente longe de qualquer cozinha. Poderia ficar com pessoas como eu, de resto. Alguma ideia para peluches? De repente, não estou a ver...

3. Este dia há muito que se justifica. Já é tempo do invejoso sair do armário. Nesse dia, os possuidores de olho gordo deste mundo, ou mesmo apenas a nível nacional, pois parece-me que já seriam em número razoavelmente grande para o efeito, poderiam finalmente assumir-se. Poderiam ir ter com os objetos, digo, alvos da sua escondida e mal disfarçada inveja e dizer finalmente que nunca foram com a nossa cara e nunca nos disseram ora, gostei muito porque realmente sofrem de um problema, congénito ou não é o que menos interessa, de agravada dor de cotovelo que os trava de serem almas queridas. Nesse dia, verdes da cabeça aos pés, podiam então finalmente medrar.

4. Porque sim? Porque não? Bem, este dia seria do melhor que poderíamos experimentar. Poderíamos fazer todos aqueles pedidos, perguntar todas aquelas perguntas, enfim, uma parafernália de possibilidades. Sou gira? Sim. Muito gira? Sim. Gostas de mim? Sim. Queres casar comigo? Sim. Ah...Quer dizer... Sim, terá de haver da parte de quem pergunta um grande cuidado, um absoluto controlo sobre a resposta, senão o jogo pode ser viciado. Afinal queremos um sim mas verdadeiro, puxa! A não ser que este dia sirva perfeitamente para aquelas mocinhas que gostam de viver na mais completa ilusão, ainda que completamente imbecil. Mas o sim, à partida, é uma coisa boa. É, não é...? E já agora, está-se a divertir, leitor? Sim. Sim...? 

Após a apresentação destas novas propostas, sugiro que vá pensando em mascotes que sejam fáceis e eficazes comercialmente para representar o seu dia favorito. Que é, já agora....?

abril 21, 2012

Despairingly hopeful



She came from the land of hope
And they wondered
Whether it was possible
To believe
Even in the middle of despair.
Through pain,
She fought against despair.
Not hers,
Theirs.

abril 20, 2012

Na saúde e na doença



Não sei se acontece convosco. Há aquelas pessoas com quem gostamos, conseguimos ou toleramos estar apenas quando estamos mesmo bem. Depois há aquelas com quem nos sabe bem estar se estamos menos bem. Poucas são aquelas que conseguem ser igualmente desejadas nas duas circunstâncias, in sickness and in health, lembrando-me agora da expressão inglesa própria da jura do matrimónio, se bem que não é desta dimensão de que falo. Pois são poucas as que reúnem alegria esfuziante e sensibilidade empática em doses adequadas às situações, contrastantes e naturais, que nos aparecem pela frente. 

abril 19, 2012

On the road


Parece-me, confirmem-me se é só impressão minha, que as pessoas ao volante em Portugal exibem faltas de civismo assinaláveis e sem qualquer fundamento.
Há uns meses atrás, estacionei num lugar para o efeito praticamente à frente da farmácia. Ao sair, vi um automóvel atravessado, portanto mal-estacionado, que me obstruía a saída. Entrei no meu carro, pus o cinto e esperei um pouco. Entretanto apitei, porque não é anormal fazê-lo. Saiu uma senhora, de má cara, que se dirigiu ao seu carro sem um aceno de mão a evidenciar um pedido de desculpas que em mim é natural e obrigatório porque civilmente cortês.
Há umas semanas atrás, fui levar o meu pequeno à escola de manhã, como é habitual. Como tenho horários a cumprir escrupulosamente sob pena de levar falta com atrasos que para outros não têm certamente consequências, quando entrei no carro, bem-estacionado no local apropriado, vi que havia outro que me impedia de tirar o meu. Como estava com horas controladas, buzinei para que o seu dono o pudesse desviar. Olhei e não vi ninguém a mexer-se. Havia pessoas com crianças, mães na conversa, mas o que é certo é que ali fiquei um bocado, a apertarem-se as horas, e a insistir nas buzinadelas. Como ninguém se havia mexido temi que a pessoa se encontrasse lá dentro, e o edifício é bem grande, e que não ouvisse. Nisto salta-me um dona, mulher e proprietária, serve para as duas, aos berros, a investir contra mim, ainda dentro do carro, usando vários impropérios. Estava irada - não deveria estar eu? - e ao invés de pedir desculpa ainda me destratou a dizer que estava ali. Mas se estava ali porque não veio logo? Ah, a conversa, pois é. Há pessoas que têm tempo de manhã, olha que bom, eu é que não tinha, e num ou noutro caso ninguém está mal. O que está mal é que as pessoas (com tempo) não devem estacionar mal os seus automóveis para não prejudicarem as outras pessoas (sem tempo) que os estacionaram bem. Embora o pior não seja isso, de todo. O pior é a grosseria, a histeria, a péssima educação.
Há uns dias atrás ia trabalhar, com bastante tempo, e parei num semáforo. Estava um carro à minha frente. O semáforo ficou verde. A mulher ao volante estava a olhar para o lado e não arrancou. Ok, dei-lhe mais algum tempo. Mas nada. Até que sai buzina, mas para avisar, do género olha, está verde, podes ir. Oh menina, o que fui fazer. Vejo-a a esbracejar, em fúria no seu pequeno carro (as anteriores tinham grandes carros, portanto este destruiu a minha teoria da superioridade do grande carro para o carro médio), imagino os palavrões que me terá dirigido. E continuou dirigindo virando à direita, graças a deus, para eu continuar tranquila e desiludida com o tuga de posses variadas.
Ia eu nestes desencantos com as mulheres ao volante, e não pelas razões machistas habituais, infundadas, de resto, quando na rotunda seguinte travo porque a isso era obrigada. Não é que o carro que vinha abrandou, parou e alguém lá dentro me fez um benévolo gesto para avançar? Ah, felicidade, não se perdeu tudo, alguém cívico, aliás simpático, porque não tinha que o o fazer. Olhei, era uma senhora. Dupla felicidade. Até porque hoje um homem numa carrinha não me deixava espaço para o ultrapassar a 50 kms por hora numa via dupla mesmo depois de ouvir a minha por esta altura famigerada buzina, desatando num ataque de fúria do qual, felizmente, só pude avistar os gestos. Total igualdade, está visto, na capacidade condutora à la schumacher e na cólera enraivecida onde devia haver boas maneiras.
Será que deviam acabar com as buzinas nos automóveis ou agita-se histericamente a bandeira da falta de educação pelas estradas de Portugal?

abril 18, 2012

Gold

  


Let´s go.
No one´s here anymore.
                      Precisely.
                      You know what they say about silence.

Exclusivamente


A palavra exclusão traduz uma experiência fortemente negativa. Se começarmos pela social, a nível de grupos, ela acarreta sofrimentos e rejeições, intoleráveis, muitas vezes, para os tempos que dizem modernos. Mas podemos também falar sob um ponto de vista mais individual, abordando até as pequenas exclusões do dia a dia. Pois não fiquei incomodada, ainda que momentaneamente, por ter sido excluída, ao que parece também momentaneamente, com uma simples impossibilidade de acesso a uma casa na blogosfera? Todavia, pus-me depois a cogitar nisto. Nas pequenas exclusões quotidianas que nos fazem, e ... pior, talvez, nas que nós também fazemos. Na verdade, quantos de nós não terão já excluído pessoas do seu dia a dia e mesmo da sua vida? De forma, por vezes, irrremediável e definitiva? (Definitivo na vontade, pelo menos.)
Porque fazemos estas exclusões? Serão sempre resultado do arbítrio ou surgirão elas também do decurso natural dos dias? Parece-me que as duas situações são plausíveis, possíveis. Como abarcar na nossa existência todas as pessoas, de semelhante forma, ao longo do tempo? É extremamente difícil, por condicionalismos que têm a ver com os ritmos de vida, com percursos profissionais, pessoais e deslocações geográficas, inclusive. Invariavelmente há pessoas que vão desaparecendo da nossa vida e nós da delas, através de uma seleção natural, de desencontros no tempo e no espaço. Por outro lado, mesmo no presente não podemos abraçar todos os conhecidos, os colegas, até os familiares de forma constante e, sobretudo, igual. São novamente seleções que vão sendo feitas, nascidas de compatibilidades, de feitios, de partilhas, de horários, de lugares. Se são sempre indolores, não sei, mas não é fácil ou possível ser de outra forma.
Há, finalmente, e a título individual, a exclusão fruto da vontade, ou da (extrema) necessidade. É quando decidimos que aquela pessoa já não pode pertencer ao nosso mundo de afetos. Trata-se de uma decisão difícil, em muitos casos, pois envolve uma perda, de alguma forma. Mal ou bem, já todos teremos sentido necessidade de excluir, por exemplo, uma amizade (e provavelmente não terá sido apenas uma, não terá....) para salvaguarda de alguma tranquilidade emocional. Ao fazê-lo, não nos foi agradável, mas, para o melhor ou para o pior, precisámos disso naquela altura. Em definitivo. Porque este corte significou e significa, ao mesmo tempo, uma espantosa forma de sobrevivência psicológica. Há dores que asseguram curas. Por muito que nos custe excluir (ou, pior, ser excluído) essa é, frequentemente, a maior hipótese de salvação. 

abril 17, 2012

Pequena efeméride


O AEfe(c)tivamente faz hoje dois anos.
Começou timidamente, por causa de uma amiga que decidira criar um. No primeiro ano escrevi pouquíssimo, não sabia como funcionava a blogosfera. A partir de setembro do ano passado comecei a aventurar-me por este mundo sem fim, descobrindo outros blogues, conhecendo pessoas (e como isto é precioso), motivando-me e querendo escrever cada vez mais. 
Não é fácil. A falta de tempo não me permite, por exemplo, desbravar mais ainda outras possibilidades de leitura virtual e construir mais afetos. Mas vamos devagarinho... A verdade é que já não passo sem o AE. Por puro desejo de partilha, uma pretensão que os outros estarão interessados no que dizemos, mas que nos estimula e faz querer fazer mais e melhor. Para lá dos condicionalismos logísticos de quem é mulher, esposa, mãe, profissional e mais.
Não há grandes números para apresentar (acho maravilhosos os 3545 ou até mesmo os 198 seguidores ou 200.000 visualizações de página ou mais, se falarmos em blogues individuais) mas o que tem de crescer (e tem crescido) em quantidade sobra em qualidade - se me centrar nas pessoas que por cá passam, curiosa ou gentilmente, ou das duas maneiras. É uma alegria saber que me acompanham e é uma alegria quando me deixam palavras que refletem esse acompanhamento, enfim, não direi nada que os outros autores de blogues não sintam, certamente. O conteúdo? Diverso. Tudo aquilo que me interessa profundamente ou vai interessando momentaneamente. Sou uma simples professora de inglês, que aprecia muita coisa e é crítica em relação a outra tanta. E que gosta de refletir mas também de rir. 
O AE, efetivamente, faz anos. Por tudo o que representa para mim, longa vida para o AE.

abril 15, 2012

O melhor de dois mundos



Não sei se é o melhor mas é possível ter os dois. Isso acontece frequentemente.
Absoluto sossego e  combativa reação.
Um sim à serenidade e um não à resignação.
Desejos confortáveis de sofá e bolinhos e ânsias loucas por viagens e aventuras.
Desafios profissionais que aliciam e ócios deleitantes que deliciam.
Regeneração física na natureza e renovação mental pela cultura.
Respeito pelos outros e exasperação com outros.
Casa e mundo.
Desreligiosidade e espiritualidade .
Confiança no futuro e irritação do presente.
Romantismo quente e frio pragmatismo.
Coração e cabeça.
E tantas outras luzes yin yang, que não são mais do que necessidades contraditórias e, esperançosamente, complementares.
Assim é o meu império.
O seu...?

Perfeição

Sim, ela existe.

Aqui mesmo.

Pois, é daquelas coisas.
A culpa é do cinema.

abril 14, 2012

Paraíso pastoril


Tenho-os há dois anos, são onze, e têm sido um bocadinho de radioso sol nos dias que teimam em pintar de cinzento nas escolas.
Não me lembro de alguma vez me ter, sinceramente, chateado com eles. Vou para a aula bem-disposta porque serão eles, continuo bem-disposta com eles, por entre sorrisos, risos e trabalho com gosto, saio bem-disposta porque as aulas assim deveriam ser sempre a regra e nunca a exceção. 
São uma turma de produção agrária. Todos mas todos os temas são dados com seriedade e profissionalismo porque são recebidos com entusiasmo, curiosidade, partilha de saberes, humor, vontade e prazer de aprender. Sempre dispostos a fazer todas as atividades, sempre dispostos a responder às solicitações, sempre dispostos a uma graça, sempre dispostos ao respeitoso afeto que me fez já dizer-lhes obrigada por alegrarem os meus dias. Foi sempre assim, desde o primeiro dia em que os conheci, numa primeira impressão tão favorável que fez jus ao que tem sido a nossa salutar convivência. Apetece-me sempre preparar o melhor para eles.
Há notas altas, muito altas, há as médias e há uma ou outra que evidencia grandes dificuldades e falta de hábitos de estudo extra-aula. Normal, portanto. Mas muito acima do normal naquilo que é estar com eles, o bem estar, a tranquilidade, a segurança, a lufada de ar fresco que são quando tanta outra coisa massacra e entope os sentidos.
Um deles, espertíssimo e que não estuda nada, dizia na aula, há tempo, que eu gostava deles e os achava fantásticos porque  "Somos gente simples, do campo". Sorri. Aliás, sorrimos todos.
Eles são, de facto, a minha Arcádia.

abril 13, 2012

Chá


Cenários vitorianos  garden chic da literatura ou do cinema, o english country de tardes de sonho sob o verde apaziguador da natureza, conversas de simplicidade ao sabor de tranquilas e aromáticas infusões, horas cheias de tempo envoltas em sedas de fino toque, o tea time que permanece algures nos jardins das melhores memórias, romanticamente reais ou imaginárias.

abril 12, 2012

Já gastámos estas palavras

O top 3 das palavras que custam a sair:
1- parabéns
2 - desculpa
3 - obrigado

Comecemos pela última. Está a ficar cara, dada a raridade em que se vai tornando. Para quem foi educado a dizê-la, em serviços públicos e afins quotidianos, não se entranha que ela não surja naturalmente de quem  teve a nossa colaboração ou apoio em coisas que vão do simples até ao mais esforçado. Basta um mero obrigado para, frequentemente, nos sentirmos satisfeitos com a nossa prestação, de auxílio ou outra, úteis, válidos. Quem comanda e chefia, por exemplo, desconhece, e muito mais do que o desejável, o poder deste vocábulo dito de forma espontaneamente grata. Mas também entre pares ele fica sempre bem. Conforta e alimenta os relacionamentos saudáveis.

Costumo perguntar aos alunos se lhes cai alguma coisa por pedirem desculpa. Sobretudo  aos que têm o azar de me ter como diretora de turma, pois faço questão (azar, azar, digo eu) de os fazer refletir se cometeram alguma asneira (ou azar, dizem eles). Ficam em total silêncio. Também não adianta pedir desculpa se não for sentido, já agora sempre acrescento. Mas a sê-lo, renova qualquer tipo de relação profissional, a começar pelas da escola neste caso. E isto serve para os afetos, para as relações familiares, matrimoniais. Pedir desculpa é uma dificuldade que só dificulta. Portentosamente apaziguadora, o orgulho e a insistência em não nos rebaixarmos com uma simples palavrinha só aprofunda os abismos de incompreensão.

Não são os parabéns pelo aniversário. Esses toda a gente os dá. Nós gostamos muito de dar (e receber) estes parabéns e que as pessoas façam anos. Damos beijinhos, prendas com lacinhos, votos via facebook e via net, telefone, telemóvel, estamos contentes e ainda bem. Já não nos mostramos tão contentes quando se trata, trataria, de outro tipo de realização. Porque dar os parabéns por algo que se fez, ou até se fez bem, ou muito bem, ora, isso já é outra festa. Até parece que se os dermos estamos a retirar valor a nós próprios, e portanto não o devemos fazer. Primeiro o nosso valor e depois o dos outros. Às vezes só mesmo o nosso valor. Nada de protagonismos alheios. E a palavra fica ali, retida, mesmo quando sentida, porque não se quer dar esse gosto a outrem.

O reconhecimento é um conceito que anda arredado do nosso dia a dia hoje em dia, assim como a humildade. Esses são grandes valores que parecem estar, infelizmente, gastos.

Má educação


Si, si, aqui también. Pode não ser provavelmente novidade para os que aqui passam. Foi tirado do facebook há algumas semanas. Estava perdido na imensidão de docs que povoam o quotidiano pc que omnipresentemente socorre esta também missionária função. Que é bem real, actually.

abril 10, 2012

Look ahead in anger

Não será difícil chegarmos a um rápido consenso ao dizermos que a raiva é um péssimo sentimento. Soa mal, não é cristão, gera mal estar, cheira a vingança, um pavoroso aglomerado de sensações desagradáveis para quem a sente por dentro e para quem sente os seus efeitos, porventura, cá fora. E, todavia, pode ela ser extremamente potenciadora. Ora bem, vamos lá olhar para a raiva hoje sob uma perspetiva mais elogiosa.
Antes a raiva do que o marasmo desencantado. Antes a raiva do que a desilusão passiva. Antes a raiva do que a tristeza incapacitante. De caras. O que se pretende, afinal, dizer com isto? A ideia é encarar a raiva como um poderoso trampolim de regeneração, de resistência e mesmo triunfo após um desaire que não se merece ou do qual uma pessoa está, tantas vezes, inocente. Se a deceção foi no campo amoroso, amistoso, laboral, artístico ou outro qualquer, então nada como uma justa sensação de raiva como a primeira instrução do manual de fulgurante sobrevivência ao terramoto. 
Por certo alguns leitores pensarão que é preciso fazer uma espécie de luto, haver ali um período de transição em que a amargura  terá de habitar os dias. Também não deixa de ser verdade, é essencial passar por uma fase menos saborosa para depois voltar a reconhecer o que sabe bem. Mas não menosprezemos o peso da raiva na recuperação determinada, no sucesso que emerge da vontade. Ela não é bonita mas é uma ótima companhia para nos ajudar a seguir em frente. Faz-nos pôr mão à obra, fazer malabarismos que nos exigem, aguentar-mo-nos lá na barra, fazer brilharetes para quem teimou em não nos aclamar.
Não queremos aplaudir a raiva, mas aproveite-mo-la (para o) bem se ela por acaso saltar.

abril 09, 2012

Fantasonze


1. Acabei agora mesmo de vir do meu hotmail e de quase saltar do sofá com um publicitário choro - ou riso? - de bebés tão sonoro e inesperado para o escuro silêncio da minha sala, digno de um filme de terror daqueles onde aparecem braços e pernas e cabeças de bonecos espalhados pelas escadas e pelo sótão. Avé maria.

2. Não sei se tem a ver mas vejo que o écrã do meu pc continua inexplicavelmente a tremer desde o final da tarde. Nossa senhora.

Quem acha que não acredita em bruxas? Pues que las hay. Pessoas de pouca fé...

Luso mundo

A propósito de um post sobre cinema, escrevia uma querida amiga que "para português não está mal". Achei graça e lembrei-me automaticamente de um comentário vindo de uma colega, há vários, vários anos, quando fomos ver juntas Tentação. Dizia ela que não gostava nada de ver filmes portugueses, pois parecia-lhe que estava sempre à espera de alguma coisa não correr bem.
Não partilho. Gosto francamente de ver cinema português, acho é que é insuficiente, a produção. Quantos filmes saem por ano? Pouquíssimos, aí é que está o problema. E outro parece-me ser alguma insistência num estilo urbano pós-moderno-deprimente que nem sempre nos apetece, feito só para ganhar prémios em circuitos muito exclusivos, parece-me. Faltam, digo eu, mais filmes ao estilo grande produção, impregnados de algum classicismo narrativo e de cenários, do género A selva e O mistério da estrada de Sintra, obras (mais) recentes que muito apreciei e aprecio. De resto, gosto bastante de ver histórias portuguesas com atores portugueses, e outros, alguns são convidados para tornarem o cartaz mais chamativo e não está errado que assim o seja. Temos uma história e uma literatura riquíssimas que podem e devem servir uma sétima arte de primeira. Estou entusiasmada para ver Florbela, por todas essas razões (até porque a atriz Dalila Carmo tem um arzinho de loucura perfeitamente sedutor...).
Não devo ser a única. Na universidade, é verdade, não mais esqueci, tive um professor neo-zelandês que dizia gostar bastante da representação em português. E tenho amigos estrangeiros que dizem hoje exatamente o mesmo. Não corre nada mal, porque haveria de correr? A não ser falta de confiança no que é português, uma coisa afinal bem portuguesa. E, claro, a não ser o ritmo de produções, que reflete a falta de investimento na cultura e o marasmo do país que temos. Realmente aí corre-se muito pouco. Esse é que é, ainda, o mal das fitas.

abril 06, 2012

Pink


I always thought it was for little girls.
And make up.
The panther.
I never thought it could be exotic.


You fantasize too much.
Maybe you should travel.

Amizade enamorada



Pode a amizade assemelhar-se ao amor no que pode ter de mais negativo?
Pode. Os amores que prendem demais as vontades, que vigiam os movimentos, que controlam os círculos sociais de forma obsessiva, não são, facilmente, coisa de que se goste. Digo eu, e na maior parte dos casos. O ciúme extremo e os infernos a que pode levar à partida parecem só pertencer à esfera do amor, numa vivência de quem vive a cem, duzentos por cento a paixão. Ou o poder que dela querem fazer brotar.
Quando falamos em amizade, à partida definimo-la como algo de bom, algo que não cobra nem se pode cobrar. As pessoas escolhem os seus amigos, não vivem com eles, não existem compromissos de mil e um aspetos onde é preciso ceder, retroceder, negociar, jogar até. Os amigos sentem-se bem juntos, conversam, dão gargalhadas, bebem uns copos, vão à praia e ao cinema, exercitam o corpo no ginásio ou ao ar livre, marcam hora ou não, vão e veem, veem e vão. Confiam segredos, podem contar uns com os outros, cultivam afinidades e percorrem caminhadas de ousadia e perigos juntos, tantas vezes.
Há amizades que são de sempre, que duram anos e anos, uma vida até. Há outras que foram e não são mais, outras que surgem, outras que se renovam depois de interregnos voluntários ou não, amizades físicas, bem reais que passam por um generoso aperto de mão ou um sincero abraço, e outras pode haver virtuais, porque reconfortantes em palavras e ânimos que vêm de longe, às vezes sem rosto, mas que ainda assim podem ser pilares de apoio em momentos mais difíceis.
O amor terá disto, é certo, mas muito mais. Definir e descrever o estado amoroso podia de facto passar por falar de aventuras partilhadas, mas iríamos muito mais longe, mais devagar, porque o amor, sobretudo se só revestido de aspetos positivos, dar-nos-ia asas para voar bem e bem alto.
Como pode então a amizade adquirir contornos negativos que lembram o amor possessivo? De várias formas. Se os nossos amigos nos acham propriedade exclusiva deles, tolhendo-nos inclusivamente desejos e programas, então estamos no bom caminho para responder à pergunta. Ou no mau, mais exatamente. Se eu quero explorar novas possibilidades de amizade e me sentir coagida a não fazê-lo, porque pertenço a um grupo de amigos em exclusivo que não me libera, então estão a prender-me. O facto de sair sistematicamente com alguém, ou em grupo, não me pode roubar a liberdade de ocasionalmente não o fazer. A ciumeira de amigos não faz sentido – o medo de perder o amigo não é real na amizade verdadeira. Porque podemos ter amigos por diferentes razões, porque nos dão coisas diferentes. Um diverte-me, o outro aconchega-me. Um compreende-me porque vive o mesmo, o outro dá-me uma perspetiva nova porque não vive o mesmo. Com uns partilho medos e fragilidades, com outros partilho ideias loucas e planos aventureiros. E posso desejar estar com eles em momentos completamente díspares, assim sendo. O facto de não fazer tudo com o mesmo amigo não pode deixá-lo enciumado e a cobrar presença ou afeto o tempo todo em exclusivo.
Namorado existe para dar dor de cabeça também, amigo não. Namorado existe para perguntar onde estamos, onde vamos e a que horas, amigo não. Namorado usa relógio, amigo não. Namorado é chato, amua e faz birra, amigo não. Namorado desconfia, credo mas é verdade, amigo só confia. Namorado faz beicinho quando a paixão comanda a razão, amigo não. Amigo não pode funcionar com alavanca de paixão. Namorado amarra, amigo não tem amarras.
Porque se tem, o seu conceito de amizade anda um bocado baralhado. Claro que a maturidade tem muito a dizer neste processo, no amor ou na amizade. Alguém maduro deverá, deveria, controlar exageros de possessividade e ciúme juvenil. E nós também crescemos e amadurecemos. Não se aceita, e focando-nos na amizade, quem controla a nossa vida. Amigos a sério respeitam o nosso espaço, físico e psicológico e nós o deles. Ser feliz é ser livre. Ser feliz é ter amigos que nos deixem sê-lo.
(escrito para o site baiano onde colaboro)

A barca do Mekong

Do livro e do filme "L´Amant" - gostei brutalmente de ambos.


Sublime e ousada  incursão pela geografia do amor a oriente.

abril 05, 2012

Péssimo otimismo


De como a esperança pode ser trapaceira.
Não pensei que os meus  2 subsídios me fugissem para além do delineado não desejado. Vejo, e como não queria acreditar, não queria, que podem mesmo ter ido para sempre.
Ingénuo positivismo.
Estúpida (in)credulidade.
Não sei se deteste o estado e as más políticas ou a mim própria por acreditar na bonança.
Acho que (a) eles ainda assim.
Eu que não sou de ódios.
Não aprecio extremismos nem radicalismos.
Tento não falar da crise e da vida política nacional.
Esta frequentemente enjoa-me.
Mas está complicado manter a balança equilibrada.
Está, de que maneira.
Porque raio ainda damos o litro nas escolas?
Foram-se os direitos todos.
Vai-se a paciência. A confiança.
Sobra o desalento. A fúria.
E o brio.
E um distraidor embuste chamado avaliação de professores.
A grande sorte de quem nos vai tramando.

(Não) Acordou?

Dizer que o AO é complexo, sobretudo a nível da hifenização, e mesmo incongruente nalguns aspetos é o melhor dos argumentos que pode apresentar quem está contra. Já dizer-se que a língua vai acabar e que estamos de cócoras perante o Brasil são fundamentos sem fundo. Posições extremadas como dividir entre bons e patrióticos quem está contra e maus e vendidos quem não está são atitudes algo radicais que não servem a salutar discussão e confrontação de pontos de vista. O cor-de-rosa e o cor de laranja vão dar trabalho e até interiorizarmos as novas regras de forma natural demorará tempo (nas gerações mais novas não se colocará a questão) mas não sucumbirá a língua portuguesa nem nada que se pareça, descansem os mais pessimistas. Parece-me que também se trata de uma guerra escusada - a ver pelo teor com que alguns investem sobretudo  contra quem o seguiu - que se gerou entre os que privilegiam a forma e os que privilegiam o conteúdo. Ambos são igualmente válidos embora para mim língua seja essencialmente comunicação.  Pessoalmente até poderiam desaparecer os acentos todos, já dei graças a deus, inclusivamente aqui,  pelo facto do inglês não os ter. Há dias um colega de Línguas Clássicas mostrava-me, no seu iPad, uma edição antiga de uma obra em português de outros tempos em que praticamente não havia acentuação gráfica. Alguém os terá posto no caminho até então, então. As mudanças não têm que ser boas só porque são mudanças - mas também não têm que ser más porque o são. A fase de transição para quem aprendeu de uma maneira poderá não ser fácil mas, e peço desculpa, já me satura a cruzada, sobretudo se for baseada na política e em argumentos que deveriam ser mais elevados (ai as caixas de comentários). O título desta modesta casa perdeu o C antes de setembro último - espero que não tenha perdido nem perca mais do que isso por causa disso. Pois acredito que a causa, perdida ou não, é ainda assim, imaculadamente nobre.

abril 04, 2012

10 films I´ve never cared to see


Porque se fizesse muita questão provavelmente tê-los-ia visto. Aqui vão, então, 10 sacrilégios cinematográficos.

1- My fair lady (Minha linda senhora nunca colou, pois não?)
Pois, eu sei que é adaptado de O Pigmalião, de George Bernard Shaw. Mas nunca o vi, embora lhe conheça a história, nem fiz esforço para. O Rex Harrison e aqueles chapéus da Audrey Hepburn nunca me seduziram. Que fazer?
2- A guerra das estrelas
Não vi nem quero ver. Reconheço passagens mas nunca tive paciência para ver todo o filme - ainda por cima repartido por vários. Ficção científica só alguma - 1984, Blade Runner, e pouco mais. Mas vi  o "Espaço 1999" em série durante anos para compensar.
3- Matrix
Tem tudo o que não gosto num filme: efeitos especiais, voracidade de imagens, efeitos especiais, écrãs, efeitos especiais, tecnologia, o total horror para os meus sentidos que apreciam coisas tão mas tão diferentes. 
4- Capitães de abril
Pois não vi todo. Conheço a história, reconheço o filme mas não calhou vê-lo inteiro. Sou abrileira (ver post de 3 de abril) mas o filme não me cativou, vá lá saber-se porquê, ou então nunca deu a horas que me desse jeito.
5- A vida é bela
Ui, reconheço que aqui a história é outra. Não aprecio o estilo trágicoapatetado do Roberto Benigni mas é um filme a ver quando der. A maternidade colocar-me-á em ternas lágrimas, certamente, pois sei do que consta.
6- Trainspotting
Não deve ser nada fácil de ver, a ver pelos posters e pelo conteúdo. Já há muito que me deixei de violências e underground stuff no cinema, não me apetece sair de lá mal disposta. Ou estarei enganada?
7- Voando sobre um ninho de cucos
É verdade, nunca cheguei a ver. Deve ser genial, tendo em conta os intervenientes e a crítica,  mas sempre pensei que era muito pesado. Nunca o procurei por causa disso.
8 - A cidade dos anjos
Filmes com o Nicholas Cage a bem dizer não gosto. É sensível pois é, adorado por muitos, mas sou dada a atores assim mais galãs. Bonitos, sedutores, que a verdade tem de ser dita. A ideia não é original, ainda por cima. Veio de Berlim, não veio?
9 - Harry Potter
Não tenho nenhuma mas nenhuma inclinação para fantasy films deste género. Feiticeiradas e mistérios a meu ver de miúdos fazem-me fugir para bem longe. Imaginação a mais não faz o meu género nem levo a sério.
10 - American pie
Não consumo filmes de adolescentes, não há pachorra. O único de que gostei mesmo foi Fúria de Viver mas nunca vi o James Dean como teenager. Era, feliz e infelizmente, demasiado complicado para sê-lo, ainda que muito jovem. Ou será porque sempre adorei dramas e não suporto a maior parte das comédias de hoje?

Hei de continuar esta série dos 10. Com coisas de que me lembre. E, já agora, qual é o seu sacrilégio cinematográfico?

abril 03, 2012

Kill, Bills


Há dias passava no telejornal mais uma notícia sobre um crime passional em Portugal em que um homem mata a ex-companheira e o seu enteado, num registo de terror barato se não fosse trágico que custa a digerir. Horrorizada, pois, não vi, contudo, ninguém na reportagem associar o dito ato a nenhuma religião. E porque o haviam de fazer? Por razão nenhuma, claro. Depois lembrei-me de outras histórias parecidas que vão surgindo neste canto europeu e mesmo de relatos quando visitei o Recife (pela boca da guia brasileira) acerca dos crimes passionais e da violência doméstica que preenche amiúde as manchetes daquele estado brasileiro. Não foi mencionada, através de qualquer tipo de informação, a confissão religiosa dos perpetradores. Nem ela interessa para o caso. As pancas, a existirem, grandes e terríficas, não estão diretamente relacionadas com nenhum tipo de fé - já sabemos. E no entanto esquecemo-nos. Quando nos chegam notícias de atos medonhos semelhantes de países como o Paquistão ou, mais perto, Marrocos lá teremos de meter a religião como fator primeiro da violência masculina. Criado o estereótipo, não mais o largamos. O muçulmano há de sempre ser amaldiçoado mesmo se for absolutamente pacífico, ordeiro e democrático. Porque se há um lunático que espalha o terror significa que todos serão obrigatoriamente assim. Claro que ele deverá ser tão brutalmente idiota, ou esperto, que dirá que sim, que a religião lhe legitima os  tresloucados atos. Isto vende bem, muito bem, junto das cabecinhas iguais às dele. Por lá e por cá, que saltam logo os preconceitos todos cá para fora para acirrar aquilo que se pretende como uma guerra de religiões e, destestável, como não aceito esta ideia, de civilizações. E isto corre - mata porque é chinês, rouba porque é de leste, foge porque é cigano, viola porque é de cor, prende espancando porque é branco. Corre, mal, bem mal.
Associar as pancas à religião, e à etnia, não é de todo edificador nem (in) formativo por parte de quem quer, racionalmente, construir. Porque realmente as pancas existem e veem de todos os lados, essa é que é a grande neura. Colocar-lhes um rótulo não me parece ser uma solução, não é a solução. As pancas intoleráveis foram sempre e sempre serão. Independentemente se têm lugar em Toulose ou Waco. Porque elas moram num sítio imprevisível e onde é difícil - ou fácil - chegar: a psicótica cabeça de cada um.

É abril


As minhas primeiras memórias de abril reportam-se ao tempo em que frequentava o ciclo preparatório. Foi-nos pedido na aula de língua portuguesa que escrevêssemos uma composição sobre um tema à escolha. Andava no 2º ano - o equivalente agora ao 6º, portanto - e escrevi sobre a ditadura - ou o que sabia ela ter sido - e o Tarrafal. Era quase uma criança mas foi, de facto, o tema que escolhi. Lembro-me de mais ninguém o ter feito e da professora, visivelmente satisfeita, me pedir para ler em voz alta a composição aos colegas. Não sei já bem o que disse mas foi o registo de histórias e opiniões que ouvira contar em casa e cujo impacto se incrustara em mim por tempos indeterminados. 
A segunda foi também no ciclo, também no segundo ano, e provavelmente em abril mesmo - o que não teria acontecido no primeiro exemplo. Todos pintamos com marcador um desenho feito por nós que ilustrasse a revolução dos cravos, a pedido da professora de educação visual. Esse desenho iria, depois de uma seleção,  ser mostrado na exposição sobre o 25 de abril numa das pequenas praças da cidade. E assim foi. Lembro-me de ir com a família ao domingo ver os desenhos expostos e de lá, orgulhosamente, encontrar o meu, no meio da alegre festa que era aquela celebração. Era um tempo sem tantos canais televisivos, sem internet e demais tecnologias que informam e desinformam, era um tempo em que as pessoas se juntavam mais e em que saíam de casa para trocar e obter alguma informação e entretenimento. 
Quer o texto quer o desenho (ainda tenho este numa capa de artes de garota que considero pessoalmente antológicas)  podem dizer algo sobre a minha consciência social desde muito novinha. Sempre estive do lado da liberdade. Com responsabilidade e respeito pelo outro, não há como viver senão em liberdade. Por fora e por dentro, ela é muito mais do que apenas exterior. Sendo abril ou outro mês qualquer, já agora.

abril 02, 2012

Reencontros

Quem é que nunca se desorientou? Quem é que, e podendo ter sido apenas num momento, não se sentiu desorientado, perdido, sem ser capaz de escolher um rumo, ou pior, sem vislumbrar nenhum caminho? Decerto que muitos dos leitores responderão, porventura hesitantes, afirmativamente à pergunta, outros, pelo contrário, avançarão com um afirmativo não.
Parece-me que, pela observação direta que suporta 99% das minhas pessoalíssimas análises, há, de facto um grupo que não se enquadra nesta abordagem de um quadro negativo, digamos assim, sobre o qual já há  algum tempo desejava escrever. Parece-me, insisto, que na maior parte dos casos se trata de pessoas que namoraram e casaram cedo, frequentemente tiveram filhos cedo, ou seja estiveram continuamente ocupadas, assim se mantendo até hoje ou tendo-se mantido até sempre, sem grande tempo e espaço para cair em amarguras. Porque o maior desnorteamento residirá, a meu ver, num brutal encontro com a solidão. Pondo de parte a miséria e a doença, é a adiada ausência ou a inesperada perda de afetos que é, não duvidemos, a mãe das maiores angústias.
As pessoas sempre felizes porque acompanhadas são mais encantadas, conservam uma espécie de doce deslumbramento, o seu discurso não resvala para palavras amargas, como poderiam, nada lhes falhou. As pessoas menos felizes, sem serem necessariamente infelizes, são aquelas que provaram o sabor acre que acompanha muitas vidas, ainda que de forma descontinuada, ou tão somente num momento que lhes abanou as certezas e os projetos.  Falam de maneira diferente, o seu olhar, ainda que melancólico, é mais experiente porque conhecedor de estados de alma mais obscuros, as suas frases deixam entrever laivos de deceção e mágoa. Essa insatisfação, latente ou visível, é resultado de um vazio, da privação de pessoas e horários, de sonhos e ideias, de obrigações e prazeres, de movimento e afetividade que as faça sentir mais seguras, mais amparadas. Solidão, em primeiro, pois. Mas desemprego e insucesso de vários tipos, dos quais ninguém está livre, podem também conduzir ao vazio, ao desnorte momentâneo.
Ainda assim, há que encarar estas perturbações com uma sensata naturalidade. Mesmo carregando experiências de dor, desencanto e por vezes mesmo cinismo, as pessoas que já se desorientaram resistirão. Porque depois da provação estarão preparadas para tudo. Sabedoras, nada as surpreenderá na natureza humana, porque não realizarão mais castelos no ar, terão baixado as expetativas. Isso é bom - muito bom. Sobretudo se mantiverem sempre uma esperança. Não é agradável perdermo-nos, viver na incerteza e na ânsia, não encontrar resposta para a dúvida que se instalou. A dor dói. No entanto, este estado terá o seu fim. Se não for negado, se for intensamente sentido e se dele se colher algum ensinamento, sobretudo sobre nós próprios, outras coisas surgirão. Surgirão da esperança que restou, pois esta não pode esvair-se completamente.
Os tempos não são todos iguais mas haverá um tempo, também, para quem se desorientou. Será o tempo de (re)encontrarem, após quase terem deixado de acreditar, a bússola da sua vontade e paixão de existir.

abril 01, 2012

Culinária

        
Não significa que não haja mulheres felizes na cozinha hoje em dia. Há e ainda bem. Pode é haver menos, por variadíssimas razões, entre as quais tempos sem tempo. Ainda assim, dá-me ideia que algumas há por aí que acham que a bimby não é suficientemente autónoma.