agosto 31, 2012

Ir e voltar





Queridos amigos, reais e/ou virtuais, leitores, curiosos, e todos aqueles que passam, acidentalmente ou não, por aqui. Não estranhem a minha ausência durante alguns dias, voltarei aos afetos e aos factos assim que possível. Nessa altura voltarei, também, a passear-me e a aprender nos blogues que habitualmente frequento e comento, e quiçá outros, afinal falta tanto por descobrir e explorar.

As palavras que sempre te direi


Aqui há tempos dizia eu que não gosto de palavras comedidas e de como o understatement pode levar a equívocos. Um dos meus queridos leitores comentou, então, que é preciso prudência nas palavras. Respondi, na altura, que não sou fã da prudência verbal, que aprecio que as coisas sejam ditas. Ficou-me este pequeno diálogo na ideia.
Terei, pois, de ser mais clara e dividir as palavras em duas categorias. Na verdade, considero que devemos ser contidos quando as palavras são más, ferem ou quando podem mesmo aniquilar algo. Sobretudo no calor de alguma emoção mais forte. Dou total razão ao meu interlocutor. Devem estas palavras ser pensadas e mesmo retidas, ficando para outra altura, apesar de poderem ser expressas de uma outra maneira, se não se pretende iludir a verdade. Pessoalmente gosto das palavras diretas, que não deixam margem para dúvidas e angústias de interpretação. Mas sou defensora da existência de um cuidado extremo com as palavras negativas. Que nem sempre temos, claro. Que muitas vezes não temos.
Qual a vantagem em ser-se direto se essa franqueza apenas magoar? Se apenas atinge o outro e sobretudo de uma forma que o outro não merece? Aí, as palavras devem ser refletidas, sem dúvida. Até porque decerto agradeceremos que o façam em relação a nós. Com o poder das palavras, podemos crescer ou morrer, pois elas podem engrandecer-nos ou diminuir-nos brutalmente. Defendo a verdade mas não a todo o custo. Há muitos tipos de verdade, temos é de saber dizer as fundamentais e as precisas, não as outras.
Mas quando dizia que não gostava da prudência, referia-me às palavras boas. Àquelas que nos beijam e acariciam, àquelas que nos enlevam e fazem levitar, àquelas que nos cativam e nos mimam. Nunca acho que se diz demasiado quando se trata destas palavras. Há quem as trave, as feche a sete chaves mas há muita felicidade que, infelizmente, tranca dentro de si, felicidade alheia e de si próprio. Por medo, por arrogância, por insegurança, por timidez, por incapacidade, por altivez, por tudo ou nada, não se dizem palavras positivas tanto quanto seria desejável.
Muitas vezes elas não saem cá para fora e a oportunidade passa. Esse é o maior perigo. O de deixar passar a oportunidade de dar a conhecer quão bons achamos nós os outros. Deve sempre dizer-se o que se gosta a de quem se gosta. Não basta gostar, é preciso dizê-lo. Até porque as pessoas podem não o perceber e mais felizes serão se tiverem essas certezas, Obviamente que partimos do princípio que estamos a dizer o que sentimos, a verdade.
Há alguns anos, uma colega dizia-me que para ela não eram as palavras que contavam mas os atos. Sem dúvida que não pode haver desfasamento entre palavras e atos se se tratar de amor. Mas não estamos a falar só de amores mas sim de reforços positivos, quotidianamente. Palavras que levantam o astral, palavras que dão autoconfiança, palavras que fazem mover quem vive. De apreço, reconhecimento, amizade, elogio, encorajamento, apoio, conforto, compreensão, devaneio, entre tantas outras. Palavras que nos fazem passar melhor os nossos dias.
Não sejamos prudentes com as boas palavras. Não as esqueçamos de as dizer, não as retenhamos à espera de não sei o quê, não as tranquemos ad eternum. Usemo-las, amiúde e sem entraves, para o bem de todos. E isso inclui-nos, claro está, a nós.

(texto escrito expressamente para o bahia mulher)

agosto 29, 2012

Antes e depois do amor



O Moínho, de Eça de Queirós, é um belíssimo conto sobre o desassossego em que se pode tornar a existência. E sobre a existência de sonhos românticos que alteraram a ordem de uma vida, esvaziada de paixão. Esta, uma vez instalada, pode fazer abanar a mais bondosa e altruísta das almas. Pois pode fazer cair a mais insuspeita figura, transformar-lhe o caráter e levá-la a loucuras que nada nem ninguém fazia prever. É a tal questão das expetativas. Se não se sonha alto a existência decorre mais ou menos sem sobressaltos. Se se ousa sonhar e desejar algo a quietude esvai-se. E isso pode correr pelo melhor ou não. A paixão é uma coisa diabólica. Há alguns anos li uma entrevista em que um cantor da nossa praça dizia que não queria estar apaixonado, que isso dava uma grande trabalheira. É verdade. A protagonista passa de santa a flor da paixão e da rotineira cadência dos remédios em família passa para a canseira de sustentar o amante. Se pusermos de parte qualquer laivo de romantismo que exista em nós, é verdade. É o desassossego maior. Bem ou mal sucedida, enquanto dura, a paixão é cá uma coisa. Mas, depois e afinal, quem não deseja experimentá-la?

agosto 28, 2012

Read and tell




Em Livros - a paixão de ler, um grupo no FB, pedia-se há dias aos membros que elaborassem uma lista de 10 livros que os tivessem marcado. Nada que não tenha sido feito já, vezes sem conta. Mas, e assim de repente, aqui fica.

1- A Promessa, Bernardo Santareno
2- O Amante, Marguerite Duras
3- The Awakening, Kate Chopin
4- A Streetcar Named Desire, Tennessee Williams
5- O Último Imperador, Edward Behr
6- Os Maias, Eça de Queiróz
7- Crónica de Uma Morte Anunciada, Gabriel Garcia Marquez
8- O O(p)timismo, Francesco Alberoni
9- Hamlet, Shakespeare
10- A Jóia da Coroa, Paul Scott


Incluo livros que me lembro de ter devorado ou que me marcaram pelo simbolismo, pelo pano de fundo ou pelas paixões que perpassavam. Peças, romances, biografia, ensaio. Não incluo  livros de contos nem clássicos juvenis. E não incluo outros que também podiam fazer parte da lista. É o problema das seleções. 

Praia

 

Estas e outras são marcas do tempo que tudo vem descomplexar. É também por estas e por outras que, em muitos locais do planeta, ainda se terá de esperar. Compreende-se a urgência de alguma celeridade face ao já conquistado por uns. Mas há que compreender a cadência que o meio envolvente por vezes, muitas vezes, impõe a outros que já podiam estar mais longe. Para lá da praia, claro está.

agosto 27, 2012

Em absoluto

Há uma tendência para se fazerem frases absolutas, sobretudo pela parte de quem escreve. Também se dizem, mas a posteridade não as regista da mesma forma. Estas frases põem tudo muito, assim, preto no branco, são ou parecem ser pouco passíveis de serem rebatidas, e demonstrarão ou pretendem demonstrar muitas certezas e com pouco ou nenhum espaço para nuances. Do que me fui lembrar. Mas reparo amiúde nisto, na tentativa de se criarem frases que tenham impacto, em que alguém possa pegar e difundir, o que acaba sempre ou muitas vezes por acontecer. Pois me parece que há sempre alguém que precisa destas frases para se organizar, para dar um certo sentido às coisas, para se sentir de alguma maneira feliz ou até apenas culto. Para muitos será mais fácil acumular verdades absolutas do que refletir e estebelecer uma outra ordem. Quantas vezes não lemos algo que é muito primoroso ou que parece profundo, que pode até ser bonito e que, no entanto, não tem real significado? Pois, sei que fui buscar uma ideia dos diabos. Mas é que há frases, minha impressão, que são muito construídas, muito pensadas para atingir um determinado efeito, numa espécie de marketing de escrita (e/ou de pensamento) a que muitos se deixam render. Eu sou má compradora, não decoro nem divulgo frases com facilidade, a não ser que me surjam repetidamente e me digam, de facto, alguma, muita, coisa. Mas, impressão minha, proliferam frases estudadas a propósito de tudo e de nada nada às quais sou completamente imune. Defeito, decerto. Incapacidade, a de colecionar ditos para a fotografia. Ou alergia. Ao pré-fabricado e depois à propagação em série de coisas que não me soam naturais. As certezas absolutas que não o são. Pelo menos para mim. Absolutamente.

O quarto



O original é dos meus favoritos. Van Gogh é dos meus favoritos. A Internet é das minhas favoritas. Vamos lá pôr este "post" entre os favoritos. Terá, leitor, todo o meu favoritismo.
                                                                                                                                                 
                                                                                                                                                      (Postado no obvious, um site favoritíssimo.) 

agosto 26, 2012

O irlandês



Penso que o primeiro filme que vi foi "Alexandre", dirigido por Oliver Stone. Aqui, o herói fugia um pouco ao que se tinha depreendido dos livros de história e da consequente construção da lenda. Efeminado e não agradando a quem comigo sentado estava, num filme de que não reza propriamente a história, apesar da frase inicial Fortune favours the bold, quiçá precisamente por essa razão. Ou outras, que não veem ao caso. De qualquer forma, eu apreciei a interpretação do ator nascido em Dublin desde logo. Outros se seguiram, como "Miami Vice", "O Novo Mundo", especialmente estes, construindo-se em mim a imagem de um novo galã no écrã, com grande sensibilidade apesar da força e bem do género que gosto - falível, vulnerável, introspetivo. Um querido amigo costuma brincar comigo, espantando-se em relação ao meu entusiástico apreço por Colin Farrell. Mas, mea culpa feminina, gosto de homens bonitos no cinema e não há como emendar-me. E gosto ainda mais se imprevisíveis, que tenham um certo estilo moody e mais qualquer coisa que chegue até mim e me seduza de várias formas. Até pela mística irlandesa, quanto mais não fosse.

agosto 24, 2012

Má digestão




Difícil de digerir:
1- A notícia das mortes em Castro Marim. Ou melhor, a notícia de que um suicídio, hipoteticamente, se tornou num homicídio. Chocada, chocadíssima. Como suportará o marido e sobretudo pai uma tragédia destas? Como não prever um desfecho assim? Mas, também, como prevê-lo? 

2 - Não chegava o autêntico massacre - parecia um treino -  que ocorreu na África do Sul com os mineiros (que têm, a meu ver, a profissão mais dura). Nos E.U.A., 46 disparos num deficiente mental, a ser verdade, é mais um episódio que não podia ser. 

3. 21 anos para Breivik. Assassino de 70 e tal pessoas e pode estar livre por volta dos  50 (não sei a idade certa do sanguinário terrorista). Estas penas máximas que ainda podem fazer voar quem espalhou o terror de tão leves que são fazem-me cá uma espécie que nem vos conto.

Lilith e o seu destino


Um filme que me perturbou um nadinha quando o vi, há muitos anos. Uma esquizofrénica manipula e seduz ao mesmo tempo. Warren Beatty muito novo - e belíssimo, já agora. Jean Seberg num papel enigmático, simultaneamente doce e estranho. Um par que resultou.

agosto 23, 2012

Ser ou não ser, parecer ou não parecer

Por causa do que li numa capa de revista enquanto pagava o meu café após o almoço, aqui estou a teclar. Ora bem. Ainda não ultrapassei todos os meus preconceitos interiores (embora me esforce por eliminá-los) e ainda estou na dúvida acerca da adoção por parte de casais homosexuais. Mas tenho reparado que há adoções, mais ou menos consensuais, já que não me parecem ter levantado objeções de qualquer espécie, feitas por parte de homens solteiros que o são, porque é mais ou menos assumido, ou poderão sê-lo. (E também por mulheres, embora tenha menos conhecimento, pelo menos através dos media.) Assim sendo, põe-se uma questão. Não pode a criança ser adotada por um casal conhecidamente gay (ou lésbico), porque se advoga que o modelo de parentalidade poderá influenciar a personalidade, o comportamento social, a opção sexual ( e repito que eu própria não sei, embora duvide) mas pode ser adotada por alguém cujo comportamento sexual (e depois emocional e relacional) não seja o padrão (obviamente que isto é discutível) apenas porque não é transparentemente declarado. Posto isto, é óbvio que se trata de uma hipocrisia. É uma hipocrisia estarem dois homens, que podiam ser duas mulheres, casados e não poderem adotar e estarem dois que vivem de igual forma, partilhando o mesmo teto ou não, mas não juntos legalmente e poderem fazê-lo. Num caso indignamo-nos porque sabemos, no outro não nos indignamos porque fingimos não saber. É como a questão do aborto - sabemos que se praticava ilegalmente, e em condições perigosas, e em condições que favoreciam as mulheres com dinheiro e desfavoreciam as que não o tinham. Sabemos que se fazia à mesma mas quando se propôs a legalização da IVG muitos opinaram (e  ainda opinam e estão no seu direito) tendo como argumento principal o facto de se poder aumentar e potenciar a sua prática, no fundo, mais às claras. Respeito todas as opiniões mas não posso com hipocrisias. E muito menos se elas passam pela lei.

(O) Obcecado

Não poderei, claro, defini-la cientificamente mas a obsessão significará pensar muito sobre algo. Pode ser simples ou pode revestir-se mesmo de perseguição, quer do ponto de vista físico quer do ponto de vista mais mental. Não há dúvida que há pessoas mais obsessivas do que outras, não conseguindo relaxar nem desprender-se do objeto do seu desejo ou angústia. Mas todos nós teremos graus maiores ou menores de obsessões quotidianas, de pensamentos fixados em aspetos de diversa índole e de impulsos que não conseguimos domar. Que tipo de coisas põem o nosso estado em alerta? Que tipo de coisas nos assaltam o pensamento de forma persistente? Que tipo de coisas nos fazem perder o fio da racionalidade? Não possuo diploma nem tenho experiência profissional nesta área mas parece-me que há ideias e imagens recorrentes que nos desiquilibram mais do que outras. Dinheiro. Sexo. A morte. Amor e ciúme. Formas de poder. Maternidade, constituição de família. Trabalho. Fama. Entre outras,  muitas outras, e sem me debruçar sobre as mais triviais  e sobre as mais variadas formas de mania, que nos levaria a uma abordagem mais vasta, conhecedora e técnica. O leitor decerto terá a sua obsessão de eleição. Penso que a minha se prende com os outros. Pessoas, comportamento, atitudes e, geral e aquelas que recaem sobre mim ( e as que faço recair sobre outros). É isto que mais me ocupa o pensamento, que me intriga, repulsa ou inspira. Ou aquilo que me angustia ou liberta. Devo certamente ter manias, tenho, mas ainda não serei um caso perdido, quero eu pensar. De resto, a vida continua e é a vida a grande ambição que tenho. Ou obsessão maior, a bem dizer.

agosto 21, 2012

A Baía às/aos sete

Não me passou despercebido o centenário de Jorge Amado e, numa altura em que há um remake de "Gabriela" na televisão, no Brasil e brevemente em Portugal, aqui fica um texto que já escrevi há algum tempo atrás.
 
Acho que a minha primeira heroína foi a Malvina. Fui mesmo à cabeleireira e pedi um corte exatamente igual ao dela, cabelinho esticado, enrolado para dentro, a culminar numa grande tira em forma de vírgula, uma de cada lado, puxada para o rosto. Tinha sete anos. Não perdia um capítulo da "Gabriela", colava-me ao televisor por volta das sete da tarde e lá vivia as histórias das personagens.
Havia muitas, inesquecíveis, pitorescas, movendo-se aos ritmos e sabores da Baía. Nacib, o turco, que afinal era sírio, dono de uma loja ou de um café, que esta minha memória só regista parcialidades, perdido de amores pela morena Sónia sensualíssima Braga sorridente Gabriela, a do cravo e canela, sapato não, seu Nacib, sapato não. A moça não queria ser dama, queria ser livre, explodindo em naturalidade, mesmo em inocência. Tonico Bastos, narcisista de meia tigela, sempre agarrado ao pentinho minúsculo que frequentemente lhe penteava o também minúsculo bigodinho, símbolo da fanfarronice da sua persona. Maria Machadão, dona do bordel local, ao mesmo tempo carrasco e anjo da guarda das suas meninas, pessoa de poder a quem os coronéis da cidade votavam algum respeito. Dr. Mundinho, um José Wilker de pequeno bigode, idealista de coragem, ousando afrontar o domínio dos coronéis, apaixonado e correspondido pela Jerusa, de quem a minha avó materna dizia ser parecida com a minha mãe. Moça bonita, de boas famílias, mas talvez qualquer coisa de mais ou de menos, já que a minha preferência, fruto da minha infantil perspetiva, ia para a sua amiga Malvina.
Esta era uma jovem idealista, também, e (mas?) com um caráter revolucionário, Várias vezes abalou as estruturas familiares e a cidade com as suas ideias e personalidade, forte, decidida, autêntica e rebelde. Não teve uma historiazinha de contornos fáceis ou previsíveis, o papel de ser discreta, namorar e casar bem, ser uma senhora. Depois de se envolver com o tímido e atrapalhado professor local. acabaria por se ligar com intensidade a um forasteiro de grande charme, mas casado, uma história que não iria resultar e que levou a minha heroína, nos últimos episódios, a abandonar a cidade para procurar a felicidade noutro lado.
Eu tinha sete anos. Não me recordo de muita coisa, mas retenho imagens de beleza paisagística, por entre palmeiras e sol, sons de músicas cantadas naquele sotaquezinho quente, registadas numa velha cassete de feira que ainda guardo, percursos ligeiros, dramáticos, hipócritas, verdadeiros,e por entre este mundo fascinante e nada menos do que fascinante criado pelo amado Amado, revejo, já numa perspetiva mais adulta, a postura da Malvina, o seu não conformismo, a sua audácia e a sua maravilhosa determinação, a sua consciência e diferença. E no meio de tudo isto, fico com saudades, de um tempo e de um espaço que não conheci, saudades da inquestionável fidelidade às sete da tarde, saudades de Ilhéus e do calor daqueles cenários de Vera-Cruz...
É verão. Tenho uma amiga que está de férias no Brasil e que visitou a Baía. Deus, também eu gostava tanto de matar estas saudades.

Jornal O Recado, ESAP

agosto 20, 2012

História da arte

Roubado do FB. Não quis que se perdesse na voracidade dos murais sociais e por isso trouxe-o para aqui. Porque a arte vive para a posteridade e há que guardá-la bem. E digam lá ...  não está de mestre?

Let it roll



Francisco Louçã anuncia a sua saída da direção do Bloco de Esquerda e deixa dois nomes como sugestão. Independentemente da minha posição política, o que quero aqui dizer é que não aprecio quem sai e dá dicas de como as coisas se devem organizar ou manter. Quem sai (de qualquer cargo ou responsabilidade) não deve, a menos que lhe tenha sido pedido, dar indicações de como o rumo dos acontecimentos deve prosseguir. Quem sai deve sair com a satisfação do dever cumprido e deve mostrar desapego relativamente ao lugar e ao que ele implica. De outra forma, revela uma possessividade que não devia sentir, uma certa noção de que a sua visão é a primordial e mesmo insubstituível. Ao invés, a atitude certa é a de deixar totalmente livre o caminho para os que se seguirão.  Porque o verdadeiro sábio confia e os que o não são desconfiam. Sem nada em contrário, deve ter-se suficiente otimismo e confiança no julgamento dos outros. Um indivíduo que sai deve sair livre, satisfeito (a não ser que se tenha sido despedido ou derrotado) e não apreensivo com o futuro sem ele. Pois é essa a impressão que fica. A de que tem de assegurar uma espécie de continuidade, e que quem vem tem de ter a sua concordância ou aval. Para mim o Bloco tem, teria, de significar liberdade. E isso significa o oposto da obsessão e do controlo. E penso assim sobre esta situação em particular e sobre todas as outras. É isso.

agosto 19, 2012

Olha que coisa mais linda

Aqui fica uma lista de mulheres que considero extremamente belas. Certamente que este é um post totalmente sem utilidade ou interesse mas esse é um dos luxos de verão - entretenimentos leves porque quando as férias acabarem teremos demasiados assuntos sérios a bater-nos à porta. Por agora, fiquemo-nos com a graça...

1. Catherine Zeta-Jones

2. Elizabeth Taylor

3. Ava Gardner

4. Natalie Wood

5. Letícia Sabatella

6. Giovanna Antoneli

7. Glória Pires

8. Catarina Furtado

9. Gong Li
Gong Li
10. Rania da Jordânia


São morenas, pois são. Havia mais (a Jennifer Lopez, por exemplo) e também algumas louras (a  Michelle Pfeiffer, entre outras), embora raramente ache estas divinais. Ainda assim, as fotos não fazem jus à beleza deste naipe - são ainda mais bonitas em movimento natural, no écrã ou fora dele. Ou não concordam comigo? Pois, sei que sou mulher mas isso não me impede de reconhecer e admirar a beleza quando a vejo. E ela mora, segundo os meus padrões estéticos, incondicionalmente aqui. 

agosto 18, 2012

Tranquilizante



Cada vez gosto mais de leituras que tranquilizam. Acho mesmo que nos falta ler e interiorizar coisas que nos façam crescer por dentro, abrir os horizontes, conhecer o relevante e focar-nos no essencial. Essas leituras passam por abordagens daquilo que são as pessoas, as suas motivações, as suas debilidades, o comportamento humano e de como muitas atitudes têm de ser encaradas com naturalidade. Ao invés, cada vez gosto menos de ler opiniões inflamadas, posturas sectárias e radicalizadas, posições dependentes de correntes e de modas, conteúdos vazios e superficiais, conservadorismos que não levam a lado nenhum, intelectualismos herméticos que não me seduzem, pseudo-cultura absolutamente chata, ideias turvas e sinuosas. Pensamentos intolerantes, arrogantes, mal informados e reveladores de uma total ausência de reflexão então nem pensar. Cada vez gosto mais de leituras que me serenem, me confirmem aquilo que penso, me digam que a complexidade é normal, me suavizem as angústias, me reconfortem pela identificação. E encontro-as. Felizmente que as encontro. 

agosto 17, 2012

Balança


Tens de ver o essencial...
Achas que não vejo?
Dás muito valor à estética.
Mas como viver sem beleza?
E gostas da perfeição...
Que mal há nisso?
És muito idealista.
Mas ... como viver sem ideais?


Atualizações



1. A notícia em estilo mini-reportagem dada pela SIC que crianças palestinianas e israelitas jogam juntas futebol, ao abrigo dum programa que as levou até aos E.U.A., teve em mim dois efeitos. O primeiro, de grande satisfação e alegria por se tratar de uma louvável iniciativa, em dois grupos dilacerados pelos conflitos e que é urgente reeducar. Fico sempre comovida com a aproximação dos povos e sou sensível a esta zona do globo, desde sempre, vá lá saber-se porquê. Gostei de ouvir os treinadores e os miúdos, com discursos de positivismo e descoberta. A prova de que o conhecimento é a chave para matar a desconfiança e o ódio. O segundo, de esperança de pouca dura, pois logo me lembrei de algo semelhante e que, anos mais tarde, não viria a ter os efeitos desejados. Escrevi sobre isso no jornal O Recado, da ESAP, há alguns anitos. Um programa de televisão que mostrava 4 jovens adultos, 2 palestinianos e 2 israelitas,  em colisão e que tinham passado férias juntos num campo de férias em terras americanas. E de como a leveza infantil e a amizade foram esmagadas pelo crescer, em diferentes lados da barricada. Provavelmente ainda hei de postar esse texto...

2. A notícia da bebé que perdeu a vida por causa de um cão deixou-me perfeitamente horrorizada. E hoje o facto de alguém me dizer que na praia um cão sem açaime desfez o rosto de um homem estarrecida me deixou. Receio cães perigosos e cães à solta - e agora ainda mais pelo meu filho, afinal as crianças devem poder andar na rua, é verão -  sem qualquer tipo de preocupação por parte dos seus donos, que não entendem o lugar dos animais e não compreendem que estes possam ser causadores de grandes problemas e tragédias. Há uns anos andava eu tranquilamente de bicicleta quando fui quase atacada por um cão de grande porte (pois são esses que me assustam, naturalmente, embora conheça alguns bem calmos) e ainda por cima fui insultada pelo dono, obviamente sem qualquer ética nem boa educação. Aflige-me que neste país se dê maior importância aos animais do que às pessoas, francamente. E que estranhem quem não comunga dos entusiasmos com a bicharada doméstica. Que de domesticados podem, afinal, ter muito pouco. Mais civismo, mais respeito pelos outros e espaços próprios para os animais que podem causar sustos ou danos maiores...

3. Trinta por cento dos professores sofre de esgotamento, diz estudo - leio num link postado no Facebook. Pudera. E o mais espantoso é que no meio disso ainda fazem milagres, dando o litro de tal forma que chegam ao final dos períodos obviamente esgotados. São tantas as frentes a que têm de chegar e que a maior parte das pessoas, do lado de fora, desconhece. O grande problema reside no desligar. Ou melhor, na incapacidade de desligar quando as tarefas se prolongam para além da escola, entram em casa ao fim da tarde até à noite, fim de semana, ao melhor estilo non-stop. Muitas vezes penso no que será pior - preparar e dar aulas, gerir os grupos e evitar a indisciplina ou despachar a papelada infindável que nos entope. Não sei o que é pior mas sei que as duas coisas ao mesmo tempo, pois assim é a nossa vida, fazem mossa. Quando estamos de férias é que nos apercebemos do extremo cansaço que nos acompanhava e de como a nossa vida não era normal. Por uma questão de tempo, é certo, mas pela indisponibilidade psicológica, e física, de usufruir de uma série de coisas. Passamos o ano letivo esgotados, essa é a verdade. E eu, que sou otimista, neste caso não vejo melhorias futuras. Ou as pessoas mudam e mudam alguma coisa ou esgotados continuaremos.

agosto 15, 2012

É urgente morrer o pessimismo

É preciso e urgente cultivar o otimismo, dizem sociólogos e escritores, cronistas e especialistas. Sem dúvida. E por causa disto relembro aqui excertos de um texto anteriormente escrito sobre os pessimistas.
                              
Os pessimistas estão em todo o lado. Por vezes, até são pessoas simpáticas só que não conseguem evitar a alfinetada, muitas vezes consciente (já que a si próprios se intitulam de realistas), outras inconscientemente. Assim cosem cenários cinzentos, escuros, negros, sem espaço para o raio de sol ou para o arcoíris. Para eles nunca há bonança. São eles que nos lembram os obstáculos, todos de uma empreitada, são eles que dizem que ser interventivo não leva a lado nenhum, são eles que, em última instância, nos fazem sentir ingénuos por continuarmos a sorrir neste mundo de catástrofes. Manias hipocondríacas, medos etnocêntricos, previsões assombrosas. Tudo altamente paralisante e inibidor da esperança, da coragem e mesmo do risco.
E é desta forma que os estímulos negativos nos inundam o quotidiano e nos afogam em receios. Não que não se deva pensar, não que não se deva prevenir, até duvidar. Mas deve-se sobretudo confiar mais e viver. Doutro modo, assustam-nos. Há momentos, contudo, em que é normal estar-se assustado. E triste e desanimado. As emoções da existência passam invariavelmente pelo bom e pelo mau e não há outra verdade. Mesmo assim, os nossos sábios pessimistas criam-nos momentos de infelicidade dos quais só se quer distância. Ainda por cima, muitas vezes são conservadores como tudo. Já que as mudanças vão correr mal, para quê mudar, mais vale manter tudo na mesma. Muitas vezes também são medrosos como tudo. Não viajam para países diferentes porque do desconhecido só pode surgir o ruim, claro. E negam-se a si próprios (e, por arrasto, aos outros) sensações novas e aprendizagens que muito os enriqueceriam e lhes abriria o espírito.
Por outro lado, exibem muitas vezes certezas que parecem sólidas, faltando-lhes abertura e humildade. Do alto das suas convicções realistas, para falar a sua linguagem, atiram-nos depois com epítetos como inconsciente, irresponsável, criançola, imaturo, até superficial. Mas que mal há em acreditar no melhor das situações? Que mal há em agir, apesar de podermos falhar? Que mal há, afinal, em vislumbrar a luz? Luminosos sejam os nossos dias, obviamente muito para além do verão.

Jornal O Recado, ESAP ( adaptado)

agosto 10, 2012

Como não escolher o paraíso?

Como não escolher o paraíso? Como não escolher a areia fina, a água transparente? Como não escolher a vegetação luxuriante, as flores em colar? Como não escolher o sol intenso, o calor envolvente? Postos  perante tais perguntas, certamente que pelo éden optaríamos. E assim fizeram, naturalmente, muitos homens a bordo do Bounty.
É preciso recuar algum tempo atrás, situar geograficamente a trajetória do famoso navio de sua majestade. Tudo isso para percebermos as escolhas dos homens que se aventuraram a uma vida incerta em detrimento de uma existência mais convencional. Está-se em 1788/9. O navio HMS Bounty parte de Portsmouth, Inglaterra, rumo aos mares do sul. A tripulação é jovem, na sua maioria homens solteiros habituados a atravessar os oceanos. O capitão é um homem de forte disciplina, consciente dos deveres morais. A missão é a de arranjar fruta-pão para alimentar os escravos nas plantações das Caraíbas. A missão é, afinal, sustentar parte do império britânico. 
Retomando a história: o Bounty parte do sul de Inglaterra rumo ao Taiti, ilha já explorada pelo reconhecido Capitão Cook. Ilha de exóticos contornos, povoada pr coloridos nativos. Depois de uma tentativa de travessia atribulada do Cabo Horn, o navio chega à soalheira Papeetee que inebria de imediato parte da tripulação. As tensões vividas durante a viagem, provocadas pelo excesso de zelo do Capitão, parecem agora dissipar-se. Trocam-se cumprimentos reais, trocam-se prendas. Os homens estão felizes, comem, bebem, dançam, estonteiam-se perante as mulheres de longos cabelos e flores ao peito... No meio da alegria geral, o Capitão, Bligh, de seu nome, não parece sentir tanto entusiasmo. Deseja que grandes quantidades de fruta-pão se possam desenvolver o mais depressa possível para voltar para casa. Enquanto isso, os homens, na sua maioria, e porque a estada se vai alongando,começam seriamente a pensar ficar. Afinal passam dias de felicidade e não têm nada para que possam voltar. Por entre risos e danças de sensuais movimentos, chega a hora de partir. A missão chegara ao fim. Alguns homens estão visivelmente tristes, agarrados às mulheres de pele morena e corpo ondulado, também elas docilmente infelizes. Partem, partem para não mais voltar...
A viagem prossegue, com algumas paragens perigosas em ilhas mais próximas. Alguns homens estão cada vez mais descontentes. Bligh continua implacável com as falhas, infligindo castigos humilhantes e brutais, esmagando com autoritarismo qualquer foco de resistência. E é perante algumas mortes que ocorrem a bordo que um dos oficiais se destaca pela oposição ao comando do navio. Christian, que já assumira posições discordantes anteriormente, torna-se assim na esperança da tripulação para tomar o navio e mudar as condições a bordo. Confuso mas sensível, nitidamente perturbado mas ainda consciente, no inferno mas com coragem, acaba por liderar a mais famosa revolta da história da marinha britânica.
Destituído Bligh, colocado num pequeno barco com alguns homens e mantimentos, Christian toma o comando do navio e, satisfazendo a vontade dos homens e a dele próprio, regressa ao Taiti. Recebidos calorosamente pelas suas mulheres, Christian incluído, concluem que devem abandonar a ilha para não serem nunca apanhados, a sentença de traição ser-lhes-ia obviamente fatal. Com as suas mulheres e alguns homens taitianos, procuram uma ilha onde possam viver, sabendo que nunca poderão regressar a Inglaterra. Instalam-se na ilha de Pitcairn, onde, de resto, têm descendentes até hoje. Quanto a Bligh, conseguiu chegar a Londres, via Timor. Conseguiu, também, a condenação de traição para muitos dos seus homens. Estes acabaram por morrer precocemente em Pitcairn, onde a falta de regras e a de convenções sociais, sem esquecer os ciúmes, acabaram por lhes ser fatal. 
A história do Bounty, real e fascinante, não deixa de ser uma alegoria ao poder. De um lado, os dominadores, do outro, os dominados. A força contra a humanidade, a dureza contra a sensibilidade, o autoritarismo contra a inteligência, personificados pelos dois protagonistas. Mas também, e por contraste, a necessidade de estabelecer normas de comportamento e afins para que não se instale a anarquia. A manutenção de valores para se conseguir formar uma sociedade funcional. De como é de posições antagónicas que uma civilização se constrói. O dominador é forte mas bronco. O dominado, ou melhor, o revoltoso é confuso mas inteligente. Ou que o dominador é bronco mas disciplinado. E que o revoltoso é inteligente mas disperso.
De qualquer forma, e porque excessiva disciplina conduz à falta de sensibilidade e excessiva autoridade conduz à falta de liberdade, não poderemos evitar a pergunta - como não escolher a areia fina, a vegetação luxuriante, o sol intenso? Como não escolher, agora e sempre, o paraíso?


                                        Jornal O Recado, ESAP

agosto 08, 2012

O grupo

"(...) A companhia ilustra, de forma emblemática, a estupifidicação e a degradação do indivíduo por obra do grupo (...).
em Amizade, de Alberoni

Em inglês, a expressão peer pressure é habitual aparecer referida quando se fala dos problemas dos adolescentes e traduz-se por qualquer coisa como pressão de/do grupo (pares). Tenho para mim, e já não será a primeira vez que escrevo sobre isso, que a estrutura e rituais de grupo tendem a aniquilar sobremaneira os traços de individualidade caraterísticos e naturais de qualquer ser humano. Ao pertencer-se a um grupo está-se, automaticamente, a entrar num código (com frequência fechado) de valores e atitudes que tendem a exaltar o coletivo em detrimento do individual. Temos na língua portuguesa, de resto, uma tirada de sabedoria popular que todos conhecemos "Diz-me com quem andas dir-te-ei quem és" que não deixa de ser altamente exemplificativa da ideia que tem vindo a ser desenvolvida até agora. Isto acontece porque o grupo acaba por fazer (aos jovens?) um ultimato do género - ou és como nós ou não tens valor, ou ages como nós ou não podes pertencer aqui, entre outros.
Porventura tendo mais valia e mais talentos do que aqueles apregoados pelo grupo, o indivíduo acaba, pois, por anular a sua própria vontade e capacidade de opinião faca à força da companhia. Alberoni di-lo claramente e nestes termos: "Mesmo quando os participantes, individualmente, são inteligentes e vivos, mal entram na "companhia" diminuem-se totalmente." Sem dúvida. Até porque as conversas de grupo tendem a ser completamente tolas e banais, não dando espaço de manobra para o real valor de alguém com aquelas qualidades. Voltando a falar dos jovens, quantas vezes não se diminuem? Quantas vezes não optam por certos comportamentos porque não sabem dizer não e se sentem pressionados, ainda que não declaradamente, pelos seus pares?
Com isto quero dizer que não há grupo de "amigos" que mereça o sacrifício dos nossos valores ou, dito de outra maneira, que não se pode vender a consciência em troca de elos fraternais passageiros, e mesmo inexistentes, ou de prestígio postiço. Não podem os nossos amigos retirar-nos liberdade de ação, em caso algum. Assim como não se pode abdicar da originalidade e da sensibilidade quando elas nos são negadas por maiorias, em organizações ou grupos doutro género. E muito menos podemos não valorizar as nossas potencialidades e qualidades (misturadas com os nossos defeitos, naturalmente) em função dos falsos modelos de felicidade e sucesso que tantas vezes nos querem impingir. 
Para os jovens, é importante reter uma mensagem: a de que a amizade verdadeira respeita incondicionalmente a sua maneira única e exclusiva de ser. Para os menos jovens, a de que o grupo, de amigalhaços ou outro, não pode abafar a opinião e a essência. Porque o faz, amiúde, e se o fizer, então, está comprometida qualquer individualidade.

Jornal O Recado,  ESAP, ligeiramente adaptado

agosto 05, 2012

A inadaptada


































Fotogenia sem igual, graça natural, sorriso gaiato. 
Traumas de infância, demónios interiores. 
Uma sensual mistura de sensibilidade e atrevimento, glamour e fragilidade.
Anseios por um reconhecimento mais intelectualizado, solidão emocional que a levou demasiado cedo.
Linda e eterna...

Link para galeria de fotos: aqui.

agosto 04, 2012

Andes

Gosto de música andina. É uma alegria escutar as flautas de pã ao vivo, como sucede tantas vezes pelas ruas de grandes cidades ou feiras de renome. Nunca estive nos Andes mas seduzem-me por tantos motivos... Fico-me por esta pequena viagem, para já, à falta de reais aventuras por terras onde habitam lamas e condores.


agosto 03, 2012

Com medidas


Genericamente, não aprecio palavras comedidas. Não gosto de palavrões, tolerando-os se misturados com verdadeiro humor, espontâneo, louco e nunca em anedotas idiotas e com pessoas que acabo de conhecer. Gela-se-me a espinha toda, se assim for. Mas o comedimento de emoções e de atitudes que produz palavras parcas e sem chama, que nunca nos elevam, enlevam nem aquecem, também não. Deve-se dizer as coisas boas quando as sentimos. Assim, sem mais nem menos. Muitas vezes as pessoas não dizem e depois passou o tempo. No filme "Os despojos do dia" a personagem de Anthony Hopkins não diz a tempo o amor que sente pela de Emma Thompson. Um dia perde-a para sempre, mas é tarde demais quando se apercebe das palavras não ditas. O understatement pode nunca ser bem interpretado. E isso pode afundar alguém numa grande infelicidade. As palavras medidas e comedidas são uma grande chatice. Há quem espere por palavras boas e animadoras e nunca as ouça. Há até quem as trave, de propósito, para nunca dar esse gosto. Uma espécie de crueldadezinha que muitos professam, fruto de caráteres mais invejosos ou secos. Como lhes custa deixar sair uma palavra amável, elogiosa, reconfortante. Outros parece haver que, bondosos, revelam uma manifesta incapacidade em expressar os sentimentos melhores. O resultado é o mesmo - por muito diferente que seja a essência, a verdade é que não chegam ao coração, não nos cativam. Mas isto a propósito das palavras que precisam de espontaneidade. Raios partam a contenção dos discursos que não deixa margem para a ousadia, para o entusiasmo, para a clareza ou para os afetos. E para a (auto) estima. Raios partam as palavras (ou a ausência delas) que não sabem deixar ninguém feliz.

agosto 02, 2012

Os amores impossíveis

    
Não, não vou falar nem de mim nem de ti nem de ninguém cuja(s) história(s) tenha(m) ou não tido contornos de impossibilidade romântica. Não vou falar sequer do que nos rodeia, do real. Vou falar da tela. E na tela, realmente, aquilo que me fez ficar sempre com um nó esquisito na garganta não foram os dramas familiares a puxar ao sentimento mais fácil nem os melodramas óbvios com histórias a acabarem bem. Realmente, não. O que sempre me arrebatou foram as longa-metragens, geralmente biográficas, em que há invariavelmente um final que nos dilacera, que nos faz doer, que nos põe a dizer não pode, não pode. Mas estes impossíveis romances hão de ter um traço em comum, hão de ser vividos em grandes espaços ou estarão a rebentar de exotismo ou ainda a fazer-nos entrar numa outra época. Quase e quase sempre. Estarão fora, longe, longérrimo de casa. Terá de haver quase e quase sempre uma viagem...

1. O comboio a largar vapor. O caminho de ferro na paisagem aberta. A música de john barry. E o diário de quentes memórias a ser folheado. "I had a farm in Africa.... I had a farm in Africa at the foot of the Ngong Hills..." Não me canso jamais deste filme. Sei diálogos de cor, os cenários e as personagens fazem parte do meu imaginário romântico, impossível resistir. Sobretudo, e curiosamente, a personagem de meryl streep. A dinamarquesa que interpreta marcou-me pela coragem, pela força, pelos sentimentos fortes, pela ação, pela emoção. A história de amor que viveu com o aventureiro inglês foi interrompida pela sua óbvia possessividade e necessidade de exclusividade mas também pela clara incapacidade do companheiro de assumir compromissos. Foi também interrompida pela morte. Em Tsavo, uma avioneta despenha-se para nos fazer chorar. E, depois do fogo, interrompe-se também a história de amor com África. Há que voltar a uma Dinamarca fria, sem riscos, sem poder ter "a glimpse of the world through god´s eyes" ou seja sem viver no limite e no perigo e na incerteza. E quando os leões acasalam na sepultura do amante, pelo final da tarde, e quando os cânticos africanos femininos são entoados ("will Africa know a song of me?") e quando tudo acaba é triste, triste, triste mas tão estranhamente belo, tão belo.

2. É a barca. É a barca do Mékong. Assim se pode ler nas primeiras páginas do livro de marguerite duras. Mas no écrã a sedução não é menor. Uma mulher em Paris recebe um telefonema do Oriente. Um homem diz-lhe que sempre a amou que nunca a deixou de amar e que a amará sempre. Parece piegas, conversa fácil. Mas não é. E não é porque a mulher nos transporta depois para uma história de amor entre uma adolescente francesa e um homem chinês a que é impossível ficar indiferente. Para além do ambiente intenso que inconfundivelmente carateriza o Extremo Oriente e da estranha intensidade da sua relação, o filme aflora também algumas diferenças culturais entre as personagens. Culturais e sociais. A sua história de amor é interrompida pelas imposições da sociedade na qual se inserem. Ele, adulto, não tem força suficiente para traçar o seu próprio destino. Ela, adolescente, não tem maturidade suficiente para discernir sobre os seus sentimentos. Ou melhor, sobre o sentimento. A história é também interrompida pela distância. O período colonialista chega ao fim, os franceses saem da Indochina e a "criança" volta, num navio, para longe da intensidade. Lembro-me bem dos rostos e das cores quentes e do carro no cais. Novamente, quando tudo acaba, é triste. Mas, novamente, é muitíssimo belo.

3. A charrete. A charrete apressada e o toque das mãos também apressado. A paixão que não irá ser consumada. A história de newland e de helen, numa idade de inocência. O pano de fundo, a sociedade nova-iorquina do século dezanove. Trata-se aqui, e sobretudo, de um incrível ensaio sobre a renúncia. É também uma história em que uma mulher de alta sensibilidade (que fantástica está a michelle pfeiffer aqui), vinda de uma cosmopolita Europa, quase que revoluciona o ritualizado status quo implantado. E é maravilhoso e paradoxal ver que só não o faz pura e simplesmente por amor. De personagem com laivos feministas a heroína romântica, renunciando ao amor para não magoar quem ama - amado, família. Contudo, a sua história é também interrompida pela incapacidade de agir revelada por newland, que, preso a esquemas culturais, não consegue libertar-se a tempo. Acaba, assim, por continuar com uma vida de representação, encenação, no papel de mero contemplador. Simples esteta. Afinal uma ópera começa o filme... Como desejamos que ele tivesse agido. Em Paris, para onde ela voltou, quero empurrá-lo apartamento acima, desejo tanto um final feliz, mas não, a mesma sensação de tristeza e, mais uma vez, a constatação que algo muito belo acabou. O pano cai, no escuro do cinema, as "yellow roses" deixaram de nos trazer luz...

De volta à vida real, não queremos nós viver coisas tão intensamente impossíveis. Queremos ser felizes, seja lá o que isso quer dizer, mas queremos tornar as coisas possíveis. É bom que o consigamos, é muito bom. Mas, e de qualquer maneira, viajar por estes amores pode ser uma fascinante incursão ao mundo da mais intempestiva e/ou inquieta e/ou sublime paixão.