fevereiro 17, 2014

Pausando

O AE vai usufruir de umas férias. Os afazeres da bloguista falam mais alto e anda-se por aqui sem tempo e, consequentemente, sem inspiração. Até depois delas.



fevereiro 16, 2014

Recaídas


querido diário
mais um dia e aqui me tens de novo, significando no fundo que nada de novo existe que valha a pena relatar
o dia passa-se por entre caídas no sofá correções a vermelho de testes e trabalhos beijinhos e abraços para demover o traquinas de mais e cada vez maiores traquinices novas caídas no sofá roupa para lavar e estender mais caídas no sofá e a seguir refeições e lanches e umas espreitadelas pelas vidraças para ver o tempo esteve sol até mas frio e mais umas coisitas de casa escada abaixo escada acima e novamente o sofá e apanho uma senhora com 700 gatos em casa no nat geo wild e antes do almoço tinha visto belíssimas imagens do kalahari e do deserto da namíbia porque lá está muitas caídas no sofá
o inverno que não passa e os testes que não acabam e o sol a pedir para se ir lá fora mas não vamos o sofá é mais forte porque há trabalhos e correções e ainda a lareira mais tarde mas há sobretudo cansaço como dizia o poeta e diz e nós sabemos e sentimos enfim mais um apontamento intimista mas é a minha casa e nela digo o que me apetece ou até o que nem me pode apetecer por hoje e para já a fartura do inverno mas está mesmo mau este ano também vejo na televisão mas é sempre assim para mim o inverno é-me difícil o inverno quer dizer janeiro e fevereiro e entrando em março inverno mesmo nada de outono porque nesse aguento-me e bem mas entra janeiro e já não 
fico-me pelas vistas do sofá avisto a televisão e depois avisto os desertos e as viagens que queria fazer e depois avisto através das minhas vidraças a ria que se estende em frente e queria avistar outras coisas mais não queria avistar sobretudo os testes que estão maus mas faz parte queria avistar a primavera e outras cores no céu talvez porque as cores cá dentro também fossem outras são sempre se disso depender só a cor dos dias e o fim do inverno
não te apoquentes querido diário isto são coisas de quem nada tem para fazer de interessante porque não pode mas vai poder acabe assim o inverno e o resto que nos aprisiona as horas 
e vá descansa agora tu que isto sem pontuação não dá trabalho a quem escreve era essa a ideia mas dá uma canseira a quem lê
até a um novo dia

fevereiro 15, 2014

No reino da educação


Tenho assistido a um fenómeno curioso. Como resultado das péssimas notas e demais informações negativas dos alunos, alguns encarregados de educação alteram - e bem - a autorização de saída dos seus educandos. Com o nosso aval e até sugestão. Não é que, como eu, sejamos de castigos mas premiar o que não pode ser premiado não parece lá muito educativo. E são formas de incutir responsabilidades que os alunos, se quiserem, conseguem cumprir. Ainda por cima, como tal situação não tem que ser eterna era só os miúdos alterarem os maus comportamentos que tudo voltaria a ser como queriam e querem. Mas o fenómeno está no seguinte: a intenção de alteração de saída feita perante nós vem a sofrer reviravoltas quando longe de nós. Queremos ver os nossos filhos felizes, é um facto, mas assumamos os riscos e as consequências. Ou a escolha, já agora. Porque ao pedir para nos confirmarem depois por telefone essa alteração ao estipulado a resposta não vem. Enrola-se, não se atendendo ou ignorando os recados e as mensagens de voz. Assim vai o reino do ensino. Ou de alguma família, o que, neste caso, vai dar ao mesmo. Não se aprende nada. 

fevereiro 13, 2014

Horas felizes

                    

aqui escrevi acerca da importância que teria os trabalhadores poderem decidir sobre algumas condições de trabalho que lhes dizem diretamente respeito. Uma grande percentagem de pessoas, em todo o mundo, sente-se infeliz com a forma como trabalha mesmo sendo possível que essas pessoas gostem do que fazem. Por várias razões. Uma delas é a questão dos horários. Aqui há semanas li algures que um país nórdico (não sei dizer qual exatamente, mas tinha que ser um país nórdico, claro) está a insistir e a alargar a flexibilidade de horários, escolhida pelo trabalhador, para ir ao encontro dos ritmos de cada um. Pessoas felizes, com energia e motivadas produzem mais, nada de novo nesta conclusão, de resto. A flexibilidade laboral nórdica é conhecida mas penso que a notícia se prendia exclusivamente com a hora de entrada (e saída). Há quem seja matutino e quem, como eu, deteste levantar-se cedo. O objetivo é permitir aos últimos que possam entrar muito mais tarde ao trabalho, respeitando os seus modelos pessoais de sono e níveis de energia física e mental de acordo com as horas do dia. Argumentar-se-á que em Portugal já se pode usufruir do mesmo em muitas empresas e locais de trabalho. Acredito que sim, mas na maioria não. Pessoalmente nunca fui tida e achada para estabelecer preferências no meu horário, de todo. E admito que me faria diferença, para melhor, entrar mais tarde (dar aulas mais tarde, na verdade). Os meus níveis de boa disposição aumentam consideravelmente após o almoço e deve haver mais gente a sentir o mesmo.  Poder escolher é uma grande forma de liberdade. E exercê-la, neste caso, significaria trabalhar mais e melhor. Ninguém, desta forma, sairia perdedor. 

fevereiro 12, 2014

Vai um cafezinho?



A hora pode ser tardia para cafeína, para alguns, eu própria incluída. Mas sempre pode ficar para amanhã depois do almoço. Tema não faltará à mesa do café.

fevereiro 11, 2014

A história do bloguista


Num dos blogues que mais admiro, "Kyrie Eleison", o meu colega de blogosfera que também é de profissão, dizia e bem no outro dia, na sua caixa de comentários, que nem sempre os nossos posts têm cariz autobiográfico. Assim é. Nós podemos escrever, bem ou menos bem, até mal, sobre coisas que serão nossas, sentimentos, impressões, opiniões, experiências passadas ou presentes, medos, anseios, gostos, enfim, podemos ir pelo caminho que revela a nossa personalidade - ou muito dela. Porque o nosso mundo é maior do que o do blogue, graças a deus, e portanto há muita faceta e dimensão que não está lá espelhada, seja por escolha ou incapacidade. Ou por outra razão qualquer.
Mas dizia-se aqui que os nossos textos, grandes ou pequenos, bons ou maus, não passam exclusivamente pela demonstração daquilo que somos. Acontece-me escrever a pensar em alguém em específico, ou porque vi algo no cinema, ou ainda porque li uma coisa que ficou a remexer cá dentro, ou ainda porque faço uma generalização do que vejo, ou tantas vezes porque idealizo e intelectualizo determinado aspeto ou circunstância, e isto tudo sem ser sobre mim diretamente. O cunho na análise pode ser meu, é-o certamente, mas não tem a ver com a minha vida, de todo, ou já não tem, ou ainda não teve. Acontece-me ver, ouvir, ler, observar, sentir algo e vir aqui dissertar - ou tentar dissertar - um pouco sobre isso. Quanto menos vir, ouvir, observar, sentir, menos material terei para opinar ou refletir. Bem ou mal, repito. 
Da mesma forma, não se pense que não temos direito a mudar de opinião. Excetuando os valores, há perspetivas que podem ser alteradas. Evolui-se, amadurece-se, ganha-se experiência. Tudo isto pode mudar a nossa visão sobre alguma coisa. Um post escrito há anos atrás pode ter, portanto e entretanto, ganho outro ângulo. Posto isto, a escrita continua. Ou os registos que somos capazes de fazer. Ou que pensamos que somos. Uns dias mais intimistas, é um facto, outros nem por isso e outros, ainda, de todo. Os posts são como são. Que não se veja muito para além do que eles são - incursões no momento pelo nosso mundo, interior, é possível, e não.

fevereiro 10, 2014

O fado feminino


Ao que soube, a atriz Meryl Streep terá dito que as mulheres ocidentais são escravas da beleza. Que os homens quando se encontram perguntam "Como estás?" e que as mulheres dizem "Estás ótima!". Não sei se o terá dito efetivamente ou não mas o que aqui está expresso merece um bravo aplauso pela verdade que encerra. Sem mais nem menos. Há anos que assim penso, que a nossa libertação é muito relativa e que um dos aspetos que a limita é precisamente este - o da obsessão com a imagem, com a eterna juventude e com as medidas perfeitas. Tudo bem alimentado pelos media, naturalmente. E com a máxima colaboração de muitas, de mais do que muitas de nós.
Por outro lado, que não contradiz em nadinha isto tudo, ouvir "estás ótima!" já é um sinal de sorte, porque muitas são bafejadas com um "estás tão magrinha" acompanhado de um ar falsamente preocupado, na verdade de idiota comiseração. Ou um "estás mais gordinha", acompanhado de um sorriso maroto nem sei bem porquê. Esta atriz, que nunca se impôs por nada para além da sua graça natural, enorme talento e sensível afetividade, acertou na mouche. Deixemo-nos de balelas. A imagem é cultivada até à exaustão, e literalmente por vezes, não porque nos faz sentir melhor por dentro e melhores como pessoas, harmonizando assim a nossa vida e as nossas relações. A beleza é perseguida e a imagem alcançada de formas por vezes não naturais porque nos queremos sentir bem por fora, ao espelho e para os outros, para as outras, muitas vezes. Se ela é, eu também tenho que ser, se ela tem, eu também vou ter, se ela pode, porque não posso eu. Isto enquanto mil imagens de rostos e corpos perfeitos são processadas no nosso cérebro, em estimulação non-stop que vem das revistas, dos filmes, da net, da televisão, da moda, do espaço. 
Isto existe e desassombrada a forma de quem o admite publicamente. Tudo isto existe e é, na realidade, triste. 

fevereiro 09, 2014

Entusiasmo e fim




Há relações que estão condenadas desde o início, por mais voltas que deem e voltem a dar. Por isso, quanto menos alarido, melhor. Ou entusiasmo, embora seja muito difícil refrear este no calor dos primeiros momentos. Que até podem durar anos, é um facto. Mas o tal elo dissonante esteve sempre lá, nós é que não o vimos. Ou não quisemos ver. E um dia lá salta ele cá para fora. Não podia permanecer lá dentro, não senão de forma mentirosa. O alarido, então, passa rapidamente a silêncio. 

Quando os silêncios não são de ouro



Há silêncios de ouro, sabemos, claro. Mais vale estar calado do que dizer disparates e coisas que não se sabe, dizemos e sabemos. Digo aos meus alunos, frequentemente, ensinando-lhes a conterem-se, que por vezes calar é ganhar. É ser inteligente, sabemos. Num determinado momento, num determinado local, numa determinada circunstância. Sabemos. Mas os silêncios não resolvem muitas coisas, não resolvem tudo. Há silêncios que não podem viver para sempre. Têm de ser quebrados, têm de ganhar voz. Também o sabemos, devíamos saber. Sem diálogo ou sem denúncia, sem dizer o que se quer ou não quer, o que se compreendeu, magoou, confundiu, matou. Em certas alturas e em certas situações, o silêncio corrói, destrói. Portanto, fazer uso dele é uma tremendíssima estupidez. Há silêncios que, pura e simplesmente, não o podem ser.

fevereiro 08, 2014

Um longo not like


De um modo geral. Não gosto de pessoas sem abertura, não gosto de pessoas que não são francas, não gosto de pessoas que não reconhecem os outros, a não ser que sejam dos seus - seja lá o que isso quer dizer -, não gosto de pessoas sem sentido de humor, não gosto de pessoas a rebentar de orgulho, não gosto de pessoas insensíveis, não gosto de pessoas cheias de certezas inabaláveis, não gosto de pessoas que não sabem ver o outro lado, não gosto de pessoas manipuladoras, não gosto de pessoas que se penduram nos outros, não gosto de pessoas muito lamechas, não gosto de pessoas com a mania da perseguição, não gosto de pessoas que se queixam mas não agem, não gosto de pessoas superficiais, não gosto de pessoas muito vaidosas, não gosto de pessoas essencialmente medrosas, não gosto de pessoas que chantageiam emocionalmente, não gosto de pessoas meramente passionais, não gosto de pessoas gélidas, não gosto de pessoas rígidas e formais a toda a hora, não gosto de pessoas que não sabem soltar uma gargalhada, não gosto de pessoas que falam sempre baixinho, não gosto de pessoas que gritam e falam aos berros, não gosto de pessoas que não sabem ouvir, não gosto de pessoas que implicam com tudo e nada, não gosto de pessoas que nos fazem perguntas sobre nós a torto e a direito, não gosto de pessoas dependentes, não gosto de pessoas incompetentes disfarçadas de boazinhas, não gosto de pessoas que não assumem as vulnerabilidades humanas, não gosto de pessoas que enganam ou pretendem enganar, não gosto de pessoas elitistas e snobs, não gosto de pessoas toscas e ignorantes, não gosto de pessoas sem alma, não gosto de pessoas sem coração, não gosto de pessoas só coração, não gosto de pessoas sinuosas, não gosto de pessoas demasiado simplistas, não gosto de pessoas que não me aquecem ou, o mesmo, não gosto de pessoas que me arrefecem. Pode, ao ler-se, pensar-se que não gosto de ninguém, nada mais falso. Posso até eventualmente gostar de pessoas que tenham uma ou mais do que uma, várias, destas caraterísticas. Mas pessoas fantásticas, admiráveis, poderão ser menos. Poderão ser mais difíceis de encontrar. Existem, porém. Existem sem estas coisas que me fazem gostar menos das outras, ou um bocadinho menos. Também é possível e bem provável que as pessoas de quem não gosto não de mim gostem. É justo e mais do que natural. E até que as pessoas fantásticas possam sentir o mesmo, embora duvide. As minhas pessoas fantásticas são tão fantásticas que eu gosto delas e elas, porque o sinto, de mim. Elas merecem um post para breve. Um "longo like", porque invulgar, raro e precioso, e porque eu gosto de dizer que gosto das coisas e das pessoas. Não invalidando que não goste mesmo nada de outras, primeiras e segundas. Gostar ainda é, felizmente, um ato livre.

fevereiro 06, 2014

A máquina do tempo


querido diário
os dias passam, por entre uma chuva interminável que nos vai sugando a energia, e os sobressaltos, não meus, mas deles e que acabam por ser meus. o trabalho e os trabalhos apertam, roubando-nos descaradamente a disposição. não há tempo para escrever, nem ler, não há tempo para sair, não há tempo para a cultura nem para a diversão. o tempo escoa e o outro tempo, o que vejo do lado de fora das minhas vidraças, também não ajuda a tornar mais leves os estados de alma. que dizer, pois então? bom, e voltando ao teor dos meus dias, não foi por falta de aviso. não foi por falta de chamadas de atenção, de conversas mais intimistas, de apelos à consciência, de contactos variados, de esforços para além do comum. mas, ainda assim, prevejo que tudo vá amainar. o tempo deles, de alguns deles, está a esgotar-se, o tempo do inverno também. a espera custa e é um teste à brava mas o tempo da calmaria chegará. o sol brilhará. se não para todos, chegará o inverno ao outro lado do hemisfério, brilhará para alguns. o que não é pouco. sempre assim foi e sempre assim continuará a ser. pena o desgaste e o que se perde no tempo da espera. não é pouco.

fevereiro 03, 2014

Inutilidades ou coisas sem valor absolutamente nenhum

O conceito de inutilidade pode variar e abarcar um sem número de realidades e coisas. Mas ultimamente dei por mim a pensar num bestial sinónimo de inutilidade: dux.