Ontem, ao ler um artigo
intitulado “10 coisas que não aprendi na escola” prendi-me numa frase em
particular. Segundo o autor do artigo, uma das coisas que aprendeu pela vida
fora foi que as pessoas tendem a mimetizar os comportamentos dos outros por
falta de coragem para assumir as suas próprias opções e preferências.
Uma frase que muitos refutarão,
por considerarem que o livre arbítrio preside à grande maioria das escolhas. Na
verdade, esse livre arbítrio, ainda que possa parecer liberto, é também, na
maioria das vezes, não mais do que o reflexo do padrão comportamental dos
outros. E ao parecer estarmos a fazer escolhas pessoais, estamos, a bem dizer,
a fazer eco do que vimos à nossa volta.
Assim sendo, não somos muito
originais. Realizamos o que outros realizam, com maior ou menor grau de
sucesso, com um ou outro pequeno desvio.
Mas a questão nem se prende com a originalidade. Prende-se com a noção
de felicidade ligada à de normalidade. Ou seja, seremos felizes se fizermos
opções normais, observáveis em outros, aprovadas por outros, exultadas por
outros.
Podemos, à partida, ser felizes
com este seguidismo, se ele for ao encontro dos nossos anseios mais profundos.
Se as escolhas feitas forem aquilo que ambicionamos, que preferimos. O problema
acontece quando os nossos desejos divergem dos dos demais. Aí teremos de traçar
um caminho diferente, porventura ousado, até marginal. E isso significa que
temos de ter coragem para o fazer.
Nasce, então, um problema. Ousar
ser diferente, fazer diferente, ou manter-se infeliz no meio da aparentemente
feliz normalidade? A resposta parece fácil. Todo o indivíduo ambiciona a
felicidade. O pior reside na coragem – até que ponto temos nós coragem para
seguir um rumo que é divergente? Que não encontra eco nas pessoas que
conhecemos, de quem gostamos, que nos serviram como modelo?
Até que ponto aguentamos nós
ouvir vozes discordantes, reprovadoras? Até que ponto conseguiremos nós seguir
sozinhos? Mesmo se o caminho, a nós, nos pareça o mais natural possível? Como
resistir às influências, à pressão, à mimetização? Como arranjar bolsas de
coragem que resistam ao padrão normativo que nos vai presidindo? Como, pura e
simplesmente, lhe sobreviver?
Não aprendemos isto na escola,
mas aprendemos no decurso da nossa vida que nem sempre temos coragem para fazer
opções diferentes. E que essa falta de brava ousadia pode condicionar e muito a
nossa felicidade. O caminho parece óbvio. Ser feliz implica escolher aquilo que
queremos. Mas nem sempre o fazemos, muitas vezes não o fazemos, quase nunca o
fazemos. Parece óbvio e, no entanto, não é. Uns mais do que outros, procuramos
a coragem.