Sem dúvida, Olinda. Para já, não há ninguém que possa
dizer não ter fracassado nunca. Em algum momento, em alguma circunstância, em
algum lugar, todos tivemos um indesejável, previsível ou não, encontro com o
fracasso. E dessa forma todos teremos sentido uma desilusão maior, um colapso
em relação ao que acreditávamos, até mesmo uma depressão. Uma crise, que põe
tudo em causa, os outros e nós. Que poderá demorar mais ou menos tempo,
consoante a sensibilidade de cada um, a emotividade ou a frieza, a solidez e
robustez de espírito naquela precisa altura. Penso que as pessoas com uma
natureza mais competitiva, mais triunfante, mais brilhante podem inclusivamente
ser aquelas que mais dor sentem com o fracasso, precisamente por isso, por
sentirem mais o peso da derrota, especialmente por se tratar de um não
reconhecimento por parte de um outro ou de muitos outros.
Considero que as pessoas menos ambiciosas, mais contidas,
menos fulgurantes lidam melhor – parecem lidar melhor - com o fracasso, por representar
apenas mais um ponto na sua existência pouco notória, habituada à modéstia,
feita de momentos que nunca os catapultaram para os holofotes de alguma forma.
Isto se pensarmos em fracasso social, profissional, essencialmente. A nível
afetivo, se falarmos dos amores, penso que reação à deceção é a mesma, ainda
que menos visível, porventura. Decerto menos percetível, devido à sua natureza
mais secreta, introvertida, se quisermos até, dissimulada.
Mas o que é o fracasso, afinal? Não sendo psicóloga,
considero que se trata de uma dolorosa facada nas expetativas. Nas maiores expetativas,
claro. Daí que a ambição seja naturalmente propensa a acontecimentos desta
natureza, porque por muito grande que seja a vontade e até as qualidades e o
talento, há que contar com as adversidades, com os outros, com a sorte,
inclusivamente. Nem tudo controlamos, como muitos acreditam ou afirmam, de
longe. Não se pode nunca subestimar o que está do outro lado. Quanto mais
ambicionamos e quanto mais esperamos, maior poderá ser o desapontamento, é
aquele provérbio do salto e da queda. Por outro lado, há momentos e timings. O
sucesso pode ser uma realidade durante algum ou muito tempo e de repente tudo
se pode desvanecer, por um conjunto de razões que não importa aqui desenvolver.
Então, em qualquer dos casos, há que reaprender.
O fracasso existe para nos lembrar de que somos falíveis,
pequenos, impotentes relativamente a tanta coisa, e é fundamental que dele
retenhamos esse ensinamento. Começar a perspetivar as coisas de modo diferente,
conhecer as nossas limitações, dar o devido valor aos obstáculos, ser mais
comedido nas metas, trabalhar a personalidade, ainda que acreditando. A
esperança traz muitas vezes o sucesso, tantas vezes, mas é preciso uma fé
realista, para além de uma tremenda sorte, construída por um caráter espantoso
ou não.
O significado do fracasso faz-nos confrontar connosco mesmos.
Nem todos gostam de o fazer, porque envolve autoconhecimento e autocrítica, e
isso traz dor. Mas sem nos analisarmos não nos levantaremos, como reagir se não
sabemos quem somos e como somos?
O fracasso é terrível, seja a que nível for, mas nós
sobrevivemos-lhe. Porque revemos o nosso interior e o que há no exterior e
disso só colhemos vantagens. Começamos, dessa forma, a trilhar o sucesso.
escrito para o bahia mulher