fevereiro 29, 2012

Cidade aberta

 

Hoje vim para casa tarde, muito tarde. Uma consulta que atrasou e que me fez deambular um bom bocado pela cidade. Como já não fazia há anos, àquela hora, em dias de semana. Em que todos voltam para casa para jantar e muitos para  recolher, e há uma paz, uma ausência de ruído, sem carros, sem pessoas, só as luzes da noite e os edífícios, eu e pouca gente mais, alguns apressados que não queriam estar ali. Dei por mim a sentir saudades de outros tempos, mais vagabundos, mais libertos de responsabilidades, não mais felizes, mas diferentes porque disponíveis para sentir o pulsar da cidade e das suas milhentas sensações.
Também não deixei de reparar nas ruas impecavelmente limpas, ordenadas, comparando com outros locais espalhados pelo mundo onde já estive, somos felizardos, pensei, que bela é esta cidade. Já foi minha e continua a ser, um pouquinho, embora viva numa outra pequenina, bem pequenina, cinco minutos ao lado. Como pode ser magnífica uma cidade à noite, ruas vazias mas a cheirar a vida, de alguma forma. Nem sempre aprecio as ruas desertas, quando o que procuro é movimento e cor. Mas hoje soube-me bem ser eu praticamente a única protagonista daquela zona, sentar-me numa pastelaria sem ninguém, olhar para as montras, sentir uma estranha porque avassaladora calma para quem ainda tinha de ir buscar o filhote e trazê-lo ensonado para casa quando nos espera mais um dia preenchido amanhã.
O país e a vida são por demais bonitos. Haja tempo para os apreciar. Corre-se em demasia e gente a mais atrapalha a contemplação. Nada como poder percorrer as calçadas sozinho para respirar a beleza e o encanto. Mas isto são considerações de quem passou o dia enfiada em casa e saiu só porque teve de ir ao médico. Não interessarão, certamente, a  ninguém.

5 comentários:

  1. Ora não interessam! Bonita reflexão! :) Também gosto de apreciar o cair da noite, as luzes das casas, sombras lá dentro, às vezes janelas abertas, ruídos em família, etc. O silêncio que vai caindo à medida da noite, como bem refere...
    No nosso dia a dia são poucas as vezes que podemos apreciar isso 'de fora', mas de vez em quando é bom sentir o pulsar da cidade a dar lugar à calmia da noite, pelo menos nas nossas cidades portuguesas que ainda são relativamente tranquilas.

    ResponderEliminar
  2. O repouso da cidade é sempre um momento de magia, imperdível.

    ResponderEliminar
  3. ::)) Dulce, obrigada! Gosto tanto de a ter por cá. Beijinho

    É mesmo, jrd. Sintonia absoluta.

    ResponderEliminar
  4. Ora essa: claro que interessam. :-)

    ResponderEliminar
  5. :) Obrigada, Carlos! Bom fim de semana***

    ResponderEliminar