novembro 28, 2012

Singularidades de algumas raparigas loiras


1 - michelle pfeiffer
é belíssima. em a "idade da inocência" esteve sublime. gosto da graça, da sensibilidade, da voz trémula e fraca, da vulnerabilidade, do sorriso, do rosto.

2 - grace kelly
não sou grande fã mas é extraordinariamente bonita, quase perfeita. foi. parecia gélida - parece no écrã - mas pelos vistos era de natureza apaixonada. assim dizia hitchcock, se não estou errada. 

3 - jennifer aniston
trocada pela angelina, provavelmente por  causa de não ter - querer - filhos. conotada com a comédia, sempre em papéis leves que não marcam. gostei do registo em "derailed". fisicamente um espanto mesmo depois dos 40.

  

4 - marilyn monroe
queixava-se de solidão, uma das mulheres mais desejadas do planeta. de uma fotogenia espantosa, tem fotos icónicas que resistem ao tempo. subaproveitada em comédias, só em "os inadaptados" mostrou uma veia dramática que não veio a desenvolver. infelizmente, por tudo.

5 - meg ryan
filmes em que se associa o amor romântico citadino, excetuando talvez "the doors - o mito de uma geração", mas ainda assim não agressiva no papel de pam. presença querida, sensível, a puxar o sentimento mas de forma natural, soft.

6 - jean seberg
papéis de sensibilidade, com angústias e vivências típicas da modernidade, interiormente e talvez não só. bonita, mesmo de cabelo curto, quase etérea, dimensão de alguma forma superior. 

  

7 - stevie nicks
cabelo e roupas que agora nos parecem kitsch mas uma doçura forte que emana de uma voz poderosa, sedutora, única. músicas excecionais num grupo que praticamente venero.

8 - diana de gales
claro que chorei com a sua morte. não era excecionalmente bonita mas havia ali um encantamento que passava pela atribulada vida e pela bondade acompanhada de um lado pop e glamoroso que atraía os holofotes. injusto ter encontrado de novo o amor e ter-se ido, ainda que com ele.

(Não consta que alguma delas seja ou tenha sido cleptomaníaca. Isso é só em Eça.)

novembro 27, 2012

De olhos bem fechados


O final do filme Trust, Perigo Online, que passei aos meus alunos do 11º ano, é algo surpreendente. Ou talvez não. Estamos à espera de ver o pedófilo apanhado, e apanhado nas malhas de uma vida errónea, criminosa e clandestina, e eis que ele nos surge, feliz em família, com uma profissão decente e na mais completa normalidade, visto com respeito e credibilidade. Dececionante para os justos deste mundo mas talvez nada surpreendente, afinal. Nada mesmo. Na verdade, quem vê caras não vê corações, já diz o velhinho ditado, da mesma forma que não se pode meter a mão no fogo por muitos, sob pena de sairmos queimados.
De que se trata aqui, então? De casos de dupla personalidade, ou talvez melhor, de uma vida dupla. E isto não é tão incomum assim. Pessoas que julgamos conhecer relativamente bem, razoavelmente bem até extraordinariamente bem, podem, em todo o caso, aparentar o que não são. Ou ser mais e pior do que aquilo que parecem, que é mais ou menos a mesma coisa. Tal facto não é nada reconfortante. Pelo contrário, é assustador, leva-nos a pensar o que não queremos - pensar que se deve deixar margem para a dúvida, a desconfiança e em última instância a desilusão.
Mas qual a motivação de uma outra vida, de quem não é o que parece? De quem age em total desacordo com o que exibe publica e socialmente e em círculos familiares? Saberão eles próprios qual a sua motivação? Penso que se tratarão de impulsos primários que não têm explicação racional por parte de quem não lhes resiste, incontroláveis pela ausência de pensamento, pela falta de ética e de conhecimento da diferença entre bem e mal, pelo prazer  que retiram da clandestinidade, pelo risco de comportamentos perigosos, pelo jogo que significa desafiar o convencional, pela perversidadezinha que mora lá. Já dizia Shakespeare, "Se as paixões aconselham por vezes mais ousadamente do que a reflexão, isso deve-se a que elas dão mais força para executar." Nestes casos, apenas infelizmente.
O que fazer quando se descobre que se viveu com alguém que mantinha uma cara e uma atitude e revela depois uma identidade completamente diferente daquela que supúnhamos? O que sentir quando descobrimos que vivemos com alguém que afinal não conhecíamos, que nunca conhecemos? E, sabendo que isto pode acontecer, o que fazer para nos precavermos? Desconfiar de tudo e de todos? Estar mais atento a gestos e palavras que resvalam? Viver no medo e nunca nos entregarmos? Dar-mo-nos e depois sermos cilindrados com revelações que nunca fomos capazes de descortinar por nós mesmos? Tão difícil, tão desencantado, tão ingrato partirmos para as relações assim. 
Sobretudo se se tratarem de relações muito próximas, de alguém com quem escolhemos partilhar sei lá o quê. Não sei se será possível antever, adivinhar, pressentir, ler a mente dos outros. Nuns casos sim, em que a máscara está mal construída, noutros não - não quando se trata de profissionais do disfarce, do embuste , da mentira, jogadores sem afetos verdadeiros, sem noções de laços, sem algum caráter. O que nos resta, neste caso? Ter sorte, basicamente. Esperar que nunca sejamos surpreendidos por estas patologias, confiar na nossa intuição, na nossa análise racional, na nossa inteligência. Esperar, sobretudo, que elas não falhem.


(Eu sei que este espantoso quadro de Magritte merecia que falasse do amor. Mas não é descabido de todo, ao falar-se de amarmos alguém que afinal não conhecemos.)

novembro 26, 2012

On the waterfront


Há Lodo no Cais, de Elia Kazan.

Vi várias vezes, é daqueles que sei deixas de cor. Sou ultra fã do magnetismo de Marlon Brando jovem, da interpretação ao estilo Método que marcou a geração e mudou a fibra de que eram feitos os protagonistas dos filmes até aí. Aquele que aqui "could have been a contender", num registo de tumulto psicológico e de masculina vulnerabilidade quando em cena com a doce Eva Marie Saint. Eterno.

novembro 25, 2012

Das palavras aos atos

"Digo o que penso e, muito simplesmente enuncio factos pois que, apesar de poetisa, ligo bem maior importância aos factos do que às palavras por bonitas que sejam. Palavras são como as cantigas: leva-as o vento." (Florbela Espanca)

Quando li esta frase lembrei-me de uma colega, há anos, que dizia, falando do amor e do casamento, não serem as palavras importantes mas sim os atos. Na altura, manifestei alguma resistência a esta ausência de poesia. Disse que também eram importantes, que as coisas expressas verbalmente, e mais ainda de forma positiva, também dão significado a tudo isto.
Pois é um facto que muitos de nós são sensíveis às palavras, especialmente se, como sempre desejamos, forem belas. Elas podem querer dizer muito. Elas podem falar verdade. Elas podem ser exclusivamente para nós. Podem confortar-nos, deliciar-nos, motivar-nos, projetar-nos, fazer-nos sonhar. Portanto, têm um poder enorme sobre nós.
No entanto, de nada servirão se os atos as contradisserem. Dou a mão à palmatória, os atos são bem mais importantes do que as palavras. Se estes não corresponderem ao que é dito de nada valem os enunciados que nos fazem felizes. Vejamos a questão amorosa. O que significa alguém dizer que gosta de nós e nos quer muito quando na prática se comporta de maneira oposta? Como reter-nos se nos dececiona pelo que faz, ainda que nos murmure palavras encantatórias à la Cyrano de Bergerac?
O comportamento, sim, é revelador do caráter. A habilidade discursiva, as capacidades de encanto verbal, o fulgor das palavras que se proferem podem ser apenas isso mesmo – talento nas artes da sedução. Talento, audácia, arrojo, astúcia, o estilo valmont. Se as atitudes depois forem exatamente o contrário, elas terão sido uma mentira. E a mentira não sustentará o amor por muito (mais) tempo. Não se tivermos o outro amor, o próprio, o que nos faz gostar de nós e manter a dignidade.
Ainda assim, porém, não podemos ignorar completamente a importância das palavras. Alguém que nos agrade em todos os seus atos mas que não tenha para nós palavras de afeto e outras coisas mais, também nos pode começar a perder. Porque a incapacidade de alguém dizer que gosta de nós, embora o demonstre de várias formas, mas não dessa, também nos pode gelar. Sobretudo se somos expressivos e não temos nós dificuldades em dizer o que sentimos, o que apreciamos no outro.
Isto nos amores, não querendo dizer que não se possa estender a outros campos das relações humanas. Em qualquer um deles, o ideal será o equilíbrio entre o que se diz e o que se faz. Ou de como é bom quando os gestos acompanham as palavras e estas estão de mãos dadas com os gestos. Na impossibilidade de termos as duas coisas, por defeito ou feitio, vão as palavras e fiquem as atitudes. Porque as palavras, como vimos, podem não querer dizer nada, podem ser levadas pelo vento. Já os gestos, parece-me, não há vendaval que os abale.



novembro 24, 2012

Pinturas




Tempos e vontades que mudam não necessariamente para melhor. Entre os reis do graffiti e o artista mexicano, neste caso, não há dúvidas de quem é o soberano. Maravilhoso mural a pintar as cores, sabores e lavores da herança nativa no continente sul-americano.

novembro 23, 2012

Cantigas de falso amigo



Há indivíduos que reconhecemos como sendo os que dão as más notícias, quer dizer, que dão sempre as más notícias. E há também aqueles que nos vêm sempre dizer o que de mal outros dizem de nós. Porque gostam de o fazer, aparentemente porque querem ajudar, abrir os olhos do outro, avisá-lo acerca de algo ou alguém. Na verdade, não se importam minimamente com o que o outro possa sentir. Não escolhem o momento, o lugar, não veem problema nenhum em dizer tudo o que sabem, de qualquer maneira, ignorando a sensibilidade do outro e a necessidade da revelação. Parecem solícitos, acham-se úteis quando na verdade nos podem estragar o dia, ou mesmo mais. Conheci, pelo menos, umas duas pessoas assim no passado. Gelam-nos com as descobertas que fizeram e perturbam-nos com histórias de maledicência muitas vezes dispensáveis e que apenas servem a confusão e a intriga. 
Fujo destes tipos humanos. A uma dessas pessoas tive mesmo que dizer claramente que não queria que me viesse contar acerca de quem falava mal de mim ou o quê ou porquê ou quando. Não me interessa, digo-lhe. Mas é para avisar, achando que me fazia um favor. Dispenso. Não quero saber. Prefiro descobrir por mim própria que não tenho afinidades com alguém e afastar-me por causa disso. Como não conseguiu cumprir, era mais forte do que ela, afastei-me e foi dela. Corte definitivo, não só por isso mas essencialmente por isso. Não quero (falsos) amigos que me ponham mal disposta. Nem que criem intrigas e confusões sobretudo onde não as há. Um amigo verdadeiro é bem diferente. Tem muito cuidado quando nos dá uma má notícia, pois sabe que nos irá fazer sofrer. E poupa-nos a histórias de escárnio e maldizer. 
Não devemos nem podemos, pois, tornarmo-nos dependentes de pessoas deste tipo. Não estão lá para nos ajudar porque não nos fazem felizes, antes pelo contrário. No fundo há um certo prazer perverso em nos criarem angústias. Por muito desorientados que estejamos, por muitas dúvidas que nos assaltem não queremos perto de nós estes pretensos aliados. Eu não quero.

novembro 22, 2012

Uma bela cena final


Oito minutos é provavelmente pedir muito dos leitores. Mas este filme tem um final inesquecível, acompanhado da música que fez da sua banda sonora um sucesso semelhante ao do próprio filme. Para além de um dos meus atores de eleição, Daniel Day-Lewis, o que recordo desta longa metragem é o amor de Uncas e de Alice, que a morte do primeiro não impediu que se eternizasse. Ela escolhe cair pelo precipício abaixo e lá se criou uma cena daquelas que ficam na memória de quem não vive sem o cinema.
Como compreendo o meu amigo João de Mancelos quando diz que "O Último dos Moicanos" é o seu filme número 1. Não será o meu - não é - mas está muito bem posicionado. 

As turmas



No início de setembro dava conta de algumas impressões iniciais acerca das novas turmas que me surgiram pela frente, e da primeira semana pontuada com algumas graçolas vindas de quem não conhece a professora e tenta esticar um pouco a corda. Afirmei na altura que esperava ser apenas o habitual teste inicial de novos alunos perante nova docente. Estamos em novembro. A minha confiança revelou-se acertada. Está a ser, pelo terceiro ano consecutivo, um prazer enorme lecionar aos meus alunos. Apesar de uma dificuldadezinha ou outra, própria de uns dias menos bons, em que alguns alunos se excedem na conversa ou manifestam resistência ao trabalho, a verdade é que, no geral, agradeço pelos grupos que tenho, pois dou comigo com manifesta vontade de estar com eles pelo excelente ambiente, no geral, repito, com que se pode dar as aulas nestas circunstâncias. Trabalho com alunos do ensino secundário, cursos profissionais, uns melhores do que outros, naturalmente, mas ressalvo o bom caráter dos meus alunos na sua grande maioria, o que torna os meus dias na escola muito mais gratificantes. Há alturas em que a meio da aula sinto um prazer enorme pela atmosfera que temos, pelo respeito que revelam e pelo humor que conseguimos fazer juntos. Nem sempre é assim, nem sempre foi sempre assim, há turmas e turmas. Más são aquelas em que para além da indisciplina, não conseguimos ser nós próprios, já que não há feed back positivo a vários níveis. E o mais importante ainda é o da relação. Os resultados interessam-nos mas a postura cívica e os valores pesam mais do seu lado da balança. Prefiro trabalhar com turmas mais fracas em aproveitamento mas maiores em atitudes. Até porque havendo afeto e uma excelente relação, os resultados virão atrás, muitas vezes, Digo que os alunos se conquistam pelos afetos, a par da autoridade firme. Não é com rigidez e inflexibilidade que vamos lá. A tolerância e a noção clara dos limites que estabelecemos têm de andar de mãos dadas. A única coisa que ainda não está au point é a questão do material para aula. Disso tenho, aliás, dado conta aqui, mais do que uma vez. Mas neste momento é uma minoria, no seu conjunto. De resto, estou e sou feliz com os meus alunos. Quando não estou digo-lhes mas também lhes digo quando estou, sempre lhes digo quando estou. Claro que há muitos aspetos a melhorar - as entradas, o estudo, a curiosidade extra-aula, os conhecimentos culturais, a dependência dos telemóveis e dos outros gadgets, a linguagem, sobretudo nos corredores e no espaço exterior, e tantos outros. É uma geração dos diabos, fruto dos estilos de educação e da sociedade atuais, media incluídos, que são permissivos, pouco rigorosos, confusos e alienadores. Mas na sala de aula, na aula de inglês, e repetindo que não sendo sempre perfeito, as coisas estão muito bem. E quando assim é uma pequena maravilha, que nos tranquiliza, dá alento e motiva-nos a fazer melhor. Não quero que interpretem este post como uma arrogância ou um auto-panegírico. Já tive experiências que não foram nada disto, poucas, é certo, mas aconteceu. Apenas me apetece partilhar o bom que é gostar das minhas turmas - e acreditando que o sentimento é mútuo.  O inglês só fica a ganhar, digo eu. Espero eu. E nós também.

novembro 21, 2012

No mural de hoje


1. Recusei dar informações pelo telefone a alguém que perguntava se eu era a dona da casa e que me disse que eu participara no inquérito sobre saúde e alimentação no ano passado. Dizia que algumas pessoas tinham sido selecionadas (não sei porquê nem para quê) e que portanto iria fazer mais perguntas. Disse que não, que tinha de sair. Na verdade sou desconfiada nestas coisas e não gosto de dar informações pelo telefone quando existe desconfiança, justa ou não. Se não contribuí para alguma coisa válida, paciência. Terão de arranjar outra maneira de o fazer.

2. No jornal da SIC, mostra-se um carro com TV, para assinalar o dia da televisão, entre outros apontamentos mais ou menos tontos. Quando se apercebe de que o condutor só pode ligar e ver a televisão com o carro parado, o Rodrigo Guedes de Carvalho brinca, pois só pode estar a brincar, dizendo que então há racismo relativamente à TV, já que se pode ouvir rádio. Esqueceu-se do que implica conduzir? Do que implicaria o condutor ver televisão em andamento? Não pode, tendo em conta  o que significaria tal prática legal. É mesmo um brincalhão...

3. 164.164 crimes de pedofilia. O maior processo a seguir para tribunal em Portugal. E um dos maiores horrores, este comportamento de alarve. Que se revela em várias formas, inclusivamente via internet, à escala maior, global, saciando as maiores pancadas de quem não merecia viver. A maior tara, a maior incompreensão, a maior pena, espera-se, para quem retira prazer de tamanha monstruosidade. A raça humana, por vezes, muitas vezes, é mesmo uma desilusão maior. 

Até quando?


Até quando poderão eles permanecer assim?
Até quando os deixarão ser assim?

Até quando lhes ensinarão depois o que não devem ensinar?
Até quando lhes exigirão o que não podem exigir?

Até quando se odiarão quando crescerem?
Até quando se baterão pelo seu lado?

Até quando viverão em guerra?
Até quando morrerão ?

Até quando não permitirão a história, a política, o ódio, a tragédia, a indiferença, a hipocrisia, o sofrimento, a morte, o fanatismo, a ocupação e a loucura humana que dois meninos possam brincar, caminhar  e crescer juntos?


novembro 20, 2012

O fim e o começo

"O casamento é o fim do romance e o começo da história.
Oscar Wilde



 Não sei se o casamento é ou é sempre uma desilusão agora que é o fim do romance... é. Pois que romance pode haver em quotidianos impregnados de tarefas não glamorosas e que sugam as energias? Que magia há em cestos de roupa para lavar, em peúgas espalhadas pelo chão, em louça acumulada no lava louças, em compras para fazer no supermercado, em esfregonas a bailar no meio da cozinha e entre tantas outras coisas que não existem no cinema? Que lugar para o romanticismo em espaços partilhados onde a resmunguice, a impaciência, a desresponsabilização,a exigência, a pressa, a falta de colaboração, a cobrança e outras fazem mossa à melhor das intenções?
O começo da história. Na verdade, uma história que deve ser vista realisticamente, sob pena da desilusão chegar cedo. Recordo uma ideia ou outra que já ouvi de mulheres ( pois nunca ouvi o mesmo de homens) que acharam que o seu casamento  significava a almejada chegada da liberdade. E eu a pensar que se sai da prisão da influência dos pais e se passa a morar no cárcere das explicações e compromissos. Compreensíveis, mas que nos roubam liberdade - a nós e ao outro. Outra ideia é a de que o casamento é  ou ia ser para sempre. Como assegurar que será eterno? Esperamos que seja. é tudo, e já vamos com sorte... Cada dia que passa é uma vitória - frase que digo amiúde e como ficam estarrecidas algumas almas à minha volta. Do género o que quererá ela dizer com isso. Mas eu penso e pensei sempre assim, desde o primeiro dia, o encantamento é para quebrar, ao passo que outras coisas são para fortalecer. A história começa - com os altos e baixos, alegrias e tristezas, cumplicidades e divergências. Não sempre pior, não necessariamente pior, apenas muito diferente. O romance é o antes. O resto é o depois.

novembro 19, 2012

Holding back





She held back from telling what her problems were more and more. For she feared they wouldn´t understand, They could get too worried, more worried than she actually was. They could scare her, which she loathed beyond normality. They could make fun of her, which she wouldn´t bear at all. They could simply ignore her and that was not what she expected either. What did she long for, really? Some kind of brave understanding, sensitive cumplicity, visionary humanity, positive realism. Too much. Too much to ask from ordinary people, too much to ask from most people. And yet her growing reserve could be broken naturally and willingly with a few people. Few people but enough. Enough for her problems. If not forever, at least for now. 

Claramente não


Sou absolutamente contra a publicidade nos canais infantis. O mundo mágico das histórias e dos desenhos animados não se compadece com assaltos consumistas que fomentam nos miúdos ânsias de compras e caprichos que se criam a partir dos anúncios. Ainda por cima, sobretudo para os rapazes, há estratégias publicitárias que me parecem demasiado agressivas e, pior, os brinquedos anunciados também são agressivos (e extremamante caros para aquilo que valem, já agora). O Canal Panda é disso exemplo. Deveria haver leis que regulamentassem esta situação, independentemente de serem televisões por cabo. Aos pais interessará o que há de novo no mercado, digo eu, mas tal publicidade apareceria nos canais generalistas. Não são as crianças que têm de ser educadas desta forma, iniciadas no consumismo desde cedo num canal que é para elas. Brincar significa ser livre, explorar a imaginação, e não reagir inocente e caprichosamente a estímulos de marketing desadequados para estas idades. Tenho um pequeno e sei do que falo, certamente que outros pais dirão o mesmo. Um claro não a uma aposta no consumo, ao invés da aposta na saudável brincadeira e devaneio que é, afinal, o mundo encantador das crianças .

novembro 17, 2012

Vale a pena ter esperança?


Há dias uma excelente bloguista que sigo escrevia, num pequeno mas significativo post, que a esperança é caraterística que acompanha os ingénuos, pois quando os deuses não estão connosco “é um ar que se lhe dá”.
Fez-me pensar, o que é bom e me leva a escrever o texto de hoje. Há verdade nesta afirmação. Analisada racionalmente, como convém, trata-se de uma grande verdade. A esperança não resolve tudo, por vezes pode ser completamente enganadora. No caso de uma doença grave,  de uma morte mais ou menos anunciada, de uma tragédia que se previa. Por muita esperança que se tenha tido, há desfechos que não desejávamos, que não foram merecidos, que nos mergulharam em tristeza e mesmo na falta de fé. São casos em que, sendo nós, humanos, completamente impotentes, podemos comprovar que a esperança não nos terá valido de nada, que não valeu a pena acreditar até ao fim. É terrível mas assim é.
Aliás, quanto mais altas as expetativas, maior é a desilusão, a frustração, não só nestas situações mais extremas mas noutras que não tenham um recorte tão definitivo. Daí a importância de baixarmos as expetativas e encararmos a adversidade como algo que pode não culminar de forma positiva para nós. Há que ter uma forte consciência da nossa pequenez face a tantas dimensões desta nossa vida cá em baixo, e que não basta, muitas vezes, uma mente otimista e um sorriso para que tudo se resolva a nosso contento. Ignorar os obstáculos e os perigos pode ser cegueira e nada pior do que esta para catapultar muitas infelicidades. Se os deuses não estão connosco, é verdade que a esperança pode ter sido em vão. É uma espécie de determinismo, dirão alguns, mas ele também preside, estranha e involuntariamente, quiçá, aos percursos de muitos de nós, de cada um de nós.
Ainda assim, independentemente de acreditarmos na força dos deuses ou não, é difícil viver sem fé. Ou melhor, viver sem esperança. Não creio que seja sempre ou necessariamente sinal de ingenuidade quando há uma ponta de esperança. Podemos estar a morrer de medo de alguma coisa, a temer o pior, conhecedores das dificuldades, conscientes do poder de algo maior, incontrolável, e ainda assim ter uma réstia de esperança.  Tolhidos pelo pavor de algum tipo de perda, mas ainda assim alimentar um alento. Que pode trazer a sorte de tudo (se) solucionar ou não.
Por outro lado, em muitas situações doutro género, é importante que se mantenha uma atitude positiva, construtiva. Um espírito esperançado pode colher mais vantagens na suas experiências de vida, ainda que com quedas, acredita que se vai levantar outra vez.  Pessoalmente, é-me difícil viver no pessimismo e na descrença constante. Ocasionalmente todos desacreditamos , fruto de experiências negativas que nos marcaram, mas acaba por regressar-se ao positivismo quando os dias deixam de chorar. A não ser se estiver deprimida, a não ser quando se está deprimido. Aí a esperança é substituída por uma letargia pintada a cores negras que não deixa entrever nenhuma espécie de arco-íris.
Daí que sendo necessários os favores dos deuses para os finais felizes das agruras mais intensas da vida, a verdade é que a esperança é uma boa bússola, para mostrar caminhos que nos parecem inexistentes. Uso-a, sem certezas absolutas, mas acreditando - querendo acreditar - que me pode levar longe.

escrito para o bahiamulher

novembro 16, 2012

Para as renas trazerem


 

Filipe Monteiro apresenta o seu livro muitas vezes com magia. Sim, o Filipe é mágico, para além da sua formação em Química e de ter trabalhado na indústria durante vinte anos. Estreou-se na escrita com este livro para crianças no ano passado e tem-no apresentado ao longo deste ano em inúmeras escolas, nomeadamente. 

O Filipe e eu tornámo-nos amigos via FB.  Depois, esteve na minha escola no Dia da Criança e deliciou os presentes no auditório (crianças que visitavam a escola) com as histórias do imaginativo menino e com os seus peixinhos que apareciam sem ninguém saber como e as folhas de outono que desapareciam miraculosamente. A magia dos livros e a magia com livros.


Importa mesmo salvar o mundo. E usar a imaginação é, ainda e sempre, um dos maiores truques.




novembro 15, 2012

Alguns dedos de conversa



Conversa ao almoço, mesa redonda,  cinco colegas

Degustamos pratos gourmet, no nosso polo de restauração, confecionados pelos alunos de forma irrepreensível.
Não falamos da crise mas do caráter português. De sempre. Sisudos, invejosos, críticos, covardes, vaidosos, profundamente infelizes. Adoramos criticar tudo e todos, invejamos o êxito dos outros, vivemos tolhidos pelo medo, exibimos arrogâncias morais  e não conseguimos sorrir para a vida. Muitos de nós não são assim mas muitos de nós são. 

Conversa com a minha dentista

Estou sentada na cadeira, pelo final da tarde. Esta mulher admirável e eu, mais uma vez, partilhamos cumplicidades.
Ambas otimistas, não acreditámos que a crise pudesse chegar onde chegou. E no entanto a preocupação instala-se à medida que a realidade ultrapassa o nosso caráter esperançado. Concluímos que o otimismo pode ser falacioso, mesmo perigoso se nos impede de ver o perigo aproximar-se. Por outro lado, é-nos impossível viver no pessimismo constante. Porque este paralisa.

Conversa cá em casa

Ao jantar; mais ou menos isto.
- Há muita gente que se endividou, que viveu de crédito(s)…
- O estado é que o permitiu.
- Então mas não achas que as pessoas se demitem de muitas responsabilidades?
- O estado é que tem a culpa.
- Mas eu posso ser pontual, por exemplo, mesmo se o patrão não é. Não preciso de modelos para ser responsável e profissional.
- Tu sim, mas muita gente não. O estado tem de dar o exemplo. Os que chegam atrasados não têm culpa, quem tem culpa é quem não os chama à atenção e os pune.
- Então mas o estado tem culpa de tudo?
- Pagas impostos portanto o estado tem de te assegurar tudo.
- Ok, já percebi… Muita gente diz isso, realmente. Só acho que as prioridades andam trocadas – transversalmente…
- Mas também tens razão, aí. E há quem não faça absolutamente nenhum e queira os direitos todos.
- Ah, bom… 
Convivência democrática e a vaga ideia de que não percebo mesmo nada disto. Apesar de não achar que esteja completamente errada...

novembro 14, 2012

Caranguejo


Porque te afundas em pensamentos?
Porque ondulas ao sabor dos humores?
Porque te escondes na tua carapaça?
Porque não verbalizas o que pensas?
Porque insistes nos teus silêncios?

Porque não apenas sentir?

Mais afetos e menos fações



No seu mural no FB um colega escreveu que no meio dos afetos as bandeiras não valem nada. Não podia concordar mais e, no entanto, não é isso que frequentemente se verifica. Ao invés, muitas das reações que vemos hoje em dia, pelo menos, revelam-se impregnadas de ideologia, não se distinguindo o bem do mal de forma independente, refletida, amenizadora. Há muito pouca tolerância para com o erro, as falhas, as fragilidades, há uma visível cólera quando se discorda, há uma grande agressividade nas palavras e sobretudo no tom, instalam-se pequenas guerras que só dividem, catalogam-se as posições meramente de acordo com as áreas políticas, olha-se impacientemente para os outros como eles (por oposição a nós). 
Temos todos direito à nossa opinião e  de a expressarmos. É um facto que há opiniões que são bem expressas, bem argumentadas, bem alicerçadas mas outras nem por isso e outras ainda mais valia não virem à tona nunca (por ausência de ética). Por outro lado, é absolutamente normal que tenhamos diferentes posições políticas, perspetivas de sociedade divergentes e ideias sobre direitos e deveres que não coincidem. Contudo, seria bom que tais opiniões fossem discutidas e recebidas de forma mais calma e tranquila, menos radicalizada, sobretudo menos agressiva. Tenho dias em que estou farta dos confrontos verbais, da intolerância face a quem pensa diferente, da ausência de margem para o erro, das palavras iradas que atiçam (não faço ideia se alguns leitores poderão sentir o mesmo, imagino que sim). É preciso reavivar os afetos, pensar e agir sobre o que verdadeiramente importa, unir e não desunir, pensar antes de falar, saber perdoar, reconhecer os méritos de outros. Não falo do desespero, das situações extremas que se vivem, do turbilhão de emoções difíceis de quem vive dificuldades várias. Mas é preciso canalizarmos a raiva, a desilusão  e mesmo o espírito crítico para construir, de alguma forma, porque esse é o caminho. Faltam afetos no meio de tanta fação. Só eles podem melhorar os dias, encetar novas saídas, porque fundados no verdadeiro bem e não nas bandeiras que os condicionam.

novembro 13, 2012

Com os olhos postos



1. O vídeo de Marcelo Rebelo de Sousa
Quase patético, de pouca qualidade estética e tecnológica, ao estilo amador, e extremamente provinciano. Ainda que possa ser verdadeiro factualmente numa passagem ou noutra, é provocatório para os alemães (uma vez que o povo português não tem culpa pelo estado atual das coisas, que culpa tem o povo alemão das políticas da sua líder?), assenta numa certa superioridade moral (aquela de que nos sabemos manifestar, por exemplo, deixou-me em fúrias) e ao mesmo tempo tosco (zé povinhos e afins). Reprovado, claro. Lá e cá.

2. A visita de Merkel vista pelo povo
Por favor não me façam entrevistas aos tugas semelhantes àquelas que ouvi ontem. Parece que escolhem os piores e o pior é que estes existem. "Tudo isto por causa de uma mulher", ouvia-se. Não sei se com esta tirada a senhora expressava a vontade de terem vindo mais mulheres ou ou se desejava que tivesse vindo um homem. E outras pérolas do género. Mas aquela que leva o prémio da intolerância foi "ela que vá para a terra dela", uma pequena amostra do mais pequenino espírito xenófobo misturado com uma ignorância de fazer dó. Políticas à  parte, por vezes, não se pode mesmo ouvir o povo.


3. O filme sobre Aristides de Sousa Mendes
Vi e gostei mas esperava mais. Penso que a estratégia narrativa não foi a melhor porque a história aparece praticamente contada na terceira pessoa e as atenções acabam por se desviar em demasia para essa personagem, a do maestro judeu que conheceu o Cônsul quando tinha 14 anos. Esperava uma abordagem mais biográfica e não apenas ver Aristides a passar vistos,embora mostrando força moral e coragem em desobedecer a Salazar. Mas soube-me a pouco - faltou explorar o seu percurso após a "queda" e, desta forma, provavelmente glorificá-lo um pouco mais. Aí, o cinema de Hollywood sabe-la toda. 

novembro 12, 2012

A chantagem e a culpa


A chantagem psicológica é uma coisa dos diabos. Diabólica, infernal. Provavelmente todos a usamos, em diferentes graus, momentos, contextos, humores. Quando nos sentimos mais carentes, mais inseguros, mais sensíveis, mais desabrigados, mais stressados. Trata-se de uma arma fácil de usar, para prender o outro, obrigá-lo a retroceder, a anuir, a sentir uma culpazinha que, tendo ou não tendo, nos poderá beneficiar. Assim é feito o nosso mundo de emoções mais fracas, mais irracionais, mais infantis. Mas se a pequena chantagem emocional, ocasional, percebida, até consentida, não causará danos propriamente gravosos, o mesmo não se poderá dizer da chantagem psicológica plena, sistemática porque hábito e defeito de quem a ela amiúde recorre como forma de conseguir os seus desejos e objetivos, malévola e causadora de grandes culpas castradoras e que inibem o outro de agir livremente. O sentimento de culpa, sobretudo quando ela não existe ou não é da forma que a querem pintar, pode causar a maior das angústias porque o maior dos dilemas poderá daí surgir. E ligarmo-nos a alguém que nos prende com esse tipo de argumentos não pode senão criar infelicidade. Deles, inclusivamente também, porque nossa. Se estou com e aturo alguém e lhe satisfaço os anseios porque me sinto amordaçado pela culpa, então não sou feliz, porque não livre, e não posso espalhar felicidade quando não a sinto. Curiosamente, quem aciona o mecanismo da chantagem parece não se aperceber disso – melhor, finge não se aperceber disso. Muita gente prefere manter pessoas contrariadas e nitidamente insatisfeitas ao pé de si do que enfrentar e admitir a sua perda.
Trata-se de uma questão de autoestima, de baixa autoestima, na verdade. Segundo o sociólogo italiano Francesco Alberoni, as pessoas mais fracas podem manter perto de si e com tolerância para os seus caprichos e humores as pessoas mais fortes e independentes, precisamente através do uso do sentimento de culpa. As últimas, inteligentes e saudáveis de espírito, podem, no entanto, sucumbir a estas chantagens por causa da bondade, da compreensão e da sensibilidade. Se não souberem e ousarem dizer não e não pactuar com o jogo, podem anular-se e sentir-se responsáveis pela (in)felicidade do outro e assim também serão infelizes.
Quem usa a chantagem para alcançar os seus objetivos soa como alguém desprovido de inteligência emocional e respeito pelo outro. Mas, na verdade, encontramos tanta gente assim, na família, nos (falsos) amigos, por vezes, no emprego, nas relações sociais que mantemos. Umas são mais fáceis de nos libertarmos do que outras. Uma mãe que chantageia os filhos adultos é mais difícil de largar do que um colega carente e que cobra constantemente atenção e mimos para existir. E mais exemplos podiam ser dados no seio familiar, esfera privilegiada para estas relações que fomentam e se alimentam de culpas.
É uma arma que significa ausência de força. Se entendida como modo de vida, forma de estar, instrumento usado para fazer os outros permanecer perto de si. Portanto, dispensável, inaceitável, horrível.

escrito para o bahiamulher

novembro 11, 2012

Trouxe para aqui




"...lembro que Portugal deu novos mundos ao mundo e novos labregos também ..."
 (in Tralapraki)


Não resisti, até porque sem auto-crítica e sentido de humor não vamos lá.

Adenda: São imprescindíveis para enfrentar o quotidiano e torná-lo melhor. Não fosse ser mal interpretada, daí a nota.



Engraçado

Muito, mesmo.


novembro 10, 2012

As possibilidades

Inteirei-me acerca do assunto Isabel Jonet através dos jornais online. Depois vi uma ou outra referência no FB e em alguns blogues. Os ânimos exaltaram-se, as ofensas fizeram-se sentir (de quem se sentiu ofendido), a polémica estalou. Contudo, parece-me  necessário reagir com alguma racionalidade ao teor das declarações da presidente do Banco Alimentar. No, fundo, o que foi que disse? Que os portugueses têm vivido acima das suas possibilidades. Isto é uma inverdade? Não será, em alguns casos, em muitos casos. Poder-se-ia inclusivamente dar-se exemplos, variados e muitos, em que houve passos maiores do que as pernas. E não é suficiente a explicação de que os bancos e o crédito permitido a isso levaram, isso seria desresponsabilizar individualmente as escolhas e atrevimentos de cada um. Temos sido uma sociedade de alto consumo, e muitos de nós convenceram-se que eram ricos. Ousámos ter e ter mais, independentemente dos facilitismos que encontrámos e da incompetência das más governações que nos souberam simultaneamente (des)acompanhar. Continuemos.
Por outro lado, ouvir dizer que temos de aprender, reaprender a viver com menos, não me ofendendo minimamente, até porque não temos outra solução, significa também o reconhecimento de um retrocesso. E aqui as dificuldades agravam-se para muitos, as grandes dificuldades. Não queremos, porque é mau sinal, regressar a tempos que julgávamos idos, de dificuldades e emigração, de pobreza e estagnação a vários níveis. A conquista da democracia e outros avanços sociais e políticos da nossa história recente deixaram-nos entrever outras possibilidades, percorrer outros caminhos, alcançar outras formas de vida. Perdê-los é andar para trás, é distanciarmo-nos de um padrão que julgámos possível, que nós tornámos possível e que nos deixaram acreditar que era possível. Embora, e ainda assim, urja a redifinição de prioridades.
As reações emotivas demais, em cadeia e desprovidas de reflexão fazem cada vez menos o meu género. Mas a dignidade que deve presidir às condições de vida faz parte das minhas preocupações. Não o consumo, não o esbanjamento, não o show off mas os bens essenciais. Se estes faltarem não se trata de sacrifícios necessários nem de uma vida mais modesta, trata-se de uma não vida. 

novembro 09, 2012

Kissing you


Shakespeare e cinema juntos, num Romeu e Julieta pop, com uma banda sonora daquelas. 
Sons etéreos para o amor eterno.

novembro 08, 2012

A boca dos inocentes


Nunca o soubera. Mas eis que chega a revelação, ainda a tempo:
És uma grande cozinheira, mãe!
Isto dito enquanto se lambuzava, com um número assaz razoável de costeletinhas de borrego grelhadas e temperadas com sumo de limão. Isto é tão bom, mãe, melhor que hamburguer, enquanto os dedinhos engordurados levavam avidamente inclusive os ossinhos à boca.
Deus fala verdade pela boca dos inocentes.
Sou feliz.
Ainda vou a tempo de concorrer ao próximo Masterchef.


Negativismos



Tendo a admirar quem manifesta posturas interventivas, sentido crítico, quem questiona e não se conforma. Mas confesso que de uma forma doseada, ou seja, não aguentaria viver em permanente desafio, em constante desacordo, sobretudo se essa atitude é meramente teórica, destrutiva, pessimista e desconfiada. As teorias da conspiração, as manias de perseguição e outras paranóias que revelam obsessão e pouca reflexão não encontram acolhimento nem paciência deste lado, pelo simples facto de gostar de mais ponderação e frieza analítica no julgamento das coisas. A maturidade, aliás, é passível de trazer esse distanciamento mental, já longe das paixões mais exacerbadas da juventude. Mas o pior de tudo, e aqueles com quem não partilharia mais do que umas horas da minha vida, são os anarquistas niilistas, se assim se podem chamar. Percebendo eu pouco de filosofia formal, o que pretendo dizer é que me cansam os teóricos do caos, aqueles que mal em tudo veem, que sentem gozo em tudo destruir, que só levantam obstáculos, que só sabem duvidar, que nunca confiam, que não sabem em nada acreditar. Este negativismo omnipresente é do pior. Se ocasionalmente posso achar graça e até comungar das suas observações em alguns aspetos, a verdade é que não me identifico com os que apenas destroem e nada constroem.  Que fique claro: a intervenção é essencial, a consciência idem aspas, a coragem e o risco são admiráveis. Mas a pura maledicência, a anarquia estéril, o pessimismo crónico, a mente destrutiva, a generalização malévola e a incapacidade de reconhecer o bom, de apreciar o que há de bom são facetas que deixam a desejar, para dizer o mínimo. Que canseira, viver assim, que perversidade, até . Porque não só não são capazes de fazer (mais) felizes os outros como, sobretudo, eles próprios.

novembro 07, 2012

Yes, we still can




Imagino que o tema hoje, a nível praticamente mundial, seja Obama. Também eu, cá da minha insignificância e ignorância política, saúdo a sua reeleição. Pode não conseguir fazer milagres, não resolver tudo, mas é inconfundível a sua aura. Tem, tão somente, um estilo profundamente inspirador. Tudo nele é confiável - perpassa harmonia, tranquilidade, equilíbrio, humanidade. É a voz, o sorriso, o sentido de humor, o teor vivificante dos seus discursos, aquela espécie de alento que transmite, a elegância das palavras, a força e confiança que ecoam e se projetam em quem o ouve. Vivem-se tempos difíceis, em que números e mercados controlam as melhores das intenções, em que os valores humanos parecem escoar-se face a forças de poder e consumo, em que grandes injustiças parecem não ter fim e até se agudizam. Mas ainda há integridade, inclusivamente a nível político. Não perfeição, mas integridade. Obama parece ser e será um desses seres íntegros, verdadeiros, autênticos. Move-se numa esfera difícil, alvo fácil de controvérsia, de crítica permanente. Não será Lincoln, não será Roosevelt, os mais amados presidentes americanos, bravos e fulcrais peças nas suas épocas. Estará, seguramente, ao serviço dos interesses norte-americanos em questões internacionais, interesses discutíveis para muitos. Mas será do melhor que se pode encontrar nos dias que correm e não são poucos os países, e os líderes, que compõem este nosso globo. Venham mais quatro.

novembro 06, 2012

Quando nos enamoramos?

"Enamoramo-nos quando estamos prontos para mudar, quando estamos prontos a deixar uma experiência já feita e gasta e temos o impulso vital para realizar uma nova exploração, para mudar de vida. Quando estamos prontos a tirar proveito de capacidades que não tínhamos explorado, a explorar mundos que não tínhamos explorado, a realizar sonhos e desejos a que tínhamos renunciado. Enamoramo-nos quando estamos profundamente insatisfeitos com o presente e temos a energia interior para iniciar outra etapa da nossa existência. (...) O enamoramento acontece quando encontramos alguém que nos ajuda a crescer, a realizar novas possibilidades. A ir numa direção que corresponde às nossas exigências interiores. (...) O estado nascente amoroso é a tentativa de mudar radicalmente a própria vida. (...) Todos os enamoramentos são potencialmente revolucionários."
Francesco Alberoni, "Amo-te"

Absolutamente. É preciso um desencanto, um vazio para que o amor a sério possa nascer. Não surgirá se quisermos continuar da mesma forma, com as mesmas rotinas e hábitos, se insistirmos em atividades e divertimentos a toda hora, sem pausas para sentir o desalento, a inutilidade, a extrema necessidade de uma mudança radical. Só insatisfeitos nos poderemos enamorar. O que, espantosamente, pode ser tranquilizador. Resta apenas encontrar alguém que nos faça entrever e entrar nesse outro mundo.

Evolução



Ora aqui está uma boa imagem para fazer pensar nisto tudo.
(do FB, Obvious)

Nada de nada



Caros, queridos leitores 
Não estranhem aparecer como Fátima e/ou Faty Laouini. Pus-me a mexer em definições no esquema que não soube prever e controlar e o meu perfil que era Fátima passou, sem querer, para o perfil Google que tinha como Faty (que é o nome que uso também no FB). Mas sou a mesma e isso é que importa. Aliás, há quem me chame Fátima, outros Faty, outros Fatinha, outros Laouini. Até já me chamaram Alouin (Halloween??? Meu Deus!). Nunca escondi que aprecio a diversidade. E agora para por o nome Fátima outra vez (sobretudo como comentadora noutros blogues) não sei. Fui ao perfil e consegui por o nome como título mas apareceu a "velha" fotografia do Google e mesmo alterando a foto na página Google não consegui tirar o Faty no perfil do blogue. Enfim, desastres de quem não domina nada disto. Também não se espantem por haver alterações no esquema ou no modelo, de vez em quando necessito. Sempre mudei os móveis em minha casa frequentemente. Agora já não o faço há tempos e confesso que já sinto falta. Obviamente que quem é demasiado conservador não poderá ler ou apreciar nada disto - o blogue e esta imprevisibilidade. E se preconceituoso, pior ainda. Sou livre e faço o que quero - quero dizer, também faço o que não quero, como nisto dos nomes e das fotos. Obrigada por conseguirem ler este post até ao fim. Não faz a felicidade de ninguém e é irrelevante, totalmente.
Pronto, já passou.

novembro 05, 2012

Alto e baixo astral



Ao longo da sua carreira de docente - pensa que já poderá falar assim - encontrou muitos alunos com uma baixa auto-estima. E ela, que gosta de astrologia e já leu umas coisas a sério sobre o assunto, espantava-se como é que signos/naturezas teoricamente fortes, independentes e positivos se mostravam em tudo ao contrário do que lera. Sim, espantemo-nos. Muitas vezes ia ver a data de nascimento dos alunos para confirmar ou não as suas leituras psicológicas dos mesmos. Parece tontice, ausência de inteligência e de seriedade, pois parece. Era simplesmente uma forma, entre outras, de entender a razão pela qual não acreditavam em si próprios e se mostravam tão inibidos em vários aspetos, com tanta falta de auto-confiança. E aqui está o resultados dessas suas observações. Conheceu muitas vezes os pais dos alunos, desses alunos, na qualidade de diretora de turma. E automaticamente fazia-se luz. Miúdos com grande potencial vivencial eram pura e simplesmente vítimas de uma educação rígida, seca, castradora até, de vistas curtas (já para não falar da total ausência de conhecimentos dos pais, realidades socioeconómicas que assim se repercutiam). Como conseguir crianças ou adolescentes felizes se não há palavras de afeto, de encorajamento, injeções de auto-estima que os façam sentir especiais, capazes, com valor? Como encontrar espírito crítico e abertura nos alunos se não há liberdade (com valores e limites), tolerância e visão? Como educar jovens equilibrados e sadios sem compreensão nem diálogo, sem fé nas suas potencialidades nem e, basicamente, sem lhes dar a conhecer que os amamos?
Não se duvida, claro está, que os pais amam os seus filhos, que desejam o melhor para eles. Mas não expressar esse sentimento, não demonstrá-lo verbal e fisicamente pode criar o maior dos equívocos. Pode nascer nos miúdos uma visão distorcida do que são, perturbada pelo pouco reconhecimento que os pais lhes parecem dar. Se apenas se exige, se apenas se cobram notas e comportamentos corretos e nunca se elogia nem se encoraja pode erguer-se uma fasquia baseada apenas nas expetativas, nas metas a alcançar, descurando-se o lado afetivo e o entusiasmo que devemos desenvolver na relação entre nós e os nossos descendentes. Daí que possam aparecer - e aparecem - alunos desajustados também de famílias com uma boa situação socioeconómica. Porque só o dinheiro e os bens materiais não chegam para reforçar a auto-confiança. Uma boa imagem exterior, por exemplo, nem sempre corresponde a uma boa imagem interior de si próprios. Tem de se chegar lá dentro, edificar pensamentos positivos acerca deles mesmos, potenciando as suas caraterísticas e valorizando-as no que têm de melhor. Os progenitores que fazem isto conseguem criar os seus filhos desenvolvendo neles amor próprio, mesmo em signos/naturezas aparente e teoricamente mais pessimistas e mais frágeis. Daí que a educação tenha um papel primordial na atitude geral de um indivíduo face à vida. Grandes traumas interiores por ela causados não podem senão criar comportamentos patológicos ou desviantes e uma grande inflexibilidade, desafeto e tacanhez não podem criar senão inseguranças e inibições. 
Esta sua abordagem ligada aos astros pode ser alvo de chacota, acusada de leviana, palerma e nada credível. Mas recordou uma vez, entre muitas, em que um aluno mal comportado na aula lhe dava algum trabalho. Fechado mas perturbador, inacessível mas turbulento, um dia ouviu-a dizer-lhe, depois de lhe perguntar o seu signo (ao falar do seu comportamento): Que estranho, os Caranguejos são tão queridos. O miúdo ouviu aquilo, enquanto saíam da sala. Ao outro dia, e a partir daí, não havia menino. Uma autêntica metamorfose tinha-se dado. Passou a  sorrir para ela, a ser doce e mesmo um bom aluno, até ao fim do ano. Chamem-lhe tola.

novembro 04, 2012

A lista é vida

Finalmente. O Schindler português. Há anos que eu dizia e digo que o nosso cinema tem de nos fazer conhecer a nossa história, as nossas figuras - esta figura. Quero ver, evidentemente.


E isto lembra-me como gosto de história e de como estive quase a enveredar pelo ensino de história na altura de escolher o curso. Não fosse o gosto pela comunicação global teria sido essa a opção. E daí deve-me ter ficado o gosto pelos filmes de época, uma vez que são estes que (nos) retratam tempos idos e nomes que são, hoje, apenas isso, nomes. Mas nomes que fizeram a diferença. Não há como divulgá-los e celebrá-los. 

Uma questão de privacidade



Incrível, e triste, a forma como certa imprensa faz capas não consentidas com problemas pessoais de atores, celebridades aqui do nosso pequeno burgo, artistas ou outros. Uma coisa é aparecer-se numa capa (e lá dentro) de forma digna, voluntária, consciente, pensada. Não se é menos válido por tal facto (o meu texto Cor-de-rosa continua espantosamente a ser o mais lido de sempre aqui no blogue e é onde desmistifico, tento, algumas ideias elitistas sobre as revistas sobre famosos). Não se é menos credível ou menos digno por isso. Agora, as matérias não autorizadas que são feitas a partir de falsos ou anónimos testemunhos, com enfoque em problemas familiares e, pior, em problemas de saúde, causadores de sofrimento e que devem ser vividos na esfera pessoal, parecem-me perfeitamente inaceitáveis. Basta um olhar de relance nos escaparates ou uma visita ao cabeleireiro (o que fiz ontem) para vermos que há um devassar de intimidades que não foi aprovado pelas pessoas em causa, que é claramente sensacionalista, voyeurista e mesmo cruel. E também se nota que certas figuras da sociedade ou do jet set ou da televisão portugueses estão mais expostas do que outras, mais vulneráveis, sem qualquer tipo de proteção. Sim, porque há quem esteja protegido. Há figuras sobre as quais nunca saiu um artigo ou uma foto mais comprometedora ou reveladora, e porque haveria de sair, mas o que é certo é que sobre outras saem e saem amiúde. Lamento que em certas alturas em que era necessária compreensão e necessário respeito pelos problemas pessoais de alguns se faça precisamente o contrário - vender às custas desta falta de humanidade. Com a colaboração de anónimos e falsos amigos, claro, com declarações duvidosas ou francamente inoportunas. O que sentirá alguém com um problema pessoal profundo quando vê a sua intimidade e o direito a essa privacidade completamente expostos? Não se sentirá melhor, com certeza, poderá até agudizar os problemas, ao sentir-se sobre uma enorme pressão pública. Dislike.

novembro 03, 2012

A ceifeira

       
The Solitary ReaperWilliam Wordsworth 

BEHOLD her, single in the field,
Yon solitary Highland Lass!
Reaping and singing by herself;
Stop here, or gently pass!
Alone she cuts and binds the grain,
And sings a melancholy strain;
O listen! for the Vale profound
Is overflowing with the sound.

No Nightingale did ever chaunt
More welcome notes to weary bands
Of travellers in some shady haunt,
Among Arabian sands:
A voice so shrilling ne'er was heard
In spring-time from the Cuckoo-bird,
Breaking the silence of the seas
Among the farthest Hebrides.

Will no one tell me what she sings?--
Perhaps the plaintive numbers flow
For old, unhappy, far-off things,
And battles long ago:
Or is it some more humble lay,
Familiar matter of to-day?
Some natural sorrow, loss, or pain,
That has been, and may be again?

Whate'er the theme, the Maiden sang
As if her song could have no ending;
I saw her singing at her work,
And o'er the sickle bending;--
I listen'd, motionless and still;
And, as I mounted up the hill,
The music in my heart I bore,
Long after it was heard no more.



A sonoridade das palavras, o ritmo do poema, a musicalidade dos versos.
Estudos universitários que deixa(ra)m saudades.
E foi assim: This poem in my heart I bore long after it was read no more.

novembro 02, 2012

Extravagâncias


frida-2

Tenho tendência para achar graça à extravagância. Aquela extravagância que é claramente ostensiva, assumida, colorida, doida. Geralmente trata-se de indivíduos altamente bem dispostos, ousados, desafiadores mas ao mesmo tempo nada deprimidos, antes radiosos, algo boémios e com visão alargada. Acho que fazem falta para animar a malta e pecam por serem escassos na vida quotidiana, no local de trabalho, na rotina de sempre. Antes e sempre a extravagância, por contraste com as vistas curtas, a mentalidade pequena, de aldeia (nada tenho contra as aldeias, cada vez gosto mais, da sua simplicidade, escreverei sobre isso qualquer dia), o preconceito, a  existência avarenta e mesquinha, a frustração invejosa. Geralmente, os extravagantes arrancam-me gargalhadas, e fazer rir é uma belíssima caraterística. O bom astral, a auto-confiança, a presença vistosa, se acompanhados de culta sabedoria e experiência de vida, alegram muito os dias que se desejam bons. Estrelas de cinema, artistas, celebridades com talento, intelectuais e outros contam com extravagantes nas suas fileiras. Que sensaborão e cinzento panorama teríamos sem eles. Apenas vejo um aspeto negativo. É aparecerem, frequentemente, apenas no écrã, nos media. Não estão, pois, suficientemente perto para encherem de graça e atrevimento o nosso previsível quotidiano.