março 30, 2014

Preconceitos segundo o atlas

A série "Atlas of Prejudice" apresenta inúmeras visões dos continentes e das nações vistas sob um ou outro prisma, naturalmente geográficos, cheios de ideias preconcebidas. Esta foi a última que vi. Ainda estou para perceber como é que nós, portugueses, somos catalogados como "Rich" na `fatia` número 11. Só se formos comparados com uma Roménia, sofrida e abusada até à sua história recente, e mesmo assim... Também me causa algum espanto a número 15, porque a nossa liberdade de costumes não é assim tão avant garde, mas enfim. Só se for comparada com as dos russos, por exemplo, que condenam e não só moralmente Pussy Riots e afins, independentemente do facto de apreciarmos ou não o estilo. Quanto ao resto, são as viagens possíveis dentro dos limites impostos pelos estereótipos.  
20 ways to slice the European continent from Atlas of Prejudice 2 by Yanko Tsvetkov.

Para ler melhor, ver aqui. 

março 28, 2014

Ponto da situação, digo, saturação



Não gosto do ensino que protege, que facilita, que desresponsabiliza. Não gosto do ensino que dá a papa toda, que não exige, que não promove a autonomia. Não gosto de demasiada familiaridade no ensino, das relações tu cá tu lá, embora goste dos afetos e de harmonia. Não gosto da linguagem que é permitida e muito menos gosto da linguagem que é usada e que nunca o deveria ser. Não gosto que se permitam novas tecnologias na aula, não as que usamos, as que eles usam, por baixo da carteira, ou nos ouvidos. Não gosto deste ensino em que estamos presos de várias maneiras mas mais ainda tolhidos pelo medo ou vencidos pelo cansaço. A saturação é mais do que muita. É difícil remar contra a maré, contra a loucura que vem de cima, ministerial, a que vem de baixo, dos miúdos, a que vem dos lados, famílias, sociedade e mais. A boçalidade, o desafio gratuito, a agressividade verbal, a preguiça, o desinteresse, as prioridades trocadas, a linguagem vernácula, o desconhecimento do que é a pontualidade, a ausência das aulas, o barulho, o desinvestimento no saber, a impunidade, o abuso de confiança, e havia mais, tanta coisa mais, tudo isto é o que alguns de nós veem, todos os dias, em quase todas as horas, agora e depois. Se isto não é uma forma de violência, contínua e sem fim, desvirtuadora de qualquer valor, inclusive, então não sei. Não se queixem depois dos adultos corruptos, indignos e patifes. Estamos a prepará-los, desde já, a safarem-se na mais completa desonestidade intelectual e moral.

março 26, 2014

O cedo erguer



Não me falem do encanto matutino e do aproveitar do dia todo. Não me falem da atividade matutina e do que se perde quando não se levanta cedo. Não me falem da luminosidade das manhãs quando eu acho que ainda é de noite.

março 25, 2014

Referendar ou não


Já me assaltou algumas vezes a ideia de que o referendo, em sentido lato, se assim se pode dizer, não pode ser apenas apreciado quando isso a nós nos convém, a quem vota e elege, e que não pode ser apenas aplicado quando isso lhes convém, a eles, aos governantes. Ou seja, às vezes é mau, às vezes é bom, para um ou outro lado. Percebendo pouco ou nada acerca disto, parece-me que referendar é uma forma absoluta de poder e decisão populares, a mais pura, provavelmente, embora contenha riscos qualquer decisão nas mãos do povo, é certo, se lhe faltar informação, sensibilidade e sensatez; da mesma forma, riscos também há quando são outros, os ditos representantes, a decidir por nós, porque podemos não nos identificar com tudo o que decidem mesmo tendo votado em quem lá estará na altura. Disciplina de voto não existe na minha cabeça. Posto isto, nada contra os referendos, prefiro ser tida e achada a não ser, mas, lá está, depende do resultado, se me agrada ou não, sobretudo se interferir com a minha vida diretamente. E comigo estarão outros, os que vão às urnas e os eleitos pelo voto. 

março 24, 2014

Gasta!

                           

Um aluno disse-me, fora da aula, divertido e vaidoso, que os seus sapatos custaram 70 euros, exibindo-os e perguntando-me se gostava deles. Disse que sim, claro. O miúdo é simpático embora desbocado e uma cabeça de vento. Passado alguns minutos, disse-me que brevemente ia - e vai - para a Disneyland. Disse-lhe que é um local fantástico - já lá fui há muitos anos, em solteira - e a seguir, confesso, não me contive. Então não tens as fotocópias do manual de inglês, que custam um euro e pico (por módulo, ao todo são 3 módulos)? Ai, ai, apanhei-te. Ele sorriu algo surpreendido e o outro ao lado sorriu para mim, percebendo onde queria chegar. Ui, estas prioridades, eu bem digo que andam trocadíssimas. Ou se calhar não andam, tudo depende do ponto de vista, eu é que frequento lugares dos quais por vezes queria estar a milhas para, entre outros aspetos, não ver coisas que me são totalmente incompreensíveis. 

março 21, 2014

Absurd waiting


What are you doing?
Waiting.
For what?
Don´t know.
Let´s go, then?
Can´t.
Why not?
It will come.
What?
Something.
How can you wait for something you don´t know?
I can.
That´s ridiculous.
Is it?
Yes, so...
Still going to wait.
That´s absurd.
Maybe it is.
It is, no maybe.
Ok, it is.
So and again, what are you waiting for?
I´ve told you.
No, what are you waiting for to forget and go?
Won´t forget it.
Come on, let´s go...
No, I won´t.
Don´t you think you´ve waited for too long?
Maybe not.
Maybe yes, you should know.
I´ve told you I don´t know.
That´s it, you don´t know.
Do you know?
Know what?
Where to go.
No... but...
See? You don´t know either.
I know I, we, should go.
Not enough.
So you´ll stay here.
Yeap.
I´ll go.
Go. Go where?
Somewhere.
Wait a minute. That´s ridiculous.
Maybe it is.
It is.
Going.
Ok, go. I´m going to wait.
For nothing. Absurd.
You don´t know.
You don´t know either.
I don´t know... You just wait...
No, I won´t, going, I´ve said.
No, you just wait and see...

março 19, 2014

O fim do amor


Finalmente visto o filme "The End of the Affair", adaptado da obra de Graham Greene. Apenas 4 ou 5 personagens, 3 centrais, o par dos amantes e uma história densa, a aflorar os conceitos da culpa católica, geralmente cara ao escritor.
A dado momento, depois de uma promessa, Sarah decide deixar o amante. Despede-se com a frase love doesn´t end just because we dont´see each other. E compara isso ao amor por Deus, que as pessoas amam sem nunca o terem visto. A questão põe-se, pois, na possibilidade do amor se manter para lá da distância e da ausência física.
Há quem diga que sim, há quem diga que não. Pode amar-se alguém uma vida inteira, até à eternidade e estarmos a milhas fisicamente. Ou se não na geografia, a milhas da partilha de uma vida. É bem possível distrairmo-nos, iludirmo-nos, gostarmos de outrem e ainda assim manter o amor intocável, o verdadeiro, algures na memória de algo que desejámos e que não pôde ser. Mas também é possível porque bastante provável que a ausência física vá matando um sentimento que não se alimenta da espiritualidade e do platónico eterno alicerçado na distância. That´s not my kind of love, responde Maurice. Longe da vista, longe do coração, disse-se e diz-se ainda. Podemos então vir a distrair-nos, a iludir-nos e a gostar verdadeiramente de outro ou outra, em suma a amar alguém que não esteja longínquo. Ou então pura e simplesmente o amor desvanecer-se-á, sem influências alheias. 
Pode ser possível que um amor tenha acabado porque deixámos de ver alguém. Ou pode ser que não vendo o mantenhamos, ao amor, puro, forte e inabalável. Quem ama fá-lo como sabe ou pode, na ausência do outro, longe. Saiba-se se se quer continuar a amar na distância ou se se quer amar na proximidade. Se o querer aqui interessa para alguma coisa. Amar não é fruto da escolha, frequentemente, mas sim do acaso. Que pode trazer para perto ou levar o(s) amor(es) para longe.

março 18, 2014

(In)Certezas

               

Não tenho bem a certeza do nome da revista onde, a propósito de uma fotografia tirada no Iraque, vi escrito e li rio Eufrades. Sim, Eufrades. E não tenho a certeza do canal televisivo onde vi escrito Cingapura, isso mesmo, com C. Tenho a certeza, porém, que vi estas duas grafias no espaço de 3, 4 dias, para intensificar a coisa. Eu que sou absoluta fã da geografia das cidades e das nações, das montanhas e dos oceanos, das fronteiras e dos povos. Não tenho a certeza mas poderei não ter sido a única a reparar, embora outros o possam ter notado apenas separadamente. O meu caso é pior - foram as duas coisas seguidas, uma afronta a quem associa matrículas de automóveis a locais do planeta. Posto isto, uma coisa é certa: não sei se deva rir ou chorar.

março 17, 2014

Normal e diferente



Não é frase de filósofo como deveria ser mas apenas de uma atriz portuguesa e dei de caras com ela há já algumas semanas. Dizia a mesma que enquanto a maior parte das pessoas - e dos artistas - tenta cultivar o lado freak, ela sempre desejou ser o mais normal possível. Não pude deixar de sentir uma grande empatia com esta confissão, a levantar a questão do que serão os contornos da normalidade. Já aqui escrevi, pelo menos uma vez, que a ousadia e a transgressão podem ser reveladas de variadas e diferentes maneiras e que, desta forma, não se esgotam nem em looks assumidamente atrevidos nem em comportamentos propositadamente provocantes. Na verdade, sob uma aparência normal, serena e até consensualmente clean, pode existir uma existência perfeitamente inconformada e livre. E do mesmo modo, comportamentos modernos e sociais de desafio às regras podem não ser mais do que o duelo que se quer bater com uma natureza apagada e sem chama. O freak pode ser exterior mas é-o ainda mais se for interior. A diferença não se reduz ao choque, à extravagância, à linguagem, às poses e atitudes que são intencionalmente escolhidas para fazer a diferença. A diferença, por vezes, está lá ainda que não se dê por ela ao princípio. Do género alguém nos perguntar porque é que nunca dizemos um palavrão maior e de nos julgarem certinhos por causa disso. Do género nós respondermos pois mas não usamos aliança, não casámos pela igreja nem fizemos festa, não temos cão nem uma carrinha tipo familiar que ruma ao al-gharb todos os anos. Coisas a que já assisti, divertida. Ou do género todos gostarem de um verde que não existe e nós gostarmos de um verde às bolinhas. Coisas simples, mesmo simples, nada avant-garde, que indicam ou podem indicar escolhas e trajetos menos comuns, porque incomum pode ser a nossa alma ainda que a nossa imagem ou comportamento não. Querer ser normal é para quem quer, e já agora para quem sabe e pode. Porque de normal pouco, felizmente, terá. 

março 15, 2014

À arte o que é da arte





É raro descobrir coisas quando pesquiso imagens no google para acompanhar os textos no AE. Mas de vez em quando acontece, como foi o caso com a imagem do post abaixo. O artigo é do ano passado e dizia que mais de um terço dos jovens britânicos não sabe quem é - foi - Renoir. Muitos inquiridos disseram mesmo que deveria ser um jogador de futebol francês, a jogar no Paris St Germain, enquanto outros o julgaram primeiro ministro francês. Lá, como cá, as coisas andam mal em termos de cultura por parte das populações mais jovens. Este fenómeno de desconhecimento e desinteresse pela história, arte e passado em geral é então transversal, não sendo exclusividade nossa. Muito por culpa dos media e do tipo de programas televisivos que dominam, da influência das novas tecnologias que são usadas não propriamente para aprender mas sim para divertir, e da falta de uma disciplina obrigatória de cultura geral nas escolas, não me canso de o repetir. Em todo o caso, que responderiam os jovens portugueses? Seriam igualmente criativos, decerto. Ou, possivelmente, mais ainda.

março 14, 2014

Quando somos nós



Quando é que nós somos mais nós? Mais autênticos, mais verdadeiros? Às vezes dou por mim a cogitar nisto. Já uma vez li uma nota sociológica que dizia que a voz ao telefone indica o caráter de alguém na perfeição, sem subterfúgios de qualquer espécie. Pode ser mas isso não faz de nós mais nós quando estamos ao telefone. Pessoalmente não sou fã de telefones e muito menos de conversas ao telemóvel. Então não me convence muito a ideia de autenticidade aqui. Há quem diga que as pessoas se revelam mais elas pela internet, sem medos e com a máscara tirada, enquanto que outros defendem precisamente o contrário, que virtualmente as pessoas se agigantam - há essa possibilidade - porque criam personagens que podem não a ser as suas na realidade. Outros dirão que somos mais nós com as pessoas que amamos, que conhecemos bem e que nos conhecem e gostam de nós. Mas ainda assim podemos estar a desempenhar papéis, a ir ao encontro do que pensam e querem de nós e digo isto até sem qualquer espécie de crítica. Pode ser quando estamos no local de trabalho. Motivados e ativos, comunicando e interagindo com gosto, dando o melhor de nós. Mas quando há desencanto e cansaço, então? Lá se vai a teoria. E quando estamos sozinhos? Sozinhos com os nossos pensamentos, na nossa mais profunda interioridade. Não será aí que as forças e inseguranças, qualidades e defeitos, vêm mais ao de cima? Também é possível que não, já que precisamos de outros para interagir e mostrar o que se é. E quando mostramos o que somos, é mais válido o caráter sob pressão e stress ou aquele que resulta do ócio, por exemplo, e da descontração máxima? Poderemos ser tudo isto e somos, mas um dia escrevi aqui no AE que estar com desconhecidos poderá ser também quando somos mais nós, uma vez que não há expetativas nenhumas a preencher ou a gorar. Pode ser mesmo quando mostramos e agimos mais como realmente somos, embora os tímidos possam vir contrariar isto. Então, e assim sendo, repito: quando é que somos mais nós? 

março 12, 2014

Abrir os olhos


Imagino que todos têm direito a uma segunda oportunidade. Acredito, até. Mas que não passe muito para além dela, da segunda. Porque ver continuamente os mesmos erros apenas indica que já está fossilizado, o que quer que seja que se fez (de) mal. E mais. Quando se viu mais do que uma vez uma determinada caraterística negativa, muito negativa, repentina, súbita, inesperada, ela há de voltar, uma e outra vez. Terceira, quarta, vigésima e mais vezes ainda. Não nos peçam mais oportunidades. Não quando já percebemos que o caminho é o errado, ou melhor, não quando já compreendemos que não é nosso caminho. As oportunidades fenecerão à medida que fenece a nossa ilusão e esperança. Quanto mais depressa sairmos dessa fé mentirosa e maléfica melhor. No fundo, sempre o soubemos. E que não nos culpem, sobretudo que não nos culpem, por terem passado ao lado das oportunidades. Na realidade, nunca as mereceram. Sabíamos.

março 11, 2014

Facilidade e dificuldade

     

Não são raras as vezes em que quem não é pai nem mãe, independentemente da razão, dá grandes palpites sobre como educar as crianças. Toda a gente tem o direito de opinar, sobre isso não há dúvida, apenas acho que teorizar é uma coisa e passar por elas na prática é outra. Eu também dizia e dizia antes de ser mãe, tinha mais certezas do que tenho agora, pois tenho cada vez menos. Por isso as acho descabidas, as recomendações, e absolutamente indesejadas quando não pedidas. Então as observações ao jeito de reprimendas nem se fala. Como se pode criar e aplicar um manual de intruções quando se desconhece algo na sua mais profunda realidade? Opinar, sim, falar com a voz da experiência, não. Mesmo se se dizem coisas teoricamente muito acertadas. O pior é o desacerto diário que significa educar, educar bem, pelo menos. Na prática, educar é difícil. Já falar é sempre mais fácil. Criticar, censurar, desaprovar. Também aqui, com os filhos dos outros. 

março 09, 2014

Trivial



A maior parte das palavras que nos saem da boca são profundas banalidades. Assim vamos vivendo os nossos dias. A fugir do essencial, por desconhecimento ou medo. Não quer dizer que esteja errado ou que não se possa passar por cá assim, por vezes é mesmo necessário, mas a fuga à verdade e ao que interessa a tempo inteiro é coisa saturante e desinspiradora. Jogar é preciso mas parar também. Muito mais.