O rosa das revistas e o choque em que estou por ver que um texto nada, nada, nada, como dizer, nada abonatório (não quer dizer que os outros o sejam, já agora, de todo) continua no top mês em número 2 e no top de sempre em número 1. Só pode ser porque o nome do Pedro Rolo Duarte aparece logo no início, dando todas as garantias de que a coisa poderia ser interessante. Já nem me lembro do que escrevi exatamente mas é muito pouco consentâneo com a cultura de qualidade, com a intelectualidade seletiva, com a élite dos gostos.
Mantenho, apesar de, o que terei dito, no essencial. No outro dia folheei uma revista desse tipo numa papelaria e pude ler uma belíssima entrevista da regenerada Angelina Jolie. Uma celebridade, continuo a gostar delas, sim, prefiro-as aos cinzentões, que diz coisas que achei interessantes, numa abordagem em discurso direto ao seu novo filme, como realizadora, e ainda ao encanto familiar que tem atravessado desde há algum tempo. Era isso a parte boa, o facto de poder ler acerca de artistas, atores, cantores, e pessoas com outros talentos e outro tipo de notoriedade, ainda que em publicações de supermercado, de consumo rápido e de fácil acesso, e que têm, no geral, péssima reputação. (Pensando bem também 698668090 autores se encontram disponíveis nos escaparates dos hiper. Se acho isso bom? Preferia, prefiro as livrarias, mas se chega assim de forma mais acessível a todos, não é mau.)
Também dizia que havia o (relativo) bom e o mau no meio deste tipo de oferta. Claro, às vezes o muito mau. Este muito mau refere-se sobretudo a figuras que não o são, que vendem histórias que não interessam nada, que não acrescentam nadinha, que não nos enriquecem nada nem nadinha. Há, de facto, revistas que parecem incluir apenas isso, aquelas capas com as casas dos segredos e os reality shows todos, numa parafernália oca, fácil, deslumbrada, pirosa e inculta. Isto sim é aflitivo, e é-o não porque quem sabe discernir vê mas porque quem não sabe cultiva, imita, glorifica, desde adolescentes a graúdos sem outro tipo de curiosidade, leituras ou conhecimentos. Ainda que momentaneamente. Quase sempre momentaneamente porque o real talento sobrevive enquanto que o aparente, o falso ou o inexistente sucumbirá na prova do tempo.
Há então uma imprensa rosa light que inclui algumas coisas interessantes, relaxantes, curiosas, dependendo dos visados e dos gostos de tempos livres de quem lê, e há depois uma rosa choque que nos confunde, nos desagrada e nos repulsa e que não merecem os nossos livres tempos. Má, péssima, meramente sensacionalista, desinformativa. Dizer que há alguma dela aceitável, sem dizer nomes de publicações, claro, não abona a meu favor. Mas pode filtrar-se o que interessa e desligar e esquecer o que não. A memória seletiva é uma grande aliada de gente não preocupada em ler só o canónico ou o exigido pela cultura eminentemente elitista.
Porque o rosa, tal como todas as outras cores, também tem nuances.
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