fevereiro 25, 2012

Arte, para além da sétima

"Se se ganha dinheiro, o Cinema é uma indústria. Se se perde, é uma Arte." Millôr Fernandes.
Tirado do blogue de Pedro Rolo Duarte



Amanhã é dia da sétima arte ser premiada. Portanto, e tal como diz o Pedro, isto calha mesmo bem. Mas esta frase expressa o que sinto algumas vezes, e não (é) só sobre o cinema. Que a arte parece ter de ser hermética, inacessível, difícil, a preto e branco, sombria até, apanágio só de alguns. Porque se é colorida e leve, alegre e popular então deixa de o ser, como se as massas e as opiniões convergentes a descredibilizassem. Como se a arte tivesse de ser sempre controversa, divisora, criadora de élites e privilégio dos únicos inteligentes ou génios sobre a terra. 
A arte é uma expressão que reside nas interpretações mais variadas do universo e das coisas. Portanto é passível de criar preferências, estilos, modas até. Não apreciamos todos o mesmo e é natural que assim seja. Mas nada nos diz que uma vertente seja maior do que a outra quando esta aceção nasce da ideia de que não é para todos e que quando o é deixa de ser válida. Picasso não é melhor do que Van Gogh, é apenas diferente. Um filme que ganha muitos óscares e é um êxito de bilheteira não é pior do que um filme independente que é exibido para um pequeno público especializado num festival de cinema europeu. O alternativo não vale mais do que o mainstream. Isso depende da qualidade de muitos aspetos e não duma definição de críticos frequentemente mal dispostos com a vida que pregam só eles saberem. 
O sábio é, na maioria das vezes, incrivelmente simples. E a arte pode ser simples. O sábio é aberto e não renega outras formas de conhecimento e expressão. A arte pode ser aberta. A arte pode ser feliz, até. Pode ter cor e fazer rir, e fazer dinheiro. Grande será a frustração quando ela não vende. Por muito que ela seja expressão, muitos querem dela reconhecimento ou reconhecimento através dela. E satisfação monetária, também. Não se iluda o que é óbvio. Claro que também funciona ao contrário. Há muita manifestação artística que não vale grande coisa  e faz dinheiro e agrada a muitos. Mas aqui também pode ser o meu filtro que escoa só o que me interessa. E como o meu, o nosso. Assiste-nos esse direito de preferir, não desvalorizando, porém, o que não se cultiva. 
Gosto de cinema, indústria e arte. Gosto de várias formas de arte, muitas, que me digam alguma coisa, na cabeça mas também no coração. Poderia e gostaria de saber mais mas faz-se o que se pode e o que nos foi possível. Às vezes complicada para uns e simplista para outros. Tal é a arte que reflete tão somente a vida.

6 comentários:

  1. Interessante, a sua análise sobre essa batalha eterna entre o cinema blockbuster e o cinema alternativo.

    Em ambos os lados há boas e más produções. Já fui ver filmes ao King (a sala cinema mais alternativa de Lisboa) que me deixaram atónita (tal o embuste!) e já vi excelentes filmes vindos de Hollywood e mal classificados pelos (pseudo)críticos de cinema do Público. Aliás, eu levo em conta as críticas do Público desta forma: se eles dão má nota vou ver, se dão boa nota fujo a sete pés!

    ResponderEliminar
  2. Olá Dulce, que bom tê-la por cá. Sei que está de volta a África, acompanhei tudo:) A crítica é mt elitista, e fazer dinheiro não é obrigatoriamente sinónimo de pouca qualidade. Era o que faltava::))
    Bom cinema, porque sei que tb aprecia!

    ResponderEliminar
  3. A arte quer-se, pois, múltipla e diversa. É uma forma de expressão cultural que pode e deve dirigir-se a públicos variados. É certo que há muitos filmes "mainstream" banais, vazios até, compostos de determinados ingredientes unicamente para agradar às massas e encaixar dinheiro. Outros há que não saem do circuito independente e quem os vê não mais os esquece. Talvez resida aí o seu valor!
    A propósito, há precisamente uma semana, dois jovens realizadores portugueses foram galardoados na Berlinale (gala de cinema alemã semelhante aos Óscares). Eu interrogo-me: Porque não conseguimos aceder ao cinema português?
    Estes realizadores já fazem um esforço hercúleo para concretizarem os seus projetos. Conseguir financiamento para promover os seus filmes é tarefa quase impossível. Além disso, a falta de apoio do Ministério da Cultura e o desprezo das salas de cinema, sob o domínio monopolizador da Lusomundo, orientada meramente por objetivos financeiros,impedem a merecida difusão do bom cinema que se faz em terras lusas! Apesar de ser adepta confessa de Hollywood, gostaria de conhecer melhor o bom cinema que se faz noutros circuitos! Marla

    ResponderEliminar
  4. Marla, precious, eu não escrevi a defender a Lusomundo (que saudades do cinema antigamente) e aquilo que nitidamente não tem valor. Tentei escrever sobre o facto de coisas simples e apreciadas por muitos, e não só filmes, poderem ser também arte. A arte não deve ser exclusiva de ninguém, gostos pessoais à parte. Uma coisa são gostos e outra é a definição de qualidade. E tal como a Dulce, acho que há o bom e o mau nas duas vertentes, a que faz dinheiro e a que não faz. Obrigada pelo teu excelente comentário!**

    ResponderEliminar
  5. Thanks, amiga! Não entendi que defendesses a Lusomundo ou os Blockbusters (pessoalmente, gosto de alguns; outros não), apenas quis partilhar uma reflexão de como o cinema português é maltratado e sobre o facto do público português estar limitado à seleção de filmes muito restrita da Lusomundo. Marla

    ResponderEliminar
  6. E fizeste mt bem, como sempre. Tal como tu adoro quer filmes americanos quer filmes europeus, sendo êxitos de bilheteira ou não. E concordo que infelizmente só nos chega o de Hollywood. Faltam outros e não só da Europa... Antigamente via obras mt interessantes de países como a França, o Irão, a China, a Itália, entre outros. Agora não mas eu tb estou mt limitada::))

    ResponderEliminar