É inaceitável o frio que passamos nas escolas. Nós, que vivemos na Europa, um continente desenvolvido, que não é tropical e que se defende, por isso tudo, dos rigores do inverno. Pois vivemos, mas não parece. Com temperaturas matinais de -1 e 0 graus, não há nenhum sítio para onde se possa fugir e aquecermo-nos num espaço que é serviço público. Se os hospitais, centros de saúde e afins estão aquecidos e muito bem, não é justo que um espaço com adolescentes e jovens que passam grande parte do dia a aprender não ofereça as mínimas condições, agora em pleno janeiro. Não se compreende a contenção de despesas numa coisa que é essencial, básica, de primeira necessidade. O fogo, e no inverno, é um elemento tão necessário como a água, o ar, a terra. Não se compreende que se gaste em coisas supérfluas e que não se invista no obrigatório. E falo apenas em jovens e adolescentes porque se falar em professores, parecerá a muitos egoísmo, capricho de uma classe que só sabe reclamar, que tem que tudo comer e calar.
Estou pela enésima vez fortemente constipada. Não levo, como alguns alunos, mantas e cobertores para a sala de aula, mas terei que considerar levar. Salas viradas a norte, numa zona à beira mar, extremamente húmida e cercada de floresta, deixaram-me a tiritar de frio, num desconforto físico que outros partilharam e partilham, num descontentamento emocional que não motiva passar o portão. Gela-se por fora e por dentro. E lamenta-se a ausência de decisivas soluções, de aquecimento, de aquecedores, de tudo o que ponha a escola confortável e saudável. Um médico dizia-me ontem - não sei como é que vocês aguentam, estou gelado. E ele tinha, surpreendentemente ou não, um aquecedor ligado na sala que lhe foi destinada para ver os alunos. Era, por engano, a minha sala. E dos meus alunos. Ao sair, levou o aquecedor, não se esqueça dele sr doutor, e levou o calor, o humano, fruto da sua compreensão, e o físico, para meu inadmissível mal estar. E ali continuámos a enregelar.
Inacreditável, num país europeu, numa instituição pilar, num mês invariavelmente gélido de manhã, como se tem de suportar o máximo frio no exercício do ensino e da aprendizagem.
Eles não sabem - sabem? - o frio que passamos nas escolas. Ou pelo menos o frio que eu passo.
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