Já houve um tempo em que era só querida. Portanto palerma e imbecilmente porreirinha. Ouvi ao longo dessa jovem existência desaforos, palavras idiotas, maldades, coisas que não devia ter ouvido, ou melhor, consentir ouvir, travar. Intromissões bisbilhoteiras, observações maliciosas, invejazinhas cruéis, conselhos dispensáveis, avaliações erradas, compinchices tolas. Hoje já não sou só querida - ainda que continue, assim, a ser palerma e porreirinha.
Graças a deus, a mim própria e aos idiotas e medíocres deste mundo, existe já um lado assertivo, combativo, sólido, reativo, possivelmente altaneiro, fugidio e mesmo um nadinha sarcástico que vai evitando muitas, encaixando com graça umas e ripostando com veemência outras. Dá muito jeito chegar-se a um estado em que se consegue refrear conflitos habilmente e enfrentá-los habil ou bruscamente. É muito mais fácil ser hoje do que foi ser antes. Será, talvez, o processo natural de quem vai vendo passar os anos, e sem dúvida, fruto das lutas que nos fizeram travar, dos embates que tivemos, das artimanhas a que nos obrigaram a recorrer, da dor das estaladas que sentimos e das aprendizagens que, assim, se foram colhendo.
Olhando para trás, e assim sendo, apetecia-nos ir lá acertar tudo, por os pontos nos is e nas letras todas, dizer de nossa justiça, calar vozes que não foram convidadas, enfim reescrever os argumentos porque só nós o podiamos fazer em relação à nossa verdade. Mas depois, imediatamente a seguir, conforto-me com o facto de não ser preciso fazer absolutamente nada, porque a justiça vai sendo feita, continua-se em frente, vai-se sendo feliz, a verdade em nós segue e ela colhe frutos, é preciso confiar na verdade, confiar naquilo que somos, resistir a sentimentos mesquinhos e atitudes pequeninas, engrandecer, alcançar um outro nível de projeção no tempo e no espaço.
Pessoalmente, gosto das pessoas queridas. Elas existem para construir e, são as que mais genuinamente amamos. Poderão, a meu ver e espante-se a linha de pensamento menos crente, também ser as mais felizes. Sobretudo se não forem palermas. A palermice bondosa pode permitir farpas que convém serem recambiadas na hora. Querida sim mas ingenuamente imbecil não. A bem dizer, os verdadeiros palermas não o merecem.
P.S. A minha noção de "querida" pode não ser, evidentemente, a de quem lê.
Estou a aplaudir este post. De pé!
ResponderEliminarBom fds
:) Obrigada, Carlos. Que bom saber que esteve cá, mais uma vez. Fico muito satisfeita com o seu comentário, pensei que pudesse estar eventualmente a ser um bocadinho ... direta, abrupta demais numa parte ou outra. Assim, tranquilizou-me.:) Bom domingo!
ResponderEliminarAmei o teu texto! Está excelente! Num estilo vivo e interessante! "Pessoalmente, gosto das pessoas queridas. Elas existem para construir e, são as que mais genuinamente amamos". João Braancamp de Mancelos
ResponderEliminarQUERIDA Fatinha! :) Tb adoro Chagal e o teu texto! Como te entendo! Obrigada!
ResponderEliminarLuísa Alcantara
Amei sinceramente o teu texto! Muitas vezes tive vontade de voltar atrás e repor tudo no seu devido lugar, dizer diretamente aquilo que não disse na devida altura, tirar farpas...mas também já conclui que realmente seria energia desperdiçada (só não sei se esta conclusão já tinha sido tão consciente como agora, graças a ti). Por isso, desta vez deixo um muito sincero obrigada. Beijinhos e aplausos.
ResponderEliminar:) João, que feliz fico por teres gostado, sendo quem és! Obrigada pela visita, adorei ter-te por cá.
ResponderEliminarLuísa, este quadro, entre outros, é magnífico, não é?:) Obrigada pelas palavras e por estares sempre atenta.
Ah, Regininha:) Obrigada, penso que terei falado por mim, por nós (eu sabia:)) e por muitos outros. Os queridos, claro:) Beijoquinha grande
ResponderEliminarO teu texto tocou-me muito, apaziguou-me tb de certa forma :) Regina
ResponderEliminar:) Queridas mas non tropo:) E não vale a pena voltar atrás, siga a nossa verdade.
ResponderEliminarTenho sido poucas vezes querida e palerma. Mas há ainda coisas que eu gostaria de ter dito a certa altura. jà sabers como a minha imparável sinceridade às vezes me lixa, mas oh, se me alivia! ;)
ResponderEliminarSagi
:) Dá muito jeito não ser sempre uma palerma querida:) Vou sendo menos, vou sendo menos:)
ResponderEliminarExcelente texto. Queridas sim, mas assertivas. Ter respeito por si mesmo é um passo para respeitar os outros.
ResponderEliminarÉ isso mesmo. Obrigada pela visita, camalees:) Volte sempre, de forma querida e assertiva:)
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